sábado, 4 de outubro de 2014

O retorno de George Orwell

John Pilger
Outras Palavras

Uma noite dessas, assisti ao 1984, de George Orwell, interpretado no teatro, em Londres. Apesar de clamar por uma interpretação contemporânea, o alerta de Orwell sobre o futuro foi apresentado como algo de época: remoto, pouco ameaçador , quase tranquilizador. Foi como se Edward Snowden não tivesse revelado nada, o Grande Irmão não fosse um bisbilhoteiro digital e o próprio Orwell nunca tivesse dito “ninguém precisa viver em um país totalitário para ser corrompido pelo totalitarismo”.

Aclamada pela crítica, a hábil produção foi um sinal de nossos tempos, políticos e culturais. Quando as luzes acenderam, as pessoas já estavam de saída. Pareciam indiferentes, ou talvez outras distrações as atraíssem. “Que confusão”, disse uma jovem, ao ligar seu celular.

À medida que sociedades avançadas vão sendo despolitizadas, as mudanças são tão súbitas quanto espetaculares. No discurso cotidiano, a fala política está de ponta cabeça, como Orwell profetizou em 1984. “Democracia” transformou-se em um aparato retórico. Paz é “guerra permanente”. “Global” é imperial. O conceito, uma vez esperançoso, de “reforma” agora significa regressão, e mesmo destruição. “Austeridade” é a imposição do capitalismo extremo aos pobres e a benção da socialização das perdas para os ricos: um engenhoso sistema no qual a maioria paga as contas da minoria.

Nas artes, a hostilidade a quem diz verdades políticas é um artefato da fé burguesa. “O período vermelho de Picasso e por que política não faz boa arte”, diz uma manchete do Observer. Considere isso em um jornal que promoveu o banho de sangue no Iraque como uma cruzada liberal. A vida de Picasso, de oposição ao fascismo, é apenas uma nota de rodapé, assim como o radicalismo de Orwell desbotou do prêmio que leva seu nome.

Alguns anos atrás, Terry Eagleton, então professor de Literatura Inglesa na Universidade de Manchester, avaliou que “pela primeira vez em dois séculos, não há nenhum poeta, dramaturgo ou romancista eminente inglês preparado para questionar os alicerces do modo de vida ocidental” Nenhum Shelley fala pelos pobres, ou Blake pelos sonhos utópicos; nenhum Byron condena a corrupção da classe dominante, nenhum Thomas Carlyle ou John Ruskin revela o desastre moral do capitalismo. William Morris, Oscar Wilde, H. G. Wells, George Bernard Shaw, nenhum tem equivalentes hoje. Harold Pinter foi o último a erguer sua voz. Entre as insistentes vozes dos consumidores de feminismo, nenhuma ecoa Virginia Woolf, que descreveu “ as artes de dominar outras pessoas… de mandar, de matar, de adquirir terra e capital”.

No National Theatre, uma nova peça, Great Britain, satiriza o escândalo da vigilância telefônica que levou a julgamento e condenou jornalistas, incluindo um antigo editor do News of the World, de Rupert Murdoch . Descrita como uma “farsa com dentes [que] põe toda a cultura incestuosa [midiática] na berlinda e a sujeita ao ridículo impiedoso”, a peça tem como alvos os “abençoadamente engraçados” personagens dos tabloides britânicos. Isso é muito bom, e também muito familiar. O que dizer da mídia não sensacionalista que se considera honrada e digna de crédito, mas desempenha um papel paralelo como arma de Estado e do poder corporativo, como na promoção da guerra ilegal?

O inquérito Leveson sobre vigilância telefônica permitiu ver de relance estes fatos impronunciáveis. Tony Blair dirigia-se ao público , reclamando ao Seu Senhor sobre o assédio dos tabloides à sua mulher, quando foi interrompido por uma voz da plateia. David Lawley-Wakelin, um cineasta, demandava a prisão de Blair por crimes de guerra. Houve uma grande pausa: o choque da verdade. Lorde Leveson ficou em pé em um salto, mandou expulsar o contador de verdades e pediu desculpas ao criminoso de guerra. Lawley-Wakelin foi processado; Blair ficou livre.

