segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Violências invisíveis

Ieda Estergilda de Abreu
Revista Fórum

A pesquisadora Luciane Lucas dos Santos fala sobre como o atual modelo de desenvolvimento e a sociedade de consumo se relacionam com as formas de violência presentes em nosso cotidiano.

Como o atual modelo de desenvolvimento, adotado não apenas no Brasil, mas também em outros em países, afeta a dignidade humana? A questão do modelo neo-extrativista de desenvolvimento, a violência intrínseca a ele, o consumo e a questão indígena brasileira, temas entrelaçados, são estudados e discutidos pela professora e pesquisadora em Sociologia do Consumo Luciane Lucas dos Santos. Nesta entrevista, Luciane aborda as inúmeras formas de violência presentes no nosso cotidiano e como a sociedade de consumo e o modelo de desenvolvimento nutrem a invisibilidade desses fenômenos.

Como se manifesta a violência hoje, na sua avaliação?

Muitos imaginam a violência como sendo apenas algo que tem a ver com o mal que um vai causar ao outro, com o contexto da guerra, da limpeza étnica, da violência das cidades. Há muitas formas de violência. Caminhões com ameixas apodrecendo ao sol, que não chegam ao território palestino, é, por exemplo, uma forma de violência. Pode-se pensar também na humilhação social e na invisibilidade de algumas minorias – caso dos moradores de rua – como uma forma agressiva e silenciosa de violência. É comum pensarmos que morador de rua quer vida fácil, não faz nada, não gosta de trabalhar. Não é verdade. Estive com alguns numa feira de trocas embaixo do Viaduto do Glicério [região central de São Paulo] e aprendi muito. Muitos estão diretamente envolvidos na organização da feira de trocas do Glicério. Trabalham montando e desmontando as barracas, na limpeza dos banheiros, no apoio às tarefas da cozinha. Recebem mirucas (moeda social) por este trabalho e, com elas, obtêm aquilo de que necessitam – alimento, roupas, produtos de higiene pessoal. Nós temos uma concepção equivocada sobre a população em situação de rua. Muitos trabalham. Tem gente que veio de outros estados, da construção civil, perderam o emprego, não tiveram como voltar e ficaram por aqui. Muitos não voltam para casa, para sua terra, por vergonha. A razão para se estar na rua também pode ser diversa: o abandono e a desagregação familiar, assim como o desemprego, estão entre os motivos. A droga e o álcool chegam, às vezes, depois. A invisibilidade social a que eles são muitas vezes relegados é, sem dúvida, uma forma de violência.

A senhora diz que o modelo de desenvolvimento de um país pode vir a ser, paradoxalmente, um vetor de violência. Como é isso?

As ideias de progresso e desenvolvimento não raro transformam-se em desrespeito às diversidades e às diferentes temporalidades que marcam as múltiplas formas de organização da vida. O Brasil faz parte de um grupo de países que têm apostado no neo-extrativismo – ou seja, trata-se de uma aposta nos hidrocarbonetos, na mineração, no alargamento dos latifúndios. As correlações, no entanto, nos escapam. O hidrocarboneto pode estar no batom; quanto mais você compra, mais petróleo é necessário; quanto mais renova o celular, mais é necessário o coltan. Muita gente não sabe que por trás da sede de novidades tecnológicas (laptops, celulares, pads), existe uma demanda crescente por este minério – o coltan (columbita-tantalita) – e que, muitas vezes, a demanda de coltan no mercado internacional implicará o acirramento da guerra civil em países como a República Democrática do Congo, onde há uma grande quantidade desse minério. Não se trata de não ter celular, mas de discutir a violência invisível que habita os produtos, serviços e tudo mais que está no nosso cotidiano.

Qual o papel do consumo nesse contexto?

A maneira como eu me visto, onde eu como, que lugares eu frequento, tudo isto diz algo sobre mim. Os hábitos de consumo estão diretamente relacionados à questão da identidade. Há um mito, aqui, que precisa ser desfeito: o de que o consumo seja um ato individual. Embora ele pareça ancorar-se na escolha do indivíduo, o repertório que sustenta e valida o consumo é social. Isto quer dizer que, embora os indivíduos re-signifiquem, a todo momento, os conteúdos que recebem eles estão sempre presos a uma teia de significados validada socialmente. Outra questão a considerar é que, no mundo contemporâneo, os nossos afetos têm sido mediados pelo mundo dos bens. Há riscos nisto. Uma mãe atarefada que leva o filho, no fim do dia, para comer numa destas grandes lojas de fast food está tentando propiciar à criança uma experiência de bem-estar instantânea. Ela pode pensar: “meu filho, não temos muito tempo para estarmos juntos…. quero que esta experiência seja alegre pra você… se você gosta tanto de ficar aqui, então vambora”.

Mas de todas as coisas que precisamos repensar acerca do consumo, uma me parece urgente: o reconhecimento de que o consumo constitui um sistema de classificação social. Este modelo de consumo que hoje alimentamos contribui para que se naturalize uma hierarquia entre diferenças. Hierarquia entre gêneros, etnias e classes sociais. Mas, também, entre saberes, entre temporalidades, entre modos de estar no mundo e organizar a reprodução material da vida.

O que o carro significa nesse contexto?

Tem tudo a ver, estamos falando da violência estrutural, cotidiana e que tem muito da nossa aceitação. E aí entram as relações de trabalho. Falemos do combustível que alimenta nossos carros – carros que associamos ao conforto. Um trabalhador, no canavial, corta 12 toneladas diárias de cana. Ele anda quase nove quilômetros para cortar essas toneladas, segundo uma pesquisa da Embrapa. Faz cerca de 800 trajetos diários, dá 133 mil golpes de podão por dia. É uma violência silenciosa de que não temos notícia. Ainda assim, queremos que aumente o valor do etanol no mercado internacional porque significa que o Brasil vai crescer. De que modelo de desenvolvimento estamos falando, afinal?

E sobre os impactos sociais e culturais por trás do nosso consumo?

Vamos ao caso dos megaeventos, tendo em vista o “consumo” da cidade. Veja o que se passa no Rio de Janeiro. Bairros inteiros estão sendo afetados para facilitar o tráfego entre o Galeão e a Barra. Em São Paulo são organizadas visitas a Paraisópolis, que fica ao lado do Morumbi, por R$ 300. Você sai da Vila Olímpia, por exemplo, e vai até Paraisópolis fazer um city tour. Os pobres viram, simplesmente, objeto de consumo. De repente, torna-se in subir o bondinho do Alemão ou ir aos restaurantes bacanas que agora estão dentro das favelas. Usando um termo empregado por Boaventura de Sousa Santos, estamos diante de uma relação de “apropriação e violência”. A favela tem sido espetacularizada. Não estou dizendo que tudo o que esteja acontecendo em função da Copa seja ruim, que as pessoas não estejam se reorganizando e criando oportunidades, mas quando transformamos a favela noutra coisa, estabelecemos com ela uma relação de violência.

A questão indígena é outro tema de sua pesquisa. Como encaixaria no contexto da violência?

