domingo, 25 de junho de 2017

Marx não morreu

Helena Celestino
Valor Econômico


Só 11 pessoas foram à cerimônia fúnebre de Karl Marx, em 1883. "O Capital", a obra que consumira duas décadas da sua vida, estava inacabada e causara-lhe tantos sofrimentos e privações que ele se referia ao trabalho como "o maldito livro". Foi escrito em tempos de convulsão como o atual século XXI, em que tudo que é sólido parece se desmanchar no ar. Às guerras napoleônicas, sucederam-se revoluções pela Europa (França, Itália, Alemanha, Império Austríaco). O capitalismo nascia na Inglaterra e a moderna indústria revolucionava o mundo.

"As inovações ultrapassavam todas as grandes civilizações do passado. Em nome do livre comércio, as fronteiras nacionais foram derrubadas, os preços caíram, o planeta tornou-se interdependente e cosmopolita. Bens e ideias agora circulavam em todos os lugares. Mas tinha um problema. A riqueza não era igualmente distribuída." Parece banal? Agora, talvez, mas essa citação apareceu pela primeira vez no "Manifesto Comunista", um panfleto de 23 páginas distribuído em Londres em 1848, e reapareceu em 1887 em "O Capital", a monumental obra sobre a gênese do capitalismo.

O seu autor, Karl Marx (1818-1883), às vésperas de chegar ao bicentenário de nascimento, não errou. A obra da sua vida completa 150 anos em setembro e, sem notar, incorporamos no falar cotidiano do século XXI as ideias básicas da crítica marxista ao capitalismo. "As pessoas sabem que há desigualdade social, sabem que há luta na distribuição dos recursos segundo a posição de poder de cada um na sociedade. Estou usando outra linguagem, mas isso é luta de classes, e é disso que as pessoas falam", afirma o ex-ministro da Cultura e professor Francisco Weffort, referindo-se ao conflito de interesses entre os "detentores do capital e os que vendem a força de trabalho".

O reconhecimento da presença de interesses econômicos e sociais no dia a dia não transforma ninguém em marxista, mas é Marx - concordam os estudiosos - a maior referência acadêmica e intelectual a deitar raiz no fenômeno da desigualdade e do conflito social. "Esses pensamentos radicais, sobre as raízes do mundo moderno, não são superáveis facilmente. É o caso de Marx e de Max Weber [1864-1920], eles tiveram a coragem de pensar o início de tudo", diz Weffort.

Ao redor do mundo, universidades, "think tanks" e editoras aproveitam as duas datas comemorativas para revisitar o legado do filósofo e revolucionário do século XIX, inspiração para os movimentos de esquerda e assombração para os governos autoritários de direita, já declarado morto e ressuscitado em igual número de vezes.

Quando a crise financeira de 2008 explodiu na Europa e nos Estados Unidos, "O Capital" pulou para as listas de mais vendidos: o primeiro livro a descrever as crises periódicas do capitalismo ganhava novo sentido. O interesse trazia Marx de volta ao debate público, depois de um longo período em que seu pensamento era olhado com desprezo por causa do colapso da União Soviética e do fracasso dos regimes ditos socialistas no Leste da Europa. Ao decretar o fim da história, enterrava-se junto e misturado o marxismo e "O Capital".

"Pela primeira vez está sendo publicada a obra original de Marx em sua totalidade", diz o matemático e filósofo alemão Michael Heinrich, professor da Universidade de Ciências Aplicadas de Berlim. Ele é um dos editores do maior projeto de reinterpretação de Marx, não por acaso chamado de Mega-2. Começou em 1974 e não tem data para acabar: todos os manuscritos do filósofo estão sendo republicados na Alemanha na sua forma original, ou seja, antes de editados por Friedrich Engels (1820-1895).

Na primeira semana de junho, Heinrich fez o circuito das universidades brasileiras, dando início às comemorações dos 150 anos de "O Capital". Em setembro, lança a 26ª biografia de Marx, três volumes a serem publicados pela Boitempo. A cabeça em pedra do barbudo com jeito de profeta, reverenciada por turistas no cemitério de Highgate, em Londres, estará na capa de outro livro a ser lançado em outubro pela Companhia das Letras: a conceituada biografia do professor Gareth Stedman Jones, em que o britânico tenta separar Karl do mítico Marx, inspirador do marxismo.

Quase 200 anos depois de seu nascimento, ele ainda é considerado imprescindível pelos estudiosos. Quando morreu, dormindo numa cadeira na sua casa de Londres, além do fiel escudeiro Engels, poucos apostavam em Marx como o homem que mudaria a consciência do mundo - segundo as palavras do filósofo Bertrand Russell (1872-1970). Na maior parte da vida, foi estrela de uma pequena comunidade de exilados e revolucionários, mas seus livros estavam longe de ser best-sellers. "O Manifesto Comunista" sumiu logo depois de lançado e assim ficou por 24 anos. "O Capital" vendeu mil exemplares em quatro anos e só foi traduzido para o inglês 12 anos depois.

Demorou quase meio século para o livro chegar ao Brasil. Importados ou em traduções mambembes da editora do Partido Comunista Brasileiro, os textos de Marx nos anos 20 e 30 eram conhecidos dos grandes escritores da época (Oswald e Mário de Andrade, Graciliano Ramos) e viravam conversas de botequim, mas estavam fora do currículo das universidades. Foi por meio de um grupo de estudos, inventado por jovens professores da USP, que Marx fez sua entrada oficial na academia.


A partir de 1958, eles se reuniram semanalmente durante três anos para ler "O Capital". Ruth e Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Octavio Ianni, José Arthur Giannotti, Paul Singer, Fernão Novaes e alguns "alunos penetras" - como se define o critico literário Roberto Schwarz - encontravam-se aos sábados, por seis horas, nas casas de uns e outros. "Era um clima de camaradagem, animação e alguma rivalidade, com rodízio de expositor e uma comilança no final", descreve Schwarz no recém-lançado "Nós que Amávamos Tanto O Capital - Leituras de Marx no Brasil" (Boitempo). "Tinha sempre um debate longo porque todos tinham um discurso comprido para fazer, qualquer que fosse a importância daquilo que pensava", ironiza Weffort.

