terça-feira, 27 de julho de 2010

Afeganistão: Gigantesca fuga de informação do exército dos EUA



Esquerda.Net

Ficheiros secretos norte-americanos provam que centenas de civis foram mortos pelas tropas da NATO e revelam, pela primeira vez, que os EUA criaram uma força especial para “matar ou capturar” líderes taliban.

Numa das maiores fugas de informação, de sempre, do exército norte-americano, foram disponibilizados aos jornais Guardian, New York Times e Der Spiegel mais de 90.000 documentos colocados online no site wikileaks.org. Os documentos são relatórios de incidentes e de segurança no período de Janeiro de 2004 a Dezembro de 2009.

Os documentos revelam que centenas de civis foram mortos em mais de 140 incidentes, que as tropas da NATO têm negado. Segundo o Guardian, têm também aumentado constantemente os ataques com aviões não tripulados (drones), a partir de uma base norte-americana instalada no Estado do Nevada.

Pela primeira vez, é conhecido que o exército norte-americano constituíu uma força especial (Task Force 373), cujas unidades de “caçadores” têm como missão prender ou matar líderes da insurreição afegã sem julgamento. Os relatórios também deixam claro que os ataques bombistas dos taliban às tropas de ocupação têm vindo a aumentar.

Os jornais revelam ainda que os EUA encobriram que os taliban adquiriram mísseis aéreos e que os comandos norte-americanos desconfiam de que a polícia secreta do Paquistão tem ajudado os taliban.

Confrontada com esta enorme fuga de informações e com a situação no Afeganistão, a Casa Branca salienta que a situação reflectida nos relatórios agora conhecidos é o resultado da gestão anterior a Obama: “É importante notar que o período de tempo refletido nos documentos é de Janeiro de 2004 a Dezembro de 2009”, diz uma nota do governo dos EUA.

A nota também condena a divulgação dos documentos: “Condenamos fortemente a revelação de informação confidencial por indivíduos e organizações, que põe a vida de membros norte-americanos e parceiros de serviço em risco, e ameaça a nossa segurança nacional".

A nota sublinha ainda que a Wikileaks “não fez esforço para contactar o governo dos EUA sobre esses documentos, que podem conter informações que colocam em risco a vida de americanos, de nossos parceiros, e de populações locais que cooperam connosco."

Governo afegão denuncia massacres

Os militares dizem que as acusações são "infundadas" e dizem já ter iniciado uma investigação, mas este evento trágico surge pouco depois de se conhecerem milhares de ficheiros norte-americanos que provam que as forças da NATO já mataram centenas de civis no Afeganistão.

O presidente afegão, Hamid Karzai, enfrenta mais uma vez, o comando militar da NATO no Afeganistão. Em causa está novamente a morte de civis, desta vez foram 52 pessoas que morreram devido a um bombardeio protagonizado pelas forças militares da NATO, na província de Helmand, no sul do país.

Esta segunda-feira, Karzai ordenou uma investigação para determinar a responsabilidade, tal como a Aliança Atlântica anunciou também a abertura de um inquérito, embora alegando já que "não há provas que confirmem as acusações", que consideram "totalmente infundadas", cita o jornal espanhol El País.

A versão do governo afegão é diferente e mais detalhada. Esta segunda-feira, o porta-voz adjunto do governo de Helmand, Abdul Rahim, contou que dois foguetes atingiram uma casa onde havia várias dezenas de civis. As vítimas tinham-se refugiado, tendo sido antes avisadas pelos talibãs, que controlam a região, dos combates que estavam a decorrer naquela área.

Os testemunhos são de dois afegãos que se encontram hospitalizados na província, perto de Kandahar e que foram entrevistados por um jornalista da AFP, no sábado. Ambos disseram que os foguetes que destruíram a casa tinham sido disparados por helicópteros das forças internacionais. No mesmo dia, a Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF), disse que estava ciente das “acusações ", mas “que não dispunha de informações operacionais relacionadas com este evento, é claro".

O ataque ocorreu no distrito de Sangin, localizada na província de Helmand, onde as tropas internacionais lançaram uma ofensiva com milhares de soldados em Fevereiro passado. As acusações chegam num momento delicado para as forças da NATO no Afeganistão após os atropelos políticos no controlo da missão, que acabaram com a ascensão do general David Petraeus, na sequência da demissão de seu antecessor, o general Stanley McChrystal.

Foi precisamente por causa de McChrystal que a NATO limitou, ainda assim, o uso de bombardeios aéreos, na tentativa de evitar mais vítimas civis. Apenas no primeiro semestre deste ano, já morreram 1074 civis, o que representa um amento de 1,3% nas mortes de civis, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a organização independente de monitorização de direitos do Afeganistão (ARM).

Este acontecimento trágico e mortífero tornou-se público pouco depois de 90 mil páginas de ficheiros secretos norte-americanos serem conhecidos e virem provar que centenas de civis foram mortos pelas tropas da NATO, revelando, pela primeira vez, que os EUA criaram uma força especial para “matar ou capturar” líderes talibãn.

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