Vou dar alguns exemplos do que tem acontecido com os povos indígenas para mostrar a situação de insegurança jurídica e fundiária. Inúmeros documentos – entre projetos de lei, decretos etc – tratam de questões candentes sob uma perspetiva claramente anti-indígena. A PEC 215 e a PEC 38 são bons exemplos. A PEC 215 propõe que seja do Congresso Nacional a responsabilidade pela demarcação das terras indígenas e quilombolas (já a PEC 38 propõe que seja o Senado a fazê-lo). Isto significa, todos sabemos, uma barreira política aos processos de demarcação. A Portaria 303, por sua vez, em consonância com o Código Florestal, separa os povos originários dos recursos que estão em suas terras. Ou seja, restringe o usufruto dos bens e recursos por parte destas populações, ainda que tais bens e recursos se encontrem em terras indígenas. Se o Código Florestal abre o caminho ao retrocesso em relação aos direitos coletivos, a Portaria 303 pavimenta a estrada que confirma o grande latifúndio. Mas a questão não pára aí: a partir da Portaria 303, as demarcações já estabelecidas podem ser revistas e reconsideradas.

Outro exemplo é o projeto de lei 1610/96, bem como seu texto substitutivo, que complementam o cenário de retrocesso. Versam, ambos, sobre a exploração de recursos minerais em terras indígenas – sempre, é claro, com a alegação do interesse nacional. Segundo este Projeto de Lei, alcunhado de PL da Mineração, a consulta pública passa a ser um ato mais simbólico do que deliberativo e não interfere na continuidade do processo de exploração mineral.

O que fazer?

Primeiro, precisamos entender que dentro da diferença existem diferenças, para podermos perceber a dignidade de forma mais ampla. Na luta das mulheres, por exemplo, é comum acharmos que o movimento feminista é um só, que vai reunir todas as lutas numa luta única. Há também violência quando as mulheres são tratadas como se falassem em uníssono, como se seus mundos fossem de uma única cor ou matiz. Os problemas das mulheres não são sempre os mesmos; tampouco elas têm uma essência platônica a compartilhar. Cair nesta cilada epistemológica é desconsiderar que os problemas vividos por estas mulheres podem ser ampliados diante de outras questões vividas na própria carne, como, por exemplo, o racismo, a intolerância religiosa, o preconceito com a opção sexual e as diferenciações de classe que abatem ainda mais o corpo da mulher pobre. Já ouvi de uma mulher da periferia de São Paulo dizendo: “Quero saber como é que vocês podem me apoiar no final de semana, que é quando o bicho pega.” É uma pergunta interessante. As condições de resposta de uma mulher de classe média à situação de violência doméstica não são as mesmas de uma mulher que vive na periferia. Assim, não dá para, em nome dos direitos humanos, acharmos que a luta é a mesma para todo mundo; não necessariamente ela será.

A senhora diz também que precisamos repensar a paz.

Sim, fala-se muito na cultura de paz, mas acho importante pensarmos de que paz estamos falando e como ela é possível. Evocar a paz implica, primeiro, não esquecer a diferença dentro das diferenças e perceber que não é possível evocar a paz, a dignidade, passando por cima de desigualdades e dívidas históricas. Não estou dizendo que a paz não é possível, quero deixar claro. Contudo, é importante ter em conta que esta paz branca que tudo dilui – inclusive a história – é também violenta. A cultura de paz só poderá efetivamente acontecer mediante efetivos processos de tradução intercultural e, portanto, de respeito às diferenças. A tradução intercultural, nos termos propostos por Boaventura de Sousa Santos, configura-se como um antídoto poderoso contra o esgarçamento do tecido social, constituindo também uma forma preciosa de articulação política das minorias silenciadas. Queremos a paz, sim, mas uma paz justa, que não seja construída em cima do silenciamento e da diluição da diferença.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

El Datagate y la inmigración

Elena Llorente
Página 12

El naufragio de cientos de personas que iban a Lampedusa quedó casi en segundo plano en la cumbre europea que empezó ayer y continúa hoy. La mirada estaba puesta sobre todo en las relaciones con la administración Obama.

Las recientes revelaciones del Datagate, como ha sido llamado el espionaje realizado por una agencia de seguridad estadounidense sobre ciudadanos y gobiernos, prácticamente opacó otro tema que se postulaba como el principal para el vértice de jefes de Estado y de gobierno de la Unión Europea (UE) que comenzó ayer en Bruselas. La inmigración, después de los últimos naufragios en el mar Mediterráneo, debía ser, en efecto, uno de los puntos centrales de este encuentro. Y si bien el asunto se trató y se seguirá tratando hoy, la mirada de los gobiernos europeos estaba puesta sobre todo en las relaciones con Estados Unidos, que amenazan entrar en una grave crisis si algunas informaciones sobre interceptaciones telefónicas y de correos se confirman.

No sólo han causado sorpresa y disgusto las noticias aparecidas en el diario francés Le Monde, sino también en medios italianos e ingleses. Según el diario francés, la Agencia Nacional de Seguridad estadounidense NSA, en 2012 y 2013, habría grabado datos telefónicos de miles de franceses pero también habría espiado las embajadas de este país. El gobierno de Alemania, por su parte, sospecha que hasta pueda haber sido interceptado el teléfono celular de la canciller Angela Merkel. Si estos datos se confirman sería “completamente inaceptable” y un golpe bajo a la confianza entre dos países amigos, dijo Merkel quien, apenas llegó a Bruselas, mantuvo un encuentro sobre este tema con el presidente francés François Hollande. Pero el espionaje, del que han sufrido también en América latina países como Brasil y México, no se ha limitado a los dos más importantes Estados europeos. Según la revista italiana L’Espresso, que entrevistó al periodista inglés Glenn Greenwald, quien tiene en su poder los dossier que le confió el superbuscado ex técnico de la CIA Edward Snowden, Italia también habría sido espiada y no sólo por Estados Unidos, sino también por Gran Bretaña. Greenwald fue el que publicó en The Guardian el material que le iba entregando Snowden.

Las revelaciones de la prensa pueden transformarse, por otra parte, en una bomba para el gobierno de Letta, porque el periodista inglés dice que los servicios secretos italianos tenían un acuerdo con los ingleses. En otras palabras da a entender que los servicios italianos sabían que los ingleses espiaban, pero hacían la vista gorda, porque tenían con ellos un acuerdo por el que recibían a cambio informaciones surgidas del espionaje. La inteligencia británica espiaba los cables de fibras ópticas que transportan las llamadas telefónicas, los email y el tráfico en Internet en general. Las informaciones relevantes eran recogidas por el Government Comunications Head Quarter, que luego las intercambiaba con la NSA estadounidense. Pero curiosamente, según los files de Snowden y según Greenwald, la recolección de datos no se refería sólo al terrorismo, sino a muchas otras cosas, desde empresas hasta gobiernos, a fin de dilucidar sus “intenciones políticas”. “Haremos todas las verificaciones correspondientes. Queremos saber toda la verdad. No es aceptable ni concebible que pueda haber actividades de este tipo”, comentó el primer ministro italiano Enrico Letta.

Mientras tanto, trascendió que, a causa de estos problemas, el Parlamento Europeo ha pedido que se suspendan los acuerdos firmados con Estados Unidos para la transferencia de datos bancarios con el fin de combatir la financiación al terrorismo. Y la cosa podría ir más lejos. El presidente del Parlamento Europeo, Martin Schulz, ha amenazado con suspender las negociaciones en curso con Estados Unidos de un acuerdo de libre comercio con la UE. Alemania, Francia e Italia han pedido explicaciones al gobierno de Barack Obama.