Já se passou outro meio século, e uma infinidade de autores ainda lança novos olhares sobre a obra de Marx. Após a morte do amigo, Engels dedicou anos para juntar os caóticos textos deixados pelo filósofo e publicar os volumes 2 e 3 de "O Capital". O resultado final, em alguns trechos, foi mais "revolucionário" do que na versão original, e um exemplo é a previsão do colapso do capitalismo, hoje reconhecida como uma contribuição de Engels - Marx falara apenas que a tendência da redução dos lucros das empresas "sacudiria" o capitalismo. Parece uma firula, mas abriu a porta para interpretações marxistas mais radicais e levou os críticos a tentarem aprisionar Marx no século XIX.

Para o economista-celebridade Thomas Piketty, autor do best-seller "O Capital no Século XXI" (ed. Intrínseca), os economistas fariam bem em buscar inspiração em Marx. O francês usou os recursos da matemática moderna para mostrar a verdadeira natureza das relações sociais, conseguindo realizar o sonho do filósofo no século XIX, quando fazia pesquisas diárias no British Museum lendo relatórios de fábricas e similares para comprovar empiricamente suas teses. Piketty provou matematicamente que o mercado não se regula sozinho e, a partir de 1980 e 1990, a desigualdade voltara a atingir os níveis do tempo de Balzac (1799- 1850), "refletindo a lógica de Marx".

Essa é também a análise do sociólogo Wolfgang Streeck, mas sua conclusão é diferente: Marx errou. Numa entrevista à revista "Books", ele vê no pós-guerra as democracias repartindo mais equalitariamente os lucros através do Estado-previdência e, com isso, conseguindo uma certa paz social. Só que depois dos chamados "30 gloriosos anos", afirma, o capitalismo atual livrou-se das regulações sociais, recuperou certos traços anteriores a 1945 e, por isso, a desigualdade aumentará e novas crises acontecerão. Mas, diferentemente da revolução prevista por Marx, Streeck não consegue antever nenhum movimento organizado com capacidade de se opor ao capitalismo globalizado.

O Marx político é o mais polêmico. O historiador e escritor Daniel Aarão Reis, um admirador e leitor assíduo, vê o teórico militante como aberto, libertário e flexível, mas aponta dois problemas: um certo messianismo proletário e autoritarismo, ao criar uma oposição entre o saber científico (o seu) e a utopia das propostas rivais. Isso levou a social-democracia a achar que eles tinham a verdade e os outros, a ilusão, diz. Esse Marx doutrinário é alvo de mais críticas - especialmente depois dos regimes construídos em seu nome -, mas a confusão política recente aqui e no mundo está levando jovens no Reino Unido, nos EUA e até no Brasil a voltar a ele para entender o que está acontecendo ao redor.

A brasileira Antonia Oliveira Violeta Duarte, de 16 anos, estudante do Andrews e manifestante presente em protestos recentes no Rio, fez uma escolha surpreendente quando a avó pediu seis nomes de livros para dar-lhe de presente. Entre eles, incluiu "O Capital". Por quê? "Quero ler para poder tomar posição. A política é o que mais me interessa", diz.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Christian Ingrao: “Los intelectuales fueron el puntal del nazismo”

Andrés Seoane
El Cultural

El historiador francés experto en el nazismo Christian Ingrao publica Creer y destruir, los intelectuales en la máquina de guerra de las SS (Acantilado), un monumental ensayo que demuestra que muchos de los asesinos del régimen nazi eran universitarios cultivados.

¿Cómo se puede ser un intelectual sensible a la cultura y un ferviente defensor del nazismo a un mismo tiempo? Hasta ahora al pensar en soldados del Reich o en oficiales de cuerpos como las SS nos imaginábamos a individuos sin estudios y extraídos de los bajos fondos, populacho próximo a la barbarie encandilado por un genio del mal como Adolf Hitler. Lo bueno de este mito es que nos permite delimitar claramente la línea entre hombre y monstruo y suscribir la evocadora cita de Theodor Adorno sobre Auschwitz y la poesía. Pero existe un problema que plantea la realidad. El nazismo, y todas las atrocidades de las que fue responsable, no fueron producto de una masa enfervorecida por ciegas ensoñaciones patrióticas, sino el resultado de una ingeniería científica y unas construcciones académicas creadas por intelectuales y eruditos afectos a una ideología que les permitió superar sus traumas privados y colectivos. En el monumental ensayo Creer y destruir, los intelectuales en la máquina de guerra de las SS (Acantilado), el historiador francés experto en el nazismo Christian Ingrao analiza la trayectoria de 80 miembros intermedios de las SS y las SD, todos universitarios, muchos doctores, juristas, economistas, filólogos, filósofos e historiadores que conformaron de forma entusiasta el corpus central del régimen nacionalsocialista.

Porque lo que Ingrao pretende demostrar es una tesis a priori sencilla pero muy reveladora. “No hay que estudiar el nazismo como un sistema de ideas, sino como un sistema de creencias que subvierte, a través de un proceso emocional, la pertenencia social y cultural”, explica. “El nazismo fue atractivo para obreros y campesinos, para gente de clase media y para gente de clase superior, y la única población que realmente no se sintió atraída por el nazismo fueron los judíos”. Pero más allá de la retórica populista y de la crispada situación social, ¿qué llevo a estos hombres cultos a participar de la subsiguiente barbarie que generó el régimen de Hitler, a comer, como dijo Heinrich Böll, del “sacramento del búfalo? “Lo que diferencia al nazismo de otros tipos de etnonacionalismo que se vivieron en Alemania entre 1919 y 1925 es que es un planteamiento determinista racial, lo que significa que para cualquier persona que lo interioriza todo está condicionado por un sistema de jerarquización racial, que para los nazis tiene una justificación científica”, afirma Ingrao. “El nazismo distorsiona a través de la emoción la manera en que los individuos y los grupos perciben el mundo”.