Os cúmplices permanentes de Blair são mais respeitáveis que grampeadores de telefone. Quando a apresentadora de artes da BBC, Kirsty Wark, entrevistou-o no décimo aniversário da invasão ao Iraque, ela o presenteou com um momento com o qual ele só poderia sonhar. Permitiu-lhe lamentar sua “difícil” decisão no Iraque, ao invés de chamá-lo a prestar contas sobre o seu crime épico. Isso fez lembrar a procissão de jornalistas da BBC, que, em 2003, declararam que Blair poderia se sentir “vingado” e o subsequente seriado da BBC, “The Blair Years”, para o qual David Aaronovitch foi escolhido como escritor, apresentador e entrevistador. Um bate-pau de Murdoch que fez campanha em favor dos ataques militares ao Iraque, Líbia e Síria, Aaronovitch soube bajular com esperteza.

Desde a invasão do Iraque – exemplo dum ato de agressão não provocada, algo que o procurador de Nuremberg, Robert Jackson, chamou de ”o supremo crime internacional, que diferencia-se dos outros crimes de guerra por conter acumulado em si todo o mal” – Blair e seu porta-voz e principal cúmplice, Alastair Campbell, têm recebido espaços generosos no The Guardian para reabilitar suas reputações. Descrito como uma “estrela” de partidos trabalhistas, Campbell buscou a simpatia de seus leitores por sua depressão e exibiu seus interesses, embora escondesse seu atual – de conselheiro, junto com Blair, da tirania militar egípcia.

Enquanto o Iraque vai sendo desmembrado como consequência da invasão de Blair e de Bush, uma manchete do Guardian declara: “Derrubar Saddam estava certo, mas fizemos isso muito cedo”. Isso coincide com um proeminente artigo de 13 de Junho, escrito por um antigo funcionário de Blair, John McTernan, que também serviu ao ditador iraquiano instalado pela CIA, Iyad Allawi. Ao falar da invasão repetida a um país que seu antigo mestre havia ajudado a destruir, McTernan não faz nenhuma referência às mortes de pelo menos 700 mil pessoas, à fuga de quatro milhões de refugiados e ao tumulto sectário de uma nação outrora orgulhosa da sua tolerância comum.

“Blair encarna a corrupção e a guerra”, escreveu o colunista radical do Guardian, Seumas Milne, em um artigo espirituoso em 3 de Julho. No comércio, isso é conhecido como “balanço”. No dia seguinte, o jornal publicou um anúncio de página inteira de um bombardeiro invisível norte-americano. Na imagem ameaçadora do avião, estavam as palavras “O F-35. ÓTIMO para a Grã-Bretanha”. Essa outra encarnação da “corrupção e da guerra” vai custar aos contribuintes britânicos 2,1 bilhões de dólares, e seus modelos antecessores têm massacrado gente pelo mundo em desenvolvimento.

Em uma vila no Afeganistão, habitada pelos mais pobres dentre os pobres, filmei Orifa, ajoelhada no túmulo de seu marido, Gul Ahmed, um tecelão de tapetes, e de sete outros membros da sua família, incluindo seis filhos e duas crianças que foram mortas na casa adjacente. Uma bomba de “precisão” de mais de duzentos quilos caiu diretamente na sua casa de lama, pedras e palha, deixando uma cratera de 15 metros de largura. A Lockheed Martin, fabricante do avião, teve lugar de honra na propaganda do The Guardian.

A antiga secretária de Estado e aspirante a Presidente dos Estados Unidos, Hillary Clinton, esteve recentemente no quadro da BBC “Hora das Mulheres” [“Women's Hour”], a quintessência da respeitabilidade da mídia. A apresentadora, Jenni Murray, apresentou Clinton como um farol das conquistas femininas. Ela não lembrou seus ouvintes sobre a mistificação de Clinton, segundo a qual o Afeganistão foi invadido para “liberar” mulheres como Orifa. Ela não perguntou nada a ex-secretária sobre a campanha de terror, conduzida por seu governo, usando drones, para matar mulheres, homens e crianças. Não houve menção à ameaça vã de Clinton, durante sua campanha para ser a primeira presidente mulher, de “eliminar” o Irã, e nada sobre o seu apoio à vigilância maciça e ilegal sobre os cidadãos e a perseguição a quem a denuncia.

