Opera Mundi
Países em conflito aparecem como os mais corruptos do mundo, segundo dados do Índice de Percepção de Corrupção, da ONG Transparência Internacional, divulgado hoje em Berlim. Somália, Afeganistão, Birmânia, Sudão e Iraque ocupam os primeiros lugares do ranking. De acordo com o relatório, o Brasil teria subido cinco posições, figurando agora no 75º lugar entre os 180 países analisados.
Segundo o relatório, os países sob conflitos recentes ou com regimes autoritários são os que mais sofrem com a corrupção, enquanto os que têm uma longa tradição de estabilidade política e democracia não precisam tanto lidar com o problema. "Quando instituições essenciais são fracas ou inexistentes, a corrupção sai do controle e a espoliação dos recursos públicos alimenta a insegurança e a impunidade", diz o comunicado da organização.
Em países em conflito, o aumento da corrupção se dá justamente por uma necessidade urgente de comprar armamentos, de acordo com o professor Hector Luis Saint-Pierre, do departamento de política internacional da Unesp (Universidade Estadual Paulista). “Geralmente, estas nações não podem fazer uma importação direta e normal. Precisam comprar armamentos por meios clandestino, pelos quais entram em esquemas de corrupção”, explica ele. As melhores notas foram recebidas por países como Nova Zelândia, Dinamarca e Suécia – o que, segundo declarações da presidente da Transparência Internacional na Alemanha, Sylvia Schenk, à agência de notícias espanhola EFE, são uma amostra dos resultados da estabilidade política e de “uma longa tradição de mecanismos para a solução de conflitos e instituições sólidas”. “Normalmente, a estabilidade política permite um controle mais eficaz sobre esse aspecto. São administrações nas quais a própria burocracia é orgulhosa de sua função”, complementa Saint-Pierre.
No entanto, Fabiano Angélico, coordenador de atividades da ONG Transparência Brasil, que luta contra a corrupção no país (sem ligações com a Transparência Internacional), critica o cálculo feito para organizar o ranking. “Em primeiro lugar, não consideramos que esses números indiquem alguma coisa. Temos fortes críticas a essa metodologia”, adverte. Angélico explica que o índice da entidade alemã é composto a partir de 13 pesquisas de opinião, nenhuma delas do Brasil. Entre as fontes incluídas, estão o Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento da Ásia e da África. “São opiniões de fora, a respeito de fenômenos muito complexos, e não há nenhuma espécie de correlações”, comenta o coordenador, que classifica esse método como um “conjunto de ‘achismos’”.
O analista conta que nem todos os países são entrevistados por todas as 13 enquetes e, para entrar no ranking, cada país têm de ter no mínimo três respondidas. “Isso já distorce completamente”, diz Angélico. Para ele, o método faz com que o resultado seja muito questionável, e usa como exemplo para isso o próprio Brasil, que subiu 5 posições. “Mas qual medida foi tomada [no último ano]? Nenhuma”, questiona. Quando perguntado se a relação entre corrupção e conflitos armados era válida, Angélico diz que algumas das correlações estabelecidas no documento fazem sentido. “Acho que tem a ver com a área de conflito, claro, assim como uma comparação com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tem uma fortíssima relação. Mas são coisas um pouco óbvias. A corrupção é tanto mais presente quanto menos controle você tem, e numa região de guerra você tem decisões arbitrárias. Isso é definição de corrupção e, segundo os estudiosos, esse é o ambiente nos lugares de guerra. É um pouco óbvio”, conclui.
América Latina
O Brasil obteve nota 3,7, numa escala que vai de 0 a 10 – sendo que, quanto menor a nota, maior é o nível de corrupção do local. Nos lugares que se aproximam do máximo, segundo Schenk, "praticamente não se pode conseguir nem uma consulta médica sem subornar alguém". A maioria dos países, no entanto, fica abaixo da média, 5.
Entre os demais países latino-americanos, somente Chile e Uruguai, com 6,7 pontos cada um, e Costa Rica, com 5,3 pontos, superaram a barreira crítica dos cinco pontos marcada por Schenk. O pior classificado entre os latino-americanos é a Venezuela, com 1,9 pontos. Um pouco mais acima, estão Paraguai, com 2,1 pontos, e Equador, com 2,2 pontos.