Este planteamiento de la interiorización puede ser suficiente para explicarnos la pertenencia de estos académicos a los cuerpos represores del Estado, pero se queda algo estrecho a la hora de tratar de comprender como estos intelectuales comprometidos participaron, entusiastamente en muchos casos, en los Einsatzgruppen, los “comandos de ejecución” que se dedicaron a asesinar en los países de Europa del Este a más de 1.400.000 judíos, oficiales, comisarios políticos, soldados, intelectuales, patriotas, gitanos... Para Ingrao eso se explica por una necesidad desesperada de creer en su nación surgida de la humillante e inesperada derrota de 1918 y el subsiguiente maltrato recibido en el Tratado de Versalles. “Estos hombres eran niños y adolescentes durante la Primera Guerra Mundial, y sufren entonces una experiencia sumamente traumática, el resurgimiento de la muerte de masas a niveles nunca vistos desde la Peste Negra del siglo XIV. De los 3000 muertos diarios, 1700 eran alemanes”, asegura el historiador.

Pero además del drama mortal, Alemania perdió la guerra, lo que provocó el cuestionamiento de la existencia misma de la nación a nivel político e incluso físico. “Alemania se vio abrumaba por un sentimiento de angustia colectiva y muerte inminente que, analizado y dotado de sentido por el nazismo, asume de una manera suficientemente convincente para que una gran cantidad de intelectuales se impliquen de una manera convencida”. Según el historiador, una de las claves del triunfo del nazismo es que “ha asumido la herida narcisista de la Gran Guerra y la ha explicado, transformando la angustia en una utopía política cuyos principales clientes son estos intelectuales acostumbrados a las emociones intensas. Pasan de una emoción muy oscura que es la angustia, a un fervor cuasi religioso. Por eso cuando tienes un intelectual que interioriza ese nazismo, cree en él con todas sus fuerzas, con toda su alma y con todo su cuerpo”.


Y aquí es donde entra en juego la segunda parte de la propuesta de Ingrao, el destruir, que nace de la lógica racial nazi de suponer que la raza que no lucha y vence, perece, lo que explica la lógica apocalíptica adoptada por la Segunda Guerra Mundial. “En el nazismo el creer y el destruir están imbricados. El creer es creer en la voluntad de destrucción del otro para con uno mismo. El imaginario de la destrucción consiste en imaginar que te van a destruir a ti y actuar primero”. Por eso la violencia, primero como deportación, luego como asesinato y después como exterminio, estaba justificada e incluso era necesaria para la salvación de Alemania. En este contexto nace el ideario de la “Conquista del Este” llevada a cabo por los Einsatzgruppen, el plan para germanizar los territorios existentes hasta los Urales, el Cáucaso y las llanuras del Caspio con población alemana, lo que supondría el exterminio o deportación de unos 50 millones de personas. “El nazismo también fue un proyecto político que, por la dimensión imperial de la conquista del espacio vital, se otorga la idea de fundar un imperio que sea milenario en el cual una nueva sociedad podrá organizarse y el fermento de conflictos que existe en todas las sociedades quedará eliminado para siempre”, recuerda Ingrao.

No obstante, a pesar de estos sueños megalómanos y a sus perversos medios de ejecución, Ingrao no considera que estos intelectuales fueran unos fanáticos, sino que eran hombres muy comprometidos emocionalmente, y “dispuestos a hacer inmensas concesiones y sacrificios para no renunciar a la creencia”. Un punto de vista que contrasta con el resultado final. Como sabemos, la guerra termino de nuevo con derrota alemana, un hecho que divide profundamente a los dignatarios nazis. Como recuerda el historiador, “en lo que respecta a la primera generación, los que han vivido como adultos la derrota de la Primera Guerra Mundial y viven en el 45 una segunda derrota, la mayoría prefieren renunciar a la vida antes que enfrentarse a la realidad”. Pero no ocurre lo mismo con estos intelectuales de grado intermedio, en muchos casos con las manos mucho más manchadas de sangre que los jerarcas más conocidos. “La segunda generación de dirigentes nazis no decide lo mismo. Son asesinos, y en ese sentido sí se han comportado como fanáticos, pero al final en los últimos meses de la guerra toman la decisión fundamental de decidir sobrevivir e intentar adaptarse al mundo tal y como pudiera plantearse”, recuerda Ingrao.

Eso sí, en ellos no hay el menor signo de arrepentimiento y en un principio ni siquiera de renuncia al nazismo. “Siguen siendo nazis, porque el nazismo no muere en mayo del 45. En realidad, comienza a morir en el invierno del 46, cuando los aliados toman la decisión bastante increíble de alimentar a las poblaciones alemanas, a menudo a costa del sacrificio de sus propias poblaciones”. Muchos de estos hombres se libraron de ser detenidos o tardaron en comparecer ante un juez, pero en la gran mayoría de los casos expresaron más justificaciones que arrepentimiento, echando definitivamente por tierra el estereotipo de burócrata nazi defendido en La banalidad del mal por Hannah Arendt (de hecho, se asegura que el propio Eichmann fingió y la filósofa mordió el anzuelo). “Ese arrepentimiento supondría aceptar que lo que habían hecho era moralmente condenable. Todas las respuestas que dan esos hombres son estrategias de huida o de escape, porque ninguno de ellos estará convencido de que lo que ha hecho era condenable moralmente”, afirma tajante Ingrao. "Lo que hicieron fue tan bestia y transgresor que, si hubieran aceptado ese condicionamiento moral de lo que habían hecho, se hubiesen visto en la obligación de suicidarse. Y eso sería ya ciencia ficción”.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Neoliberalismo Frankenstein: las contradicciones de un país de laboratorio

Verónica Tapia y Fernando de la Cuadra
El Mostrador

En lo que va corrido del año, nos hemos habituado a ver y escuchar noticias sobre las recurrentes “catástrofes naturales” que asolan al país. No se vislumbra por parte de las autoridades una planificación que permita anticiparse a las consecuencias provocadas por las inclemencias meteorológicas o de cualquier otro tipo de eventos y emergencias que nos afectan desde tiempos remotos. En el norte las lluvias y las inundaciones causadas por el invierno altiplánico se vienen repitiendo en forma de tragedias con una frecuencia cada vez más pronunciada. Los incendios forestales que asolaron la región centro sur durante este verano no hicieron más que comprobar la incapacidad existente para prevenir los desastres derivados de un modelo predador que está secando las napas subterráneas como resultado del monocultivo forestal. En Santiago, los aluviones que se dejan caer sobre la ciudad generan regularmente no solo la inundación de calles y zonas habitacionales, sino que además causan el colapso de las plantas de tratamiento de aguas ubicadas en la pre-cordillera dejando a una parte significativa de los ciudadanos sin este vital elemento.