Después de todo, este escándalo, que no parece terminar rápidamente y que puede tener consecuencias imprevistas en el equilibrio mundial, el tema Lampedusa quedó casi en segundo plano. A no ser porque la alcalde de la isla de Lampedusa, Giusi Nicolini, viajó expresamente a Bruselas para hablar ante el Parlamento Europeo y zamarrear, por así decirlo, a los inmutables parlamentarios y entrevistarse con el presidente Schulz. Nicolini pide que los que se salven de un naufragio y los que escapen de guerras y de dictaduras, no sean investigados por la Justicia como si fueran delincuentes, cosa que sí sucede con los inmigrantes ilegales en Italia. “Ahora que ustedes han visto todos aquellos ataúdes, esperamos que algo cambie. No nos desilusionen”, dijo ante el Parlamento, aludiendo a los más de 300 cajones que estuvieron expuestos en el aeropuerto de Lampedusa con los restos de los inmigrantes, muchas mujeres y niños, del naufragio del 3 de octubre.

“Sobre la inmigración tendremos una posición enérgica. Queremos que la UE cambie su actitud”, dijo Letta. Italia, con el apoyo de España, Francia, Malta, Grecia, Chipre y Bulgaria, presentaron un documento donde se pide que a los flujos migratorios se dé una “repuesta europea” guiada por la “solidaridad” y una “ecuánime distribución de las responsabilidades”. En un documento de trabajo que servirá de base para la discusión sobre el tema migratorio que debería comenzar hoy, se habla de la conformación de un grupo de expertos que deberá identificar una serie de acciones concretas en vistas del vértice europeo de diciembre. En realidad, los países del Mediterráneo esperan medidas concretas inmediatas. El presidente del Parlamento, Martin Schulz, es un aliado de las exigencias de estos países. “Lampedusa debe ser el punto de partida para un cambio en la política migratoria europea”, dijo al inaugurar el vértice, destacando además que es necesario apoyar a los países mediterráneos en materia de recepción de inmigrantes, pero también organizar una buena distribución de los recién llegados entre los Estados miembro.

Pero al parecer, algunos jefes de Estado y de gobierno de la UE tendrían pensando retomar seriamente el tema migratorio y diseñar una política de asilo e inmigración a largo plazo, recién después de las elecciones europeas previstas para junio 2014.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

¿Devolvió Obama una antigüedad falsa a Rohaní?

Ángeles Espinosa
El País

De regreso a Irán tras participar en la Asamblea General de la ONU, el presidente Hasan Rohaní se llevó algo más que las expectativas de un acercamiento a Estados Unidos y la normalización de las relaciones de su país con el mundo. En un gesto de buena voluntad, los funcionarios norteamericanos entregaron a su comitiva un antiguo cáliz de plata persa intervenido a un marchante en 2003. Pero en lo que parece un reflejo de las dificultades y recelos que plagan las relaciones entre esos dos países, los expertos dudan de su autenticidad.

Un sonriente el jefe de la Organización del Patrimonio Cultural de Irán, Mohammad Ali Najafi, mostró la pieza a la llegada de la delegación presidencial a Teherán el pasado 28 de septiembre. “Esperamos que esta entrega maque el principio de la devolución de otros artefactos”, declaró citado por la agencia IRNA. “Los americanos se pusieron en contacto con nosotros y nos dijeron que tenían un regalo que darnos”, explicó por su parte Rohaní. “Nos lo dieron como un regalo especial para el pueblo iraní”.

Se trata de un vaso ceremonial con forma de grifo, considerado el primero en el que se utilizó esa figura mitológica en la antigüedad. La copa, datada en el siglo VII antes de Cristo, estaba en manos de un marchante de arte iraní que intentaba entrarla en Estados Unidos cuando fue detectada por la policía de aduanas. Se cree que fue robada de una cueva en el noroeste de Irán y algunas fuentes la han valorado en un millón de dólares.

Todos los medios de comunicación iraníes se hicieron eco del regreso del cáliz mientras la prensa mundial dilucidaba sobre el alcance de la conversación telefónica entre Rohaní y Obama. El gesto era perfecto para seducir a un país extremadamente orgulloso de su historia. Pero el entusiasmo ha durado poco.

Un antecesor de Najafi al frente del Patrimonio Nacional, Hamid Baqaie, ha expresado sus recelos sobre la autenticidad de la copa. “La forma en que se ha realizado y el estilo muestran que se trata de una imitación. El artefacto no tiene ninguna raíz en el antiguo Irán”, ha asegurado. El especialista también ha dado a entender que las autoridades de EEUU debían de saber que era falsa.

El iraní no es el único en dudar. El arqueólogo Oscar White Muscarella, un antiguo responsable del Museo de Arte Metropolitano de Nueva York, también ha manifestado que no cree que la pieza sea original. Ya en un artículo publicado el año pasado este especialista, que excavó en Irán en los años sesenta del siglo pasado, aseguró que bastaba con echar un vistazo a una foto para darse cuenta de que se trataba de una imitación.

“Es un artefacto iraní moderno”, escribió en el periódico que publica la organización sin fines de lucro SAFE (Saving Antiquities For Everyone). “Por razones estilísticas y técnicas –la cabeza del grifo carece de expresión, sus ojos están fijos, el diseño de cabeza, alas y patas son raros y carecen de significado y los remaches de las patas son modernos: todos los atributos se alejan de cualquier concepción antigua—lo considero una falsificación”, concluía. En su opinión, el cáliz no tiene más de 14 años. De momento, el Gobierno iraní no ha hecho ningún comentario al respecto. Pero de confirmarse el gafe, es de esperar que no se traslade al deshielo político que se ha iniciado entre Irán y EEUU.

sábado, 19 de outubro de 2013

Fifa acuada em debate sobre a Copa

Camila Nobrega e Rogério Daflon
Canal Ibase

Na plateia, dois funcionários da Fifa, vestidos como executivos. Projetados num quadro à frente, dados sobre o número de pessoas removidas na cidade do Rio – 50 mil – em função dos megaeventos. Esse cenário se completou com a presença do jornalista inglês Andrew Jennings (aquele que provocou a renúncia de Ricardo Teixeira, mandachuva do futebol internacional e da CBF), cuja palestra foi anunciada como “Jogo Sujo: Venha conhecer a Famiglia Fifa”. Sob pressão, os dois se comprometeram a marcar um encontro da Fifa com representantes da sociedade civil brasileira em breve, a fim de ouvir as violações aos direitos humanos que vêm sendo denunciadas nos protestos.

Antes, a dupla escutou as considerações do professor Carlos Vainer, do Ippur/UFRJ, e Gustavo Mehl, do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, nada simpáticas à associação. Andrew radicalizou o discurso, fazendo afirmações sobre a corrupção de cartolas da entidade e perguntando aos representantes do órgão se eles concordavam com a expulsão dele da sede da Fifa, em Lousanne, na Suíça:

- Se vocês concordam, por favor levantem os braços.

