César Benjamin
“Os Estados Unidos são uma potência hegemônica em declínio.” Quem diz isso, contrariando as aparências, é Immanuel Wallerstein, um dos mais importantes cientistas sociais em atividade no mundo. Ele prossegue: “Poucas pessoas acreditam nessa afirmação. Os únicos que acreditam são os ‘falcões’ dos Estados Unidos, que defendem políticas para inverter o declínio.”
Estudioso de processos longos, dotado de larga base cultural, sempre em busca de abordagens multidisciplinares, Wallerstein não se deixa iludir por aparências. É certo: os Estados Unidos permanecem desfrutando de enorme poder. Mas, há cinqüenta anos esse poder baseava-se em uma combinação de eficiência produtiva inigualável, apoio seguro de aliados na Europa e na Ásia, e superioridade militar. Hoje, a economia norte-americana experimenta forte competição em todas as frentes, e a agenda política mundial dos Estados Unidos é sistematicamente contestada, mesmo por seus aliados. Resta a superioridade militar. Será suficiente?
O autor vai mais longe. Defende que a economia-mundo capitalista, tal como a conhecemos, está sujeita a tensões estruturais com as quais não tem mais condições de lidar. Três tendências seculares estão maduras, a ponto de minar irreversivelmente a acumulação de capital: o aumento dos custos salariais como percentagem dos custos de produção (que decorre da desruralização do mundo), o aumento dos custos dos materiais (que decorre do esgotamento ecológico) e o aumento da tributação (que decorre da maior participação política dos trabalhadores). Daí a idéia de que, pela primeira vez em quinhentos anos, o capitalismo experimenta de fato uma crise sistêmica.
Estamos em uma era de transição, cujo resultado é incerto, mas que abre espaços para uma intervenção criativa por parte das forças de contestação. Wallerstein não nos oferece uma análise fria, mas sim um chamamento à ação: "Em eras de transição, ninguém pode dar-se ao luxo de ficar de fora."
O livro descreve um mundo imerso em grande perplexidade, desencorajado por fracassos. Fracasso dos Estados Unidos em cumprir a promessa da utopia liberal e fracasso dos movimentos anti-sistêmicos, que chegaram ao poder em muitos países durante o século XX, mas não conseguiram criar a nova sociedade que prometeram. Diante de tamanha incerteza, as ciências sociais permanecem impotentes, enjauladas na perspectiva eurocêntrica que as impede de fornecer conhecimentos precisos sobre os processos globais.
Ao tratar dessas questões, os textos aqui reunidos transitam por todos os temas atuais relevantes: limites da democracia, racismo, choque de civilizações, crise dos Estados de Bem-Estar, terrorismo, globalização, relações Norte-Sul e o papel dos intelectuais. Por tudo isso, O Declínio do Poder Americano torna-se excepcionalmente importante para compreendermos o mundo contemporâneo.
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