La misma ciudad que padece estas catástrofes, es aquella que emerge como un modelo de modernidad y abertura hacia el mundo global. Tenemos la torre más alta de América Latina (en un país de permanentes movimientos telúricos) y una red de construcciones en altura localizadas en una de las comunas con el suelo más caro de Chile, la Avenida Providencia, que en su extensión hacia las Condes y Vitacura es adornada por parques, librerías, cafés y tiendas que apelan a un consumo exclusivo y de lujo. ¿Cómo entender esta maraña? ¿Qué tiene que ver una cosa con la otra? ¿En que nos ayuda pensar estos y otros hechos similares poniendo atención a los espacios, los lugares y los territorios concretos?

La generación nacida en dictadura ha crecido escuchando la canción del Chile laboratorio, del Chile experimento o del “tigre” de América del sur. Una canción que habla de un país/caso paradigmático de implementación de políticas neoliberales a fuerza de represión y miedo, de fundamentalismo autoritario y de continuismo tutelado por los poderes fácticos. Un análisis claro, preciso y cerrado, que ayuda a desarrollar argumentos fáciles, pero que a la larga dificulta un debate más profundo y necesario ad portas de las próximas elecciones y en el marco de iniciativas como la reforma laboral, previsional y educacional que tienen en común la puesta en cuestión –o no- de los parámetros establecidos en áreas claves del país.

¿Cómo pensar-pensarnos entonces? Tenemos por una parte esta imagen de un laboratorio limpio, pulcro, ordenado y aséptico, donde científicos con sus delantales blancos y antiparras desarrollan la fórmula de desarrollo en base a la mercantilización de todas las áreas posibles de nuestras existencias, la reducción máxima del Estado y verdadera libertad a las individualidades. Un modelo que consagra el concurso de expertos para definir las políticas públicas, pues en ellos radica el conocimiento técnico necesario para promover aquellas acciones que son más eficaces y eficientes para resolver los problemas de cada persona, de Doña Juanita. Guste o no guste, exitoso o no exitoso, bueno, malo o más o menos, Chile parece ser un experimento acabado.

Situémonos ahora en el taller del doctor Frankenstein, incluido el líquido amniótico, los artilugios mecánicos, mesa de operaciones y restos humanos; mil y un intentos después el pre científico y pro alquimista logra algo parecido a la reconstitución de una vida humana. Hay un logro por cierto, pero nada parecido a una fórmula o ecuación que asegure que el experimento funcione nuevamente y de la misma manera. Lejos de ello, un juego de ensayo y error con consecuencias inauditas que perseguirá al doctor hasta su ocaso, una crisis constante ante esta creación configurada por retazos orgánicos de distintas procedencias, resultados inesperados y eternos intentos de lograr algún grado de estabilidad en este experimento de razón incoherente.

Pensamos que esta última imagen tiene más relación con nuestro país que aquella que nos exalta como el mejor vecino del barrio, lo cual permite configurar un panorama más real para intentar pensar alternativas. A veces -lamentablemente sólo a veces- la academia logra proponer conceptos que nos permiten entender estas dinámicas que son parte de nuestra vida cotidiana, pero que no tenemos tiempo ni la suficiente perspectiva para poder desentrañarlas. David Harvey, Neil Brenner, Jamie Peck y Nik Theodore son una excepción y nos invitan a pensar desde la dimensión espacial.

Básicamente proponen leer el neoliberalismo en clave de procesos, movimientos y geografías, denotando el flaco favor de entenderlo como una cuestión acabada y finiquitada, el mentado experimento aséptico de nuestra primera imagen. Más que neoliberalismo se trata entonces de procesos de neoliberalización, es decir, intentos parcialmente exitosos de imponer la disciplina de mercado como principio social básico, la catalaxia como una fuente de organización del mundo, la competencia como impulso dinamizador derivada de la “naturaleza” racionalmente egoísta de los seres humanos. Estos intentos no se deben entender de manera aislada de los espacios en donde se implementan, por lo que para entender la reestructuración neoliberal de nuestro país es preciso considerar los diversos marcos institucionales y sociales heredados que -a pesar de la brutalidad dictatorial- no desaparecen totalmente, sino que se mezclan, fusionan, tensan y se transforman con los elementos de la doctrina neoliberal.

Entendido de esta manera, Chile está lejos de ganarse el premio al “mejor laboratorio neoliberal” aclamado y pasible de ser imitado urbi et orbi. Más bien podríamos postular a ser uno de los “Frankenstein neoliberales destacados”. Es que el neoliberalismo nunca se presenta de forma pura, como una unidad coherente, monolítica, exclusiva y exhaustiva. Por el contrario, son procesos abigarrados e híbridos, imposibilitados de articulación de modo completo, más bien se trata de dinámicas en continua reformulación ancladas a espacios y herencias que los constituyen. Es una especie de colcha de retazos que tiene su impronta en la formación fraccionada de una multiplicidad de actores que buscan su lugar al sol, su espacio de inserción en una sociedad que los excluye cotidianamente, no solamente como consumidores sino que sobre todo como ciudadanos con derechos. Derecho a un trabajo estable, a servicios básicos de calidad, a la movilidad urbana, a respirar un aire descontaminado, a una vivienda digna, a un barrio que sea un lugar de acogida y sociabilidad, a espacios públicos de esparcimiento y saludable convivencia, en definitiva, es el derecho a una vida digna.

De ahí la relevancia de mirar los espacios concretos donde estos procesos ocurren y en ese sentido la dimensión territorial no es un mero contexto o un escenario, sino que es parte fundamental de la sociabilidad construida y enraizada en la acción incesante de colectivos humanos. Así, los análisis que parten de una mirada exitista y petrificada del caso chileno no nos permiten explorar estos temas y pensar en las posibles alternativas para construir un país más justo e inclusivo. Se requiere cuestionar la noción de fórmula promovida por la doctrina neoliberal y prestar atención a cómo la imposición de la disciplina de mercado se articula con contextos locales específicos, entre ellos, las ciudades y territorios no metropolitanos.

