domingo, 23 de novembro de 2014

Colômbia e seu instável e delicado equilíbrio

Eric Nepomuceno
Carta Maior

Nunca antes qualquer tentativa de se chegar a um acordo de paz entre governo e guerrilha chegou tão longe – e, portanto, tão perto de uma solução – como o diálogo iniciado pelo presidente Juan Manuel Santos e o alto comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as FARC, há dois anos. E de repente, tudo pareceu, uma vez mais, ir a pique: na tarde do domingo 16 de novembro, o general Rubén Darío Alzate Mora foi seqüestrado, na companhia de um cabo do Exército e de uma advogada, num povoado perdido nas margens do rio Atrato, nos confins da selva, região onde atuam tanto as FARC como remanescentes de outro grupo guerrilheiro, o Exército de Libertação Nacional (ELN), e várias quadrilhas de traficantes de droga.

Assim que se soube do seqüestro, Juan Manuel Santos anunciou a imediata suspensão das conversas de paz que se realizam em Havana. E sugiram perguntas que não tiveram resposta. A primeira delas: por que o experiente general com nome de poeta se aventurou numa região sabidamente de alto risco vestido em roupas civis, desarmado, e sem um esquema mínimo de segurança? A segunda: por que razão, em pleno e tenso diálogo buscando a paz, as FARC fariam tamanho desafio?

Poucos dias depois a guerrilha admitiu que o general – o primeiro militar de tal patente a ser seqüestrado em meio século de guerra civil – estava em seu poder. O que não se sabe, e certamente levará muito tempo até que se saiba, é como uma guerrilha que atua sempre de maneira tão rigorosamente disciplinada resolveu, justo agora, seqüestrar um general. Pode ser que não soubessem de quem se tratava, pode ser que tenha sido uma ação voluntariosa de um grupo desorientado, pode ser que quisessem pressionar de maneira contundente o governo, pode ter sido qualquer coisa. Mas algo é certo: tudo que foi alcançado até agora nas conversas de paz esteve por um fio.

Passada uma semana, as FARC anunciaram haver entregue ao governo as coordenadas indicando o local onde o general, seus acompanhantes e outros militares em seu poder serão entregues. Concluída a ação, o incidente – muito sério, por certo – terá terminado. Mas deixa claro, seja do ponto de vista que for, o instável e delicado equilíbrio que cercou e cerca as conversas e negociações, e projeta dúvidas e questões sobre o que acontecerá quando – e se – for alcançado um acordo final.

Até agora, chegou-se a um consenso sobre três dos seis pontos da agenda de negociações entre guerrilha e governo. O primeiro deles se refere à reforma agrária. O segundo, à participação de guerrilheiros desmobilizados na vida política do país. Eles poderão inclusive formar um partido nos moldes convencionais e disputar eleições. O terceiro trata da questão do narcotráfico, e determina a implantação de um programa especial para que os atuais cultivos usados para a produção de drogas sejam substituídos.

Tanto a questão da reforma agrária como da reinserção dos guerrilheiros na vida política do país eram consideradas decisivas. Restam, porém, três outros pontos, dos quais dois são especialmente delicados. O primeiro deles se refere à determinação de um processo paralelo e coincidente para que o desarmamento da guerrilha ocorra ao mesmo tempo em que se reestrutura as Forças Armadas do país. Ao mesmo tempo, seriam suspensos os processos judiciais contra a guerrilha que estão em andamento.

O segundo é igualmente complexo: como definir quem pode ser considerado vítima da violência, e qual tipo de reparação será aplicado? Para encerrar o processo, está prevista a realização de um referendo nacional, que aprovará – ou não – o acordo alcançado.

Falta muito caminho a ser percorrido, e ele é todo difícil. Por exemplo: pesquisas recentes indicam que a imensa maioria da opinião pública é contrária a uma anistia aos guerrilheiros. Isso significa que mesmo que se chegue a um acordo satisfatório para os dois lados, ele pode ser recusado pela maioria do eleitorado. É inegável que se trata de um quadro complicado e ainda obscuro. Mas também é inegável que nunca antes se havia chegado tão perto de alcançar alguma luz.

