segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Aprender com a derrota


Luis Felipe Miguel
Blog da Boitempo

O segundo turno das eleições não trouxe surpresas. Os principais vitoriosos foram políticos dos partidos oportunistas tradicionais, que se apresentaram com um discurso à direita. Para a esquerda, sobrou um consolo de comemorar a derrota de alguns bolsonaristas raivosos e, no mais, chorar as pitangas.

Era uma derrota anunciada, mas nem por isso foi menos sofrida. Na capital paulista, a eleição mais importante do país pelo peso que tem na política nacional, o fracasso de Boulos sintetiza o esgotamento de uma fórmula que já apresentava problemas há muito tempo. A questão é saber se há força e disposição para virar a chave.

No discurso em que admitiu a derrota diante de seus apoiadores, Guilherme Boulos disse que sua campanha recuperou “a dignidade da esquerda brasileira”. Não é possível concordar com este veredito. Sim, a campanha foi dura. O efeito do domínio do Centrão sobre o orçamento se fez sentir no Brasil todo, inclusive em São Paulo. As máquinas da prefeitura e do governo estadual operaram sem limites – bem como a máquina de desinformação da extrema-direita. A cereja do bolo foi a mentira criminosa lançada pelo governador Tarcísio de Freitas na manhã de ontem.

Seria caso de cassação de mandato. Mas ele está tranquilo, porque sabe que não terá consequências. Afinal, em 2022, a encenação que montou em Paraisópolis teve até um morto – e todos continuam impunes. A democracia que lutamos tanto para reconstruir depois do golpe de 2016 sempre teve limites – e, sobretudo, sempre teve lado.

O problema não é a derrota nas urnas. Ela faz parte do esperado, uma vez que a esquerda disputa sempre em condições de inferioridade. O problema é que a campanha de 2024 não levou a nenhum acúmulo para o campo da esquerda. Na verdade, o saldo parece ter sido negativo. Boulos não foi apenas derrotado nas urnas. Por conta da campanha errática e sem fibra, sofreu um desgaste importante em sua imagem como liderança política e desperdiçou uma oportunidade de ouro para tentar reapresentar um projeto de esquerda no Brasil.

O desempenho do candidato do PSOL foi praticamente igual ao de 2020: na proporção de votos válidos no segundo turno, a diferença é vista apenas na segunda casa depois da vírgula. Mas ele estava disputando com o adversário muito mais fraco, Ricardo Nunes, desprovido de qualquer charme, sem o peso político ou o sobrenome de Bruno Covas, pilotando uma administração considerada medíocre por todos e com uma coleção de telhados de vidro que iam do roubo de dinheiro de merendas à violência contra a mulher.

Talvez ainda mais importante, Boulos fez uma campanha muito rica, com orçamento superior aos 80 milhões de reais – algo que um candidato à esquerda nunca teve numa eleição municipal no Brasil. Com todo esse dinheiro, não foi capaz nem de vencer a eleição, nem de promover uma ampliação do nível do debate político que permitisse incrementar a consciência crítica do eleitorado. Seu discurso foi marcado pela capitulação permanente diante do senso comum mais rebaixado, já que nunca havia um momento de educação política.

Boulos foi derrotado, segundo as análises correntes, por sua taxa de rejeição. Há verdade nesse veredito. Por isso, sua campanha identificou como alvo principal reduzir a rejeição do candidato. O caminho escolhido foi tentar modular sua imagem, em vez de questionar as formulações ideológicas que geravam a rejeição a alguém que vinha do movimento popular e tinha um histórico de embates contra as estruturas vigentes de opressão.

Não é uma questão que se resolve no curso de uma campanha eleitoral, é claro. À medida em que se rendeu completamente à política eleitoral, tornada o alfa e o ômega de suas principais organizações, a esquerda brasileira viu diminuir a capilaridade de seus canais próprios de comunicação, vinculados ao trabalho de base, e passou a depender cada vez mais de burocracia, mídia e publicidade. Mas, sem resolver, a campanha proporciona uma importante janela de visibilidade, para disputar representações da realidade e oferecer projetos diversos para a construção de novas vontades coletivas. Essa oportunidade foi desperdiçada.

