quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

A estetica de uma derrota


Milly Lacombe
UOL

Assim como o nazismo é uma estética política e também é a política como estética (já ensinou o professor Michel Gherman), talvez a derrota do nazismo se construa também como estética. Michelle Bolsonaro, caída ao chão de joelhos enquanto três dúzias de fanáticos entoam um Pai Nosso em frente ao Alvorada e Jair se mantém de pé na perfeita imitação de sua própria estátua de madeira, é a brutal estética de uma derrota.

Estética que tem no bolsonarista grudado ao para-brisa do caminhão e vestido em camisa amarela outra simbólica representação do fracasso. O fiasco de um golpe, o malogro da crueldade, a ruína de um projeto nazi-fascista de Brasil. O fim de um governo desumano, perverso, sinistro, funesto, aterrador, tétrico, tenebroso, macabro. Acaba aos prantos e de joelhos na grama do Alvorada.

Termina curvado em lágrimas tendo na mulher que derrete ao chão a perfeita representação do que chamam de fraquejada e no homem que permanece em pé vestido como um defunto a simbologia daquele que, ao menos, não se colocou em posição de prece frente ao séquito de fanáticos.

A imagem dos restos mortais dos sem caráter, dos sem alma, dos sem espírito. Arrastando-se pela grama a partir do palácio para, calados, se arriarem diante de uns poucos que berravam coisas sem sentido, cantavam músicas que pediam por Deus e repetiam palavras de ordem. Coloridas cadeiras de praia vazias entre eles e alguns lunáticos completavam a pintura mórbida.

Tudo em Michele e Jair cheira decadência e deterioração. Estão com a textura de uma decomposição pública, cadáveres que se arrastam lentamente de mãos dadas pela grama, destinatários de tudo o que semearam e que agora volta como um bumerangue sobre suas cabeças. O fim do atual governo produz imagens fortes e eloquentes.

É a estética do apodrecimento. É a pulsão de morte que tanto promoveram representada em corpos que ainda se movimentam, mas que já não emitem mais sinais vitais. Jair, o zumbi político, terá agora que encarar juridicamente suas ações nos últimos quatro anos - ou mais. Quanto a Michele, vamos ter que esperar para ver o que tem pela frente: se segue caída e humilhada aos pés do marido e enfrenta destino semelhante ou se decide, quem sabe, contar um pouco do que viu e ouviu.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Buscando posada


David Brooks
La Jornada

Estados Unidos está atrapado entre su identidad como «país de inmigrantes» y país envenenado con xenofobia y racismo históricos que han sido elevados a niveles alarmantes por fuerzas neofascistas en los últimos años.

Hay un número sin precedente de peregrinos en el mundo –refugiados, migrantes, exiliados– que se han visto obligados a despedirse de sus hogares, de sus familias, de sus amados, de sus mundos, para ir a buscar posada, muchos en países que comparten responsabilidad en provocar el éxodo a través de políticas económicas, guerras, su contribución al cambio climático y más.

John Berger había dicho que el siglo XXI era el siglo en donde nunca antes tanta gente ha tenido que decir adiós, que es el siglo de las desapariciones. El siglo de gente viendo sin poder hacer nada, a otros, que eran cercanos a ellos, desaparecer en el horizonte. El siglo XXI sigue siendo marcado por el largo adiós con la ONU calculando que más de 100 millones de personas fueron forzosamente desplazadas de sus hogares.

En Estados Unidos, que ahora está atrapado entre su identidad como país de inmigrantes y país envenenado con xenofobia y racismo históricos que han sido elevados a niveles alarmantes por fuerzas neofascistas en los últimos años.

Mientras tanto, hay una disputa para ver cómo continuar limitando el derecho al asilo, un éxito del gobierno de Trump que casi logró anularlo por completo. Los políticos, con sus notables excepciones, siguen usando a los migrantes como peones en su obsceno juego de ajedrez, algunos construyendo nuevos muros o secuestrándolos para enviarlos a otros estados, mientras defensores expresan su preocupación por los migrantes y ofrecen propuestas para manejar este flujo humano de manera responsable, incluyendo lo que dicen que es un regalo para los llamados soñadores, pero hasta ahora, sólo han logrado alargar una pesadilla para los buscadores de posada.

