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Afastado dos tempos de caudilho antiimperialista, Alan García se mostra um verdadeiro político neoliberal, ortodoxo defensor do que ele mesmo considera o ''milagre peruano''. Seguindo o exemplo da economia de mercado chilena, nos últimos anos o Peru abriu seu aparato econômico aos investimentos dos capitais transnacionais.
Os capitais financeiros internacionais rapidamente mostraram seu interesse em explorar o setor mineiro. Ofuscada com os altos preços dos metais no comércio mundial, a economia peruana começou a evidenciar uma excessiva dependência da exploração mineira.
O desenvolvimento desse setor, que atualmente aglutina mais de 50% das exportações, permitiu ao Peru se converter no segundo produtor mundial de cobre e zinco. Além disso, o país também ostenta o privilégio de ser catalogado como o primeiro produtor mundial de prata.
A rentabilidade inerente à venda de todas essas commodities no exterior permitiu ao governo de Alan García gozar de um crescimento macroeconômico sustentável nesse último período. Por exemplo, estima-se que para este ano a economia peruana possa crescer até 8%. Para a agência Standard % Poor's, é uma das mais sólidas e seguras de toda a América Latina, similar às economias mexicana e brasileira.
Por outro lado, se em primeira instância esses dados parecem dar razão ao presidente e líder do Apra quando fala do ''milagre peruano'', seria bom perguntar a García por que sua popularidade é de apenas 26%, de acordo com recentes pesquisas.
Uma primeira resposta a essa questão pode ser encontrada no fato de que a bonança econômica conjuntural do país não se traduz em maior igualdade social e distribuição da riqueza. A pobreza ainda continua afetando a quase 47% da população, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Informática (INEI). Se a isso somarmos o fato de que a inflação foi de 7% apenas no mês de junho (sendo que desde agosto de 1998 não se registrava um índice tão alta), é lógico que a maioria dos peruanos esteja descontente com seu presidente.
Em uma mensagem dirigida à nação, García argumentou que essa situação se devia à crise mundial alimentar e à alta do petróleo. ''Há um limite no que se pode fazer racionalmente'', enfatizou.
Indubitavelmente a conjuntura internacional contribuiu para incrementar a inflação em todos os países da América Latina. No entanto, o Estado tem a obrigação de agir para poder amainar as necessidades de sua população. Claro que a intervenção estatal não é bem-vista na lógica de García – para ele essa visão prejudica a estabilidade financeira necessária para atrair os investimentos estrangeiros.
Segundo analistas, uma boa medida que o governo poderia adotar para levar o crescimento econômico a todos foi omitida pelo presidente em seu discurso à nação: o imposto sobre os altos lucros da mineração.
Sobre esse tema, o pesquisador Carlos Monge, do Centro de Estudos e Promoção do Desenvolvimento, assegura de maneira enfática que ''se a cada ano há um superávit de 10 bilhões de soles no setor, como houve em 2006 e 2007, e se fosse aplicado sobre esse valor um imposto de 50% (como ocorre na Inglaterra), o Estado peruano teria um ingresso adicional de 5 bilhões de soles por ano'' (um dólar americano equivale a 2,81 soles).
Mas a administração aprista considerou que isso não é necessário, deixando de cumprir a promessa eleitoral de levar adiante esse imposto. Só o que fez foi acertar com as multinacionais o pagamento de US$ 757 milhões na forma de subsídios ao longo de cinco anos.
De acordo com o chefe de gabinete do governo, Jorge Del Castillo, o aporte extraordinário ''será destinado à luta contra a pobreza, a desnutrição e a exclusão social nas zonas mais carentes do país''. Não obstante, essa cifra resulta irrisória, sobretudo se tivermos em conta que somente em 2006 as cinco principais companhias estrangeiras do setor de mineração obtiveram lucros reais da ordem de US$ 2,8 bilhões.
Esse tipo de situação é que permite vislumbrar os aspectos negativos do famoso ''milagre'' de que tanto fala García. Não é por acaso que boa parte da sociedade o considere o ''presidente dos ricos''.
Apesar da desaprovação popular e dos ataques da oposição, García segue firme com seu plano de governo neoliberal. Sempre que pode, destaca as conquistas macroeconômicas alcançadas por sua gestão.
Sob esse cenário, fica a pergunta para reflexão: tanta falácia é realmente válida se a riqueza não chega a toda população? A história da América do Sul se caracteriza por ter um eixo comum entre seus países. É válido recordar que durante os anos 90 a Argentina era premiada pelo Fundo Monetário Internacional como o melhor ''aluno'' da região, enquanto, na realidade, o país estava destruindo todo seu sistema produtivo.
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