segunda-feira, 15 de julho de 2024

As muitas vidas de Frantz Fanon


Arvin Alaigh
Outras Palavras

Numa biografia magistral, emergem o revolucionário, o pensador anticolonial, o psiquiatra rebelde. E surgem com mais nitidez a relação com a psicanálise, a dissidência política após a vitória e a visão nuançada sobre o papel da violência.

A estatura de Frantz Fanon cresceu no final da década de 1950, à medida que ele atravessava o emergente Terceiro Mundo, conquistando apoio para a causa nacionalista argelina. Como membro da Frente de Libertação Nacional (FLN), o partido que travava uma guerra de independência contra os governantes coloniais franceses da Argélia, Fanon tinha um elenco assombroso de responsabilidades: oferecia tratamento psiquiátrico aos combatentes da FLN; ajudou a produzir o jornal oficial do partido; deu palestras sobre filosofia e história para soldados no front; e viajou por todo o continente africano como embaixador formal do governo provisório argelino no exílio, angariando capital político e financeiro para o movimento revolucionário.

Tal destaque resultou num risco enorme. À medida que Fanon ascendia na hierarquia da FLN, as forças francesas colocaram-no na mira. Em 1959, La Main Rouge, um esquadrão da morte paramilitar anti-FLN financiado pela espionagem francesa, seguiu-o até Roma, onde tinha viajado para receber tratamento médico após um acidente de carro em Marrocos. Pouco antes de um agente da FLN ir buscar Fanon no aeroporto, uma bomba detonou sob seu carro, matando uma criança próxima. Ao saber que seu paradeiro havia sido divulgado em uma reportagem sobre a explosão, Fanon exigiu mudar de quarto no hospital e escapou por pouco de um assassino armado que invadiu o aposento original. Após viver essa situação difícil, deixou Roma e voltou para Túnis, onde estava exilado.

Os inimigos de Fanon não estavam apenas nas forças coloniais francesas; ele também encontrou adversários dentro da própria FLN, uma organização marcada por lutas internas pelo poder. Crítico silencioso da liderança, ele poderia muito bem ter emergido como alvo dos expurgos pós-revolução, que levaram à expulsão de dezenas de militantes do partido e à morte de muitos outros. Mas morreu de leucemia aos 36 anos, meses antes de a Argélia conquistar a sua independência, em 1962. Um dos atos finais da sua vida truncada foi ditar à sua secretária, já no leito de morte, o que se tornaria seu trabalho mais influente. Os Condenados da Terra, apontado por Stuart Hall como a “Bíblia da descolonização”, diagnosticou as condições políticas, sociais e psicológicas do domínio colonial com um grau de clareza e força nunca visto até a sua publicação – ou desde então. Também defendeu o uso da violência revolucionária pelos colonizados contra os seus opressores coloniais, um aspecto do seu trabalho que recebeu atenção desproporcional e foi despido de todas as suas nuances.

Nos anos que se seguiram à sua morte, Os Condenados elevou Fanon ao panteão dos luminares anticoloniais. Movimentos nacionalistas radicais em toda a África, Ásia e América do Sul defenderam a obra, assim como o Partido dos Panteras Negras nos Estados Unidos. Nas décadas de 1980 e 1990, o seu trabalho foi abraçado pela academia, onde a teoria da cultura e o pós-estruturalismo inscreveram o seu corpus em debates muitas vezes esotéricos e politicamente inertes. Enquanto isso, ativistas corretamente empenhados em evitar as tentativas de desfiguração de sua política revolucionária lutavam entre si para decidir qual Fanon era o autêntico. Na busca por definir “o” Fanon, porém, corremos o risco de perder o que o tornou tão extraordinário. Fanon não tinha identidade única. Ele passou a vida em movimento perpétuo – física, intelectual e politicamente.


Das numerosas biografias em inglês que narram a vida e a obra de Fanon, The Rebel’s Clinic: The Revolutionary Lives of Frantz Fanon, de Adam Shatz, é talvez a mais rica intelectualmente. Shatz, um dos grandes ensaístas do nosso tempo, apresenta uma figura imperfeita e brilhante – uma figura que compromete o mito predominante de Fanon como um apologista unidimensional da violência. Shatz fez, por mais de duas décadas, reportagens da França e do Norte da África, escrevendo sobre os legados persistentes do domínio colonial. Tem vasto domínio dos múltiplos contextos intelectuais e políticos que moldaram Fanon, incluindo o movimento Négritude, a filosofia francófona e o meio literário do pós-guerra, as fissuras que dividiram a FLN durante a revolução e os crescentes movimentos clínicos que substituíram a psiquiatria francesa ortodoxa.

A admiração de Shatz pelo seu tema é evidente, mas ele evita cuidadosamente o impulso hagiográfico que impulsiona grande parte dos estudos sobre Fanon. Examina a abordagem desconfortável e, às vezes contraditória, de Fanon sobre a violência revolucionária; revela dimensões mais profundas das dívidas de Fanon para com escritoras como Suzanne Césaire e Simone de Beauvoir; e avalia criticamente a aparente rejeição de Freud por Fanon, iluminando os numerosos legados que ele recebeu do fundador da psicanálise. No processo, Shatz dá vida a Fanon, incitando-nos a pensar ao lado dele para dar sentido ao nosso mundo atual.

O corpo de Fanon jaz num cemitério de mártires no leste da Argélia. Embora tenha morrido como argelino honorário, ele nasceu a milhares de quilômetros de distância, na pequena ilha caribenha da Martinica. Foi aqui que habitou pela primeira vez a hierarquia racial que estruturava a sociedade colonial, embora demorasse anos para desenvolver uma compreensão mais profunda da condição colonizada. Dois episódios ajudaram a fornecer esta consciência: o encontro com o racismo, por parte dos europeus brancos durante a Segunda Guerra Mundial, na qual lutou como membro das Forças Francesas Livres, e as suas experiências subsequentes como estudante de medicina em Lyon, no final da década de 1940. Seu primeiro livro, Pele Negra, Máscaras Brancas, é um amplo estudo sobre a alienação social dos negros colonizados e suas manifestações na política, literatura, filosofia e psicanálise. O livro começou como sua dissertação médica, até que seu departamento rejeitou o tópico (ele finalmente apresentou uma dissertação respeitosa, porém rigorosa, sobre a ataxia de Friedreich, uma doença neurodegenerativa).