La gran iniciativa del gobierno de Biden para identificar y atender algunas de las causas de raíz sigue evitando una de las causas principales: el propio Estados Unidos ha nutrido el éxodo durante décadas como resultado de sus intervenciones y guerras, su fracasada guerra contra el narco, su promoción de políticas neoliberales y su magna contribución histórica al cambio climático.

Todo, mientras seres humanos –tal vez hasta un tercio menores de edad– buscan cómo sobrevivir una noche más, un secuestro más, una amenaza más, otro día de frío en la zona fronteriza y rumbo al país de la estatua esa que dice que da la bienvenida a los desamparados del mundo.

Ni hablar de los desplazados y desamparados dentro del país. Vale recordar que parte de la historia de esta nación fue el desplazamiento y el exilio interno de millones de indígenas por colonizadores europeos –los primeros migrantes indocumentados– y sus descendientes. Los indígenas estadunidenses aún viven en reservaciones que en algunos casos podrían ser caracterizados como campos de refugiados. Y en el país más rico del mundo, también hay por lo menos 580 mil homeless, personas sin techo, en busca constante de posada. Entre ellos hay miles de veteranos militares que participaron en las intervenciones e invasiones de otros países, provocando desplazamientos y éxodos en varias partes del mundo.

Desde los campos de refugiados al otro lado del río, desde dentro de este país donde más de 11 millones viven en las sombras por no tener papeles, desde las calles bajo cajas de cartón o en el Metro, donde duermen cientos de miles de ciudadanos, se pueden ver los arbolitos de Navidad y otras decoraciones en hogares, comercios, iglesias y oficinas recordando la búsqueda de posada por unos migrantes/refugiados para el nacimiento de su hijo que después sería un trabajador (carpintero) perseguido tachado de ilegal.

¿Habrá milagro? Ante el prolongado adiós, ¿por fin habrá un gran saludo de bienvenida? ¿Quiénes lograrán ese milagro? Dicen, citando a June Jordan, que nosotros somos los que hemos estado esperando.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Os marxistas mudaram a forma como entendemos a história


Alfie Steer
Jacobin Brasil

Historiadores marxistas ingleses – como E. P. Thompson e Eric Hobsbawm – desencadearam uma revolução na compreensão do papel dos trabalhadores na construção da história. Seus trabalhos ainda são frescos e vibrantes - e todos aqueles que querem mudar o mundo deveriam ler.

Resenha do livro Os historiadores marxistas britânicos por Harvey J. Kaye (Zer0 Books, 2022)

Enquanto os guerreiros da cultura da direita populista gostam de acreditar que o marxismo domina nossas universidades e instituições culturais, na verdade, sua presença contemporânea é bastante marginal. Poucos acadêmicos hoje se descreveriam acriticamente como “marxistas”. Menos ainda se sentiriam vinculados por qualquer linha partidária. Na disciplina da história em particular, a abordagem marxista é agora frequentemente criticada como economicamente determinista, falhando em explicar a ação humana e reduzindo desenvolvimentos históricos complexos aos processos imutáveis dos sistemas econômicos. Nas interpretações mais cruas dos escritos de Marx, toda ideologia, lei, política, cultura e sociedade civil são redutíveis à composição da base econômica; o estudo do desenvolvimento histórico torna-se uma ciência imutável, acessível apenas com uma compreensão marxista da exploração econômica.

Embora essa abordagem possa ser defendida pelos teóricos marxistas mais dogmáticos, e menos perspicazes, ela foi desafiada apaixonadamente por alguns dos historiadores mais influentes do século XX. Primeiramente agrupados em torno do Grupo de Historiadores do Partido Comunista, os historiadores marxistas britânicos (entre seus líderes Maurice Dobb, Rodney Hilton, Christopher Hill, Eric Hobsbawm e E. P. Thompson) tinham grandes ambições tanto no mundo da erudição histórica quanto no ativismo político. Eles visavam transcender o modelo vulgar de superestrutura de base que havia freado a teoria marxista, ampliar o conceito de classe, em nossa compreensão do passado e recuperar as lutas e ideias esquecidas das classes trabalhadoras. Como demonstra a nova edição de Harvey Kaye de seu estudo clássico de 1984, os historiadores marxistas britânicos foram autores de uma importante tradição teórica muito mais matizada do que admitem seus detratores, e que pode nos ensinar muito sobre o estudo da história e seu valor para a política radical de hoje.