Si lo miramos así, el contraste entre los años de bonanza del salmón y los millares de peces muertos, la expansión frutícola y la contaminación de poblaciones y acuíferos con agro tóxicos, las exportaciones de celulosa y los incendios descontrolados no son meros accidentes, no son la excepción. Parte del Santiago metropolitano y global son también sus rupturas y desordenes de barrios cortados en dos por carreteras concesionadas, de viajes cotidianos de cuatro horas al trabajo. El agro tecnificado del valle central, las rutas del vino “a la toscana” son también sus temporeras viviendo en containers o en poblados rurales surgidos espontáneamente en el entorno de las agroindustrias. Son las aldeas y pueblos desperdigados por este Chile adentro (como Alto Hospicio, Los Álamos o Santa Olga), que luchan por sobrevivir en una nación que los desprecia y los esconde bajo el tapete. De ahí la necesidad de mirar más allá de la bendita/maldita fórmula neoliberal, sino que palpar –aunque nos espante- nuestras suturas mal hechas.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Los dueños de la ciencia

Viviana Martinovich
Revista Anfibia


"El mundo no necesita más revistas científicas industrializadas, sino modelos productivos alternativos, más equitativos, igualitarios y colaborativos, que revaloricen nuestras formas de hacer ciencia. Las revistas científicas, al igual que cualquier otro medio de comunicación, pueden responder a modelos más igualitarios, contextualizados, plurales e inclusivos de producir, publicar y distribuir conocimientos científicos."

Quién legitima la ciencia

“Las editoriales científicas hacen que Murdoch parezca socialista” ironizaba hace poco un artículo de The Guardian. Es que muchas revistas dependen de las industrias: así, no predominan los parámetros científicos sino los intereses económicos. En América Latina, las prácticas abusivas de las editoriales no son problematizadas: se desconoce, por ejemplo, que miles de investigadores a nivel mundial –desde el MIT a Cambridge junto a medios como The New York Times- firmaron un boicot contra la compañía Elsevier. En cambio, está instalado que la única opción para validar hallazgos es publicar en revistas "famosas" como Nature, dice la especialista Viviana Martinovich. ¿Cómo circula en verdad el conocimiento científico?

En América Latina se editan más de 17.000 revistas científicas y técnicas, pero solo 750 lograron ingresar a las bases de datos internacionales por las que circulan revistas como Nature o Science, editadas por la gran industria editorial. Si hiciéramos una analogía con los premios Óscar, podríamos decir que hay n grupo de revistas latinoamericanas que, por mérito propio, año tras año transitan por la tan renombrada alfombra roja, pero no pertenecen a Warner, Fox, Universal o Paramount. Imaginemos por un momento dónde se concentraría la atención de la prensa internacional, incluso la de los enviados especiales de los países latinoamericanos, ¿en quienes participan de las películas más taquilleras del planeta o en quienes integran los proyectos realizados por fuera de la industria y, por si esto fuera poco, generados en países “tercermundistas”?

En Argentina, desde ciertas áreas de conocimiento consideran que la única opción para validar sus hallazgos y entrar en diálogo con la ciencia internacional es acceder a la alfombra roja pero como figuras de Warner o de Fox, es decir, publicando en revistas como Nature o Cell. Y este argumento ya está tan instalado, que es ponderado por funcionarios gubernamentales, periodistas, estudiantes, investigadores y bibliotecarios, como una verdad incuestionable. Sin embargo, aunque sus hallazgos sean considerados válidos y lo suficientemente novedosos por alguna de las revistas de la gran industria, y los autores paguen entre U$ 3.000 y U$ 5.000 dólares en calidad de article processing charge (APC) para la edición y publicación de sus trabajos, no recibirán la atención de los flashes, porque no pertenecen a la gran maquinaria industrial. Es muy recomendable la nota del doctor Randy Schekman, Premio Nobel en Medicina, en la que revela el devastador efecto que provocan en la ciencia las prácticas de revistas como Nature, Cell o Science. No se trata solo del glamour: los grandes intereses económicos detrás de esos flashes y micrófonos responden a la misma maquinaria que necesita retroalimentarse para seguir funcionando.

En el otro extremo del espectro, desde otras áreas de conocimiento consideran que las bases de datos internacionales condicionan y limitan lo que se publica. Como si las revistas, solo por atravesar la alfombra roja no pudieran publicar estudios que muestren, por ejemplo, los daños que producen los agroquímicos o mantener una línea editorial crítica respecto de prácticas nocivas de las industrias. Y esto es confundir el modelo de financiamiento con la distribución. Si el modelo de financiamiento de una revista depende del sector industrial, es muy probable que no publique determinados estudios, y, si lo hace, es factible que engrosen la lista de artículos “retractados”. En cambio, si la revista no depende de las industrias, es más probable que los parámetros científicos predominen por sobre los intereses económicos. Pero la distribución responde a otra lógica.

Desde hace más de un siglo que el contenido publicado por las revistas científicas se distribuye a través de “índices de resúmenes”. Lo que en un inicio eran catálogos o index impresos, hoy son grandes bases de datos con más de 60 millones de registros. Si bien las revistas no pagan para ser distribuidas, un alto porcentaje de los países del planeta abonan grandes sumas de dinero para que los investigadores puedan acceder a ese contenido. Por lo tanto, el negocio de las bases de datos es alcanzar récords de taquilla, no definir el guión de lo que distribuyen. De hecho, no hay personas leyendo el contenido, sino autómatas que leen metadatos y los procesan a gran velocidad dentro de complejos sistemas de información. Por eso hoy, para transitar por la alfombra roja, no alcanza con que una revista sea científicamente consistente para los humanos: necesita que su contenido pueda ser leído por máquinas.

¿Es posible analizar la industria editorial científica con parámetros de la industria cinematográfica? Muchos podrán considerarlo una herejía, bajo el presupuesto de que estamos hablando de ciencia y, por lo tanto, deberíamos regirnos por las reglas de juego del campo científico. Sin embargo, no estamos hablando de ciencia sino del monopolio de su distribución, en el que participan compañías como Thomson Reuters, una de las mayores concentradoras y distribuidoras de información no solo científica sino financiera a nivel mundial, que en 2016 obtuvo ingresos por 11.166 millones de dólares; o RELX Group (anteriormente denominada Reed Elsevier), que engloba una serie de marcas asociadas como Elsevier, Scopus, ScienceDirect, LexisNexis-Risk Solutions, BankersAccuity, entre otras, que reportó un volumen de ingresos en 2016 de 8.412 millones de euros. Para los grupos accionarios de estas compañías, la ciencia forma parte de un negocio altamente rentable. Su objetivo no sería mejorar las condiciones de vida de la humanidad, ni el “progreso” de la ciencia, sino aumentar su producción y su rentabilidad anual y, por lo tanto, deberían ser analizadas dentro de la lógica productiva del sector industrial y no del campo científico. Tal como ironiza George Monbiot, columnista de The Guardian: “Las editoriales científicas hacen que Murdoch parezca socialista”.

