Ricken Patel
Valor
O canadense Ricken Patel é diretor executivo da ONG Avaaz, cuja forma de atuação mais conhecida são as campanhas on-line. A ONG conta com 50 pessoas ao redor do mundo e também coordena manifestações que já tiveram como alvo o barão da mídia Rupert Murdoch e a construção da usina de Belo Monte. Na Síria, a Avaaz organizou uma rede de repórteres-cidadãos para furar o bloqueio de Bashar Assad.
O lema de Avaaz é "diminuir o abismo entre o mundo que temos e o que a maioria das pessoas quer". A ideia de uma democracia direta foi muito discutida na história do pensamento político e a conclusão sempre foi que levava para o autoritarismo. Por que daria certo agora?
Esta é uma era muito excitante, que talvez assista à próxima evolução da democracia. Os saltos adiante da humanidade nascem de crises. Estamos em uma dessas, uma "crisetunidade", mistura de crise com oportunidade. Tentamos providenciar o catalisador, a força que vai levar o mundo na melhor direção possível. Hoje, o abismo entre as aspirações, esperanças e necessidades das populações e a habilidade dos sistemas e líderes políticos para responder a elas é gigantesco. Essas crises podem nos dividir como nunca antes ou nos aproximar como nunca antes. Para resolver nossos problemas, temos de criar uma nova forma de política que seja muito mas unificada e global.
Outro termo que vocês usam é "política 3.0". Como ela seria?
Vamos acompanhar uma evolução da democracia em direções múltiplas. A política 3.0 vai ser um mundo povoado com democracias de alta energia. Ainda teremos líderes representativos e eleitos, mas essas eleições vão ser muito mais participativas e vibrantes. Esses processos vão ser diferentes dos atuais em cultura e caráter. Também teremos uma evolução das instituições na direção de sistemas mais participativos e responsáveis. Em vez de votar a cada quatro anos e assistir ao show, os cidadãos terão um papel ativo e constante na vida pública. Isso vai reorganizar todas as instituições da sociedade. As forças descentralizadoras e democratizantes, que canalizam o poder dos indivíduos para contribuir com seu potencial para a sociedade, vão reorganizar as instituições e produzir essa democracia de alta energia.
Quais são as diferenças e semelhanças entre a crise de hoje e a do fim dos anos 1960?
As semelhanças são: um grande espírito de abertura e possibilidades no mundo; a sensação de que as coisas podem mudar profundamente; que os cidadãos podem exercer um papel poderoso. Trabalhamos em conjunto com as equipes do "Ocupe" em muitas cidades e o codinome desse trabalho é Projeto 1968. Dizemos: voltamos a 1968, mas, desta vez, vamos vencer. E a razão pela qual podemos vencer é que, naquela época, o mundo era refém de uma política radicalizada entre dois campos que não se pautavam pelo interesse da maioria da população. Hoje, temos um prospecto muito maior de uma política genuína dos 99%, aproximando a maioria da população.
Uma visão contrária ao seu trabalho usa as expressões "slacktivism" (ativismo preguiçoso) e "clicktivism" (clique-ativismo).
O ativismo preguiçoso é possível com internet ou sem, assim como o ativismo bastante ativo. A ideia de que a rede seja inerentemente uma ferramenta menos eficiente de mobilização é tolice. Ninguém discute que a internet mudou o comércio (eBay) ou a música (iTunes), onde se clica bastante, e ninguém vai negar que aqueles cliques têm um poder enorme. Isso também é verdade com a política, veja-se a campanha de Obama em 2008. Não há dúvida de que a internet está mudando a política. Ninguém diz que Gandhi fazia "andartivismo".
O que acontece com os partidos quando as decisões podem passar por cima deles?
Talvez estejamos caminhando para uma democracia deliberativa, em oposição à democracia de equilíbrio que temos. Esta é como ringue de boxe, em que os interesses ganham quando derrubam os outros. A deliberação é como sentar à mesa e formatar a noção de seus interesses no embate com outros cidadãos.
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