Como Kaye demonstra, os historiadores marxistas britânicos fizeram contribuições tanto acadêmicas quanto políticas. No nível mais básico, eles expandiram os horizontes da pesquisa histórica, escrita e compreensão. Por muito tempo a história se limitou ao estudo das elites políticas dominantes, campanhas militares ou intrigas diplomáticas. A vida das pessoas comuns raramente era registrada. Ao expandir o escopo tradicional da pesquisa histórica, os historiadores marxistas britânicos procuraram desvendar a “totalidade social” mais complexa e representativa do passado. Maurice Dobb, por exemplo, empurrou o estudo da história econômica para uma definição mais abrangente do capitalismo como uma relação social historicamente específica, implantando os primórdios de uma abordagem interdisciplinar que agora domina a academia. Esse impulso para ampliar o escopo da história, por sua vez, levou ao conceito politicamente mais potente da tradição: a história vista de baixo.

Concentrando-se no trabalho, nas vidas e nas ideias das pessoas comuns, os historiadores marxistas britânicos redescobriram a agência política e a criatividade intelectual das classes trabalhadoras e camponesas do passado. Longe das vítimas passivas das mudanças de época (o declínio do feudalismo, a ascensão do capitalismo e do imperialismo, para citar alguns), as classes trabalhadoras, da era medieval à industrial, foram redefinidas como atores históricos influentes, porém limitados pelas explorações das relações de classe e a dominação do poder estatal.

Rodney Hilton lutou contra as definições de “feudalismo” como simplesmente um sistema experimentado por um punhado de membros da elite da classe dominante, para algo que afetava a vida do campesinato cotidiano e motivava suas próprias rebeliões condenadas, mas não menos influentes. A Guerra Civil Inglesa, para Christopher Hill, foi uma revolução inglesa, lançando simultaneamente as bases para o futuro desenvolvimento do capitalismo, ao mesmo tempo que mobilizou uma revolução democrática fracassada cujos atores principais (os Levellers, Diggers e Ranters) produziram ideias revolucionárias que variam de uma democracia massiva à uma forma de comunismo primitivo, e até mesmo ao amor livre. Em seus estudos sobre o sul da Europa pré-capitalista, Eric Hobsbawm redescobriu os “rebeldes primitivos” do banditismo estilo Robin Hood, ao mesmo tempo em que defendia a racionalidade por trás dos quebra-máquinas luditas na Grã-Bretanha industrial. Finalmente, em seu estudo magistral sobre o “fazer” da classe trabalhadora inglesa, E. P. Thompson recuperou tanto as ideias radicais dos clubes jacobinos e dissidentes religiosos, mas também a “economia moral” imposta por turbas desordeiras nas ruas de Londres.

Esse esforço para ampliar o escopo da história e recuperar um mundo esquecido de agência e radicalismo da classe trabalhadora foi acompanhado por um desejo de superar o modelo inadequado de superestrutura de base que definiu o marxismo clássico. Longe de serem deterministas econômicos, os historiadores marxistas britânicos rejeitaram uma análise estática e não histórica da estratificação de classes, vendo a “classe” como uma forma de relação social entre os seres humanos, desenvolvida ao longo do tempo, frequentemente contestada por meio de luta acirrada. A classe não era uma mera categoria econômica, mas um fenômeno histórico representado em nossas vidas sociais e formações culturais, em práticas, rituais, ideias e valores. Através do conceito de “experiência” de classe, os historiadores marxistas britânicos elucidaram uma maneira pela qual a luta de classes e a exploração moldaram a consciência social, reconhecendo a importância essencial do material sem abandonar a agência humana.


Essa reconceitualização faz parte do que Kaye define como a “Teoria da Determinação de Classe” dos historiadores marxistas, com a luta de classes ocorrendo simultaneamente nas esferas social, econômica, política e cultural, definida como o motor da história. Embora a “determinação de classe” dos historiadores marxistas britânicos possa ter corrido o risco de excluir outras formas de opressão, o desenvolvimento subsequente de outras “histórias de baixo” sofreu a influência direta dessa tradição original. Da história das mulheres, florescente no trabalho de historiadoras socialistas-feministas como Sheila Rowbotham e Sally Alexander, ao trabalho em crescimento sobre a história negra britânica, à micro-história ou história oral, o foco da disciplina foi arrancado das mãos de reis, cavaleiros e clero. Embora nem sempre possuam o mesmo compromisso ideológico explícito dos criadores marxistas, a mudança da elite para as pessoas comuns, suas vidas cotidianas, trabalho e até emoções, é uma mudança de foco indelével e potencialmente irreversível.