A diferença da candidatura de Boulos não era um discurso de esquerda, mas o lulismo – isto é, um programa de mudanças tímidas (mas nem por isso desimportantes), com recusa a qualquer enfrentamento, esperançoso de seduzir as classes dominantes para um projeto civilizatório. A capacidade de transferência de votos de Lula se mostrou muito menor do que o esperado, mas a campanha ficou presa à defesa incondicional do governo federal, assumindo os ônus tanto de sua rejeição visceral por parte de um eleitorado ideologizado (o “antipetismo”) quanto dos limites impostos por suas políticas de ajuste fiscal e acomodação com o privatismo.

Faz tempo, aliás, que a esquerda partidária brasileira está pronta a recuar em tudo, com medo de enfrentamento. Nada de discurso anticapitalista, mal se fala de imperialismo, luta de classes sumiu, o “empreendedorismo” e a “inovação” tomaram conta do vocabulário, direito ao aborto é tabu, assim por diante. A rendição do PSOL ao lulismo, que Boulos encarna como ninguém, retirou o último elemento significativo de tensão na adesão a essa estratégia.

A única exceção é a lacração identitária, que na campanha de Boulos surgiu no triste episódio do “hine nacionale”. Tanto esforço para evitar discussões urgentes e necessárias – para depois abraçar o desgaste de uma polêmica inútil. Lacração, convém sempre lembrar, não tem nada a ver com educação política. É uma ferramenta a serviço exclusivamente do narcisismo inconsequente de uns poucos.

Depois de um primeiro turno dominado por fofurices, em que parecia falar mais de Taylor Swift do que de especulação imobiliária e em que passou de favorito a azarão, conquistando a vaga no segundo turno no olho mecânico, Boulos teve que mudar de postura. Ainda assim, nunca apostou na politização. Tentou se aproximar do eleitor de Marçal, mas mimetizando os acenos ao “empreendedorismo”. Quando o apagão lhe entregou de mão beijada um tema capaz de sacudir a campanha, optou por reduzi-lo à gestão da prefeitura (poda de árvores) deixando em segundo plano a questão da privatização. E assim por diante.

O desespero do final da campanha fez Boulos aceitar participar da “sabatina” de Marçal. Uma decisão – reconheço – difícil. Por um lado, seria a chance de falar a uma fatia importante do eleitorado, normalmente refratária a ele. Por outro, seria violar um necessário cordão sanitário, aceitando como interlocutor legítimo um bandido, alguém que tinha se utilizado das piores baixarias, culminando na infame falsificação de um laudo médico contra o próprio Boulos.

Ao participar da “sabatina” sem sequer confrontar Marçal, Boulos aceitou, como disse o ex-deputado federal Milton Temer, posar de “figurante em lançamento de campanha para presidente em 2026”. É difícil saber se ganhou algum voto com isso. Mas deu seu aval a mais uma volta na espiral de degradação da política brasileira.

Já faz bastante tempo que é evidente que o projeto de Boulos é repetir a trajetória de Lula: do movimento social para a política eleitoral, das margens para o mainstream, da derrota para a vitória. Tudo isso em fast track, claro, percorrendo em três ou quatro anos aquilo que, com Lula, demorou uma década e meia.

Não está dando certo. Talvez porque faltem o carisma e a autenticidade do original. Certamente porque as circunstâncias mudaram. A fórmula lulista está desgastada e precisamos não é de quem a imite, mas de quem ajude a encontrar caminhos para superá-la. O discurso de ontem, após a derrota, mostra que a ficha ainda não caiu para Boulos. Mas, se não mudar de rumo, ele não vai ser Lula – vai ser Freixo.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

La derecha avanza, la izquierda se tiene que reinventar


Fernando de la Cuadra
Socialismo y Democracia

Las cifras que resultaron de las recientes elecciones municipales parecen corroborar una tendencia que se viene produciendo en el último tiempo, Brasil atraviesa por una etapa de creciente conservadurismo y es urgente revertir dicha tendencia.

