Ao acompanhar a trajetória de artistas e intelectuais que colaboraram para estabelecer certa intelligentsia brasileira de esquerda ao longo do século XX, Marcelo Ridenti analisa certa utopia da brasilidade, segundo a qual a condição de ser brasileiro teria como contribuir de modo significativo para construir uma nova civilização, cujas potencialidades estariam contidas pelos limites da organização social, política, econômica e cultural existentes. O resultado desta reflexão está em Brasilidade Revolucionária: um século de cultura e política.
O livro discute como se constituiu e depois se esvaiu o que já se chamou de relativa hegemonia cultural de esquerda. Começa pela abordagem da militância intelectualizada de Everardo Dias durante a República Velha, passa pela atuação de artistas e intelectuais comunistas no auge da Guerra Fria, até chegar ao período da ditadura militar, seguido da retomada democrática. Ridenti traça um panorama de ideias e movimentos artísticos e políticos que expressavam a necessidade de conhecer o Brasil e seu povo no caminho da revolução brasileira.
O autor destaca a herança dos anos rebeldes, analisa especialmente músicas, filmes e a biografia de artistas e intelectuais, a fim de contar parte da história recente. O livro termina com a análise da acolhida da obra de Marshall Berman pelo público e pelo mercado brasileiro. Ela serve como fio condutor para pensar o entrelaçamento entre o campo intelectual e a indústria cultural, bem como as relações entre o mercado e o pensamento de esquerda, destacando-se o papel dos intelectuais na redemocratização.
A reflexão contrasta com a atual retomada do tema da brasilidade em versões de consumo fácil, ao mostrar que até há pouco tempo ainda era forte a aposta de intelectuais e artistas nas possibilidades da revolução brasileira, nacional-democrática ou socialista, que permitiria realizar as potencialidades de um povo e de uma nação.
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