sexta-feira, 27 de maio de 2022

É preciso compreender o processo histórico para nele intervir

Roberto Amaral
Socialismo y Democracia

Compete à esquerda fazer a campanha da esquerda, jamais delegá-la a uma frente ampla cujo núcleo é a socialdemocracia. Toda campanha eleitoral é uma oportunidade de proselitismo. No caso concreto, os socialistas terão de associar a pedagogia ideológica à ação, o encontro ideal de teoria e prática, retornando à organização popular.

Ponderáveis setores da esquerda brasileira, novos e antigos companheiros das lutas democráticas, cobram de Luiz Inácio Lula da Silva o anúncio de um projeto socialista para o Brasil de hoje – embora a revolução, sempre desejada, não esteja posta pelo processo histórico. Lamentavelmente. De Lula, um dos mais avançados quadros da centro-esquerda brasileira, como certificam seus oito anos de governo, o que havemos de esperar é a construção e liderança de uma nova maioria política, fiadora da continuidade democrática, fundamental para a luta dos trabalhadores no Estado burguês. Não é um fim, em si, mas processo sem o qual não retomaremos o projeto de uma sociedade sem classes. (Ironia da História: são os “subversivos” que, hoje, defendem a democracia no país, contra as ameaças totalitárias dos partidos da ordem).

Cobra-se do Partido dos Trabalhadores – o maior e o mais sólido partido da socialdemocracia brasileira – um projeto revolucionário que não está no horizonte de seu programa. Sob o comando de Lula, o PT lidera uma coalizão partidária de centro-esquerda, ampla, que mais e mais procura afastar-se das teses encampadas na saudosa campanha eleitoral de 1989, porque de lá para cá o mundo mudou, o país mudou e mudou o próprio PT, tanto quanto mudaram as perspectivas da esquerda brasileira, com a crise do “socialismo real” e as seguidas “diásporas”; e consequentemente as condições de luta pioraram. O PT mudou para vencer as eleições em 2002, e volta a mudar, desta feita para poder liderar uma frente ainda mais ampla, em condições de derrotar o projeto protofascista governante, que nos ameaça com anunciadas expectativas de continuidade.

O pior desatino comete o pretenso revolucionário que supõe poder alterar a realidade ignorando os limites de seu papel como sujeito histórico. Como lembrava há mais de um século conhecido pensador alemão, o homem faz sua história, mas não a faz segundo os caprichos de sua vontade, de seus sonhos e de sua utopia; ele a faz segundo as circunstâncias com as quais se defronta (Cf. Marx, Karl. O 18 brumário de Luis Bonaparte). Dois mil anos antes, Sun Tzu recomendava aos generais em guerra conhecer previamente o inimigo e o terreno em que pretendiam lutar.

Mudando a conjuntura, as formas de luta também mudam. Independentemente do PT e de seu líder, nos defrontamos com o recesso das lutas sociais, implicando o remanso da denúncia da luta de classes. A conjuntura internacional vê-se pontuada pela fragilização das organizações revolucionárias, socialistas e trabalhistas, pari passu com o crescimento de apoio popular a movimentos de direita e extrema-direita (vide França, Itália, EUA, Hungria, Polônia), como o que se revelou contundente nas eleições brasileiras de 2018. Entre nós a extrema-direita empalmou o poder cavalgando eleições livres, pela primeira vez. Não se trata de um fenômeno menosprezável, mas de um indicador do nível de consciência das massas.

Cresce o imperialismo como força política, econômica e militar, e esse crescimento pesa sobre o processo social. A agudização do militarismo é uma de suas evidências. É seu o monopólio da informação, de que resulta a unipolaridade ideológica, uma modalidade de ditadura nas sociedades de massas. Limitada em suas opções revolucionárias, a esquerda optou pelo ingresso na institucionalidade, que, lhe dando sobrevida, congelou sua capacidade de intervir na realidade, visando a modificá-la. Perdida a revolução, seu projeto passou a ser modificar por dentro as estruturas, tornando-se, assim, inevitavelmente, um fator da ordem. É uma nova socialdemocracia, substituta daquela que transitou para a direita, no mundo e no Brasil.

