quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Bolívia: Evo Morales ainda luta para reconquistar movimentos sociais


Marcel Gomes
Carta Maior


A poderosa Central Obrera Boliviana (COB) decidiu não participar na próxima semana do Encontro Plurinacional, uma espécie de conferência entre todos os segmentos da sociedade boliviana para definir metas políticas e econômicas para o país. Por trás da decisão, mágoas e uma nova estratégia de luta.

Após o estrago em sua popularidade causado pelo projeto de construção de uma estrada em uma área indígena da Bolívia, o presidente Evo Morales luta agora para recuperar sua imagem entre diversos segmentos dos movimentos sociais do país.

A arena para essa batalha já foi sido escolhida. Nos próximos dias 12, 13 e 14 de dezembro, ocorre em Cochabamba o Encontro Plurinacional, uma espécie de conferência entre todos os segmentos da sociedade boliviana para definir metas políticas e econômicas para o país – por exemplo, como avançar na industrialização de recursos naturais minerais.

Mas Morales recebeu uma ducha de água fria na quarta-feira (7). A poderosa Central Obrera Boliviana (COB) decidiu não participar do encontro, sob a justificativa de que não deseja referendar as políticas oficiais.

O afastamento da central de trabalhadores do Encontro Plurinacional não significa um afastamento significativo da atual administração. Ao manter certa distância da órbita presidencial, a COB procura empoderar-se como um interlocutor independente no país. O dirigente da central Johnny Flores reforçou que em linhas gerais não há grandes diferenças entre as metas da central e da presidência: é preciso reativar o parque produtivo do país, que sente em 2011 os efeitos da crise financeira internacional.

“Há muitas divisões na COB, pró e contra o governo, e a decisão de ficar fora do encontro foi uma saída intermediária”, disse o analista político Carlos Cordero. Segundo ele, setores da central defendiam a realização de um encontro paralelo para se contrapor à conferência oficial, mas essa posição não vingou.

Há outras razões para o afastamento da COB. Ainda há dirigentes da central magoados com a intransigência de Morales em construir uma estrada no meio do Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Secure (Tipnis). O projeto teria financiamento do banco brasileiro BNDES. Uma marcha de indígenas durou dois meses e acabou violentamente reprimida pela forças de segurança, em setembro. As cenas de violência contra mulheres e jovens indígenas obrigaram Morales a afastar quatro integrantes do governo e a engavetar – ainda que temporariamente – a proposta. Na ocasião, a COB decretou uma greve geral de 24 horas em apoio aos indígenas.

Outro fator que explica o afastamento da central em relação à presidência é o desejo de ocupar o vácuo deixado pela oposição. Atualmente, os líderes autonomistas dos departamentos da região da “media luna” – Beni, Pando, Santa Cruz e Tarija –, a mais rica do país, perderam espaço para políticos dissidentes do partido de Morales, o MAS.

Para lideranças da COB, é a chance de empurrar o governo e “ajudar” Morales a cumprir seu objetivo principal de garantir a todos os bolivianos um lugar ao sol. “A central apenas quer mostrar que não está subordinada ao governo. Mas, ao mesmo tempo, se arrisca a perder espaço para outros grupos ao não apresentar suas propostas no Encontro Plurinacional”, alertou o analista Carlos Cordero.

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