Concretamente, los partidos de derecha y extrema derecha obtuvieron un incontestable triunfo en la mayoría de los 5570 municipios existentes en el país. En esta primera vuelta, solo el Partido Social Democrático (PSD) fue ganador en 878 alcaldías, entre las cuales, la importante ciudad de Rio de Janeiro con Eduardo Paes (60,5 %). Le sigue otro partido de derecha, el Movimiento Democrático Brasileño (MDB), que consiguió elegir a 847 alcaldes. Seguidamente viene el Partido Progresista (PP), con 743 municipios y Unión Brasil con 578 alcaldes electos, entre los cuales el de Salvador de Bahía.

Estos cuatro partidos que lograron las mayores votaciones, forman parte de ese conglomerado gelatinoso, pero muy influyente, que se hace llamar de centrão, aunque a diferencia de su nombre es un grupo de partidos fundamentalmente de derecha. Ya hacia la extrema derecha del espectro ideológico, el Partido Liberal, del ex presidente Bolsonaro, obtuvo el triunfo en 510 municipios, seguido en sexto lugar por el Partido Republicano con 430 alcaldías.

En resumen, estos 6 partidos de cuño conservador, lograron en su conjunto la administración de 3.986 municipales para el próximo periodo de cuatro años, configurando un escenario de continuidad del modelo de compra de favores y fisiologismo que se ha constituido en la marca registrada del sistema político brasileño desde hace décadas. Este “modelo” supone un arreglo entre el Congreso Nacional y los gobiernos locales por vía de las enmiendas impositivas del presupuesto que son manipuladas por diputados y senadores para mantener sus corrales electorales con el apoyo de alcaldes, concejales y operadores políticos en la base. Son verdaderos batallones de vastos contingentes dispuestos a velar por los intereses combinados en torno al poder político y el control territorial para continuar profitando de los recursos del Estado para mantenerse en el poder.

Si bien el Partido de los Trabajadores (PT) mejoró su desempeño con relación a las elecciones de 2020, solo ocupa el décimo lugar entre los conglomerados que tuvieron alcaldes electos en esta primera vuelta (248 municipios). Lo cual demuestra que, a pesar de contar todavía con enorme popularidad y adhesión, el Presidente Lula no pudo transferir automáticamente dichos atributos a los candidatos de su partido.

Esta somera radiografía de los resultados plantea muchas interrogantes con relación al crecimiento sostenido de las fuerzas de derecha y, aún más, de la preocupante emergencia de personajes que se declaran outsiders o no políticos y que han conseguido un apoyo expresivo en la población de votantes, especialmente entre los más jóvenes.

Algunos de ellos representan un serio riesgo para la continuidad democrática del país, debido a su evidente inclinación por salidas autoritarias con el apoyo de las Fuerzas Armadas y grupos de milicianos que controlan extensos territorios de las principales ciudades de Brasil. La irrupción meteórica de muchos de ellos (Pablo Marçal, el convidado de piedra del bolsonarismo), ha dejado a los actores de la política tradicional perplejos, pues este tipo de figuras “antisistema” se dedican a transgredir permanentemente las reglas del juego democrático y con bastante éxito.

Que le está diciendo un sujeto como Pablo Marcal a su electorado, que le otorgó un 28 por ciento de las preferencias en la contienda por el control de la megalópolis de São Paulo, que sin tiempo en televisión ni fondo electoral y usando preferentemente las redes sociales, estuvo muy cerca de llegar a la segunda vuelta.

El ex coach le habla a su electorado como un pastor de la teología de la prosperidad y del emprendimiento, les pide que sospechen de los beneficios del Estado y confíen en sus propias capacidades de trabajo y en la perseverancia sin límites. Su discurso enaltece la autonomía y el individualismo frente a la dominación del aparato estatal que utiliza las políticas sociales para someter a los ciudadanos. Todos tendrán éxito basados exclusivamente en sus esfuerzos personales y él es un ejemplo vivo del hombre que triunfó en base a estos preceptos. Todo es mentira, pero la gente le cree y lo sigue, especialmente los jóvenes que ven en Marcal un modelo a seguir, como muchos jóvenes argentinos se inspiran en el delirio “libertario” capitalista de Milei.