Apesar da tensa expectativa e da dificuldade de se manter algo mais que um otimismo apenas relativo, há indícios de que se aposta forte na possibilidade de chegar a bom porto. Agora mesmo, o governo de Juan Manuel Santos começa a projetar cálculos referentes aos custos que o governo terá de enfrentar para aplicar todos os pontos do acordo. Calcula-se, por exemplo, quanto será necessário para implantar a reforma agrária, a recuperação social das populações rurais afetadas pela violência, a implantação de serviços elementares de educação e saúde. E também quanto será requerido pela recuperação ambiental de vastas zonas de florestas.

Ou seja: há quem planeje um futuro que será, se não de paz total, pelo menos de uma normalidade que o país ignora há meio século. Do lado da guerrilha, também se notam sinais de esforço para que o acordo seja alcançado. Não há como apressar um processo necessariamente intrincado e complexo, mas os negociadores das FARC têm deixado clara sua disposição de serem flexíveis.

Isso tudo foi posto em risco na tarde de um domingo, quando um general resolveu fazer uma viagem de barco que ninguém consegue entender. Para onde ia, sem escolta, sem segurança alguma? Fazer o quê? Por que não ouviu os alertas do próprio barqueiro que o conduzia? As respostas virão com o tempo. E, quanto antes, melhor.

sábado, 8 de novembro de 2014

Crimen de normalistas: Falla del Estado

Editorial
La Jornada

A 43 días de ocurrido el asesinato de tres estudiantes de la escuela normal rural de Ayotzinapa y el secuestro de otros 43, el procurador general de la República, Jesús Murillo Karam, presentó, en una conferencia de prensa, el relato de una operación de extermino perpetrada en las mismas fechas –26 y 27 de septiembre–, no como conclusión de la pesquisa correspondiente sino como un avance de ella, ya que la dependencia a su cargo no ha podido obtener la certeza científica de que los asesinados sean los estudiantes capturados esa noche en Iguala.

Las declaraciones del funcionario suscitaron el inmediato rechazo de los familiares de los 43 desaparecidos, quienes lo acusaron de querer dar carpetazo a la investigación, no aportar pruebas irrefutables, no recurrir a instrumentos tecnológicos adecuados, no haber acordado aún la asistencia técnica de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos en la pesquisa y no haber esperado los resultados, aún pendientes, encargados al equipo de forenses argentinos que colaboran en la investigación y en quienes los familiares han depositado su confianza. Asimismo, criticaron la forma en que la Procuraduría General de la República (PGR) ha ido presentando tramos de investigación y las múltiples filtraciones y versiones sin confirmar que han circulado, las cuales, dijeron, son una forma descarada de torturar a los padres de familia. Por su parte, Amnistía Internacional (AI) objetó la investigación oficial por limitada e incompleta y señaló que el gobierno ha sido incapaz, hasta ahora, de admitir que la barbarie de Iguala fue un crimen de Estado. La desaparición forzada de los estudiantes es sólo el último de una larga serie de horrores (...) en Guerrero y el resto del país. La corrupción y la violencia como señales de advertencia han estado allí para que todos las vean desde hace años y los que negligentemente las han ignorado son ellos mismos cómplices de esta tragedia, acusó Erika Guevara Rosas, directora regional del organismo humanitario.

No son el descontrol delictivo, la inseguridad y la corrupción los únicos elementos que confluyen en los hechos de Iguala. Antes de ellos se encuentra un modelo económico que ha devaluado a la población del país, ha marginado y menospreciado sistemáticamente al campo y a la educación pública y que, en consecuencia, ha visto a las normales rurales como un obstáculo a la plena implantación del modelo neoliberal en el país y a los normalistas como elementos antisociales. Durante muchos años, el discurso oficial y los medios afines al régimen han satanizado en forma sistemática a las normales rurales y las han presentado como escuelas de guerrilleros y refugios de malvivientes. Ello, sumado a la virtual concesión a la delincuencia de regiones enteras por parte de autoridades municipales, estatales y federales, ha creado el entorno en el que ocurrió la barbarie.