Após sua residência e um curto período praticando psiquiatria na Martinica e na França, Fanon recebeu um posto clínico na Argélia em 1953, em Blida-Joinville, o maior centro psiquiátrico do país. Já politizado, juntou-se secretamente à FLN dois anos depois de se mudar para o país. Fanon tratou os policiais e militares franceses ocupantes em sua atividade clínica oficial durante o dia e os combatentes da resistência da FLN à noite.

Ao contrário de David Macey, autor da última grande biografia de Fanon há mais de duas décadas, Shatz oferece um exame robusto da carreira de Fanon como psiquiatra, um aspecto de sua vida que recebeu atenção renovada desde a publicação de dezenas de seus escritos psiquiátricos em 2015. Shatz explora a relação tênue, mas formativa, de Fanon com a psicanálise. As noções de inconsciente, repressão e estágio de espelho de Lacan informaram suas concepções da subjetividade negra e colonial, e ainda assim ele argumentou que as ideias psicanalíticas centradas nas estruturas familiares europeias, como o complexo de Édipo, não poderiam ser aplicadas acriticamente ao sujeito argelino. (Ele também manteve um interesse pessoal: “Assim que eu terminar esta revolução argelina”, disse ele à sua secretária, “farei uma análise”.) Como chefe da Blida-Joinville, ele se esforçou para reformar a abordagem terapêutica da clínica. Experimentou a psicoterapia institucional, uma forma radical de institucionalização que visava devolver a subjetividade aos pacientes, confundindo as fronteiras entre a sociedade e o hospital.

Para Shatz, o trabalho psiquiátrico de Fanon está no centro do seu projeto político. Foi a manifestação mais prática da sua ambição de restaurar a agência de sujeitos fundamentalmente alienados. Nas sociedades colonizadas, tal como nos hospitais psiquiátricos, a liberdade exigia o desenvolvimento da consciência através da criação ativa de novas estruturas sociais, políticas e psíquicas. Para Fanon, esta capacidade de liberdade era crítica – o que o distinguiu de segmentos do meio intelectual francês do pós-guerra que, sob o feitiço do surrealismo, romantizaram a loucura como uma força “visionária” ou libertadora. “Para um descendente de escravos numa antiga colônia açucareira”, escreve Shatz, “era impossível confundir a condição de desintegração mental e física com a emancipação de uma ordem social opressiva”.

No final da vida, Fanon encontrava-se cada vez mais desiludido com a FLN. Ele havia sido inspirado pela promessa de um movimento revolucionário que pudesse cultivar uma nação alicerçada numa consciência social libertadora. Mas agora via um partido invadido por militares míopes e ideologicamente desequilibrados, ansiosos por mobilizar o chauvinismo étnico-religioso para forjar uma identidade argelina que excluísse as minorias étnicas e religiosas. Com base nestas experiências, Fanon previu nos Condenados da Terra que a maioria dos movimentos de independência nacional terminaria com uma consolidação do poder político pelas elites nativas, cujos impulsos de auto-enriquecimento calcificariam as divisões sociais e económicas da era colonial. Entretanto, as potências neocoloniais, como as corporações transnacionais, continuariam a saquear as nações anteriormente colonizadas. Contra este futuro sombrio, era fundamental construir a solidariedade internacionalista – para Fanon, isto significava um projeto pan-africano – capaz de libertar as nações recentemente independentes das estruturas de poder do velho mundo.

Ao contrário de alguns pensadores pós-coloniais, Fanon nunca rejeitou a modernidade ocidental per se. Em vez disso, como escreveu nos Condenados, procurou transcendê-la criando uma consciência universal enraizada num “novo humanismo”. Este projeto radical, que exigia “procurar noutro lugar além da Europa” em busca de inspiração para “inventar um homem completo”, continuou a ser o seu objetivo até ao fim da vida. A consciência nacional pós-colonial foi um canal para esse fim. É difícil dizer o que isso significou concretamente para um novo Estado-Nação.

Fanon fez algumas recomendações explícitas para uma sociedade pós-colonial, incluindo a redistribuição da riqueza, a fim de solapar o poder da burguesia nativa e das classes dominantes. Mas nunca forneceu modelos granulares de construção de instituições políticas, nem discutiu detalhadamente a mecânica da governação. Como escreveu Edward Said em Cultura e Imperialismo, Fanon não apresenta “uma receita para fazer uma transição após a descolonização”. Ainda assim, podemos esboçar os contornos de uma nação pós-colonial reordenada segundo as linhas fanonianas: uma sociedade emancipada, democrática, pluralista e coletivista, sintonizada com as necessidades de reparação psíquica e comprometida com o desmantelamento das hierarquias coloniais.

Esta visão ambiciosa foi em grande parte ofuscada pelo envolvimento controverso de Fanon com a questão da violência. O prefácio de Jean-Paul Sartre a Condenados, que exalta a virtude da ação violenta, acabou ofuscando e descaracterizando a posição mais matizada de Fanon. Alguns leitores consideraram a violência revolucionária como expressão suprema da agência e da autodeterminação e, por extensão, o único vetor importante através do qual o compromisso revolucionário de Fanon pode ser avaliado. Ao fazê-lo, sustentam que qualquer ato de violência dos oprimidos contra os seus opressores é (moral ou politicamente) santificado. Para Shatz, Fanon tem uma relação mais complexa com a violência, que é parcialmente ofuscada pelo problema da tradução. Por exemplo, em algumas versões em inglês de Condenados, a frase “la violence désintoxique” aparece como “a violência é uma força de limpeza”, algo distante do sentido de “desintoxicar”. A implicação da frase em francês é que a condição colonial induz uma espécie de estupor, que a violência pode servir para desfazer, despertando os colonizados. Esses tipos de equívocos podem parecer menores, mas moldaram desproporcionalmente a forma como nos lembramos hoje de Fanon.