Como Kaye enfatiza o tempo todo, os historiadores marxistas britânicos não eram meros intelectuais de poltrona, mas também politicamente ativos, em alguns casos em detrimento de sua produção acadêmica. Todos eles desempenharam algum papel na oposição democrática dentro do Partido Comunista da Grã-Bretanha (CPGB), e muitos lideraram a fundação da Nova Esquerda Britânica após 1956.

E. P. Thompson escreveu e fez campanha apaixonadamente contra as armas nucleares e a invasão das antigas liberdades civis durante a Guerra Fria. Christopher Hill continuaria a ser um defensor de inúmeras causas e publicações de esquerda até os oitenta anos. Ironicamente, o mais popular dos historiadores marxistas britânicos e, de fato, um dos historiadores mais vendidos de todos os tempos, Eric Hobsbawm, foi o mais economicamente determinista da tradição, mas também o mais ideologicamente moderado (apesar de sua participação vitalícia no CPGB). Na década de 1980, suas advertências de que a “marcha para frente do trabalho” havia parado por causa de grandes mudanças na composição de classes da Grã-Bretanha, tiveram uma grande influência no doloroso processo de moderação ideológica do Partido Trabalhista, culminando no Novo Trabalhismo.

Embora as diferenças políticas surgissem naturalmente com o passar das décadas, todos os historiadores descritos por Kaye articularam uma forma de socialismo libertário enraizada tanto nos heróis folclóricos do passado radical da Inglaterra, que vão de Wat Tyler a William Morris, quanto nos escritos de Marx e Engels. Como tal, a redescoberta de velhas lutas e ideias radicais forneceu novas fontes de inspiração ideológica e até mesmo uma nova identidade nacional radical para a esquerda britânica.

Como a academia continua sendo uma centelha nas guerras culturais, uma reavaliação do papel do “ativista acadêmico” é oportuna, e os historiadores que Kaye descreve neste livro (Thompson em particular) aparecem como exemplos arquetípicos. Eles também foram, até certo ponto, beneficiários de uma era mais benevolente. Os empregos acadêmicos eram bem pagos e abundantes no pós-guerra, à medida que as universidades se expandiram e o número de estudantes cresceu. Um movimento vibrante de educação de adultos e trabalhadores proporcionou mais oportunidades fora das universidades convencionais de “elite”.

Agora, a precarização crônica do trabalho acadêmico deixa os historiadores tão sobrecarregados e sem tempo, que encontrar tempo para escrever ou pesquisar, quanto mais organizar politicamente, parece uma tarefa quase impossível. Em tempos tão pouco promissores, uma redescoberta das multidões que vieram antes, e lutaram contra a exploração e em defesa de suas antigas liberdades, poderia fornecer uma fonte de inspiração muito mais direta do que até mesmo os historiadores marxistas poderiam ter imaginado inicialmente.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

A miséria na rica Europa


Celso Japiassu
Fórum 21

Um continente rico, composto de países ricos onde impera um sistema de bem estar social e que aprendeu, depois de tantas guerras e crises por que passou, a vencer a pobreza e a miséria das suas populações. Esta é a imagem que a Europa vendeu para o mundo e na qual o mundo passou a acreditar. Mas é uma ilusão porque a Europa, hoje, dominada por sistemas neoliberais na economia e à direita na política, contabiliza mais de 120 milhões de pessoas que vivem na fronteira da miséria numa população de pouco mais de 500 milhões de habitantes nos 27 países que compõem a União Europeia. Ou seja, perto de 25 por cento das populações da Europa vivem no limite da carência total de meios de subsistência.

O aumento da pobreza - quatro por cento maior do que antes da crise de 2008 - é atribuído ao desemprego, aos salários mais baixos, contratos de trabalho precários, acesso mais difícil à habitação e preços mais altos para energia, comida e saúde. Tudo agravado com a guerra da Ucrânia dentro das fronteiras do velho e orgulhoso continente e as consequências da pandemia de Covid 19.