Os dois se entreolharam e não se mexeram. Nesse momento, os presentes no auditório no Sindicato dos Jornalistas, no Centro do Rio, começaram a gritar “Fora, Fifa”. Ao perceber que os dois nada entendiam, traduziram: “Fifa, Go Home”. Os dois funcionários da Fifa pediram a palavra. O clima esquentou. Alguns momentos vão entrar para a história. Diretor de comunicação da Fifa, Alexander Koch, a certa altura, pegou o microfone e perguntou:

- Vocês acham mesmo que os brasileiros querem tirar a Copa do país?

O coro unânime caprichou na pronúncia com um sonoro “Yessssssssssss”, que se seguiu pelo de “não vai ter Copa, não vai ter Copa”. Foi quando Koch percebeu onde havia se metido. O executivo quis então dissociar as ações da Fifa das do governo brasileiro. Afirmou que não concorda com remoções de famílias. Mas, segundo ele, a entidade não tem como controlar isso.

- Cada governo resolve como vai fazer a Copa. Não temos como interferir nisso – disse Koch, que, junto com mais um funcionário, avisou à direção do sindicato, por volta das 17h, que iria participar do debate que começaria às 19h. Parecendo ainda alheio a alguns acontecimentos mais recentes no Rio de Janeiro, ele afirmou, porém, que a remoção de pessoas para a Copa do Mundo na África do Sul repercutiu mal para o órgão internacional:

"Removiam as pessoas para quilômetros de distância de suas casas. Era péssimo para nós" – disse ele, encurralado por jornalistas já dentro do elevador, para ir embora, sem fazer referência, no entanto, à repetição da situação no Rio.

O professor do Ippur/ UFRJ Carlos Vainer havia discursado logo antes, apresentando dados sobre a retirada de famílias de seus locais de origem, para dar lugar a obras de infraestrutura para os megaeventos. Ele também fez uma dura crítica à repressão de manifestantes que estão denunciando a violação de direitos humanos na cidade do Rio:

- Na ditadura militar, foram removidas cerca de 25 mil pessoas. Agora estamos falando de mais de 50 mil. E ainda criminalizam o direito de manifestação política. A democracia terá que ser conquistada na luta e nas ruas. Em determinado momento, Vainer se irritou com os representantes da Fifa, que insistiam em afirmar que, segundo pesquisas, a Copa será benéfica para a maioria dos brasileiros. Logo, as pessoas ali presentes representariam uma minoria.

- Minoria são vocês no nosso país – retrucou o professor.

A partir daí, uma intensa sabatina começou. Perguntas como “Por que nos impuseram a Lei Geral da Copa?”; “Qual será o lucro da Fifa com o evento no Brasil”; “O que vocês estão achando das manifestações?” deram o tom e tiveram respostas surpreendentes. Sobre a lei, eles disseram que não sabiam do que se tratava. Na segunda, a resposta foi: US$ 2,1 bilhões, a serem revertidos a Copas do Mundo de categorias de base. Na última, saíram pela tangente dizendo que são a favor dos protestos pacíficos.

Ficou acertado, então, que o pedido de uma reunião aberta da sociedade civil brasileira com a Fifa seria levado ao alto escalão da entidade. A plateia queria mais. O pedido era que ali fosse firmado um compromisso: com violência e remoções, não haverá Copa. Não aconteceu.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A utopia andina em Flores Galindo

Alberto Aggio
Gramsci e o Brasil

Nós, brasileiros, conhecemos muito pouco o Peru, em particular a sua vida republicana, os dilemas históricos que a sociedade peruana enfrentou na construção da sua contemporaneidade, os anseios, utopias e limites que se impuseram à construção da sua modernidade e que até hoje são objeto de novos projetos e de ações governamentais visando a sua construção. Conhecemos menos ainda o conjunto de ideias que foram elaboradas e emergiram nesses processos, com suas promessas, êxitos e fracassos, ou seja, aquilo que, com alguma licenciosidade, poderíamos chamar de “pensamento peruano”, que nasceu e viveu mergulhado no esforço de formular os termos e modos em torno dos quais se daria a construção de uma nação integrada que conseguisse, a um só tempo, albergar e superar tanto os traços da herança ibérica quanto a tradição incaica que marcam a formação e a história deste país.

Seguindo a mesma trilha dos estudos históricos latino-americanos que há mais de 20 anos se realiza no Brasil, o livro Utopia Andina: socialismo e historiografia em Alberto Flores Galindo (1970-1990), resultado de uma tese de doutorado defendida no Programa de Pós-graduação em História do campus de Franca da Unesp, assumiu e cumpriu o desafio de dar uma resposta à demanda por um maior conhecimento sobre a realidade peruana, estabelecendo um diálogo fecundo tanto com a historiografia daquele país quanto com as elaborações teóricas mais inovadoras da história intelectual. Isto porque a estratégia escolhida por Marcos Sorrilha Pinheiro foi a de construir uma interpretação daquela sociedade a partir da trajetória de um dos seus intelectuais mais reconhecidos, o historiador Alberto Flores Galindo, autor do clássico Buscando un Inca (1986), considerado um dos cinquenta livros que todo peruano culto deveria ler para conhecer seu país.

Alberto Flores Galindo tornou-se efetivamente um ícone entre os intelectuais peruanos da geração que se notabilizou entre as décadas de 1970 e 1980. Lamentavelmente, a morte o apanhou muito jovem, em 1990, pouco antes de completar 41 anos. Uma vida breve, mas intensa, dedicada aos estudos da história e da política peruanas, à inquietação e à polêmica intelectual diante da necessidade de apurar a compreensão de uma realidade difícil e rebelde à lógicas simplistas e miméticas que influenciavam muitos setores da intelectualidade de esquerda no Peru. Flores Galindo foi um exímio polemista e, como nos revela Marcos Sorrilha, é dele a máxima de que “divergir é um meio de se aproximar”.

Pesquisador atento ao mandamento de que as ideias somente podem ser compreendidas a partir de seus contextos históricos, Marcos Sorrilha Pinheiro consegue nos mostrar neste livro, por meio da construção de uma trajetória intelectual imersa nas transformações que se processaram na sociedade e na política peruana das décadas de 1960 a 1980, toda a riqueza e profundidade da obra e do “pensamento politico” de Alberto Flores Galindo. Um pensamento construído em assimilação, diálogo e contraste com as formulações de tudo aquilo que se julgava “novo” na conjuntura dos anos 60 e 70: a “nova esquerda”, no plano político, e a “nova história”, no campo historiográfico. Mas é na releitura da obra de José Carlos Mariátegui empreendida por Flores Galindo que Sorrilha vai nos mostrar o paulatino processo de construção do pensamento político de Flores Galindo.

Num insight muito criativo do ponto de vista historiográfico, Sorrilha analisa Buscando un Inca como se fora o “oitavo ensaio” de interpretação da realidade peruana, sugerindo que Flores Galindo escrevia e polemizava visando dar completude à obra clássica de Mariátegui (Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana, 1928), numa alusão à identificação e à mesma perspectiva estratégica de construção do socialismo que havia animado o Amauta 60 anos antes. Nessa interpretação, Flores Galindo iria compartilhar a mesma agonia que ele havia apontado na releitura que ele havia feito de Mariátegui. O fulcro dessa agonia residia essencialmente nos dilemas que se antepunham às opções inevitáveis que pesavam sobre os projetos de construção do socialismo em sociedades “atrasadas” e “dependentes”. Seria a perspectiva de superação desses dilemas, isto é, a busca das diversas soluções para o conflito entre modernização e mundo tradicional que iria marcar tanto Mariátegui quanto Flores Galindo. Sujeito e objeto estariam aqui semantizados pela epistemologia da agonia, uma “palavra-chave” que necessitava por sua vez de um repertório próprio a indicar o enfrentamento daquele dilema essencial que demarcava as circunstâncias peruanas.