Duas semanas depois de 7 de outubro, Shatz escreveu um ensaio na London Review of Books refletindo sobre a violência em Israel e em Gaza. Grande parte do artigo refletia sobriamente sobre o sofrimento causado pela ocupação israelense e oferecia um prognóstico sombrio do derramamento de sangue que os habitantes de Gaza estavam na iminência de sofrer. Shatz também mirou alguns membros da esquerda “descolonial”, que “parecem quase fascinados pela violência do Hamas e caracterizam-na como uma forma de justiça anticolonial do tipo defendido por Fanon”. O ensaio desencadeou um debate acirrado e produtivo sobre como os defensores da liberdade palestina deveriam envolver-se no uso da violência.

Assim como em The Rebel’s Clinic , Shatz procurou contrariar leituras simplistas de Fanon apresentando uma figura mais multidimensional. Como partidário da FLN, Fanon apoiou ativamente táticas violentas. Ao mesmo tempo, como psiquiatra, preocupava-se com as feridas psíquicas e sociais persistentes que a violência poderia causar. Fanon termina Condenados da Terra com estudos de caso de argelinos e franceses que sofreram de doenças mentais induzidas pela guerra. “A impressão esmagadora deixada pelos estudos de caso de Fanon. . . é que os efeitos desintoxicantes da violência são, na melhor das hipóteses, efêmeros”, escreve Shatz. A violência é semelhante à terapia de choque – e tal como a terapia de choque por si só não pode curar um paciente (e pode causar novos danos), a violência por si só não pode gerar uma sociedade justa. Contra a tendência de transformar Fanon num ícone de resistência violenta e nada mais, Shatz apresenta o retrato de um homem cuja posição evoluiu à medida que lutava com as questões mais urgentes na busca pela libertação.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Jeremy Rifkin: "Es hora de dejar de mercantilizar y explotar los recursos del planeta"

Óscar Granados
Ethic

«Vivimos un nuevo ciclo: la era de la resiliencia», afirma el economista y sociólogo estadounidense Jeremy Rifkin (Denver, 1945). Ese es el título de su más reciente libro, que da pie a esta conversación sobre lo que él llama «la cruda realidad que vive nuestra especie», sobre la esperanza en las nuevas generaciones, las guerras que azotan al mundo, el futuro del trabajo y su relación con la inteligencia artificial.

En su libro La era de la resiliencia invita al lector a reimaginar su existencia en la Tierra y, en general, la forma en que se relaciona con las demás especies. ¿En qué momento de la historia nos encontramos?

Nos encontramos frente a una extinción. Déjeme explicarle. Durante los últimos cientos de años, hemos vivido bajo el dominio de un sistema que se basa en el uso del petróleo, carbón y gas, para alimentar lo que hemos denominado la era de los combustibles. Sin embargo, esta forma de vida ha tenido graves consecuencias para nuestro planeta. Hemos liberado una gran cantidad de gases de efecto invernadero a la atmósfera, lo que ha provocado un aumento en la temperatura global y un cambio climático catastrófico. Por cada grado Celsius de aumento en la temperatura, la atmósfera retiene un 7% más de precipitación del suelo, lo que resulta en fenómenos meteorológicos cada vez más intensos y destructivos. Desde inundaciones repentinas y sequías hasta huracanes y olas de calor, estamos presenciando los efectos devastadores en todas partes. Este cambio altera drásticamente los ecosistemas, amenazando la vida de innumerables especies, incluida la nuestra. Los científicos nos advierten que estamos en medio de la sexta extinción masiva de la vida en la Tierra, y esta vez, la responsabilidad recae en nosotros, los seres humanos.

¿Hay manera de evitar la extinción?

Sí, es posible evitarla, porque contamos con los recursos necesarios para lograrlo: las nuevas tecnologías, las maravillas de la ciencia y la exactitud de las matemáticas y el atractivo del mercado capitalista para fomentar el bienestar económico de la sociedad. Además, lo que estamos viendo es que los jóvenes ahora están muy asustados.

No solo los jóvenes, también los mayores…

Sí, también las personas mayores, los padres, los abuelos. Pero es en los más jóvenes donde está la clave. A pesar de la gravedad de la situación, hay esperanza. La Generación Z se ha dado cuenta de que nuestro planeta es mucho más poderoso de lo que habíamos pensado. Están comenzando a comprender que el planeta no está aquí para que sea dominado y explotado, sino que es un sistema complejo y dinámico del cual son una parte interdependiente. Este reconocimiento nos brinda la oportunidad de cambiar nuestra relación con la Tierra y de adoptar un enfoque más respetuoso y sostenible con la naturaleza. Es hora de dejar de mercantilizar y explotar los recursos del planeta y de empezar a trabajar en armonía con la hidrosfera y los demás sistemas naturales.

En cierto sentido, hay buenas noticias.

Claro. Uno de los aspectos más destacados es la notable participación y conciencia de la Generación Z en relación con la crisis climática. Hemos sido testigos de manifestaciones masivas lideradas por jóvenes, quienes, de manera pacífica, han salido a las calles para exigir una acción urgente frente a la emergencia climática global. Por primera vez en la historia, estamos presenciando cómo toda una generación se identifica no solo como individuos, sino como una especie en peligro de extinción. Estos jóvenes reconocen a sus semejantes como parte de una misma familia evolutiva, trascendiendo las divisiones políticas, religiosas y tribales.

António Guterres, secretario general de la ONU, dijo que la humanidad ha abierto las puertas del infierno. ¿Está de acuerdo con esta afirmación?

Sí, completamente. Pero déjeme compartir una reflexión sobre esto. Toda la infraestructura de nuestro planeta es un activo: comunicaciones, energía, movilidad, logística, agua, edificios, medio ambiente. Esto se debe a que hemos desarrollado un mundo que no está preparado para enfrentar un evento de extinción y cambio climático. Ya sea en el diseño de edificios, sistemas de carreteras o gestión del agua subterránea, no se ha tenido en cuenta este nuevo desafío. La crisis actual es la más grave desde que los seres humanos habitan este planeta, hace unos 200.000 o 300.000 años. Toda nuestra infraestructura fue diseñada para una era de clima templado, el Holoceno. Sin embargo, ahora nos encontramos en la era del Antropoceno, donde la hidrosfera es la fuerza dominante. De hecho, este planeta es más acertadamente un planeta de agua que uno terrestre. Aún estamos descubriendo la importancia de la hidrosfera. Esta determina toda forma de vida. Sin la hidrosfera, no hay litosfera. La hidrosfera incluso influye en la formación del suelo y es esencial para el equilibrio y la sustentabilidad de nuestro entorno planetario. Determina la vida vegetal y animal, así como la composición de la atmósfera con el oxígeno que proporciona. Además, influye en la biosfera en su totalidad.

