Ariadne Araújo
Folha
Em meados dos anos 1930, o escritor George Orwell saiu em missão, a pedido de seu editor, para uma temporada de 2 meses nas áreas de mineração de carvão em Lancashire e Yorkshire, norte da Inglaterra. A ideia era que ele escrevesse um livro para uma série sobre "as condições da Inglaterra". Do mergulho na vida dura, de sofrimento e pobreza dos mineiros, o futuro autor do clássico "1984" voltou à Londres chocado com o que viu. Mas também bastante inspirado para produzir um texto "altamente provocativo" e sem papas na língua.
Em O Caminho para Wigan Pier, o inglês George Orwell não poupou tinta. Dividido em 2 partes bem diferentes, o livro tem uma primeira metade mais jornalística, onde ele pinta um retrato detalhado da extrema pobreza e sofrimento dos mineiros. Na segunda metade, ele faz um ataque virulento à sociedade de classes na Inglaterra e ao sistema capitalista, como um todo. Para atingir com força seus leitores, adjetivos: terrível, medonho, repulsivo, aterrador, são alguns deles.
Na pensão da família Brooker, onde se hospedou por um tempo, ele ficou até o dia em que viu um penico cheio até a borda, embaixo da mesa do café da manhã. Então, ele partiu "o lugar estava começando a me deixar deprimido". Segundo Orwell, não era só a sujeira, os cheiros fétidos a comida nauseabunda. Era, principalmente, "uma sensação de decadência, de uma estagnação sem sentido, de ter descido a um lugar subterrâneo onde as pessoas se arrastam em círculos, como besouros negros dando voltas".
Mas, ele lembra, no mundo moderno existem centenas de milhares de Brooker. Eles são o subproduto de uma sociedade industrial, numa época em que o carvão regia a quase totalidade da vida cotidiana na Inglaterra. Para Orwell, o mundo subterrâneo das minas é a contraparte indispensável do mundo da superfície. "Tudo o que fazemos, desde tomar um sorvete até atravessar o Atlântico, desde assar um filão de pão até escrever um romance, envolve usar carvão, direta ou indiretamente".
No posfácio do livro, o jornalista e escritor brasileiro Mario Sergio Conti nos lembra de que o mundo substituiu o carvão pelo petróleo, pelas hidrelétricas e pela energia nuclear. Mas a unidade entre "o ocultamento das atrocidades do mundo do trabalho e a 'naturalidade' da vida social permanece a mesma". Por isso, o texto de Orwell é tão atual. Sobre isso, Richard Hoggart diz, na introdução, que "cada década, declaramos cheios de astúcia, que já enterramos as divisões de classe; e a cada década o caixão continua vazio".
Em O Caminho para Wigan Pier, o inglês George Orwell não poupou tinta. Dividido em 2 partes bem diferentes, o livro tem uma primeira metade mais jornalística, onde ele pinta um retrato detalhado da extrema pobreza e sofrimento dos mineiros. Na segunda metade, ele faz um ataque virulento à sociedade de classes na Inglaterra e ao sistema capitalista, como um todo. Para atingir com força seus leitores, adjetivos: terrível, medonho, repulsivo, aterrador, são alguns deles.
Na pensão da família Brooker, onde se hospedou por um tempo, ele ficou até o dia em que viu um penico cheio até a borda, embaixo da mesa do café da manhã. Então, ele partiu "o lugar estava começando a me deixar deprimido". Segundo Orwell, não era só a sujeira, os cheiros fétidos a comida nauseabunda. Era, principalmente, "uma sensação de decadência, de uma estagnação sem sentido, de ter descido a um lugar subterrâneo onde as pessoas se arrastam em círculos, como besouros negros dando voltas".
Mas, ele lembra, no mundo moderno existem centenas de milhares de Brooker. Eles são o subproduto de uma sociedade industrial, numa época em que o carvão regia a quase totalidade da vida cotidiana na Inglaterra. Para Orwell, o mundo subterrâneo das minas é a contraparte indispensável do mundo da superfície. "Tudo o que fazemos, desde tomar um sorvete até atravessar o Atlântico, desde assar um filão de pão até escrever um romance, envolve usar carvão, direta ou indiretamente".
No posfácio do livro, o jornalista e escritor brasileiro Mario Sergio Conti nos lembra de que o mundo substituiu o carvão pelo petróleo, pelas hidrelétricas e pela energia nuclear. Mas a unidade entre "o ocultamento das atrocidades do mundo do trabalho e a 'naturalidade' da vida social permanece a mesma". Por isso, o texto de Orwell é tão atual. Sobre isso, Richard Hoggart diz, na introdução, que "cada década, declaramos cheios de astúcia, que já enterramos as divisões de classe; e a cada década o caixão continua vazio".
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