Uma espécie de “constelação imaginária” ganharia em Flores Galindo a conotação de uma nova utopia para a sociedade peruana, isto é, um projeto de construção da nação, pensado a partir de uma interpretação “esperançosa” da história daquela sociedade, assumida como plural em suas raízes, e que teria que superar concretamente a dicotomia serra-costa, característica do desenvolvimento histórico do país, bem como a visão mítica do retorno ao Peru incaico, sem desprezar, contudo, os aspectos identitários agora sincretizados no que Flores Galindo identificava como cultura andina. Mais do que um historiador, Flores Galindo foi, em suma, um intelectual que escreveu pensando o futuro e de sua obra não se pode subtrair a dimensão utópica que a ele se apresentava como inelutável.

Sorrilha demonstra cabalmente que a questão essencial da política peruana ao final da década de 1980 colocava para todos os atores políticos a necessidade de superação da imagem de “país sem saída” que os próprios peruanos haviam construído sobre si mesmos. A radicalização na busca de resolução dessa trágica pendência marcou os anos de maturidade intelectual de Flores Galindo. Politicamente ele contestou e rejeitou tanto o rupturismo de corte neoliberal propugnado pela direita quanto a escalada de violência revolucionária levada a cabo pelo Sendero Luminoso. Inquieto e insatisfeito, foi também um crítico da política empreendida pela esquerda legalista de perfil socialdemocrata por seu pragmatismo e pelo distanciamento em relação ao projeto de socialismo utópico que almejava.

Pode-se dizer que Flores Galindo acalentava a emergência de um ator imaginário que poderia reconstruir novamente um marco de “peruanização” a partir da síntese de referências míticas do mundo andino, traduzidas num novo repertório utópico que mesclasse práticas do mundo popular católico com um difuso socialismo mariateguista. Mas esse ator não se materializou e o processo seguiu outro curso.

Em síntese, é a história intelectual deste capítulo brilhante e “agônico” do pensamento latino-americano que esse livro nos traz. Por meio dele compreendemos mais o Peru contemporâneo. É difícil dizer que historicamente não tenhamos vivido dilemas e impasses similares em diversas conjunturas da história brasileira. Mas devemos também reconhecer que, de alguma forma, temos raízes distintas e seguimos trajetórias político-culturais diferentes. Compreender mais profundamente essas semelhanças e diferenças nos torna, enfim, companheiros de uma viagem que a cada momento se renova!

domingo, 13 de outubro de 2013

Descanse en paz el Estado de bienestar

Guy Sorman
Project Syndicate

Generalmente es más fácil ver el principio de algo que su fin. El Estado de bienestar, que nació en 1945 en la Gran Bretaña de la posguerra, llegó a su fin esta semana, cuando George Osborne, Ministro de Finanzas del Reino Unido, rechazó el concepto del "beneficio universal", la idea de que todos, no sólo los pobres, deben beneficiarse de la protección social.

El arquitecto del Estado de bienestar, Lord Beveridge, lo describió como una estructura concebida para proteger al individuo "desde la cuna hasta la tumba". Este modelo llegó a imperar en todos los países de Europa Occidental, y las tradiciones y políticas locales definieron la diversidad de su aplicación. Para la década de los sesenta, toda la Europa democrática era socialdemócrata, una combinación de libre mercado y protección social masiva.

El éxito de este modelo superó con mucho todas las expectativas y durante décadas fue la envidia del mundo, como nunca llegaron a serlo ni el capitalismo del "Viejo Oeste" estadounidense, ni el socialismo de Estado soviético o maoísta. La democracia social parecía ofrecer lo mejor de los dos mundos, eficiencia económica y justicia social.

Es cierto que siempre hubo algunas dudas persistentes sobre el Estado de bienestar europeo, sobre todo a partir de los ochenta, cuando la globalización llegó a las puertas del continente. Limitadas por los costos financieros que conllevaba el Estado de bienestar –y tal vez también por los desincentivos psicológicos y financieros que incluía—las economías europeas comenzaron a desacelerar, el ingreso per cápita se estancó y el desempleo se hizo permanente.

Los defensores europeos del libre mercado nunca fueron suficientes para reducir el Estado de bienestar. Ni siquiera Margaret Thatcher pudo tocar el Sistema Nacional de Salud. En el mejor de los casos, como en Suecia y Dinamarca, el Estado de bienestar dejó de expandirse.

El Estado de bienestar resistió a las críticas y al dolor de las economías estancadas convirtiendo a la clase media en su colaboradora. En efecto, la genialidad política de los creadores del Estado de bienestar fue darse cuenta de que beneficiaría a la clase incluso más que a los pobres.

Consideremos los beneficios de salud. En Francia se ha demostrado que la clase media gasta más per cápita en su salud que el 20% de los franceses más pobres. Como consecuencia, el sistema nacional de salud de hecho proporciona un beneficio neto para quienes ganan un salario promedio.

En efecto, incluso el reducido Estado de bienestar estadounidense parece estar destinado más a la clase media que a los pobres. El crédito fiscal sobre ingresos ganados es el mayor beneficio. Todos los años 24 millones de estadounidenses de clase media reciben un reembolso del Servicio de Rentas Internas. Quienes están bajo la línea de pobreza no reciben efectivo, sino ayuda en especie. Así pues, el Estado de bienestar estadounidense significa dinero para la clase media y programas sociales para los pobres. Ese patrón discriminatorio puede encontrarse también en toda Europa Occidental
El ataque de Osborne contra el Estado de bienestar británico comenzó con el subsidio universal a la niñez, una prestación general que se daba a todas las familias con hijos, independientemente de sus ingresos. Esta prestación universal para la niñez se introdujo casi en todas partes de Europa Occidental para alentar la natalidad en países muy dañados después de la Segunda Guerra Mundial.

En el Reino Unido, el 42% de los subsidios a la niñez se destinan a las familias de clase media y de altos ingresos. La proporción es igual en Francia. Osborne ha propuesto que se deje de conceder a las familias con ingresos correspondientes al nivel de imposición fiscal más alto –la primera andanada de una campaña que podría transforma todo el sistema de seguridad social mediante la reducción de las prestaciones a las clases medias y altas.

El ahorro que supone la propuesta de Osborne (1,6 mil millones de libras esterlinas) representa apenas una pequeña fracción del gasto anual del Reino Unido en programas de seguridad social, que asciende a 310 mil millones de libras esterlinas. No obstante, al atacar esta prestación, el gobierno del Primer Ministro David Cameron espera que el pueblo británico comprenda mejor la injusticia del Estado de bienestar actual.

Todos los gobiernos de Europa tendrán que hacer lo mismo: atacar al eslabón más débil del sistema de protección social, aquél que la mayoría de la gente pueda entender mejor. Con ese mismo ánimo, el gobierno francés ha arremetido contra las exorbitantes pensiones de los trabajadores del sector público y la edad legal de la jubilación, que ha tratado de elevar de los 62 a los 65 años.