Ahora estamos presenciando cómo las aguas se están rebelando. Y la verdadera ironía de todo esto es que alguna vez creímos que podríamos dominar este planeta. No ha sido así, lo hemos comercializado, lo hemos privatizado, lo hemos utilizado y lo hemos contaminado en beneficio de una sola especie. La oportunidad que se nos presenta ahora es que una nueva generación entre en la industria, en la gobernanza y en la sociedad civil para comenzar a transformar nuestro mundo. Los políticos, en su mayoría de generaciones anteriores, no están abordando adecuadamente los desafíos actuales. Necesitamos nuevas ideas y un enfoque renovado en todos los ámbitos: industria, academia, sociedad civil y gobierno. La primera fase fue ver a la generación más joven protestando en las calles. Ahora, la siguiente etapa implica que esta generación ingrese a diferentes sectores de la sociedad y comience a implementar las ideas que han surgido, llevándolas más allá de lo que hemos logrado hasta ahora. Sin embargo, el problema radica en que no lograremos esto viendo vídeos en TikTok. Estas cuestiones requieren una reflexión profunda y un compromiso serio.

Hablando de modelos viejos y nuevos, ¿qué significa para el progreso de la humanidad que en pleno siglo XXI los países sigan resolviendo sus diferencias con guerras?

Lo que estamos presenciando en el mundo actual, aunque pueda parecer desalentador, en realidad nos está mostrando un destello de esperanza. Estamos viendo un cambio significativo en la geopolítica, donde las fronteras se están cerrando y los países compiten cada vez más por recursos limitados. Esta dinámica refleja un juego de suma cero en el que cada nación lucha por su supervivencia en un mundo que se enfrenta a la escasez de recursos, la pérdida de leyes y la degradación ambiental. Estamos en un punto crítico, un evento de extinción, y este caos geopolítico es una señal de que el antiguo paradigma está llegando a su fin. En mis conversaciones con líderes gubernamentales y empresariales noto un cambio en el discurso. Ya no se trata de progreso, sino de resiliencia y adaptabilidad. Sin embargo, muchos aún no comprenden completamente lo que implica este cambio. Estamos en transición de la geopolítica a la política de la biosfera. Esto significa que la gobernanza ya no se limitará a los Estados nacionales soberanos, sino que también abarcará formas biorregionales de gobierno. Los eventos climáticos no respetan las fronteras políticas, afectan a ecosistemas que trascienden esas divisiones artificiales.

Pero muchos de los líderes actuales aún no se creen eso del cambio climático. Por ejemplo, en Estados Unidos, un negacionista del calentamiento global puede ser nuevamente presidente.

Le voy a contar una historia que ocurrió en San Antonio, Texas, y que es realmente inspiradora y ejemplifica cómo las decisiones estratégicas pueden transformar todo un estado en términos de energía sostenible. Texas, un estado tradicionalmente republicano, se encontraba hace algunos años en la encrucijada de cómo abordar su futuro energético. A pesar de la inclinación inicial hacia las centrales nucleares, un análisis exhaustivo reveló que esta opción implicaba costos y riesgos considerables. La energía eólica se vio como un recurso más constante y menos riesgoso. Entonces, en una decisión audaz y visionaria, Texas optó por la transición hacia la energía sostenible. Una apuesta impulsada en gran medida por la inversión de los agricultores. Ahora es líder nacional en esta tecnología. No es el único ejemplo. También las plantas de General Motors en Kentucky y Tennessee [ambos republicanos] usan energías renovables en la producción de camionetas eléctricas y son testimonio de esta tendencia. Es fascinante ver cómo incluso en territorios políticamente conservadores se están produciendo cambios significativos. Figuras como [Donald] Trump y otros líderes políticos tendrían que ser conscientes de estos desarrollos y sus beneficios. Las industrias sostenibles ahora se están expandiendo hacia los estados que tienden a apoyar a Trump. Entonces, aunque él se oponga a la energía eólica, son sus partidarios quienes ahora trabajan en estas industrias.

Hace casi 30 años publicó El fin del trabajo, donde aborda el uso de las nuevas tecnologías y los procesos productivos. ¿Qué significa ahora la IA para el empleo del futuro?

Bueno, hasta cierto punto, la IA está sobrevalorada. Si bien ciertamente tendrá sus usos, particularmente para fomentar una infraestructura más distribuida, localizada y democrática (por ejemplo, en la gestión de redes eléctricas, el desarrollo de microrredes y la optimización de la movilidad y la logística), es erróneo creer que la IA podrá predecirlo todo acerca del futuro. La IA tiene limitaciones inherentes. Cuando se recopilan datos, ya están desactualizados y la IA no tiene en cuenta el efecto mariposa y las externalidades negativas. Cada acción en este planeta vivo tiene consecuencias de gran alcance, alterando aspectos fundamentales de nuestro entorno momento a momento. La naturaleza no es una colección de recursos pasivos, sino que está animada dinámicamente. Por lo tanto, si bien los datos pueden parecernos valiosos, a menudo están divorciados de la verdadera naturaleza de nuestro planeta dinámico, que se caracteriza por cambios y flujos continuos.

¿Qué les diría a aquellos que se sienten abrumados por los desafíos que enfrentamos?