Pero más allá de los intereses en juego, la industria editorial, a diferencia de la cinematográfica, debe disputar la legitimidad de un capital simbólico como es la “calidad científica” y, por lo tanto, debe ocultar cualquier vinculación con intereses económicos: es necesario que las ganancias se visualicen como logros de la ciencia y no como mera acumulación de capital, lo cual requiere un tipo de enunciación, una construcción discursiva que acompañe.

Como en Argentina y en muchos otros países de América Latina, las prácticas abusivas de la industria editorial no son un tema problematizado, se desconoce, por ejemplo, que más de 16.000 investigadores a nivel mundial han firmado públicamente el boycot a la compañía Elsevier iniciado por un grupo de matemáticos de Cambridge, del MIT, de Chicago, de California, de París 7, entre otras tantas universidades, y que periódicos como The Guardian, El País, Le Monde, The Washington Post, The New York Times, suelen ser eco de posiciones muy críticas respecto de la gran industria editorial científica. Es como si muchos investigadores de Latinoamérica siguieran aplaudiendo una obra que ya no está en cartel: siguen considerando que publicar en revistas de Elsevier es el mayor logro al que puedan aspirar, aunque sus prácticas abusivas hayan sido denunciadas por la propia comunidad académica internacional.

Pero la mercantilización de la ciencia no es el único modelo posible. En los últimos años del siglo XX surge un movimiento internacional que propone nuevas maneras de entender la comunicación científica; cuestiona el concepto de “propiedad” de la ciencia y, por lo tanto, su forma de comercialización; entiende que los conocimientos financiados con recursos públicos deben estar disponibles para la sociedad que financia las investigaciones. Esto coloca en el centro de la discusión la desigualdad en el acceso a la información científica, en clara oposición al modelo cerrado de distribución consolidado por el sector industrializado. Así nace el movimiento de “acceso abierto”, que instala la discusión política al interior de un campo científico que se presenta a sí mismo como un escenario neutral, despojado de intereses y conflictos de poder. En este sentido, es interesante recuperar a Chantal Mouffe, quien plantea que la negación de esos intereses y de la conflictividad propia de las relaciones sociales coloca a la política en un terreno neutral en el que no se cuestiona la hegemonía dominante.

Los principios del acceso abierto tienen la potencialidad de restituir esa conflictividad, de revertir las asimetrías, ampliar los límites y apostar a otra “geografía de la ciencia” como menciona Jean Claude Guédon. Pero este movimiento entendió que para cambiar de manera radical el escenario, no se trataba solo de enfrentar desde lo discursivo al poder económico: había que desarrollar sistemas integrados, protocolos de distribución electrónica, programas de código abierto, licencias de uso de los contenidos, es decir, todo un andamiaje que le permitiera al sector no industrializado mejorar sus estándares de gestión, publicación y distribución de contenidos para cobrar mayor visibilidad. De la mano de la cultura del software libre, las licencias Creative Commons y el proyecto Public Knowledge Project (PKP) que impulsaron Richard Stallman, Jimmy Wales, Aaron Swartz, Lawrence Lessig, John Willinsky, Brian Owen, Juan Pablo Alperin entre tantos otros, se crearon las condiciones para que las revistas científicas latinoamericanas tuvieran acceso a estándares tecnológicos internacionales.

Pero la realidad es que, si bien estamos ante una situación privilegiada al contar con la posibilidad de acceder a poderosos recursos tecnológicos, paradójicamente, la capacidad de apropiación de la tecnología disponible es muy baja, dado que requiere del aprendizaje de nuevos lenguajes: ya no solo es necesario editar el texto que leen los humanos sino que además es necesario comprender y editar el lenguaje destinado a las máquinas, encargadas de automatizar diversos procesos, entre ellos, la distribución de contenidos científicos. Si bien este nuevo interlocutor permite la integración de los contenidos a sistemas globales de información, por su propia complejidad, nos enfrenta de nuevo a un potencial aumento de las asimetrías, y eleva la brecha entre las revistas industrializadas y las que se editan por fuera de la industria. Y esta brecha no es solo tecnológica.

El cine argentino logró crecer y consolidarse gracias a la existencia de un fondo de fomento que hoy está en peligro. En el caso del sector editorial científico, el financiamiento estatal para pagar costos de publicación va a parar, en su gran mayoría, a la gran industria editorial internacional. Es como si el Estado argentino se dedicara a financiar el cine de Hollywood, en vez de impulsar la industria local, lo cual sería un absurdo, pero es lo que ocurre hoy en el campo editorial científico. Y esto se debe, además, a la baja inversión en investigación y desarrollo tanto estatal como privada, lo que desfinancia aún más la etapa final del proceso de publicación y distribución de resultados y no permite el surgimiento de un sector editorial especializado.

Los procesos editoriales en soporte electrónico cambiaron radicalmente en los últimos cinco años. La integración de sistemas antes desarticulados generó estándares más complejos que aumentaron los costos de edición. Para editar revistas que respondan a las necesidades de todas las áreas de conocimiento es necesario invertir en esquemas innovadores de producción, en nuevas formas de visualización y distribución de contenidos, para lo cual es indispensable la integración de conocimientos informático-editoriales.

Sin embargo, entendemos que para pensar de forma crítica el campo editorial científico no podemos asumir que solo con la incorporación de avances tecnológicos o con la promulgación de leyes podremos modificar prácticas instaladas culturalmente. La ciencia es una práctica humana y, por lo tanto, social, cuya agenda debe ser pensada en esos términos. Por eso proponemos la noción de “práctica editorial contextualizada” para discutir en términos políticos las formas de crear y socializar los conocimientos científicos y dejar de reproducir enunciados que se instalan y se repiten sin cuestionamientos. Como menciona Oswald Ducrot: “nuestras palabras son en gran parte la simple reproducción de discursos ya escuchados o leídos”. Pero reproducir discursos acríticamente es vaciar de sentido nuestro relato.