Cualquiera puede entender que el subsidio a la niñez para los ricos o que la jubilación a los 62 años son injustificables. No obstante, la resistencia popular a la reducción de estas prestaciones supuestamente injustas es mayor de lo que se esperaba. La clase media puede intuir que este es el final de una era.

¿Acaso a la larga el gobierno de Cameron –y cualquier otro que siga este camino—cederá ante la cólera de la clase media? En cierta medida, los gobiernos no tienen otra opción que reducir las prestaciones de la clase media. La crisis financiera de 2008, agravada por el inútil gasto público keynesiano, ha llevado a todos los Estados europeos al borde de la quiebra. Sólo los Estados Unidos pueden imprimir billetes indefinidamente y aumentar su deuda.

Así pues, los Estados europeos no tienen más remedio que reducir sus gastos, y atacar las prestaciones sociales que representan, en promedio, la mitad del gasto público europeo es la forma más sencilla de obtener un alivio fiscal inmediato. El Estado de bienestar no desaparecerá de Europa, pero sufrirá recortes –y se concentrará en quienes realmente necesitan la ayuda.

Si se toma al desempleo como criterio principal, el Estado de bienestar ha creado una red de seguridad para la clase media pero ha dejado al 10% de su población más vulnerable en una situación de dependencia permanente de la seguridad social. Sesenta y cinco años después de que Lord Beveridge confiara en que el Estado nos acompañaría de la cuna a la tumba, Cameron y Osborne nos piden que más o menos nos rasquemos con nuestras propias uñas.

sábado, 12 de outubro de 2013

Desde Bariloche a Roma y de ahí al infierno

Elena Llorente
Página 12

El capitán Erich Priebke, extraditado en 1996, falleció ayer en su casa de Roma, donde estaba bajo arresto domiciliario, cumpliendo una condena a cadena perpetua que le fue impuesta por la Corte Militar de Apelaciones en 1998.

Había cumplido cien años el 29 de julio el asesino de las Fosas Ardeatinas, la matanza de 335 civiles por los SS nazis en 1944, y había logrado evitar pasar sus últimos días en una cárcel italiana. El capitán Erich Priebke había sido arrestado en Bariloche en 1995 y extraditado a Italia para ser juzgado a partir de 1996. Falleció ayer en su casa de Roma, donde estaba bajo arresto domiciliario, cumpliendo una condena a cadena perpetua que le fue impuesta por la Corte Militar de Apelaciones en 1998. En julio se había sentido mal y fue internado en un hospital, para luego volver al departamento donde vivía –facilitado en 2009 por sus amigos nazifascistas de Roma– y de allí no salió nunca más.

Anticipándose a la posibilidad de que sus familiares residentes en Argentina pidan traer los restos de Priebke para que sean enterrado en este país, la Cancillería comunicó en su centa oficial de Twitter que no permitirá su ingreso.

En una entrevista “testamento” que dejó a su abogado para que fuera revelada sólo luego de su muerte, el oficial nazi no se arrepiente de su pasado, al contrario. “He elegido ser yo mismo”, responde a una pregunta sobre si sigue siendo nazi. “La fidelidad al propio pasado es algo que tiene que ver con nuestras convicciones. Se trata de mi modo de ver el mundo, mis ideales. El nacionalsocialismo ha desaparecido con la derrota y hoy, de todas maneras, no tendría ninguna posibilidad de volver a revivir”, dijo. Y más adelante, refiriéndose a los campos de concentración, indicó que “nunca se encontraron cámaras de gas en los campos de concentración, salvo una de ellas construida por los norteamerianos en el campo de Dachau (Alemania). Pero sí había inmensas cocinas que funcionaban para los internados e incluso un prostíbulo para sus exigencias”.

Según Priebke, “no hay testimonios confiables a nivel judicial o histórico sobre las cámaras de gas”. Y agrega como para terminar de poner en duda el tema: “Sé por experiencia personal de mi prisión y la de mis colegas cómo hacían los vencedores para sacarles confesiones en los campos de concentración a los prisioneros”. Y agrega: “He conocido personalmente los lager. La última vez estuve en Mauthausen, en mayo de 1944, para interrogar al hijo de Badoglio (jefe del gobierno italiano en 1943-44), Mario, por orden de Himmler. Di vueltas por el campo durante dos días. Había inmensas cocinas, pero no cámaras de gas. Lamentablemente mucha gente ha muerto en los campos de concentración, pero no por una voluntad asesina. La guerra, las condiciones de vida muy duras, el hambre, la falta de curas adecuadas, estaban a la orden del día, no sólo en los campos sino en toda Alemania, sobre todo a causa de los bombardeos indiscriminados”.

¿Y el Holocausto?, ¿qué fue según Priebke? “Nada más que manipulaciones de las conciencias visto que las nuevas generaciones, comenzando desde la escuela, han sido sometidas a un lavado de cerebro y obsesionadas con historias macabras para limitar la libertad de juicio”, particularmente divulgadas por el cine y la televisión, concluyó.

Descubierto en 1994 por un periodista estadounidense que lo entrevistó de sorpresa en una calle de Bariloche y denunció mundialmente que Priebke era uno de los protagonistas de la masacre romana, el capitán de las SS insistió en aquel reportaje en que no había matado a nadie y que, además, había cumplido órdenes. “En esa época, órdenes eran órdenes”, dijo al periodista estadounidense.

En las Fosas Ardeatinas, poco antes de que los alemanes que habían ocupado Roma empezaran a retirarse hacia el norte por la avanzada de los Aliados, fueron asesinados 335 civiles con un tiro en la nuca. Algunos de ellos estaban presos. Otros eran judíos que esperaban ser llevados a campos de concentración. Pero también cayó gente común, que caminaba por las calles, y hasta algunos muchachos de 14 y 15 años. Las órdenes nazis eran matar a 10 civiles por cada uno de los 33 militares que habían muerto el día anterior en un atentado que la Resistencia había hecho en Via Rasella, una calle de Roma. Pero en vez de matar 333 ellos mataron 335, lo que sirvió muchos años después como pretexto, dado que era un soldado y cumplía órdenes, para que la Justicia lo pudiera incriminar, entre otras cosas, porque no había cumplido las órdenes.

Al concluir la guerra y ayudado, se dice, por el Vaticano, Priebke logró escapar a la Argentina. Estuvo primero en Buenos Aires y luego en Bariloche, donde llegó a ser una figura conocida, sobre todo en la numerosa comunidad alemana. En 1995 fue extraditado a Italia y acusado de haber organizado y participado de la matanza de las Ardeatinas. En Argentina había sido defendido hasta su extradición por el penalista Pedro Bianchi, abogado defensor, también, de otros personajes nefastos como Emilio Massera y Leopoldo Galtieri. En Roma lo fue por varios abogados –ninguno le venía bien– y terminó en manos de uno famosísimo, Carlo Taormina, que de todas maneras no pudo evitar la condena.

Priebke no tendrá ningún funeral en Roma y sería llevado a la Argentina para ser enterrado en Bariloche, junto a su esposa Alicia, fallecida hace algunos años, dijo su abogado italiano Paolo Giachini. Cuando cumplió cien años, en julio, se organizaron manifestaciones en su contra frente a la casa donde vivía. Los manifestantes habían desplegado banderas de Israel, estrellas de David y cartelones alusivos. Uno de ellos decía: “El puede festejar sus cien años, sus víctimas no”. Ese día además fueron leídos los nombres de las 335 víctimas de las Fosas Ardeatinas bajo sus ventanas.