Combater qualquer alteração do statu quo, qualquer ameaça de mudança de rumo, mesmo dentro da legalidade, qualquer sugestão de reforma social, passou a ser o projeto retrógrado da casa-grande brasileira, que não convive com alterações, quaisquer, da ordem baseada na superexploração da classe trabalhadora. Daí o combate que travou contra os governos Lula e Dilma, daí seu apoio ao quadro político consequente, daí suas ameaças ao processo eleitoral de 2022, à posse e ao futuro governo Lula, quando o candidato promete colocar o pobre no Orçamento e os ricos no Imposto de Renda. Essa resistência não conhece limite e explica o esforço do Lula candidato de construir, ainda no processo eleitoral, uma coalizão que lhe assegure, além da eleição e da posse, condições de governar, negadas a Jango e a Dilma Rousseff.

Nesta quadra histórica, está reservado às classes populares, organizadas, garantir a continuidade democrática e uma governança que possibilite a retomada do desenvolvimento, a recuperação das conquistas sociais e a preeminência do interesse nacional.

Para avançar, sempre a depender do que seremos e faremos no pós-2022, precisaremos alterar a atual correlação de forças, ampliando, para além de nosso campo, o arco político-social que garantirá a governabilidade a partir de 2023. Somente amparados em uma grande mobilização popular estaremos em condições de promover alterações significativas na estrutura do Estado brasileiro atual, sem as quais será impossível a um governo de raízes sociais descartar os entraves ao desenvolvimento nacional e remover a viciada, para além de nociva, ingerência da caserna atrasada sobre as instituições republicanas.

Tantos anos passados da Constituinte, retorna a discussão essencial sobre o caráter do Estado de que necessitamos para promover o progresso social, tantas vezes contestado pela casa-grande e seu braço armado. A urgência histórica é a questão democrática, que se materializará na derrota do projeto continuísta do bolsonarismo. É, ao mesmo tempo, a tarefa mais consequente ao nosso alcance, e aquela que mais amplia na sociedade, daí o caleidoscópio de alianças que o ex-presidente intenta costurar com paciência de cesteiro. Porque é necessário ganhar e é necessário ter forças para poder governar e, principalmente, governar sabendo que contará com a resistência da casa-grande.

Nada obstante essas considerações, que aos quadros mais experientes podem tangenciar o óbvio, é preciso ter sempre em conta que a ainda difícil (tanto quanto necessária) eleição de Lula e o retorno do PT ao governo – ainda longe da hegemonia do poder – significarão um grande avanço político (ao qual se associa a esquerda socialista), por representar o avanço possível nas condições concretas. Este avanço possível das esquerdas está abraçado ao sucesso que promete a candidatura Lula.

As limitações óbvias de uma candidatura que, para viabilizar-se, carece de amplas alianças, mesmo ultrapassando as fronteiras de seu arco ideológico, não podem, porém, ser arguidas como inibidoras da ação e do proselitismo das esquerdas, a quem incumbe, na campanha eleitoral, a defesa das teses de nosso campo. Em síntese, compete à esquerda fazer a campanha da esquerda, jamais delegá-la a uma frente ampla cujo núcleo é a socialdemocracia. Toda campanha eleitoral é uma oportunidade de proselitismo. No caso concreto, os socialistas terão de associar a pedagogia ideológica à ação, o encontro ideal de teoria e prática, retornando à organização popular. Organização em todo e qualquer nível, para a ação e o proselitismo e, para, amanhã, responder aos desafios que lhe serão forçosamente impostos pelo processo social.