Para esta clase política tradicional lo mejor que podría suceder es que Marçal sea procesado y condenado por alguna de las 129 acusaciones en su contra que se encuentran en el ámbito de la Justicia Electoral, lo que lo transformaría en inelegible por los próximos ocho años, lo cual lo apartaría del tablero electoral, por lo menos, hasta el año 2032.

Sin embargo, esta es una solución ilusoria ya que el problema se encuentra en que figuras que se proyectan desde fuera de la clase política como Bolsonaro o Marçal van a seguir brotando y alimentándose a partir de las frustraciones de la población, de la precarización del empleo, de la violencia y la inseguridad cotidiana, de la falta de oportunidades, de la falencia de los servicios públicos, de los problemas de movilidad urbana, de la incertidumbre y los miedos sobre el futuro y un largo etcétera. Mientras los gobiernos centrales, regionales y locales no se hagan cargo de las carencias y desgracias provocadas por mala gestión y la corrupción, las probabilidades de que surjan nuevas respuestas mesiánicas solo se perpetuarán a través del tiempo.

En ese sentido, los partidos y agrupaciones de izquierda deben convencer a la población de que sus propuestas y proyectos para alterar este escenario de desigualdad, iniquidad y exclusión pueden concretizarse. Para lograr impulsar tales transformaciones la izquierda no necesita y no debe abdicar de su agenda y de sus principios. ¿Hasta dónde la izquierda tratando de construir alianzas amplias puede renegar de las plataformas en torno a sus ideales más caros de justicia social, inclusión y dignidad para el conjunto de ciudadanos y ciudadanas?

Hace cinco décadas aproximadamente, Enrico Berlinguer señalaba – a partir de la abortada vía chilena al socialismo- que dicha experiencia servía para reflexionar sobre el hecho de que, “para hacer grandes reformas, se requieren grandes alianzas”. El problema es que muchas veces tales pactos de gobernabilidad terminan por contaminar los proyectos estratégicos de la izquierda, retardando e inviabilizando los cambios y las tareas contenidas en los programas de gobierno.

La pretensión de llegar a superávit fiscal a partir de un ajuste de las cuentas públicas implementado por el Ministerio de Hacienda, ha provocado un abandono de los programas sociales con mayor impacto en la población más carente. El gasto social en un país con grandes bolsones de pobreza e inequidad, representa una herramienta fundamental para otórgale a sus habitantes la noción de ciudadanía y, por esa vía, incorporarlos como sujetos políticos activos en la construcción de un proyecto de transformación.

Dichos cambios tampoco deben ser restringidos a las condiciones materiales de vida de la población, la izquierda también debe crear las condiciones para que se produzcan cambios culturales, en el campo de las relaciones interpersonales y sociales, en la búsqueda de vínculos de solidaridad y cooperación, en el reconocimiento y respeto a lo diferente, en la construcción de un destino compartido. No es que las necesidades económicas no interesen, pero también hay que imprimirle una pasión ética y moral a la lucha por un mundo mejor.

Por cierto, nada de esto es fácil. Pero no se puede dejar que la derecha tome la iniciativa en esta arremetida conservadora que va cubriendo y contaminando la vida cotidiana con sus pautas retrógradas. Con una mirada decimonónica combinada con los múltiples recursos que permiten las tecnologías de la comunicación, la derecha y la ultraderecha han conseguido ir dominando el debate sobre el aborto, el divorcio, las temáticas de género y diversidad sexual, los problemas medioambientales y la seguridad ciudadana, entre otros.

La izquierda debe reasumir el protagonismo que tuvo a comienzos de este siglo y no abjurar de su ideario y sus luchas por mejorar la vida del pueblo, generar condiciones efectivas para que las personas vivan con seguridad, trabajen con dignidad, recuperen sus derechos y tengan acceso a una Renta Básica Universal cuando así lo ameriten. Y ello no debe ser pensado solamente para un nuevo ciclo electoral, sino que proyectando su enorme caudal histórico de combate a la desigualdad y la injusticia que le permitan –sin complejos y sentimientos de culpa- reencantar y movilizar a la población en torno de un programa que aspire a mejorar la vida de las grandes mayorías. Si cerramos la puerta a este desafío, el futuro nos pasará la cuenta.