domingo, 18 de dezembro de 2011

Chile: Os direitos humanos não são prioridade para o governo de Piñera


Christian Palma
Carta Maior

A diretora do Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile, Lorena Fries, convocou um debate sobre a regulamentação das marchas e mobilizações sociais e pediu ao governo de direita de Sebastián Piñera que esclareça o quê se entende por ordem pública. Tudo isso em um ambiente de insatisfação social que vem se sentindo com força no Chile este ano. O cenário escolhido para o seu chamado não podia ser melhor: foi durante a entrega do segundo relatório anual sobre a situação dos direitos humanos no Chile.

“Este ano presenciamos mobilizações e o mais provável é que a cidadania se mantenha exigindo e demandando por seus direitos e isso requer mudanças, entre elas o decreto 1.086 que regulamenta as manifestações neste país”, declarou a diretora. Ela acrescentou de forma contundente: “isso deve ser debatido no Congresso. Tomara que o governo apresente um projeto de lei. Nós fazemos um chamado neste sentido, para que possamos debater o que estamos entendendo hoje em dia por ordem pública”.

Dentro dos resultados do relatório de direitos humanos destacaram-se as manifestações estudantis, como o início de um despertar cidadão; a atual situação de superlotação carcerária, que o incêndio na prisão de San Miguel revelou e que custou a vida de 81 réus há um ano; a diversidade sexual e os direitos dos povos indígenas, bem como a questionada homenagem a Miguel Krassnoff, o ex-militar condenado a mais de 140 anos de prisão por violações aos Direitos Humanos.

Chamou a atenção que não comparecesse nenhum representante do governo à entrega do relatório, mesmo tendo sido enviado convites oficiais, assegurou Fries. “Isso teria sido o correto em uma atividade como esta, pois as autoridades são as que devem garantir e respeitar os direitos humanos no Chile”. De fato, a ausência dos oficiais foi criticada pelo atual presidente do Senado, o opositor Guido Girardi. “Lamento muito que o governo não tenha participado deste evento, que tem a presença de todos os atores de direitos humanos nacionais e internacionais e lamento que o governo tenha uma atitude de indiferença com os direitos humanos, quase de desprezo”, assegurou o senador.

Após o não-comparecimento de representantes do governo, a diretora do Instituto Nacional de Direitos Humanos disse que iria até o Palacio de La Moneda para entregar pessoalmente a Sebastián Piñera o relatório anual do organismo.

Por parte do governo, o ministro porta-voz do palácio presidencial, o direitista ex-senador Andrés Chadwick, enfrentou Fries através das redes sociais - como é de praxe neste governo - e a desafiou a não se comportar como “dirigente de ONG”. “Quando se dirige um Instituto do Estado como Direitos Humanos deve-se ter ‘estatura’ de Estado e não se comportar como dirigente de ONG”, sustentou com uma ironia bastante infeliz, além de qualificar as palavras da diretora de “insólitas”. Finalmente, o relatório considerou uma análise da atuação da força pública durante as diferentes manifestações e movimentos sociais que se prolongaram no decorrer de 2011.

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