A deposição de Dilma e o que a partir dessa violência se seguiu não podem ser entendidos como frutos do acaso, nem muito menos pensados como “chuvas de verão”. O programa fascistóide tem raízes em ponderáveis segmentos da sociedade brasileira, sua existência guarda coerência com nossa formação de sociedade (em busca da nação) e país escravocrata, racista e autoritário, governado por uma elite alienada e forânea, descomprometida com os destinos do país e de sua gente. É preciso compreender o caráter do processo histórico para nele poder intervir consequentemente.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Lula, la izquierda y las tareas del mañana


Fernando de la Cuadra
Socialismo y Democracia

Las fuerzas que se asumen como genuinamente socialistas se sienten frustradas con el viraje hacia el centro del candidato del Partido de los Trabajadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva. La elección de Geraldo Alckmin como vicepresidente de la chapa, es un poco indigesta para muchos militantes del PT y también para numerosos simpatizantes de su candidatura. Y motivos no sobran. Alckmin es un representante conspicuo de las facciones más conservadoras del Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB) el mismo del ex presidente Fernando Henrique Cardoso. Miembro del Opus Dei, siempre ha sido una figura pechoña, que tiene como bandera los valores “sagrados” de la familia, con su impronta rancia de un catolicismo fervoroso. En lo económico es un fuerte defensor de la ideología pro mercado y de la disminución del papel del Estado en las actividades productivas, manteniendo solo una acción focalizada hacia los más desamparados y los indigentes.

Esta decepción puede aún ser mayor si pensamos que en el periodo de los gobiernos del PT (2003-2016) Brasil comenzó a robustecer su paso hacia una sociedad abierta, tolerante e integradora, incluso en el espacio rural que siempre había sido más acoplado a las formas y comportamientos conservadores.

Además, el candidato a vice carga con un historial de corrupción cuando estuvo a la cabeza del Gobierno de Sao Paulo. Entre otras acusaciones graves, posee la infamante denuncia de haber desviado a su favor recursos destinados para la merienda de los niños y niñas que frecuentaban las escuelas públicas del Estado. Posteriormente, una investigación de la Fiscalía - en base a declaraciones ante la justicia de ex ejecutivos de la constructora Odebrecht- sustentaba que Alckmin amparaba una red de sobornos que permitía ocultar el financiamiento ilegal de campañas. En pocas palabras, él representa sin duda el tipo de político que se caracteriza por hacer un uso patrimonialista del Estado y de los bienes públicos.

Entonces surge inevitablemente la pregunta ¿Qué puede aportar Geraldo Alckmin a una candidatura que pretende contrarrestar a las fuerzas del retroceso actualmente en el poder? En principio parece que nada o muy poco. Sin embargo, independiente de las aspiraciones del pueblo que se asume de izquierda y que levanta la candidatura de Lula en esta nueva contienda electoral, Alckmin puede significar el intento de formar un frente democrático que, en primer lugar, derrote electoralmente a las fuerzas retrógradas que se encuentran gobernando. Ciertamente la historiografía va a debatir por un buen tiempo cuales fueron las causas que determinaron el triunfo de un candidato con las credenciales de Bolsonaro, que representaba lo opuesto a los avances políticos, sociales, culturales y ambientales que aparentemente se habían cristalizado en la sociedad brasileña.

Lo que resulta más perturbador de todo este tránsito hacia el atraso es que si bien durante la dictadura cívico militar las restricciones a la libertad y a la democracia parecían impuestas desde fuera, con el triunfo de Bolsonaro y su base de apoyo parlamentaria y social, se pudo constatar lamentablemente que, el proyecto ultraconservador que se impuso finalmente fue una decisión realizada por decenas de millones de electores. Y muchos de quienes sufragaron por el ex capitán también eran parte de nuestro entorno cercano – parientes, amigos, vecinos o conocidos – los cuales estuvieron dispuestos a arrojar al país hacia los sombríos caminos de la extrema derecha.

Sin embargo, la presencia de elementos de un pensamiento atrasado ya se ha podido apreciar en otros momentos de la historia brasileña, específicamente en las crisis políticas de 1954 y 1964. En este último caso, las manifestaciones de la derecha –como la marcha en defensa de la familia– se cristalizaron en el golpe de Estado perpetrado por los militares el 1 de abril de 1964, para deponer el gobierno legítimo de João Goulart.