Para Saint-Pierre, estes são países com grande concentração de riqueza, grande diferenças sociais onde tais diferenças têm o poder de corromper. “Os países que são marcadamente menos corruptos são também aqueles que têm menor diferença social. A classe mais alta tem uma acomodação para se manter na opulência. E isso passa a fazer parte da própria cultura”, resume.
Segundo o relatório, os países sob conflitos recentes ou com regimes autoritários são os que mais sofrem com a corrupção, enquanto os que têm uma longa tradição de estabilidade política e democracia não precisam tanto lidar com o problema. "Quando instituições essenciais são fracas ou inexistentes, a corrupção sai do controle e a espoliação dos recursos públicos alimenta a insegurança e a impunidade", diz o comunicado da organização.
Em países em conflito, o aumento da corrupção se dá justamente por uma necessidade urgente de comprar armamentos, de acordo com o professor Hector Luis Saint-Pierre, do departamento de política internacional da Unesp (Universidade Estadual Paulista). “Geralmente, estas nações não podem fazer uma importação direta e normal. Precisam comprar armamentos por meios clandestino, pelos quais entram em esquemas de corrupção”, explica ele. As melhores notas foram recebidas por países como Nova Zelândia, Dinamarca e Suécia – o que, segundo declarações da presidente da Transparência Internacional na Alemanha, Sylvia Schenk, à agência de notícias espanhola EFE, são uma amostra dos resultados da estabilidade política e de “uma longa tradição de mecanismos para a solução de conflitos e instituições sólidas”. “Normalmente, a estabilidade política permite um controle mais eficaz sobre esse aspecto. São administrações nas quais a própria burocracia é orgulhosa de sua função”, complementa Saint-Pierre.
No entanto, Fabiano Angélico, coordenador de atividades da ONG Transparência Brasil, que luta contra a corrupção no país (sem ligações com a Transparência Internacional), critica o cálculo feito para organizar o ranking. “Em primeiro lugar, não consideramos que esses números indiquem alguma coisa. Temos fortes críticas a essa metodologia”, adverte. Angélico explica que o índice da entidade alemã é composto a partir de 13 pesquisas de opinião, nenhuma delas do Brasil. Entre as fontes incluídas, estão o Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento da Ásia e da África. “São opiniões de fora, a respeito de fenômenos muito complexos, e não há nenhuma espécie de correlações”, comenta o coordenador, que classifica esse método como um “conjunto de ‘achismos’”.
O analista conta que nem todos os países são entrevistados por todas as 13 enquetes e, para entrar no ranking, cada país têm de ter no mínimo três respondidas. “Isso já distorce completamente”, diz Angélico. Para ele, o método faz com que o resultado seja muito questionável, e usa como exemplo para isso o próprio Brasil, que subiu 5 posições. “Mas qual medida foi tomada [no último ano]? Nenhuma”, questiona. Quando perguntado se a relação entre corrupção e conflitos armados era válida, Angélico diz que algumas das correlações estabelecidas no documento fazem sentido. “Acho que tem a ver com a área de conflito, claro, assim como uma comparação com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tem uma fortíssima relação. Mas são coisas um pouco óbvias. A corrupção é tanto mais presente quanto menos controle você tem, e numa região de guerra você tem decisões arbitrárias. Isso é definição de corrupção e, segundo os estudiosos, esse é o ambiente nos lugares de guerra. É um pouco óbvio”, conclui.
América Latina
O Brasil obteve nota 3,7, numa escala que vai de 0 a 10 – sendo que, quanto menor a nota, maior é o nível de corrupção do local. Nos lugares que se aproximam do máximo, segundo Schenk, "praticamente não se pode conseguir nem uma consulta médica sem subornar alguém". A maioria dos países, no entanto, fica abaixo da média, 5.
Entre os demais países latino-americanos, somente Chile e Uruguai, com 6,7 pontos cada um, e Costa Rica, com 5,3 pontos, superaram a barreira crítica dos cinco pontos marcada por Schenk. O pior classificado entre os latino-americanos é a Venezuela, com 1,9 pontos. Um pouco mais acima, estão Paraguai, com 2,1 pontos, e Equador, com 2,2 pontos.
Para Saint-Pierre, estes são países com grande concentração de riqueza, grande diferenças sociais onde tais diferenças têm o poder de corromper. “Os países que são marcadamente menos corruptos são também aqueles que têm menor diferença social. A classe mais alta tem uma acomodação para se manter na opulência. E isso passa a fazer parte da própria cultura”, resume.
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