Helena Carnieri
Gazeta do Povo
A direita, que faz oposição à socialista Michelle Bachelet, ganhou um importante aliado de campanha: a crise econômica, que empurra o eleitorado para o conservadorismo. Piñera, com um discurso voltado para a geração de emprego para os chilenos e apoio a empreendedores, vem conquistando a classe média, avessa ao espaço tomado por imigrantes peruanos no mercado de trabalho.
“O Chile entrou com força na sociedade de consumo. Agora, grande parte da população está endividada e o eleitorado mais preocupado em pagar seus cartões de crédito”, diz o professor e Doutorando em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o chileno Fernando de la Cuadra.
Além dos argumentos econômicos, a oposição bate na tecla de que a Concertación traiu seu discurso em prol da ética ao sujar as mãos com a corrupção.
A situação é velha conhecida dos brasileiros: denúncias de Caixa 2, salários extras para ministros, irregularidades com licitações... A perda de popularidade resultante se intensificou a partir de maio do ano passado, quando houve uma série de protestos estudantis contra o governo de Bachelet exigindo passe livre e outras alterações na lei da educação.
Ao distribuir a pílula do dia seguinte na rede pública de saúde para meninas acima dos 14 anos, o governo de Bachelet atraiu ainda a fúria da Igreja Católica.
Outra crítica ao governo, frisada na campanha da oposição, é que Bachelet estaria sendo dócil demais no conflito sobre limites marítimos com o Peru – que acionou a Corte Internacional de Justiça de Haia para ampliar seu espaço de mar.
“Além de tudo isso, há o fato de que uma fatia do eleitorado chileno é precário em termos ideológicos – pode apoiar qualquer um que ofereça um bom pacote”, diz o professor de la Cuadra.
O que muda
Depois de 20 anos de governos de centro-esquerda, caso as pesquisas de intenção de voto se confirmem e Piñera leve a Presidência chilena em dezembro, a expectativa é que ele reforce o modelo de mercado autorregulado e reduza o gasto social.
O professor de la Cuadra também vê modificações no horizonte no plano cultural. “Há temas importantes que podem deixar de ser discutidos, como a diversidade, o aborto e a inserção de indígenas”, diz.
Afora essas suposições, ainda é cedo para prever mudanças, já que o candidato tem se dedicado mais a pedir sugestões dos eleitores sobre suas necessidades que a anunciar plataformas.
Mandato curto, mas marcante
Apesar de neste momento o eleitorado tender para o candidato da oposição à Presidência, Verónica Michelle Bachelet Jeria deixará um legado marcante à frente do Chile. Quando assumiu, o correspondente do The New York Times Larry Rohter a definiu como “mulher e agnóstica, música amadora nos anos 60, ex-exilada”. Uma incrível lufada de vida num espaço até então sisudo e razoavelmente machista.
Bachelet é admirada pela postura responsável que manteve em relação a temas sociais, condizente com seu história familiar de resistência: o pai morreu na cadeia após ser torturado, sofrimento pelo qual ela também passou, no governo Pinochet.
Logo ao assumir, em 2006, declarou a gratuidade do sistema público de saúde para maiores de 60 anos e a reforma do sistema previdenciário. Depois, vieram o crédito imobiliário e o seguro-desemprego. “O Chile sai desses quatro anos mais moderno e tolerante, aberto a novas expressões”, salienta o professor chileno Fernando de la Cuadra.
Ela investiu também em mudanças no sistema eleitoral de forma a agregar jovens eleitores – entre os quais apenas 8% estão inscritos para votar. O voto passa a ser voluntário, mas a inscrição será obrigatória. Como a Constituição do país não prevê a reeleição, Bachelet pode dizer que mexeu com o Chile em seu curto, mas marcante governo.
No âmbito regional, ela também deu sua contribuição, assumindo a presidência da União das Nações Sul-Americanas no ano passado para apaziguar os ânimos exaltados de Equador, Colômbia e Venezuela.
Gazeta do Povo
As primárias presidenciais do Chile, que ocorreram neste domingo nas regiões sulistas de O’Higgins e del Maule, devem ser meramente simbólicas, já que escolhem o candidato da situação, enquanto a oposição lidera as pesquisas de intenção de voto com mais de 50% da preferência. Deve vencer o ex-presidente Eduardo Frei, democrata cristão – visto que o outro candidato, o radical José Antonio Gómez, tem pouquíssima preferência.
