El País
Os impactos do aquecimento global já são visíveis em todos os continentes e em todos os oceanos, alerta o mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que traça um panorama futuro muito sombrio se os líderes mundiais não agirem em tempo. Caso medidas não sejam adotadas, o texto prevê que durante este século aumentará o deslocamento de populações, particularmente nas zonas costeiras que serão afetadas pela elevação do nível do mar, pelas inundações e a erosão costeira. O relatório também alerta para a queda nas safras, a extinção de espécies e a degradação dos ecossistemas. E aponta, inclusive, para o risco de conflitos violentos ou guerras civis.
O IPCC, a maior rede científica no mundo dedicada a estudar as mudanças climáticas, divulgou nesta segunda-feira, em Yokohama (Japão), a segunda das três partes de seu relatório de atualização sobre a literatura científica do aquecimento, chamado AR5. Suas centenas de autores, escolhidos pela Organização das Nações Unidas, tiveram mais que o dobro de estudos que a última vez (o AR4 é de 2007) para produzir relatórios que serão fundamentais nas negociações das próximas cúpulas internacionais sobre o clima. O relatório do Grupo I, lançado em setembro, concluiu que a atividade humana é a responsável pelas mudanças climáticas. Agora, o Grupo II apresentou sua revisão dos impactos, a vulnerabilidade dos territórios e as possibilidades de adaptação.
Os efeitos do aquecimento global não são uma ameaça futura e vaga, uma vez que já podem ser observados em muitas regiões, garante o IPCC no seu resumo para os políticos responsáveis pelo tema: fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor, secas e ciclones; colheitas menos abundantes; alterações das chuvas que afetam o acesso aos recursos hídricos... E o mundo está “mal preparado” para lidar com os impactos futuros, acrescentou o comunicado de imprensa que acompanha o documento. O texto foi fechado no fim de semana com os formuladores de políticas e reduz algumas das disposições contidas em um rascunho vazado na semana passada. Abaixo estão alguns dos alertas das previsões apresentadas no relatório:
Conflitos. A previsão é de que a mudança climática aumente o deslocamento de populações durante o século XXI, especialmente em países em desenvolvimento, diz o texto, acrescentando: “Indiretamente, pode aumentar o risco de conflitos violentos em forma de guerra civil entre as comunidades ao ampliar fatores instigadores de conflitos bem documentados como a pobreza e perturbações econômicas”.
Mais pobreza. Os perigos relacionados com o clima “afetam diretamente” as vidas dos mais pobres porque têm impacto em seus meios de vida, na redução das safras, na destruição de suas moradias e, de forma indireta, ao aumentar os preços dos alimentos e a insegurança alimentar.
Costas. O previsível aumento do nível do mar esperado durante o século XXI irá causar inundações e erosão do litoral. Ao mesmo tempo, as projeções mostram que o crescimento da população, o desenvolvimento econômico e uma maior urbanização atrairão mais pessoas para as zonas costeiras, de modo que o perigo será maior. O relatório afirmou que os custos de adaptação a esta realidade variam muito entre os países. No caso de algumas nações em desenvolvimento e de pequenos Estados insulares, fazer frente aos impactos e aos custos de adaptação pode supor vários pontos percentuais de seu Produto Interno Bruto (PIB).
A segurança alimentar. O aquecimento global, o aumento dos níveis do mar e as mudanças nas chuvas afetarão as terras agrícolas. E não para o bem, de acordo com o relatório. No caso de grandes culturas (trigo, arroz e milho) em regiões tropicais e temperadas, o texto falou de “impacto negativo” nas safras se as temperaturas subirem mais de dois graus Celsius e não forem tomadas medidas de adaptação.
Saúde. O relatório observa que a carga de doenças causadas pelas mudanças climáticas é pequena em comparação com outras consequências e que não está bem quantificada. No entanto, o texto acrescenta que já há evidência do aumento da mortalidade associada mais ao calor do que ao frio em algumas áreas como resultado do aquecimento. As alterações de temperatura e a chuva já alteraram a distribuição de algumas doenças transmitidas pela água, acrescenta. Os riscos futuros incluem problemas de saúde em áreas costeiras e pequenas ilhas devido à elevação do nível do mar e às inundações [RFC 1-5], bem como em grandes populações urbanas devido a enchentes no interior. Até a metade do século XXI, o impacto consistirá no “agravamento de problemas de saúde já existentes”. Em longo prazo, mas dentro do século, os cientistas acreditam que a saúde vai piorar em regiões de países em desenvolvimento.
Oceanos. Os efeitos da mudança climática já estão sendo notados: maior aquecimento (provoca deslocamento de espécies marinhas, como o bacalhau atlântico em direção a latitudes polares), acidificação e deficiência de oxigênio.
Ecossistemas. Alguns habitats “únicos e ameaçados” já estão em perigo devido à mudança climática. Se a temperatura média subir um grau, aumentará o risco de “consequências graves”. Com um aumento de dois graus, o risco aumentará para muitas espécies com capacidade de adaptação limitada, especialmente nos recifes de coral e o Ártico. O texto alerta que, se nada for feito, as mudanças em alguns ecossistemas podem ser “abruptas e irreversíveis”.
As zonas rurais. O texto chama a atenção para o perigo que se esconde em áreas rurais devido ao acesso insuficiente à água potável e para irrigação e ao declínio na produtividade das culturas. Os agricultores e pecuaristas em regiões semiáridas serão os mais afetados em um futuro próximo.
O acesso à água. O relatório diz que os recursos renováveis superficiais e subterrâneos “serão reduzidos significativamente” na maioria das regiões subtropicais, o que “intensificará a concorrência pela água entre os setores”.
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