Esos repertorios de la cultura reaccionaria –en el sentido dado por Albert Hirschman– se encuentran presentes en la atmósfera política y social brasileña desde que el país se fundó sobre una matriz esclavista y excluyente, generando simultáneamente un fuerte proceso de desinstitucionalización de los mecanismos de resolución de conflictos surgidos en el seno de la sociedad, lo cual se ha evidenciado a través de los años en violaciones sistemáticas a los derechos humanos en el país, especialmente agudo en el caso de las poblaciones pobres, negras e indígenas.

Por lo mismo, es de suma importancia comprender y reconocer que en este nuevo trance histórico resulta imprescindible unificar a todas las fuerzas democráticas y republicanas que enfrentan la embestida autoritaria y las amenazas de un futuro autogolpe con Bolsonaro a la cabeza. No es por falta de aviso que la sociedad brasileña se debe preparar para oponerse a las huestes de milicianos y seguidores incondicionales que vienen repitiendo incansablemente que en el caso de ganar el candidato Lula da Silva, ellos desconocerán el resultado de las urnas, tal como lo hicieran –frustradamente- los partidarios de Trump en las últimas elecciones estadounidenses.

Como todo indica que la llamada “tercera vía” no va a ser capaz de despegar, la disputa electoral se va centrar necesariamente en el dilema entre un proyecto de centro izquierda democrática y pluralista y una extrema derecha que aspira a consolidar un régimen despótico y plutocrático. Si existe algún tipo de polarización en esta próxima contienda ella se configura en torno de la dicotomía democracia versus dictadura. Precisamente, empero la legitimidad y pertinencia de sus propósitos, la izquierda y los conglomerados socialistas no deben esperar que Lula asuma un discurso radical, pues condicionado por las actuales circunstancias -con el preocupante aumento en la intención de voto para Bolsonaro- el ex presidente deberá contener su lenguaje y su programa, para atraer el voto “gelatinoso” del centro que puede inclinarse en última instancia hacia el ex capitán. Es un enorme dilema, pero si el PT y los partidos aliados no son capaces de demostrar su voluntad de construir un bloque que le permita conquistar la confianza en su proyecto de restauración democrática y generar las bases para tener una “gobernabilidad” futura, muchos de los electores que siguen indecisos también pueden restarse de concurrir a sufragar o votar blanco o nulo.

A pesar de los escollos que existen para ejercer un mandato efectivamente socialista o de izquierda, probablemente la coalición triunfante podrá dar el giro necesario que asegure nuevas bases para recuperar las banderas y promesas incumplidas hasta ahora, como la de otorgar mayor estabilidad y capacidad de negociación a los trabajadores, retomar acciones a favor de los derechos humanos y de las minorías, re-implementar las políticas sociales que han sido desmontadas en estos últimos 3 años, revertir las regresiones impuestas en el sistema previsional y cuidar mejor de los ecosistemas nacionales, primordialmente terminar con la devastación del territorio amazónico, del pantanal y de la mata atlántica.

Siendo que la tarea estratégica deberá consistir en el desmantelamiento de la ideología del bolsonarismo, de los grupos protofascistas y milicias paramilitares que se han enquistado en las estructuras del Estado, dando sustento a la intimidación golpista, a la violencia contra las instituciones, a los fake news y a las expresiones más abyectas de racismo, clasismo, homofobia y misoginia. Para ello será necesario retomar los vínculos de los partidos de izquierda con la sociedad a través de un vasto trabajo de capilaridad territorial que se proponga la organización y la formación política de la ciudadanía, disputándole el espacio a las iglesias pentecostales que continúan dándole apoyo a Bolsonaro y a sus visiones más oscurantistas de la realidad. En ese sentido, es prioritario erigir un clima de esperanza en el cual el mundo popular y las grandes mayorías sientan que están llamadas a participar en la construcción de su propio destino, para enterrar definitivamente las voces y gestiones de los iluminados que quieren decidir por ellos.