O apelo do candidato Sebastián Piñera, milionário do setor financeiro, ameaça tirar do poder a Concertación, bloco de partidos centro-esquerda que governaram o país nos últimos 20 anos.
O apelo do candidato Sebastián Piñera, milionário do setor financeiro, ameaça tirar do poder a Concertación, bloco de partidos centro-esquerda que governaram o país nos últimos 20 anos.
A direita, que faz oposição à socialista Michelle Bachelet, ganhou um importante aliado de campanha: a crise econômica, que empurra o eleitorado para o conservadorismo. Piñera, com um discurso voltado para a geração de emprego para os chilenos e apoio a empreendedores, vem conquistando a classe média, avessa ao espaço tomado por imigrantes peruanos no mercado de trabalho.
“O Chile entrou com força na sociedade de consumo. Agora, grande parte da população está endividada e o eleitorado mais preocupado em pagar seus cartões de crédito”, diz o professor e Doutorando em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o chileno Fernando de la Cuadra.
Além dos argumentos econômicos, a oposição bate na tecla de que a Concertación traiu seu discurso em prol da ética ao sujar as mãos com a corrupção.
A situação é velha conhecida dos brasileiros: denúncias de Caixa 2, salários extras para ministros, irregularidades com licitações... A perda de popularidade resultante se intensificou a partir de maio do ano passado, quando houve uma série de protestos estudantis contra o governo de Bachelet exigindo passe livre e outras alterações na lei da educação.
Ao distribuir a pílula do dia seguinte na rede pública de saúde para meninas acima dos 14 anos, o governo de Bachelet atraiu ainda a fúria da Igreja Católica.
Outra crítica ao governo, frisada na campanha da oposição, é que Bachelet estaria sendo dócil demais no conflito sobre limites marítimos com o Peru – que acionou a Corte Internacional de Justiça de Haia para ampliar seu espaço de mar.
“Além de tudo isso, há o fato de que uma fatia do eleitorado chileno é precário em termos ideológicos – pode apoiar qualquer um que ofereça um bom pacote”, diz o professor de la Cuadra.
O que muda
Depois de 20 anos de governos de centro-esquerda, caso as pesquisas de intenção de voto se confirmem e Piñera leve a Presidência chilena em dezembro, a expectativa é que ele reforce o modelo de mercado autorregulado e reduza o gasto social.
O professor de la Cuadra também vê modificações no horizonte no plano cultural. “Há temas importantes que podem deixar de ser discutidos, como a diversidade, o aborto e a inserção de indígenas”, diz.
Afora essas suposições, ainda é cedo para prever mudanças, já que o candidato tem se dedicado mais a pedir sugestões dos eleitores sobre suas necessidades que a anunciar plataformas.
Mandato curto, mas marcante
Apesar de neste momento o eleitorado tender para o candidato da oposição à Presidência, Verónica Michelle Bachelet Jeria deixará um legado marcante à frente do Chile. Quando assumiu, o correspondente do The New York Times Larry Rohter a definiu como “mulher e agnóstica, música amadora nos anos 60, ex-exilada”. Uma incrível lufada de vida num espaço até então sisudo e razoavelmente machista.
Bachelet é admirada pela postura responsável que manteve em relação a temas sociais, condizente com seu história familiar de resistência: o pai morreu na cadeia após ser torturado, sofrimento pelo qual ela também passou, no governo Pinochet.
Logo ao assumir, em 2006, declarou a gratuidade do sistema público de saúde para maiores de 60 anos e a reforma do sistema previdenciário. Depois, vieram o crédito imobiliário e o seguro-desemprego. “O Chile sai desses quatro anos mais moderno e tolerante, aberto a novas expressões”, salienta o professor chileno Fernando de la Cuadra.
Ela investiu também em mudanças no sistema eleitoral de forma a agregar jovens eleitores – entre os quais apenas 8% estão inscritos para votar. O voto passa a ser voluntário, mas a inscrição será obrigatória. Como a Constituição do país não prevê a reeleição, Bachelet pode dizer que mexeu com o Chile em seu curto, mas marcante governo.
No âmbito regional, ela também deu sua contribuição, assumindo a presidência da União das Nações Sul-Americanas no ano passado para apaziguar os ânimos exaltados de Equador, Colômbia e Venezuela.
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