La realidad es que el mundo no necesita más revistas científicas industrializadas, sino modelos productivos alternativos, más equitativos, igualitarios y colaborativos, que revaloricen nuestras formas de hacer ciencia. Y para integrar esos contenidos al mundo necesitamos implementar nuevos estándares tecnológicos que potencien la distribución y el ingreso a los sistemas internacionales de evaluación de la producción académica.

La pregunta que deberíamos intentar responder es ¿cómo entrar en diálogo con la ciencia internacional sin perder identidad? El mundo necesita que se abran nuevos espacios para que dialoguen otras voces y no seguir concentrando un relato único que reproduzca los intereses de sectores altamente concentrados. Las revistas científicas, al igual que cualquier otro medio de comunicación, pueden responder a modelos más igualitarios, contextualizados, plurales e inclusivos de producir, publicar y distribuir conocimientos científicos.

domingo, 4 de junho de 2017

Cambian reglas de juego para grupos de presión en la ONU

Rabiya Shabeeh
IPS

¿Es necesaria la presencia de la industria de combustibles fósiles en las negociaciones internacionales sobre el cambio climático? ¿O su participación en las conversaciones de la Organización de las Naciones Unidas (ONU) representa un conflicto de intereses y socava el progreso mundial?

Los países en desarrollo que pretenden que los grupos de presión de los combustibles fósiles que participan de las negociaciones de la 23 Conferencia de las Partes (COP23) de la Convención Marco de las Naciones Unidas sobre el Cambio Climático (CMNUCC) declaren sus conflictos de interés ganaron una importante batalla durante un acuerdo firmado en una sesión preliminar celebrada a principios de este mes en Bonn, Alemania.

Un informe de Corporate Accountability International (CAI), una organización sin fines de lucro de Estados Unidos que se dedica a denunciar los abusos de las empresas, reveló que los representantes de las industrias de combustibles fósiles tienen una fuerte representación en las asociaciones que participan en las conversaciones climáticas de la ONU. Aunque las empresas no pueden participar en las negociaciones directamente, las asociaciones empresariales e industriales emplean tácticas encubiertas para frenar políticas climáticas clave, sostiene el informe.

La CMNUCC permite a las organizaciones con “estado de observador”, como la Asociación Nacional de Minería de Estados Unidos, FuelsEurope, la Asociación Mundial del Carbón y el Consejo Empresarial de Australia – que incluye a las petroleras Shell, ExxonMobil y BP, entre otras -, estar presentes en reuniones donde los delegados discuten opciones políticas para evitar desastres climáticos. Estas organizaciones representan a corporaciones que han negado sistemáticamente el cambio climático y que tienen una cartera que incluye décadas de lucrar a expensas del planeta.

El Acuerdo de París contra el cambio climático comprometió a los Estados a mantener el calentamiento global “muy por debajo de los dos grados Celsius”, pero también a “proseguir los esfuerzos” para limitar ese aumento de temperatura a 1,5 grados para 2018. “Una política transparente y claramente definida es esencial si queremos proteger realmente el espíritu y los objetivos del Acuerdo de París, y si hemos de tener la oportunidad de luchar para limitar el cambio climático a menos de dos grados”, escribió Mrinalini Shine, investigadora de Derecho Ambiental de la alemana Universidad de Colonia.

Muchos países del Sur en desarrollo – que representan colectivamente casi 70 por ciento de la población mundial – han luchado para incorporar una política de conflicto de intereses en la convención, por la cual estos grupos estarán legalmente obligados a declarar todos sus conflictos. Por ejemplo, este mes en una reunión en Bonn, el delegado de Venezuela declaró que el Acuerdo de París es un “instrumento entre Estados” e hizo una “solicitud moral” para que los grupos de presión declararan sus conflictos de intereses. Sin embargo, este pedido fue recibido con feroz resistencia por los países más ricos, con Estados Unidos, la Unión Europea, Noruega y Australia a la cabeza.

En Bonn, el delegado de Noruega declaró que excluir a las empresas según sus intereses sería “contraproducente”, mientras que la delegación de Australia añadió que el sector privado era una parte clave para financiar la transición a una economía baja en emisiones de dióxido de carbono. “Algunas de las empresas a las que se alude como las contaminadoras de la política serán las proveedoras de las mayores y mejores soluciones”, sostuvo el delegado australiano. “Y puede fijarse en algunas de las declaraciones procedentes de ExxonMobil y Shell recientemente para subrayar ese punto”, añadió. Una investigación realizada en 2015 por Inside Climate News, una organización de noticias sin fines de lucro, denunció que ExxonMobil sabía del cambio climático desde 1981, pero en los años siguientes la empresa multinacional gastó millones de dólares para promover la negación del fenómeno.

El informe de la CAI, además, reveló que la Cámara de Comercio de Estados Unidos recibe millones de dólares de ExxonMobil a cambio de “campañas de información pública”. Para colmo, el gobierno de Donald Trump, en su ataque a la política ambiental estadounidense que incluye el desmantelamiento del Plan de Energía Limpia, también instaló al ex director ejecutivo de la petrolera, Rex Tillerson, como secretario de Estado. “Con tantos incendiarios en el departamento de bomberos no es de extrañar que no hayamos podido apagar el fuego”, comentó Tamar Lawrence Samuels, directora de políticas internacionales de CAI, en un comunicado.

Esto, sin embargo, no implica que las industrias de los combustibles fósiles no tengan papel alguno en la desaceleración del calentamiento global, según el informe. El informe de la CAI recomienda ​​que la industria transforme sus prácticas empresariales para alinearse con los compromisos asumidos por la comunidad global para frenar la crisis, adoptar las soluciones creadas por la comunidad científica para minimizar la devastación y esforzarse por alcanzar el progreso social y económico mundial.

El nuevo acuerdo negociado de la CMNUCC se compromete a mejorar la “apertura, transparencia e inclusión” y pide a los interesados ​​- cualquier persona o grupo afectado por el cambio climático o política climática – que presenten sus opiniones sobre cómo se podría lograr. “Como comunidad global, tenemos la oportunidad sin precedentes para resolver la crisis climática de forma directa en el preciso momento en que todo – la gente, la justicia y el planeta – están en peligro”, destacó un portavoz de la CAI.