Que hay esperanza incrustada en nuestra biología neuronal. Los seres humanos poseemos neuronas empáticas, descubiertas en los años 90, que nos permiten experimentar las emociones de los demás como si fueran propias. Este impulso empático trasciende las fronteras culturales y tiene el potencial de unir a la humanidad en un deseo compartido de florecimiento colectivo. Si bien ha habido fluctuaciones históricas en la conciencia empática, la era actual marca un cambio significativo hacia la empatía con la humanidad en su conjunto, lo que señala un camino prometedor a seguir. La vida es un regalo invaluable y, aunque no comprendamos completamente su propósito, sabemos que deseamos más. Anhelamos prosperar y florecer. La empatía sirve como un medio para brindar apoyo mutuo, ya sea a otros seres humanos u otros seres. Debemos aprovechar este concepto, esta sensación, esta esencia de la vida y movilizarlo en un movimiento sociopolítico destinado a transformar nuestra forma de existencia en este planeta.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

E. P. Thompson en Chile: Solidaridad, historia y poesía de un intelectual militante


Ediciones Ariadna

Edward Palmer Thompson (1924-1993) puede ser considerado indudablemente como uno de aquellos historiadores que fundaron la perspectiva de la historia social inglesa, junto con Eric Hobsbawm, Raymond Williams, Christopher Hill, Rodney Hilton y George Rudé, entre otros. En este enfoque se enfatiza la mirada mediante la cual los procesos históricos son construidos a partir de los sujetos populares, que irrumpen “desde abajo” en la formación de movimientos y expresiones de rebeldía que se constituyen en un fecundo campo del análisis historiográfico. Sin embargo, E. P. Thompson no solamente fue un historiador destacado, también fue un intelectual militante y comprometido con las causas en favor de la paz, el desarmamiento y la lucha antinuclear. También fue un vehemente combatiente antifascista y este libro surge precisamente a partir de su inspirado poema dedicado al camarada Salvador Allende, luego de tomar conocimiento sobre el Golpe de Estado y la muerte del presidente en el Palacio La Moneda.

A partir de tal hito, realizamos un somero panorama sobre la influencia de este pensador y luchador mundial sobre un grupo de historiadores chilenos que fueron al encuentro de la obra de Thompson como sustento para su producción intelectual y su compromiso con una historia que recupera la cotidianeidad y la dinámica de los grupos más pobres e invisibilizados por las visiones históricas conservadoras y dominantes. En estas entrevistas y pequeños ensayos, la presencia de Thompson emerge como una importante referencia para pensar la vida activa y las luchas emancipatorias de las comunidades y organizaciones populares que habitan en nuestro país.

El libro se puede bajar gratuitamente desde Ediciones Ariadna: www.ariadnaediciones.cl

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Remedios Zafra: "Es imposible una utopía humana en un mundo donde cada cual sobrevive frente a su pantalla/espejo".


Federico Buyolo
Ethic

Remedios Zafra (Zuheros, 1973) es doctora en Arte y Filosofía Política, investigadora del Instituto de Filosofía del CSIC y autora de ‘El entusiasmo’ (Premio Anagrama de Ensayo) y ‘El bucle invisible‘ (Premio Internacional de Ensayo Jovellanos), entre otros ensayos. Conversar con ella nos ayuda a entender la realidad selvática en la que nos movemos y, sobre todo, nos permite atisbar qué marcos nos ayudarán a afrontar y liderar los retos futuros desde una visión y acción colectivas.

Vivimos un momento complejo, donde el tiempo se convierte en un tiempo ocupado y no queda espacio para la reflexión. ¿A pesar de la llegada de la tecnología, somos más frágiles hoy?

Si todos hablan al mismo tiempo y el ruido lo ocupa todo, es difícil escuchar y más aún comprender profundizando, somos entonces más vulnerables a la manipulación; si todo está ocupado por tareas y prisa, si no hay espacio ni tiempos vacíos para provocar un desvío, seguiremos la inercia de repetir lo de siempre; si la tecnología nos ayuda a la par que nos suma nuevas necesidades y nos hace adictos a ella, terminamos conectados incluso cuando dormimos; si en la vida digital se alienta la solución rápida, la ansiedad crece esperando tener botones y no pensamiento para cada preocupación; si las lógicas que predominan son mayoritariamente competitivas y numéricas y se centran en el «uno mismo», nos hacemos más solitarios y desconfiados de lo comunitario… Sí, me parece que cuando esto pasa, somos más frágiles.

Has hablado sobre cómo la hipervisualización que sufrimos nos convierte no en productores sino en productos de la red. ¿Estamos condenados a ser un instrumento más del tecnocapitalismo?

No estamos condenados, pero sí orientados a ser producto. Aunque el vestido que traía la tecnología digital parecía llevar escrito «más tiempo propio, más democracia, más conocimiento…», pasamos por alto que su estructura ponía al capital a los mandos, en este caso a un puñado de empresas que acumulan grandísimo poder, buscando no «más valores» sino «más beneficios». La clave ha sido crear un espacio de socialización aparentemente gratuito donde el «yo» se hace protagonista y se exhibe como producto. Por un lado, se crea la necesidad de «estar» y de «volver»; por otro, nosotros y nuestros datos son el «a cambio de».

¿Estamos caminando hacia una sociedad más individual o de suma de individualidades?

Si hablamos de una digitalización regida bajo fuerzas monetarias como la actual sí se incentiva una sociedad más individualista, en tanto que se identifica a las personas como competidoras, dificultando los vínculos entre iguales y llevando lo colectivo a algo numérico, o a la identificación emocional por oposición a otro grupo. Hay por tanto más de suma de individualidades porque se impone una estructura digital pensada para ello

Estamos viendo cómo se está generando una nueva manera de censura ligada al exceso de información, ¿cómo salimos de esta situación?

Me parece importante advertir del espejismo que esto genera: el exceso no es lo mismo que «la multiplicidad de voces». El exceso habla de una saturación que dificulta ver. El exceso de luz también nos ciega. Ocurre entonces que se favorece delegar en los números más altos. Como efecto, se ha ido reforzando una forma de valor que encumbra «lo más visto» como lo más importante, pasando por alto que una alta audiencia no congrega necesariamente valores positivos o información contrastada. De hecho, a veces es lo más polémico o lo más esperpéntico lo que alimenta esos números altos. Salir de esa situación requiere frenar la hegemonía de este «valor» acumulativo y revalorizar los contextos que aporten rigor, contraste científico, ética.

Expuestos permanentemente, el valor de las cosas se mide mediante los likes, los seguidores, las visualizaciones, nuestra incidencia en la red. ¿Quién marca el valor de las cosas hoy?

Desde hace años se viene asentando un valor escópico que parece igualar ojos a capital, sea en modo audiencia, seguidores o likes. Ese valor numérico es rápido y emocional, pero ante todo es un «valor de mercado» que sobrepone lo más visto como lo más valioso, esquivando otras formas de valor que requieren «otro tiempo» y que no son fácilmente operacionalizables ni predecibles. Pienso en la reflexión, la ética, la justicia, la creatividad…

¿Esta hipervisualización de modelos idealizados puede llevarnos a la frustración personal?