Priebke murió el día en que el papa Francisco recibía en el Vaticano a exponentes de la comunidad judía de Roma. “Ahora sus víctimas lo están esperando en el cielo, con la esperanza de que haya justicia divina”, comentó Riccardo Pacifici, presidente de la comunidad judía de Roma.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Recursos naturales: el costo invisible del modelo

Diego Genoud
La Nación

En doce provincias existen hoy conflictos por la explotación de las riquezas del subsuelo común, un creciente activismo ambiental que denuncia la ausencia de una política estratégica por parte del Gobierno y muestra los desajustes conocidos del Estado argentino: provincias que aprueban medidas que otras prohíben, tribunales que fallan con criterios disímiles y leyes que no se cumplen.

Jujuy, Salta, Mendoza, San Juan, La Rioja, Catamarca, Buenos Aires, Entre Ríos, Chubut, Neuquén, Río Negro y Santa Cruz: en 12 provincias del país existen hoy al menos 47 puntos de conflicto por los recursos naturales, en la forma de resistencia contra proyectos mineros, municipios ambientalistas que prohíben el fracking para extraer petróleo, marchas contra la instalación de represas hidroeléctricas o acampes que rechazan la instalación de productoras de semillas transgénicas.

Montada sobre el redituable boom de las commodities, la década kirchnerista incubó una contracara que no pudo resolver y que quedará como herencia para el próximo gobierno: la ausencia de políticas estratégicas para la riqueza del subsuelo argentino, que un creciente e invisibilizado activismo ambiental pone en agenda en forma cíclica.

Con políticas públicas que les dieron la espalda a los reclamos de las comunidades sobre el medio ambiente, la megaminería, primero, y el fracking a partir del redescubrimiento del yacimiento de Vaca Muerta, después, marcan el choque de nociones antagónicas sobre el desarrollo y hacen visible un tema incómodo para Cristina Kirchner y los gobernadores de todo el país.

Un tema que la reactivación del conflicto con Uruguay alrededor de la pastera UPM (ex Botnia) vuelve a actualizar, y en el que se escenifican desajustes clásicos del Estado argentino: provincias que aprueban medidas que otras prohíben, tribunales que fallan con criterios disímiles en distintos territorios, leyes vigentes pero incumplidas.

El yacimiento de Vaca Muerta -30.000 kilómetros cuadrados que atraviesan cuatro provincias (Neuquén, Mendoza, Río Negro y La Pampa)-, redescubierto en 2010, cuando Repsol anunció que había comprobado la existencia de petróleo, no sólo dio paso a la expropiación parcial de YPF. Además, abrió una nueva etapa en la explotación de los hidrocarburos no convencionales ( shale gas o tight gas ). El decreto 929, que la Presidenta firmó para allanar el camino de Chevron Corporation -al otorgar garantías y libre disponibilidad de divisas para las inversiones que superen los 1000 millones de dólares-, inauguró un ciclo de luchas en torno al petróleo que se suma a la resistencia que genera la minería contaminante. Según el Observatorio Latinoamericano de Conflictos Ambientales, la Argentina es ahora mismo uno de los cuatro países del subcontinente que más focos mineros de tensión exhiben, apenas superado por Perú, Chile y México.

En agosto pasado, la represión en Neuquén a los manifestantes que se oponían al acuerdo de YPF con la multinacional norteamericana para explotar un área de 395 kilómetros, en Loma Campana, fue un debut amargo para la gestión de Miguel Galuccio. Su antecedente estuvo a principios de año, en Cinco Saltos, un municipio de Río Negro que fue el primero de los 21 que ya prohibieron el fracking .

"El Gobierno sólo piensa en solucionar la crisis energética y minimiza la cuestión ambiental. Pero ellos mismos hablaron de 600 casos de pasivos ambientales que dejó la gestión de Repsol", dice Beatriz Kreitman, diputada provincial de la Coalición Cívica en Neuquén, que rechazó el acuerdo aprobado en agosto por el MPN y sus aliados.

El fracking es una técnica de extracción de petróleo y gas que consiste en inyectar grandes cantidades de agua y aditivos químicos en la roca para fracturarla. Está prohibido en Francia, Bulgaria y en estados de Canadá, Australia, Suiza y Estados Unidos. Sin embargo, aquí cuenta con el impulso del Gobierno y de las grandes empresas, que se expresaron recientemente con una solicitada entusiasta del Instituto Argentino del Petróleo y del Gas (IAPG). El IAPG habla de un nuevo horizonte energético con creación de empleo y sin riesgos de ningún tipo. Sostiene que no hay peligro de contaminación porque las napas de agua dulce de los acuíferos están a 300 metros de profundidad y la roca madre que es perforada está a por lo menos dos kilómetros más de profundidad. Todo lo contrario afirman sus detractores.

Sin proyecto

"El kirchnerismo no tiene proyecto estratégico de desarrollo; sólo un extractivismo desenfrenado, dependiente y depredatorio, orientado a la exportación a gran escala de commodities , cuyas consecuencias sociales, ambientales y políticas son minimizadas o invisibilizadas", dice la socióloga Maristella Svampa, editora del libro Minería transnacional, narrativas del desarrollo y resistencias sociales. Svampa recorrió el país en los últimos años en diálogo con las asambleas autoconvocadas que se extienden de Sur a Norte y considera que expresan una crítica a la idea dominante de "desarrollo" que comparten gobiernos y empresas. "Los resultados están a la vista: conflictos por la tierra y el agua, desplazamientos de poblaciones, promesas incumplidas de empleo, destrucción del ambiente y los territorios, aumento de las desigualdades, problemas de salud", enumera.

El inicio del ciclo puede situarse con dos hechos: el diferendo con Uruguay por las pasteras, hoy reactivado, y el plebiscito en Esquel en 2003, cuando el 81% de la población optó por el "No a la minería". Para Raúl Estrada Oyuela, ex funcionario de Cancillería que intercedió en el caso Botnia -y miembro de la Academia de Ciencias del Ambiente-, la Argentina "no tiene política de recursos naturales". Sostiene que aunque el dominio de los recursos naturales haya pasado a las provincias con la reforma constitucional de 1994, la soberanía sigue siendo de la Nación. A su criterio, el Estado no puede renunciar a extraer los minerales ni estar siquiera en contra del negocio. "Pero -aclara- hacerlo sin dañar el ambiente implica una minería más cara. Y las empresas buscan que el negocio sea más rentable bajando el costo de extracción."

Ex director de Asuntos Medioambientales durante la gestión de Rafael Bielsa, Estrada cuestiona además la campaña de productores de gas y de petróleo y sostiene que el fracking no genera ni tan poco riesgo como se dice ni tanta riqueza como se espera. Menciona las advertencias de la Real Academia de Ingeniería del Reino Unido y de la Agencia de Protección Ambiental estadounidense sobre la contaminación de acuíferos.