Los activistas, los grupos de presión e incluso los organismos gubernamentales de los países en desarrollo que buscan la justicia para el planeta y su población deben seguir presionando por las soluciones que la convención acordó. La convención está aceptando sugerencias sobre cómo abordar la cuestión de las naciones miembros, y tiene la intención de considerarlas en 2018.

sábado, 3 de junho de 2017

En el laberinto de Temer: La compleja salida de la crisis política de Brasil

José Robredo
El Ciudadano

Desde que la ex presidenta Dilma Rousseff fue destituida en agosto del año pasado, tras un largo proceso de juicio político impulsado por la derecha brasileña y el actual mandatario Michel Temer –que a la fecha oficiaba de vicepresidente-, el escenario político de Brasil ha estado absolutamente convulsionado.

Hoy, las denuncias de corrupción a partir del caso Lava Jato golpean a toda la institucionalidad política: una serie de ministros, parlamentarios y políticos están siendo investigados y otros ya se encuentran presos a partir de sus implicancias en cada una de las investigaciones.

Hasta hace un par de semanas, el presidente Michel Temer era objeto de una serie de manifestaciones en su contra por parte de las organizaciones políticas y sociales que protestaban contra las reformas neoliberales que impulsa su gobierno, eliminando el legado del período del Partido de los Trabajadores en el poder. La movilización social se intensificó luego de darse a conocer una conversación entre el mandatario y Josey Baptista, dueño de una cadena de frigoríficos, donde se pactaba el pago de sobornos (US$ 160 mil) al diputado Rodrigo Rocha Loures, del Partido del Movimiento Democrático Brasileño (PMBD) y al ex presidente de la Cámara de Diputados, Eduardo Cunha, para comprar su silencio.

Luego de esto, se alzaron pedidos de renuncia y se ingresaron 16 solicitudes de impeachment al Parlamento de Brasil, las que duermen en las oficinas del Congreso. Todas se encuentran bloqueadas por el presidente de la Cámara de Diputados, Ricardo Maia. Así las cosas, se percibe que la crisis tiene carácter terminal y que basta que aparezcan nuevos antecedentes para concretarse. Una agonía que, a la vez, arrastra a todo el sistema político brasileño.

¿Con los días contados?

El escenario que se construye a partir de esta trama de política y corrupción es negativo para Michel Temer, a quien el margen de acción se le reduce irremediablemente, para estar destinado a poner fin al mandato del ex vicepresidente de Dilma Rousseff antes de 2018.

Para el analista internacional y académico de la Universidad Católica de Talca, Fernando de la Cuadra, la situación de Temer es en extremo compleja, ya que “es difícil anticipar una fecha exacta, pero todo parece indicar que el actual mandatario no podrá concluir su gobierno”. Y agrega que, además, “el problema es que quien lo puede substituir en la línea de sucesión, el presidente de la Cámara, el diputado Rodrigo Maia, también se encuentra involucrado en varios casos de corrupción y está siendo acusado por los procuradores que tienen en sus manos el proceso Lava-Jato, aún en plena investigación por parte de la justicia brasileña”.

Al respecto, la periodista y coordinadora del periódico Brasil de Fato, Vivian Fernandes, sostiene que “no hay condiciones políticas de Temer para seguir como presidente hasta el final de 2018, incluso porque disminuye el apoyo incluso dentro de la derecha”.

Junto con eso, Fernandes agrega que uno de los hechos que impiden la salida de Temer es que su sector no tenga un reemplazante que proponer a la hora de dejarlo caer. En ese sentido, recalca que “lo que falta para que él caiga es que la derecha tenga un substituto para la presidencia y que logre la aprobación de medidas impopulares y antipopulares en el Congreso -como las reformas laboral y de las pensiones- tal vez otro presidente no va a querer tener la marca de haber aprobado tales medidas”.

Por otro lado, De la Cuadra explica que no hay mayores opciones de solución a la crisis que se vive en Brasil, ya que “todos los escenarios son muy complejos y demasiado riesgosos para conseguir darle alguna estabilidad al país. La crisis es muy profunda y no se vislumbra ninguna solución a corto plazo”.

Partidos tradicionales fuera. ¿Hay alternativas?

Una de las dudas que se generan con la crisis política de Brasil es si es que existen alternativas políticas que reemplacen al fracturado sistema político del país, que tiene todos los puentes cortados con la ciudadanía.

Consultada por El Ciudadano al respecto, Vivian Fernandes explica que “las alternativas políticas más fuertes que se apuntan desde la izquierda no excluyen los partidos políticos tradicionales, los incluyen”. Junto con ello, plantea que “lo más fuerte que hay en la izquierda hoy es la idea de frentes políticos, unitarios, amplios, en los que hay militantes de partidos, movimientos populares, fuerzas sindicales, asociaciones barriales, institutos de investigación y otros”. “Estos son espacios de unidad política y de articulación muy recientes, que no tienen su futuro claro todavía, pero que la apuesta es seguir en esta construcción”, destaca Fernandes.

Mientras que De la Cuadra explica que “este periodo por cierto va a generar un importante campo de disputas que los grupos progresistas y la izquierda deberán ocupar, si pretenden reconstruir un proyecto diferente para Brasil, que supere las penurias y tragedias que ha experimentado este país a lo largo de su historia reciente y que se han agudizado de forma dramática en los últimos dos años”.

Con este escenario, preguntarse cómo se puede proyectar el desarrollo de la crisis es casi un paso obligado. Así, De la Cuadra sostiene que “temo que la tendencia es que los cambios que se van a producir en Brasil en el próximo periodo y hasta las elecciones de octubre de 2018, serán efectuados dentro del campo de lo que proponen los partidos tradicionales, a pesar de que existe una cada vez mayor movilización popular contra la corrupción y la reforma del sistema político”.

Mientras que Fernandes cree que “el momento es tan confuso que no posibilita proyecciones seguras de nada. No se puede proyectar ni para la próxima semana. Toda la denuncia contra el presidente golpista Michel Temer surgió de una hora para otra y cambió muchas tácticas, análisis de la política nacional”.