Es paradójico que ante el inmenso número de personas conectadas hablemos de modelos idealizados que aquí son modelos homogéneos, es decir, no de pluralidad sino de refuerzo de estereotipos y mundos más simplificados. Quizá por ello puede ser un aliciente aspirar a lograrlos, porque son concretos y epidérmicos —aparentar ser no es lo mismo que ser—. Para conseguirlos a veces solo hay que acallar la voz ética. Y claro que es frustrante, tanto para quien no comparte esta forma de ser/estar en internet, como para quien entra en ese juego de pose solo posible recreando imagen de vida y no necesariamente viviendo.

Has defendido que hay tres aspectos que marcan la vida hoy: aceleración, caducidad y exceso. Hemos hablado de la aceleración del mundo y del exceso de información, ¿qué pasa con la caducidad? ¿Todo es efímero? Ante esto, ¿quién asume la responsabilidad si todo pasa rápidamente a otra pantalla?

Lo caduco es la base de la actualización constante y, en cierta forma, el corazón de la desinformación. Conscientes de que lo dicho hoy, verdadero o falso, será sustituido por otra noticia mañana, hay quienes lo hacen circular con algún propósito sabiendo que pocos contrastarán la información, y que la responsabilidad se diluirá entre el exceso de voces. Por ello es sumamente importante contar con medios que garanticen marcos de información veraz y no sometidos a las lógicas precarias que se valen de la caducidad, la saturación y la celeridad.

¿Podríamos entender que hay una estrategia para desactivar lo colectivo y fomentar la idea de que no hay solución a los retos del presente?

La estructura social naturalizada con las redes donde cada cual entra desde un perfil personal en torno al que gira cada universo propio orienta la interacción a un posicionamiento individualista e instantáneo desde la más pura lógica capitalista que elige logro rápido, aquí y ahora, entorpeciendo el compromiso con lo que requiere más tiempo, más escucha, a los otros. La desactivación comunitaria es el «por defecto» al que alienta el tecnocapitalismo. Por otro lado, la conciencia de los problemas sociales -que siempre son colectivos- exige trabajo también colectivo, requiere cuidar los vínculos entre las personas. No sé si estrategia, pero sí hay una clara relación entre los modelos de mundo que se movilizan en cada caso.

Con esto que nos explicas, ¿corremos el riesgo de un nihilismo social al darnos cuenta de que no hay nada que hacer para lograr el cambio?

Es un riesgo social, en tanto que para lograr cambios se precisa abordar la complejidad colectivamente, cuidarnos, imaginar y planificar, pero también acometer trabajos que no son fácilmente exhibibles y que requieren salir de la pose y romper las dinámicas de ahora. Si las energías se agotan en ser anuncios publicitarios de nuestros proyectos y no en trabajar en nuestros proyectos, todo juega a favor de la espectacularización del mundo, la política e incluso la guerra. Pero tomar conciencia de este riesgo -tú, yo, nosotros- debería ser el interruptor para movilizarnos.

Necesitamos de la reflexión y la pausa, pero ¿cómo lo hacemos si no estamos siendo capaces de parar y compramos ideas preconcebidas? ¿Cómo podemos virar hacia ese pensamiento lento que planteas?

Es tan importante parar que cabría poner en práctica todas las iniciativas: desengancharse, valorando que hay mucho de adicción en esa inercia, reconstruir vínculos que importan y cuidarnos, o incluso llegar al hartazgo y salir expulsados… Quiero decir que las soluciones son diversas, contextuales y colectivas, vale la pena probarlas. Sin embargo, diría que lo que está en juego no es la lentitud como objetivo, sino un pensamiento más lento que «necesita serlo» porque es instrumento de la conciencia, la alianza y la imaginación que conllevan los cambios.

Otro asunto sería la precarización, ¿se puede construir una sociedad próspera desde la economía del entusiasmo?

Cuando el entusiasmo es instrumentalizado para rentabilizar el trabajo negando un pago o considerando que el trabajador ya está pagado con la satisfacción de «hacer lo que le gusta», se legitima la precariedad como suelo de este abuso. Se corre el riesgo de que esos trabajos que conllevan pasión solo puedan ser para quienes ya tienen recursos y pueden permitirse trabajar a cambio de capital simbólico, como afecto, prestigio o visibilidad. Una sociedad próspera se sostiene en el pago a sus trabajadores y en la penalización de estos abusos.

Si hablamos de precariedad, no puedo dejar de recordar tu libro Frágiles (Anagrama), en el que expones la relación entre tecnocapitalismo y patriarcado y la importancia del feminismo como respuesta. ¿A qué te refieres?

Las mujeres han estado habitualmente en esos ámbitos productivos no remunerados o mal pagados, de manera que la relación entre lo feminizado y lo precarizado ha sido frecuente. Partiendo de esa relación establezco un paralelismo entre patriarcado y tecnocapitalismo: ambos se apoyan en la perversión de convertir a los sujetos oprimidos en agentes responsables de su propia subordinación (mujeres y autoexplotados); alientan la enemistad entre mujeres y la rivalidad entre trabajadores; aíslan en la esfera doméstica y ahora habitaciones conectadas; legitiman la suficiencia del pago con afecto en un caso y visibilidad en otro. Como sugieres, este paralelismo nos permitiría también valorar cómo el feminismo puede ser un ejemplo propositivo que ayude a enfrentar las formas de autoexplotación que el tecnocapitalismo alienta. Hacerlo desde la toma de conciencia, la sororidad y el cuidado mutuo, la articulación colectiva.

Hablas de empoderamiento colectivo desde la intimidad. ¿Cómo podemos construir esa colectividad?

A diferencia de los vínculos colectivos heredados o asumidos sin ser pensados, la colectividad que nace de la conciencia de un daño compartido y de una intimidad opresiva tiene gran fuerza política. Para el feminismo compartir lo que nos daña y ha sido educado para callarse ayuda a empoderar: «A mí también me pasa», «No estoy sola en esto». Es un hermanamiento que está presente en toda conciencia colectiva de la desigualdad.