A difícil situação

Mesmo quem tem emprego sofre a injustiça e não há garantia para condições de trabalho com dignidade. Em Gotse Delchev, no sudoeste da Bulgária, por exemplo, os empregados da fábrica Pirin-Tex trabalham muito para ganhar muito pouco. A Pirin-Tex emprega 1800 pessoas e opera principalmente para a marca de luxo Hugo Boss. Talvez seja bom não esquecer que Hugo Boss, empresário alemão filiado ao Partido Nazista, morto em 1948, desenhou os uniformes das sombrias Sturmabteilung (SA), Schutzstaffel (SS), da Juventude Hitlerista e do NSKK. Produziu os uniformes e ganhou muito dinheiro com a mão de obra escrava dos prisioneiros dos campos de concentração.

A pressão é enorme, dizem os empregados búlgaros de Hugo Boss, que se queixam de serem tratados como robôs. São fabricadas 12 mil peças de roupa por semana e a produção de cada empregado é controlada por tablets individuais. Os operários conseguem terminar diariamente, no máximo, apenas 60 por cento das tarefas que lhe são atribuídas e por isso os seus salários ficam abaixo do que foi contratado.

Mesmo nos países mais ricos a situação é também difícil. Na França, quase quinze por cento da população é considerada pobre ou muito pobre. Cerca de 400 mil pessoas caíram para a pobreza só no ano de 2018. Na Alemanha foram identificadas cerca de 700 mil pessoas sem teto, a maioria vivendo em abrigos mas 50 mil são moradores de rua.

A felicidade nórdica

 Nos países nórdicos, como Finlândia, Noruega e Dinamarca, a ideia de que eles são mais felizes mascara uma realidade sombria. São países que ocupam os primeiros lugares nos rankings de felicidade e bem estar. Mas um relatório do Conselho de Ministros Nórdicos e do Instituto de Pesquisa da Felicidade, de Copenhague, sugere que a reputação dos países nórdicos como "terras da felicidade" estão mascarando problemas importantes de parte da população, especialmente dos jovens entre 16 e 24 anos.

Uma pesquisa recente feita por aquelas entidades revela que mais de 12 por cento das pessoas declaram que se encontram em estado de sofrimento. O desemprego, a renda e a solidão têm a ver com este percentual. Os jovens, principalmente, declaram-se sozinhos e estressados. "Estamos vendo que essa epidemia de transtornos mentais e de solidão está chegando aos países nórdicos", disse Michael Birkjaear, um dos autores do relatório daquela pesquisa, ao jornal britânico The Guardian.

Na Finlândia, entre 2012 e 2016, o suicídio foi responsável por 35% de todas as mortes entre os mais jovens. Segundo a pesquisa, embora 3,9% das pessoas na região nórdica tenham declarado viver "em sofrimento", essa taxa em outros países é muito maior: 26,9% na Rússia e 17% na França.

O que fazer

Os estrategistas da União Europeia advertem que o envelhecimento das populações, provocado pela diminuição da taxa de natalidade e aumento da esperança de vida, está aos poucos tornando insustentável o modelo social europeu, pois aumentam as necessidades na área da saúde e pensões e vai diminuindo o número de pessoas em idade ativa.

Os objetivos da União Europeia para os próximos anos para enfrentar a pobreza visam aumentar o número e a qualidade dos empregos através de políticas nacionais em cada um dos países que levem em consideração o investimento em educação e treinamento e, genericamente, “a busca da justiça, combate à pobreza e promoção de oportunidades iguais para todos”.

A pobreza não é o mesmo que desigualdade, dizem alguns estudiosos do assunto. Mesmo nas sociedades desiguais quem ganha menos não vive necessariamente em situação de carência. Mas os pobres não dispõem de meios para sobreviver e podem chegar à indigência da miséria absoluta. São os jovens dos 18 aos 29 anos os que sofrem maior risco de caírem na pobreza. Segundo Christine Lagarde, que foi diretora do FMI e hoje é presidente do Banco Central Europeu, “os jovens da Europa colocaram seus sonhos em espera”.

Nicanor Cué, líder metalúrgico e dirigente do Partido da Esquerda Europeia, diz que “trabalhamos cada vez mais, somos mal remunerados”. E acrescenta que “há um grande número de problemas que se vão acumulando no seio da Europa. Temos que os resolver porque existe o risco de a Europa explodir sob a ascensão da extrema-direita que quer desmantelar a Europa”. Um dos lemas do Partido da Esquerda Europeia é “por uma Europa do povo e não do capital”.