El ingeniero en petróleo y doctor en ciencias geológicas Gualter Chebli coincide con el planteo del IAPG, aunque no es tan optimista. Chebli pone en duda el dato fundamental de la nueva era: el informe de la Agencia Energética de los Estados Unidos (EIA) que ubica a la Argentina como el tercer país del mundo con mayores reservas de hidrocarburos no convencionales. "Es indemostrable. Se toma en cuenta el potencial de la cuenca chaco-paranaense, pero en ninguno de los 45 pozos que fueron perforados allí se halló siquiera un metro de roca generadora", dice. Ex director de explotación de YPF, hoy se dedica a asesorar a las provincias petroleras desde la consultora Phoenix Oil & Gas. "Lo que hay son buenas intenciones. El recurso está. Pero hay que ver la factibilidad: a qué precio y con qué técnica se lo extrae para convertirlo en reservas", agrega.

"Neuquén es una provincia muy agredida por los hidrocarburos y la falta de controles, ya desde la época de la YPF estatal. Pero en aquel momento se desconocía el daño ambiental y no había legislación que protegiera el medio ambiente. Hoy, es inconcebible que no se tomen medidas", dice la diputada Kreitman. El último caso fue el del yacimiento Chihuido de la Sierra Negra, en agosto pasado, cuando a YPF se le derramaron 70.000 litros de crudo en la zona de Rincón de los Sauces.

El impacto de la actividad hidrocarburífera sobre las comunidades que habitan en la zona conocida como norpatagonia es narrado con detalle en un libro del Observatorio Petrolero Sur, Zonas de sacrificio. Para el periodista Hernán Scandizzo, uno de sus autores, el fracking es la peor opción: "Se relaciona a nivel global con la baja en la producción de los yacimientos convencionales de petróleo, así como la megaminería surge tras el agotamiento de los minerales en veta. Profundiza una matriz energética con impactos ambientales en el agua y en el aire, en lugar de apostar a una transición energética más limpia", explica.

Después del acuerdo aprobado en Neuquén, el gobernador Jorge Sapag anunció que enviará dos proyectos a la Legislatura: uno para reglamentar los hidrocarburos no convencionales y otro para reformar la ley de medio ambiente provincial. Su primo hermano, Luis Sapag, es uno de los mayores defensores de la fractura hidráulica: asegura que no hay pruebas de que contamine, se queja del "ultraambientalismo" y anuncia la llegada de inversores rusos, hindúes y chinos. Sin embargo, afirma que en la nueva legislación habrá zonas de exclusión: las comunidades mapuches, las áreas paisajísticas y las reservas naturales.

"Las provincias dicen que van a garantizar los controles cuando son las principales lobbistas de los no convencionales. ¿Quién lo garantiza?", responde Scandizzo. Y recuerda el caso más emblemático de contaminación: Añelo, en Loma de la Lata, donde los peritos de la Corte Suprema corroboraron medidas alarmantes de mercurio, cromo y plomo en sangre de los habitantes del lugar.

Hijo del ex gobernador Felipe Sapag y presidente de la Comisión de Energía de la Legislatura, Sapag está convencido de que su provincia salvará a la Argentina del déficit energético y se jacta de ser parte del gobierno que introdujo el fracking en el país. "Neuquén lleva ya seis años con fractura múltiple. Hicimos 300 pozos", apunta. La compañía norteamericana Apache hizo el primer pozo de América latina con fractura hidráulica en Anticlinal Campamento, a 40 kilómetros de Zapala.

La otra transversalidad

"El abuso de los recursos naturales es transversal. Es injusto circunscribirlo al kirchnerismo. El ejemplo más claro es Bajo La Alumbrera, en Catamarca. Gobernaron el radicalismo, los radicales K y el Frente para la Victoria", afirma el fiscal general ante la Cámara Federal en Tucumán, Gustavo Gómez, especialista en delitos ambientales, que impulsó el juicio y la condena contra Julián Ronney, uno de los directivos de la minera por las filtraciones del mineraloducto que conecta Tucumán con Catamarca.

El radicalismo está dividido. Cuenta con promotores fervorosos de la megaminería, como Mario Capello, miembro del Colegio Argentino de Ingenieros en Minas. Y con diputados como Julio Martínez de La Rioja, que apoya la lucha ambientalista de Famatina y reclama por presupuesto para el Ianiglia, organismo que hace tres años debería haber terminado el inventario de glaciares que ordenaba la ley aprobada en 2010, tras el veto presidencial.

En septiembre, el senador Ernesto Sanz presentó un proyecto para regular la fractura hidráulica. Fue después de que 21 municipios de todo el país sancionaran ordenanzas que la prohíben: 12 en Entre Ríos, cuatro en Mendoza -su provincia-, tres en Buenos Aires y dos en el Alto Valle de Río Negro. "Lo peor es que pase el tiempo sin regulación. Hacen falta presupuestos mínimos ambientales, como lo fija el artículo 41 de la Constitución. Hoy, Entre Ríos prohíbe el fracking y, en el otro extremo, Neuquén lo aprueba a libro cerrado. Los municipios de Mendoza tienen derecho a prohibirlo, pero su jurisdicción se limita al ejido urbano. La provincia decide", dice.

La fractura hidráulica y la megaminería avanzan, en la mayoría de los casos, sin "licencia social". Quienes se oponen denuncian que no se cumple la legislación: el artículo 41 de la Constitución, que establece que la Nación debe fijar los presupuestos mínimos de protección; el convenio 169 de la OIT sobre pueblos indígenas, convertido en ley nacional 24.071, y la ley general del ambiente de 2002, que ordenan la realización de estudios de impacto ambiental y consultas públicas. Más grave todavía es el incumplimiento de la ley de bosques y la segunda ley de glaciares, que no se aplican.

Si ante proyectos que unifican al Estado y las empresas sólo surge el rechazo de las comunidades afectadas -que se ven invadidas en su propio territorio-, el papel de los tribunales está en discusión. "La Justicia actúa casi siempre en consonancia con empresas y gobiernos. El ejemplo más reciente es Chevron, donde la procuradora general, Alejandra Gils Carbó, y la Corte Suprema le revocaron los embargos por contaminación en Ecuador en atención a los "intereses esenciales de la Nación vinculados con la política energética y el desarrollo económico", recuerda el fiscal Gómez, y asegura que el máximo tribunal no limita el avance de los proyectos contaminantes. Cita el reclamo de los tilcareños por una mina de uranio que se quiere instalar en Jujuy y el de los wichis, que tratan de defender su hábitat en las yungas salteñas del avance de la soja. "La Corte hizo audiencias, pero después declaró su incompetencia enviando los casos a la justicia provincial, de dudosa independencia", afirma.

Las excepciones pueden ser el procesamiento de Rooney, de 2008, o la condena del año pasado por los daños que la fumigación con agrotóxicos causó en el barrio Ituzaingó de Córdoba. "Detrás de esos fallos, hubo siempre una sociedad víctima y querellante", afirma Gómez.

Diez años después de la llegada del kirchnerismo al poder, el mapa de los conflictos por los recursos naturales atraviesa a la Argentina. Con diferencias entre sí pero con objetivos similares, las luchas ambientalistas surgieron en el interior del país en 2003 y no pararon de crecer. Sus protagonistas se comparan en algunos casos con los desocupados que, en la década del 90, inauguraron el método de cortar rutas en demanda de trabajo. Si ellos querían ingresar en el sistema, los de hoy quieren impedir que el rostro avasallante del desarrollo avance sobre sus territorios. Y sostienen que lo que está en juego es la vida misma.