sábado, 15 de maio de 2010

Trabalhadores europeus pagam o custo da crise


Marco Aurélio Weissheimer
Carta Maior

O primeiro ministro José Luis Rodríguez Zapatero, anunciou, dia 12 de maio, no Parlamento espanhol, a redução em 5% dos salários dos funcionários públicos em 2010, o congelamento de salários e um corte de 600 milhões de euros em investimentos públicos em 2010. Também fazem parte do pacote de medidas para reduzir os gastos públicos o congelamento das pensões (de aposentadoria) e a suspensão, a partir de 2011, do chamado “cheque bebê”, que, desde 2007, concedia 2.500 euros para cada criança nascida na Espanha. Zapatero pediu ao povo espanhol “um grande esforço de austeridade” para enfrentar a crise econômica que afeta o país. As centrais sindicais espanholas protestaram contra as medidas e anunciaram grandes mobilizações de rua contra elas.

Zapatero foi pressionado pela União Européia e pelos Estados Unidos a tomar essas medidas para defender a “estabilidade do euro”. No dia 12 de maio, o presidente dos EUA, Barack Obama, ligou para Zapatero para “conversar” sobre as medidas. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, a conversa tratou “da situação da Espanha e da importância, no contexto europeu, dos esforços para fortalecer a economia européia e devolver a confiança aos mercados.” Gibb revelou ainda que Obama conversou também com a chanceler alemã, Ângela Merkel e com o presidente francês Nicolas Sarkozy para tratar do impacto da crise na União Européia. Os EUA, disse o porta-voz, estão preocupados com a situação das finanças públicas da Espanha, dado o peso do país na zona do Euro.

Com esse conjunto de medidas, o governo espanhol pretende economizar cerca de 15 bilhões de euros até 2011. Em 2009, o déficit público da Espanha chegou a 11,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, após três anos seguidos de superávit (no período pré-crise). Agora, o governo espanhol assumiu o compromisso de reduzir esse índice para 3%, atendendo a uma exigência da União Européia. Em janeiro, Zapatero já havia anunciado um plano que previa a redução de 10% na contratação de funcionários públicos, aumento de impostos e a redução do orçamento para 2010. Com o agravamento da crise na Grécia e em outros países da Europa, as medidas foram consideradas insuficientes pelas autoridades da UE. O aprofundamento do arrocho fiscal deve ter um alto custo político para Zapatero.

Greve geral na Grécia

Sindicatos e centrais e sindicais já anteciparam qual deve ser a reação diante do plano de arrocho salarial e fiscal. O secretário geral da central sindical União Geral dos Trabalhadores (UGT), Cándido Méndez, disse que as medidas afetarão duramente milhares de famílias e anunciou a convocação de grandes mobilizações de protesto nas próximas semanas. Na mesma linha, Ignácio Férnandez Toxo, secretário geral da central sindical Comissiones Obreras (CCOO), classificou o plano do governo Zapatero como “injusto e anti-econômico” e antecipou protestos massivos nas ruas da Espanha. Já a Comissão Européia e o Banco Santander fizeram praticamente o mesmo comentário a respeito das medidas anunciadas pelo governo espanhol: “vão na boa direção”.

Se os sindicatos de trabalhadores espanhóis começam a cogitar a possibilidade de organizar uma greve geral, na Grécia, uma nova paralisação nacional foi convocada, em protesto contra medidas similares adotados pelo governo. Será a quinta greve geral desde o início do ano. A União dos Empregados Civis (Adedy), central sindical dos trabalhadores do setor público, e a Confederação dos Trabalhadores (GSEE), central sindical do setor privado, convocaram a greve geral como resposta às medidas governamentais de cortes nas pensões. “A nossa reação é imediata, respondemos com uma greve geral de 24 horas”, anunciou o presidente da Adedy, Spiros Papaspíros. A nova greve geral foi convocada para o dia 20 de maio.

Origem da crise está no setor privado

Os pacotes de arrocho anunciados por Grécia e Espanha repetem uma história bem conhecida: a maioria da população é chamada a pagar por erros cometidos por setores privados. Quem confirma isso é Martin Wolf, editor e principal analista econômico do Financial Times. No artigo “Governos aumentam riscos” (Valor Econômico, 12/05/2010), Wolf destaca as conclusões de Paul De Grauwe, da Universidade Leuven, em um texto escrito para o Centre for European Policy Studies: “a origem da crise da dívida dos governos é a prodigalidade de amplos segmentos do setor privado, e do setor financeiro, em particular. Os mercados financeiros financiaram a orgia e, agora, em pânico, estão se recusando a financiar a faxina resultante”.

Agora os governos se empenham em lidar com as seqüelas, escreve Martin Wolf. “Ao insistir em afirmar que não haverá calotes, porém, estão protegendo o setor financeiro da sua estupidez. Em vez disso, espera-se que os povos dos países endividados paguem. Será que esse trato comprovará ser aceitável, na ausência de um retorno ao crescimento nos países afetados? Dificilmente”, conclui o analista. Para ele, a orgia do setor financeiro também traz como conseqüência a necessidade de uma profunda reforma na zona do euro. Mas é impossível pensar em um retorno às moedas nacionais, adverte, pois isso provocaria a implosão do sistema financeiro. O fato é que a Europa ingressou numa zona de forte turbulência e, para variar, quem está pagando a conta é o setor público e os trabalhadores.

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