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A convocatória do referendo grego ao pacote de ajuda europeia enfureceu os governos alemão e francês. O primeiro-ministro Papandreou lançou uma moção de confiança no parlamento e diz que a Grécia pode ir a referendo no dia 4 de Dezembro. Na passagem por Cannes, ficou a saber que o país só recebe a sexta tranche do empréstimo caso o referendo aprove o plano da troika.
O eixo franco-alemão, a Comissão Europeia, o Conselho Europeu, o FMI, o Banco Central Europeu e o Eurogrupo reuniram-se quarta-feira à tarde ao mais alto nível em Cannes, na véspera da reunião do G 20, para debaterem a situação criada pelo anunciado referendo na Grécia sobre o pacote “de ajuda” a Atenas aprovado pelo Conselho Europeu da passada semana. Os estadistas presentes exigem “clareza” ao chefe do governo de Atenas sobre o assunto do referendo e entretanto, pela voz de Durão Barroso, a Comissão Europeia anunciou que a Grécia não receberá a verba de oito mil milhões pendente ainda do primeiro resgate antes da realização da consulta popular.
Apesar das pressões surgidas de todo o lado, inclusivamente do seu próprio partido, Georges Papandreu mantém a convocação próxima de um referendo sobre o novo resgate de 130 mil milhões de euros acompanhado de um corte de 50 por cento da dívida soberana no âmbito do plano aprovado pelo Conselho Europeu. Quinta-feira decorre no Parlamento grego o debate de um voto de confiança ao governo, que será votado na sexta-feira. Na Praça da Constituição, onde se situa o Parlamento, estão convocadas grandes manifestações populares pelas centrais sindicais e partidos de esquerda, na quinta e sexta-feira, protestando contra as constantes medidas de austeridade que têm sido impostas ao povo grego no âmbito da política de resgates instaurada alegadamente para combater a dívida - e que só a tem agravado.
Depois da tempestade criada pelo anúncio da convocação do referendo e após uma reunião de sete horas do Conselho de Ministros, Papandreu afirmou que a pergunta prevista para a consulta será apenas se os eleitores aceitam ou não o plano de resgate. A consulta não terá qualquer alusão, segundo o primeiro ministro e outros porta-vozes oficiais, à continuação ou não do país no Euro ou na União Europeia.
A frase com que Papandreu explica a necessidade de um referendo é, de acordo com o comunicado do Conselho de Ministros: “a democracia está acima do apetite dos mercados”. Sectores de oposição à esquerda lamentam que o chefe do governo não se tenha guiado por esta frase antes de ter mergulhado o país na política de resgates e na austeridade quando explodiu o problema da dívida soberana e quando a intervenção popular tinha alternativas mais alargadas em vez do “quadro de chantagem” a que agora está sujeita. O próprio primeiro ministro confirma implicitamente, para sublinhar a sua confiança em que o voto popular será favorável ao resgate, que os gregos estão agora colocados perante a escolha entre mais austeridade ou a possibilidade de bancarrota – ameaça brandida a todo o momento pelos dirigentes europeus, desde Merkel a Barroso. O cancelamento da verba de oito mil milhões – que pode por em causa os compromissos da administração pública grega nas próximas semanas, já faz parte dessa operação de “chantagem” de Bruxelas sobre os gregos. Barroso deu a notícia e o FMI confirmou-a dizendo que, ao convocar o referendo, Papandreu não está em condições de “dar garantias” sobre esse empréstimo.
O Conselho de Ministros decidiu formar uma comissão de trabalho para montar o referendo, contra o qual estão numerosos deputados do PASOK de Papandreu e pelo menos o ministro da Saúde. Com as deserções que têm vindo a ocorrer no grupo parlamentar socialista, a maioria governamental está reduzida a dois deputados (152 em 300), tornando o cenário de queda do governo e eleições antecipadas bastante plausível. Na moção de confiança, porém, Papandreu necessita apenas de 120 votos, pelo que a questão poderá não se colocar já. Vários deputados do PASOK enviaram entretanto uma carta ao chefe do governo sugerindo a formação de um governo de unidade nacional para co-responsabilizar igualmente a direita pela crise humana e social do país.
O governo pretende entretanto acelerar o processo de convocação do referendo, inicialmente pensado para Janeiro mas que poderá realizar-se ainda em Dezembro, devido à urgência da situação. Os dirigentes europeus pedem a Papandreu sobretudo “clareza”. O mote foi lançado em primeiro lugar pelo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaube: “Será útil saber com clareza e o mais depressa possível que caminho a Grécia quer seguir”, disse, corroborado pouco depois pela senhora Merkel. A recomendação foi adoptada ao princípio da noite de quarta-feira pela cimeira informal em Cannes, antes da qual Barroso já tinha ameaçado que “sem acordo com a União Europeia e o FMI as condições para os gregos serão muito mais dolorosas, principalmente para os mais vulneráveis”.
Outro assunto que agravou a polémica em que mergulharam a Grécia e as instituições europeus foi o anúncio da renovação total das chefias militares gregas decidida na reunião do Conselho de Ministros. O executivo afirma que já estava prevista, mas todas as forças de oposição salientam a inoportunidade e os riscos desta decisão em momento de grande fricção política e social, conhecidos como são os tipos de intervenção dos militares na sociedade grega.
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