La responsabilidad a la que se refiere AI tiene un componente adicional: desde hace muchos meses, tanto el gobierno de Guerrero como la Secretaría de Gobernación federal y la propia PGR tuvieron conocimiento de la conducta criminal del ex presidente municipal de Iguala, José Luis Abarca Velázquez, y no hicieron nada. También la cúpula de Nueva Izquierda, la corriente que controla el Partido de la Revolución Democrática, al que pertenecía Abarca, tuvo la información correspondiente y optó por callar.

La noche de la agresión, tanto los mandos estatales de Chilpancingo como los federales fueron informados de lo que ocurría y no intervinieron para impedirlo o atenuarlo. Ya cometidas las atrocidades, el Ejecutivo estatal emprendió acciones erráticas y absurdas para localizar a los desaparecidos, en tanto que el Ejecutivo federal dejó pasar más de una semana antes de rendirse a la evidencia de que estaba en la obligación de intervenir. Y en el mes transcurrido desde que intervino, con más de 70 detenidos y después de espectaculares despliegues de búsqueda, no ha sido capaz de explicar cabalmente ni de manera irrefutable por qué fueron asesinados tres estudiantes ni por qué se encuentran desaparecidos otros 43 y cuál es su paradero.

En suma, lo que Murillo Karam presentó como una investigación bastante exitosa en un plazo razonable resulta, a ojos de la opinión pública nacional e internacional, una prueba de extremada ineficiencia y de exasperante insensibilidad. El procurador afirmó que Iguala no es el Estado, pero lo ocurrido en esa localidad guerrerense y sus secuelas muestran de manera inequívoca que el Estado falló, que sigue fallando y que no hay a la vista propósito de enmienda.

sábado, 1 de novembro de 2014

Suecia reconoce a Palestina como Estado independiente

Agencias

El gobierno de Suecia reconoció hoy a Palestina como Estado independiente, y se convirtió en el primer país de la Unión Europea (UE) en adoptar esta decisión. Un total de 135 países ya reconocen a Palestina, incluidas varias naciones de Europa oriental que lo hicieron antes de unirse al bloque comunitario europeo. La UE dijo luego del anuncio sueco, que el objetivo del bloque es alcanzar una solución con un Estado palestino independiente al lado de Israel. El presidente palestino, Mahmoud Abbas, saludó la medida adoptada por Suecia, que Israel calificó de deplorable.

Nuestro gobierno considera que los criterios del derecho internacional para el reconocimiento del Estado de Palestina se cumplen: un territorio que, pese a no tener fronteras fijas, cuenta con una población y un gobierno, explicó la ministra del Exterior sueca, Margot Wallström. Agregó que con esta decisión el gobierno socialdemócrata que asumió a principios de mes cumple una promesa. La decisión llega en un momento crítico, dado que las conversaciones de paz se estancaron durante el último año, así como la decisión sobre nuevas colonias en tierra palestina ocupada, lo que han complicado la solución a dos estados.

Abbas calificó la decisión de valiente e histórica y pidió a los gobiernos del mundo que sigan el ejemplo de Suecia”, en tanto que Israel llamó a consultas a su embajador en Estocolmo. Es una decisión lamentable que fortalece a los elementos extremistas y la política palestina de rechazo, dijo el canciller israelí, Avigdor Lieberman. Horas antes, la muerte a manos de la policía israelí de un palestino acusado de haber agredido a un activista israelí ultranacionalista desató nuevos episodios de violencia en Jerusalén, que obligaron a las autoridades a cerrar por unas horas lo que para los musulmanes es la Explanada de las Mezquitas, o el Monte del Templo para los judíos, con la finalidad de evitar disturbios.

El palestino, Mutaz Hijari, identificado por el ala armada de Yihad Islámica, las Brigadas de Al Quds, como uno de sus miembros, era acusado de haber disparado y dejar herido al activista Jeduha Glick, quien encabeza una campaña para que se permita a los judíos rezar y celebrar oficios en el complejo de la mezquita y no sólo en la zona del Muro de los Lamentos. El primer ministro iraelí, Benjamin Netanyahu, ordenó el despliegue de refuerzos de la policía en la ciudad vieja de Jerusalén, donde se ubica la Explanada de las Mezquitas. Abbas señaló que las acciones de Israel en Jerusalén equivalen a una declaración de guerra contra el pueblo palestino y sus lugares sagrados, así como contra las naciones árabes e islámicas.