¿No crees que es necesario generar nuevas narrativas para lograr la transformación que comentas? Y en este sentido, ¿qué papel juega el arte?

Creo que vivimos un momento explosivo en la creación cultural de narrativas que recogen la pluralidad de visiones identitarias que estamos viviendo. El cine y las series serían un ejemplo. Aunque hay otros problemas que dificultan la transformación de imaginario. En el último siglo, el arte ha sido un territorio aliado para el feminismo y las reivindicaciones políticas de la igualdad. Entre otras cosas porque permite especular con lo posible y tantear otros imaginarios; pero también dar cobijo a la complejidad de lo contradictorio cuando nos rebelamos frente a las identidades que nos limitan pero que también forman parte de lo que somos.

Se habla mucho de la necesidad de incluir la tecnología en las escuelas, ¿no crees que quizás es necesario, además, fomentar la creatividad, los valores de lo común y el arte como instrumento de empoderamiento?

No solo creo que la creatividad y la educación en valores son esenciales para la educación, sino que lo son especialmente para abordar la tecnología y un mundo que normaliza vivir mediados por ella. De hecho, me parece más deseable apostar por una escuela creativa y reflexiva que por una repleta de tecnología pero sin oportunidades para pensar por sí mismos.

Mi última pregunta es de futuro. Vivimos en un mundo distópico donde las utopías más que miradas hacia el futuro se convierten en miradas retroutópicas. ¿Dónde sitúas la utopía?

Es imposible una utopía humana en un mundo donde cada cual sobrevive frente a su pantalla/espejo. Quizás un primer paso sería afirmar: «Esto no». No hay utopía ni mejora en un planeta en declive si cada cual vive en su mundo virtual como cobayas encerradas entre paredes donde se proyecta el campo. Para mí la utopía habita en la motivación colectiva por el cuidado mutuo y no por la guerra, en la primacía de una responsabilidad y una ética por el planeta y por la vida, en sobreponer política y ciudadanía al dominio del capital, recuperando el valor del conocimiento y la escucha, del reconocimiento de errores, de la pasión por un hacer con sentido, también social.

terça-feira, 2 de julho de 2024

El extraño viraje a la derecha de Mario Vargas Llosa


Martín Ribaredo
NACLA

El reciente libro de Carlos Aguirre y Kristina Buynova aborda la trayectoria del célebre escritor peruano y su notoria ruptura con Cuba y Rusia.

El autor cubano Mario Vargas Llosa ha sido uno de los principales escritores e intelectuales del siglo XX en América Latina. Formó parte del llamado "boom latinoamericano", un grupo de novelistas que alcanzó fama internacional junto al mexicano Carlos Fuentes, el argentino Julio Cortázar y el colombiano Gabriel García Márquez. Desde su juventud en Lima, Vargas Llosa intentó ubicarse en la vanguardia literaria bajo el legado del modernismo de Rubén Darío, la narrativa literaria francesa y la tradición de los escritores estadounidenses, en la búsqueda de diagramar un "realismo latinoamericano" atento a captar las dinámicas y cambios que afectaron a las sociedades de la región. Aunque en términos político-ideológicos actualmente se le asocia con el liberalismo y la derecha , en las décadas de 1960 y 1970 Vargas Llosa apoyó fervientemente la Revolución cubana, los procesos de descolonización y, con matices, los experimentos socialistas.

El nuevo libro del profesor de estudios latinoamericanos Carlos Aguirre y la especialista rusa en relaciones internacionales Kristina Buynova explora una parte de la carrera de Vargas Llosa y su temprana relación con los procesos políticos y culturales que interpelaron a gran parte de la intelectualidad latinoamericana de la época. El trabajo de Aguirre y Buynova, publicado en español, permite calibrar con precisión, por un lado, la trayectoria político-ideológica de Vargas Llosa durante el período, y, por otro, su vínculo con el mundo cultural cubano y soviético. A raíz del acceso que ambos investigadores tuvieron a archivos y materiales encontrados en Estados Unidos, Rusia y América Latina, el libro intenta explicar las razones que llevaron al novelista peruano desde una posición de identificación con Cuba, en particular, y los socialismos en general, a un profundo desencanto que facilitó la enunciación de una crítica general y rotunda a todas estas experiencias. El acceso a su correspondencia personal, publicaciones periodísticas y cartas diversas permiten a los autores componer con detalle las circunstancias que rodearon el momento significativo de su vida en que Vargas Llosa viajó a la Unión Soviética en 1968.

Los viajes a la Rusia revolucionaria fueron habituales durante todo el siglo XX para intelectuales, escritores, políticos, activistas e incluso obreros. Visitar Moscú y otras ciudades rusas se convirtió en imprescindible para quienes estuvieran interesados ​​en “ver” y “tocar” el nuevo futuro de la humanidad. La historiografía lleva mucho tiempo examinando las características de estos viajes, sus protagonistas, las redes utilizadas, los lugares recorridos y el posterior regreso al país de origen donde se expusieron las opiniones sobre lo vivido.

Vargas Llosa es uno de los muchos escritores e intelectuales latinoamericanos que llegaron a suelo ruso. De hecho, el propio escritor lo ha contado en varias ocasiones; desde su punto de vista, ese viaje fue fundamental para tomar conciencia real de lo que sucedía en esos países. Según ha dicho, provocó su desencanto con los socialismos “realmente existentes” al observar que no sólo esas sociedades seguían siendo desiguales, sino que, lo más preocupante, no tenían libertad de expresión. Años antes de su llegada a Moscú Vargas Llosa había criticado el trato y la censura a los escritores rusos Andrei Siniavski, Yuli Daniel y Alexandr Solzhenitsyn, además de los episodios cubanos de supresión de la libertad artística (como la prohibición del documental PM de Sabá Cabrera Infante y Orlando Jiménez Leal ). Sin embargo, todavía optó por apoyarse en los logros del socialismo en materia social, considerándolos parte de una solución global a los problemas que enfrentan los países latinoamericanos.

