La Repubblica
As eleições europeias expressaram o primeiro grande voto depois da crise financeira do outono [europeu]. Por isso, não teria sido muito arriscado, nem muito presunçoso, esperar por uma sentença severa com relação aos partidários da desregulação, do "laissez-faire", responsáveis objetivos da crise. Já desde os primeiros passos, a campanha anterior ao escrutínio fez surgir dúvidas. Ela rapidamente se diluiu, perdida em polêmicas genéricas ou nacionais, internas a cada país, sem assumir os tons devidos de um processo neoliberal, de estampa reaganiano-thatcheriano. E sem indicar seus promotores, enquanto responsáveis pela recessão em curso.
Agora, diante de um resultado aparentemente contrário ao sugerido por uma lógica elementar, fala-se de um paradoxo. Paradoxal parece ser, de fato, que a direita liberal ou conservadora, ao governo ou à oposição, representante do neoliberalismo falimentar, tenha saído absolvida das urnas. Ou seja, largamente vencedora. Com apenas duas exceções, na Grécia e na Eslováquia, o que não altera o juízo.
A política é ritmada por fatos ou asserções em claro contraste com a opinião comum. Mas nesse caso não há, infelizmente, nada de absurdo. Portanto, muito pouco de paradoxal. Porque a esquerda social-democrata, que começou a prova no banco de acusação e acabou na gaiola dos derrotados, simplesmente não conseguiu se apresentar como uma alternativa confiável, não sendo ainda adequada à nova situação mundial. Uma falta que tirou peso de suas acusações.
A direita rapidamente a pegou desprevenida: não teve muitas considerações pelos balanços, agravando-os com vistosos déficits para reforçar as amortizações sociais; fulminou com clamorosas denúncias os paraísos fiscais; apressou-se em elencar regras a serem impostas ao mercado; não hesitou em nacionalizar bancos à beira da falência; promoveu planos de retomada e ajudas mais ou menos dirigidas às grandes indústrias, particularmente as automobilísticas. A direita neoliberal tornou-se superkeynesiana.
Os defensores da desregulação submeteram os mercados. Fizeram com que o seu passado fosse esquecido, apropriando-se substancialmente dos princípios da social-democracia. Roubaram-lhes, deixando a esquerda de mãos vazias, obrigando-a a polemizar sobre a consistência ou não desses procedimentos e retirando-lhe a possibilidade de argumentar seriamente sobre as responsabilidades originais. Exercício este muito árduo para uma social-democracia incapaz de se adequar aos problemas de uma sociedade confrontada à nova realidade internacional.
Essa é uma das razões que levam a não se considerar paradoxais o sucesso da direita culpada pela crise e a derrota da esquerda culpada pela inadequação. Na grande maioria dos países da União Europeia, governa a direita ou a centro-direita, e, nesses países, os partidos socialistas ou social-democratas da oposição saíram prejudicados das eleições europeias. Os governos de esquerda que sobreviveram não tiveram um destino melhor. Em Londres, o trabalhista Gordon Brown, já afligido por uma rajada de crise, viu o seu partido cair para 15,7%, o quociente mais baixo desde 1910. Em Madri, o socialista Luis Rodriguez Zapatero obteve quatro ponto menos do que a oposição. Em Lisboa, poucos esperavam a pesada derrota sofrida por José Sócrates, também ele socialista.
Em Berlim, onde a Grande Coalizão sempre governa à espera das eleições de outono, os democrata-cristãos (CDU-CSU) de Angela Merkel superaram largamente os social-democratas. E o voto europeu alemão, com o claro avanço dos liberais, preanunciou uma futura aliança desses últimos com os democrata-cristãos. Onde quer que se encontrem, no governo ou na oposição, a direita e a centro-direita conseguiram os melhores resultados. Nos países pós-comunistas do Leste verificou-se o mesmo fenômeno. A Hungria é um exemplo: o governo socialista foi amplamente superado pela União Cívica (Fidesz), o partido de centro-direita do ex-primeiro-ministro Viktor Orban.
A social-democracia não se revelou insuficiente apenas no terreno das ideias. Faltam-lhe também líderes adequados à civilização das imagens. Não apenas homens capazes de interpretar na ribalta da política-espetáculo. Na televisão, eles aparecem em grande número todas as noites. A esquerda precisa de personagens capazes de comunicar, de sustentar o confronto com os chefes (não obrigatoriamente populistas ou no limite do populismo) dos quais a direita ou a centro-direita dispõe.
Nas eleições francesas, junto com o partido de Nicolas Sarkozy (o UMP), a lista Europa-Ecologia, guiada por Daniel Cohn-Bendit também obteve um sucesso surpreendente. E foi graças à personalidade do já ancião Dany-il-Rosso que esse sucesso, um autêntico terremoto no quadro político parisiense, foi possível. Assim como o insucesso do Partido Socialista, a dificuldade na comunicação da inteligente, eficiente e austera Martine Aubry também contribuiu. A capacidade de convencer, o dom de saber transmitir as próprias ideias, não depende da boa aparência física. Angela Merkel é considerada a personagem política mais apreciado na Europa. E não há na esquerda, pelo menos agora, alguém que possa, na Europa, competir com a chanceler alemã. Que, sem traços de populismo, sabe comunicar e inspirar confiança.
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