terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Relações com o Brasil devem continuar boas, preveem analistas

Alexandre Costa Nascimento
Gazeta do Povo

A guinada à direita no Chile não deverá afetar negativamente as relações do país com o Brasil. Ao contrário, especialistas apontam para um fortalecimento da “histórica aliança estratégica” entre os países. Prova disso é que alguns ex-chanceleres chilenos e senadores ligados à coalizão que elegeu Piñera defendem abertamente na imprensa local que a primeira viagem internacional do presidente – que tem o significado simbólico de demonstrar as prioridades da política externa de um novo governo – tenha como destino o Brasil.

“Não há nenhuma agenda negativa entre o Brasil e o Chile. As relações políticas, econômicas e culturais entre os países sempre foram amistosas. O próprio Piñera, enquanto candidato, visitou o presidente Lula e tem manifestado que o Brasil é um parceiro do Chile e continuará sendo”, disse à Gazeta do Povo uma fonte diplomática da embaixada brasileira em Santiago e que preferiu não ser identificada.

Em relação ao processo de integração no subcontinente – uma das prioridades do Itamaraty – a fonte considera que o novo governo chileno deverá manifestar “algumas reservas” quanto à possibilidade de que a União das Nações Sulamericanas (Unasul) ou o Mercosul possam ser utilizados como palco para discursos populistas dos países que fazem parte da aliança bolivariana, liderada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez.

“O Chile teve um papel importante na criação da Unasul, exercendo, inclusive, a primeira presidência rotativa do bloco. Mas haverá algumas reservas no que se refere ao bolivarianismo. O próprio Piñera disse isso claramente no último debate”, explica.

Já o chileno Fernando de la Cuadra, mestre e doutorando em Ciência Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), aposta em uma maior aproximação do Chile com países governados por políticos de direita, como a Colômbia e o Perú. “O Chile deverá priorizar os tratados de livre-comércio e se afastar do Mercosul (bloco do qual é membro associado desde 1996), formando um eixo de direita com os presidentes Uribe (Colômbia) e Alan Garcia (Peru)”, avalia.

Socialista de carteirinha, de la Cuadra reconhece que o presidente eleito tem um posicionamento liberal em temas como ética e cultura. Piñera já se declarou favorável a união entre casais do mesmo sexo ou o uso da pílula do dia seguinte. “O problema é a aliança que o elegeu. Entre os grupos que o apoiaram estão a direita pinochetista, e grupos católicos ultraconservadores, como a Opus Dei e os Legionários de Cristo, que possui uma universidade que forma mulheres para serem donas de casa”, afirma.

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