El apoyo reiterado de Vargas Llosa tanto a la Unión Soviética como a la Cuba revolucionaria no puede explicarse únicamente por razones políticas o ideológicas. Hubo otras. Según Aguirre y Buynova, la "diplomacia cultural" ejercida por ambos países —relaciones entre estados o individuos en torno al intercambio de ideas, artes y escritores con el fin de establecer lazos amistosos— fue central en su enfoque y posicionamiento en cada caso. Su antigua simpatía y amor recíproco con Cuba son bien conocidos gracias a numerosas investigaciones; sin embargo, su relación con el mundo cultural ruso no lo es. Este es uno de los muchos aportes del libro. De hecho, en el segundo capítulo observamos los inicios de ese vínculo cuando los autores señalan cómo la Unión Soviética, tras la muerte de Stalin, experimentó un renovado apetito por la literatura mundial —en particular por aquellos que, como Vargas Llosa, fueron protagonistas de un momento estelar en el panorama internacional de las letras.

Una muestra del interés soviético por las novelas latinoamericanas se ilustra con la publicación de su libro, La ciudad y los perros (publicado en inglés como The Time of the Hero). Como se evidencia en el tercer capítulo, Vargas Llosa tuvo el privilegio de ser el primero del Boom en ser traducido al ruso en 1965. Ya habiendo recibido premios en España y el reconocimiento de Carlos Barral, el influyente dueño de la editorial Seix Barral que publicó la edición en español, el libro llegó a Rusia, gracias a un cargamento enviado por el propio Barral con vistas a ampliar su presencia en el mercado literario global.

La editorial rusa La Joven Guardia fue la encargada de evaluar, aceptar, traducir y también censurar la obra del escritor peruano. Como demostró el historiador Robert Darnton en su libro Censors at Work: How States Shaped Literature in the case of Democratic Germany, este ejercicio de control fue un aspecto esencial de la política cultural que los países socialistas implementaron sobre las producciones de los escritores. Sin embargo, como también probó Darnton, dicho juicio evaluativo no se estableció desde arriba de manera vertical. Más bien, en el proceso intervinieron distintas figuras mediadoras que negociaron el resultado final relativizando las prohibiciones.

La ciudad y los perros fue sometida a ese mecanismo por la editorial La Joven Guardia, sobre todo al abordar las partes que trataban temas como la homosexualidad o los actos sexuales. La edición española también sufrió un borrado análogo por parte del gobierno del general Franco, aunque en esa versión también se eliminó todo lo asociado al militarismo y al autoritarismo en la sociedad peruana que el texto exponía de manera crítica. Según los autores, pese a la censura y a que Vargas Llosa nunca autorizó su publicación en la Unión Soviética, los rusos no solo pagaron más temprano que tarde los derechos de autor correspondientes, sino que, a modo de compensación, lo invitaron a visitar Moscú durante una temporada.

Lo observado durante el viaje, la censura que se produjo y la publicación sin permiso no supusieron una ruptura en la relación de Vargas Llosa con Cuba y Rusia. La principal razón del distanciamiento, que a partir de entonces se hizo irreprimible y hasta extremo, se produjo a raíz de otro acontecimiento: la invasión soviética de Checoslovaquia en agosto de 1968. Ante el intento de democratizar el régimen socialista de Praga, la URSS había ocupado la capital con tropas y tanques con el propósito de doblegar a un sector político checo interesado en cambiar las reglas del juego vigentes hasta ese momento. Casi de inmediato, numerosos intelectuales de renombre mundial protestaron contra una intrusión que, desde su punto de vista, obstaculizaba el derecho de los pueblos a la autodeterminación y a la democracia. Vargas Llosa, además de otros miembros del Boom como García Márquez, se sumó a las numerosas denuncias publicadas en la época, algunas de las cuales estaban dirigidas a la Unión de Escritores de la URSS sobre los atropellos cometidos y el carácter imperial del acontecimiento.

Sin embargo, como señalan los autores del libro en el cuarto y último capítulo, no fue este acontecimiento en sí, ni su visión de Moscú, lo que marcó el inicio de una crítica permanente a las experiencias socialistas en el escritor peruano. El hecho más significativo estuvo asociado al apoyo de Fidel Castro a la injerencia soviética. Para Aguirre y Buynova, la declaración de Castro a favor de los rusos tuvo mayor importancia para los intelectuales latinoamericanos que la ocupación en sí. Pero mientras amigos cercanos como García Márquez optaron por bajar los decibeles, Vargas Llosa no tuvo reparos en cuestionar públicamente a Fidel. En un artículo publicado en la revista limeña Caretas en septiembre de 1968, titulado "El socialismo y los tanques", cuestionó el apoyo brindado por el líder cubano. A su juicio se trataba de una "invasión militar destinada a aplastar la independencia de un país" que pretendía "organizar su sociedad según sus propias convicciones".

La decepción asumida respecto de la URSS, la visión negativa de Moscú, los problemas asociados a la publicación de su libro y, finalmente, la invasión soviética coagularon a raíz de la decisión tomada por Castro respecto de la cuestión checa. A partir de ese momento, Aguirre y Buynova registran el principio del fin de la relación de Vargas Llosa con Cuba, y por supuesto con la Unión Soviética. El encarcelamiento del escritor cubano Heberto Padilla en 1971 selló la decisión de Vargas Llosa de poner punto final a más de una década de solidaridad y fraternidad con dos de los proyectos transformadores más potentes del socialismo mundial. Fue el inicio de un camino que, a raíz de ese desencanto, lo llevó a asumir una posición crítica hacia la izquierda al amparo de la tradición liberal. Vargas Llosa pasaría progresivamente a formar parte de otra familia política e ideológica de la que todavía es miembro: la de la derecha latinoamericana.

El libro de Aguirre y Buynova reconstruye con precisión, exactitud de fuentes y sensibilidad analítica un punto de inflexión en la vida del escritor peruano que se inicia en 1968. Aunque a partir de entonces dejó de lado su adhesión al socialismo, mantuvo cierto brillo en su desempeño como intelectual público. Su rebeldía, su culto a la exposición pública y su notable capacidad para generar controversia, forjadas en parte en su Lima natal y en parte entre las filas de la izquierda revolucionaria latinoamericana, son cualidades que siguió mostrando en su papel de “difusor” de ideas liberales y conservadoras desde la década de 1990 hasta la actualidad, como destaca Stéphen Boisard en este artículo . Pero esa es otra historia.