segunda-feira, 28 de maio de 2012

Holocaustos Coloniais

Examinando a série de catástrofes provocadas pelo El Niño, que espalhou secas e fome pelo mundo desde o final do século XIX, o escritor americano Mike Davis apresenta em Holocaustos Coloniais a íntima e inegável relação entre o descaso e a arrogância dos países imperialistas e os acidentes naturais, provocando uma das piores tragédias na história da humanidade. Segundo Davis, a miséria e a fome dos países do Terceiro Mundo poderiam ter sido evitadas se uma política econômica e social mais justa e mais racional fosse adotada.

Holocaustos Coloniais é centrado, principalmente, em três zonas de secas e conseqüentes miséria e fome: a Índia, o Norte da China e o Nordeste brasileiro. Todos afetados pelos mesmos fatores climáticos desastrosos, que causaram grandes perdas nas lavouras, deixando milhares de famintos e dizimando populações locais. Contudo, segundo o autor, os efeitos da seca foram potencializados em cada um dos casos em função das singulares políticas destrutivas ordenadas pelas elites governantes.

Os números apresentados pelo autor são chocantes: 12 milhões de mortes na China e mais de 6 milhões na Índia apenas entre 1876 e 1878. Mas Davis faz mais do que denunciar uma evidência — ele aponta os culpados. Entre eles, a política imperialista do Japão e Estados Unidos e a imposição do mercado livre na Era Colonial, que criaram um verdadeiro “genocídio cultural”. As acusações do autor são fortes, contudo, fica difícil discordar de Davis ao ler seu livro.

Segundo o autor, a importância de uma nação de famintos foi subestimada historicamente. Na Índia, por exemplo, durante o século XIX a Inglaterra tratou as secas em sua colônia como uma oportunidade para reafirmar sua soberania. A indiferença e a incompetência do governo indiano agravaram a situação ao longo do tempo. Mike Davis revela que instaurou-se um certo tom de laisser-faire em relação à miséria. E frente ao descaso, ela cresceu de forma avassaladora e terrível. Davis deixa claro que as sementes do subdesenvolvimento e do Terceiro Mundo foram plantadas na Era do Imperialismo e o preço de uma sociedade capitalista e dita moderna foi pago com milhares de vidas inocentes.

O escritor paquistanês Tariq Ali descreve o livro de Mike Davis como “O livro negro do capitalismo liberal”. Mas Holocaustos Coloniais é mais do que isso. É um livro que ilustra o desastre e as conseqüências de uma política econômica covarde, cruel e desigual. Um livro relevante, substancialmente contemporâneo e de grande interesse histórico no qual vemos como o delineamento do que chamamos hoje Terceiro Mundo – e a irreparável divisão da humanidade entre “os que têm” e “os que não têm” – teve sua configuração decisiva nestas interações fatais entre o clima e a economia mundial no ocaso do século XIX.

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