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Na plateia, dois funcionários da Fifa, vestidos como executivos. Projetados num quadro à frente, dados sobre o número de pessoas removidas na cidade do Rio – 50 mil – em função dos megaeventos. Esse cenário se completou com a presença do jornalista inglês Andrew Jennings (aquele que provocou a renúncia de Ricardo Teixeira, mandachuva do futebol internacional e da CBF), cuja palestra foi anunciada como “Jogo Sujo: Venha conhecer a Famiglia Fifa”. Sob pressão, os dois se comprometeram a marcar um encontro da Fifa com representantes da sociedade civil brasileira em breve, a fim de ouvir as violações aos direitos humanos que vêm sendo denunciadas nos protestos.
Antes, a dupla escutou as considerações do professor Carlos Vainer, do Ippur/UFRJ, e Gustavo Mehl, do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, nada simpáticas à associação. Andrew radicalizou o discurso, fazendo afirmações sobre a corrupção de cartolas da entidade e perguntando aos representantes do órgão se eles concordavam com a expulsão dele da sede da Fifa, em Lousanne, na Suíça:
- Se vocês concordam, por favor levantem os braços.
Os dois se entreolharam e não se mexeram. Nesse momento, os presentes no auditório no Sindicato dos Jornalistas, no Centro do Rio, começaram a gritar “Fora, Fifa”. Ao perceber que os dois nada entendiam, traduziram: “Fifa, Go Home”. Os dois funcionários da Fifa pediram a palavra. O clima esquentou. Alguns momentos vão entrar para a história. Diretor de comunicação da Fifa, Alexander Koch, a certa altura, pegou o microfone e perguntou:
- Vocês acham mesmo que os brasileiros querem tirar a Copa do país?
O coro unânime caprichou na pronúncia com um sonoro “Yessssssssssss”, que se seguiu pelo de “não vai ter Copa, não vai ter Copa”. Foi quando Koch percebeu onde havia se metido. O executivo quis então dissociar as ações da Fifa das do governo brasileiro. Afirmou que não concorda com remoções de famílias. Mas, segundo ele, a entidade não tem como controlar isso.
- Cada governo resolve como vai fazer a Copa. Não temos como interferir nisso – disse Koch, que, junto com mais um funcionário, avisou à direção do sindicato, por volta das 17h, que iria participar do debate que começaria às 19h. Parecendo ainda alheio a alguns acontecimentos mais recentes no Rio de Janeiro, ele afirmou, porém, que a remoção de pessoas para a Copa do Mundo na África do Sul repercutiu mal para o órgão internacional:
"Removiam as pessoas para quilômetros de distância de suas casas. Era péssimo para nós" – disse ele, encurralado por jornalistas já dentro do elevador, para ir embora, sem fazer referência, no entanto, à repetição da situação no Rio.
O professor do Ippur/ UFRJ Carlos Vainer havia discursado logo antes, apresentando dados sobre a retirada de famílias de seus locais de origem, para dar lugar a obras de infraestrutura para os megaeventos. Ele também fez uma dura crítica à repressão de manifestantes que estão denunciando a violação de direitos humanos na cidade do Rio:
- Na ditadura militar, foram removidas cerca de 25 mil pessoas. Agora estamos falando de mais de 50 mil. E ainda criminalizam o direito de manifestação política. A democracia terá que ser conquistada na luta e nas ruas. Em determinado momento, Vainer se irritou com os representantes da Fifa, que insistiam em afirmar que, segundo pesquisas, a Copa será benéfica para a maioria dos brasileiros. Logo, as pessoas ali presentes representariam uma minoria.
- Minoria são vocês no nosso país – retrucou o professor.
A partir daí, uma intensa sabatina começou. Perguntas como “Por que nos impuseram a Lei Geral da Copa?”; “Qual será o lucro da Fifa com o evento no Brasil”; “O que vocês estão achando das manifestações?” deram o tom e tiveram respostas surpreendentes. Sobre a lei, eles disseram que não sabiam do que se tratava. Na segunda, a resposta foi: US$ 2,1 bilhões, a serem revertidos a Copas do Mundo de categorias de base. Na última, saíram pela tangente dizendo que são a favor dos protestos pacíficos.
Ficou acertado, então, que o pedido de uma reunião aberta da sociedade civil brasileira com a Fifa seria levado ao alto escalão da entidade. A plateia queria mais. O pedido era que ali fosse firmado um compromisso: com violência e remoções, não haverá Copa. Não aconteceu.
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