Ah, sim – Murray fez uma pergunta indiscreta. Clinton perdoou Monica Lewinsky por ter um caso com seu marido? “O perdão é uma escolha”, disse Clinton, “para mim, foi certamente a melhor escolha”. Isso fez lembrar a década de 90 e os anos consumidos pelo “escândalo” Lewinsky. O Presidente Bill Clinton estava, então, invadindo o Haiti e bombardeando os Balcãs, a África e o Iraque. Ele também estava destruindo a vida de crianças iraquianas; a Unicef reportou que as mortes de meio milhão de crianças iraquianas com menos de cinco anos foi resultado de um embargo liderado pelos EUA e a Grã-Bretanha.

As crianças não eram pessoas para a mídia, assim como as vítimas de Hillary Clinton nas invasões que ela apoiou e promoveu – Afeganistão, Iraque, Iêmen, Somália – não são pessoas para a mídia. Murray não fez referências a elas. Uma fotografia dela e da sua distinta convidada, sorridentes, aparece no site da BBC.

Na política, assim como no jornalismo e nas artes, parece que a dissidência, antes tolerada no “mainstream”, voltou a ser uma dissidência: um submundo metafórico. Quando comecei uma carreira na imprensa britânica, nos anos 60, era aceitável criticar o poder ocidental como uma força voraz. Leia os festejados relatos de James Cameron sobre a explosão da bomba de hidrogênio no Atol de Bikini, a guerra bárbara na Coreia e o bombardeio americano no Vietnã do Norte. A grande ilusão de hoje é sobre uma suposta Era da Informação quando, na verdade, vivemos em uma Era da Mídia, na qual a incessante propaganda corporativa é insidiosa, contagiosa, efetiva e liberal.

Em seu ensaio “Sobre a Liberdade” [“On Liberty”], de 1859, ao qual os liberais modernos prestam homenagem, John Stuart Mill escreveu: “Despotismo é um modo legítimo de governo no trato com bárbaros, desde que o fim seja melhorá-los, e tendo os meios justificados pelo cumprimento do objetivo”. Os “bárbaros” eram grandes setores da humanidade de quem era exigida “obediência implícita”. “É um mito bom e conveniente que os liberais são promotores da paz e os conservadores são os fomentadores da guerra”, escreveu o historiador Hywel Williams em 2001, “mas o imperialismo da veia liberal talvez seja mais perigoso, por causa da sua natureza aberta: sua convicção de que representa uma forma de vida superior”. Ele tinha em mente um discurso de Blair, em que o então primeiro ministro prometeu “reorganizar o mundo ao redor de nós” de acordo com os seus “valores morais”.

Richard Falk, respeitada autoridade em lei internacional e Relator Especial da ONU na Palestina, uma vez descreveu uma “tela moral e legal hipócrita, de via única, com imagens positivas de valores ocidentais e da inocência retratada como sob ameaça, que valida uma campanha de violência política irrestrita”. Isso é “tão amplamente aceito que é virtualmente incontestável.”

Posse e proteção recompensam os que se submetem. Na Rádio 4 da BBC, Razia Igbal entrevistou Toni Morrison, a afro-americana laureada pelo Nobel. Morrison se perguntava por que as pessoas estavam “tão bravas” com o Barack Obama, que era “legal” e desejava construir uma “economia e assistência médica fortes”. Morrison estava orgulhosa de ter falado ao telefone com o seu herói, que leu um de seus livros e a convidou à cerimônia de sua posse .

Nem ela, nem sua entrevistadora, mencionaram as sete guerras de Obama, nem a sua campanha de terror com drones, na qual famílias inteiras foram executadas, assim como quem tentava socorrê-las ou orava por elas. O que parecia importar era que um homem negro e “de fala elegante” havia subido ao mais alto comando do poder. Em “Os Condenados da terra”, Frantz Fanon escreveu que a “missão histórica” dos colonizados era servir de “linha de transmissão” para aqueles que comandavam e oprimiam. Nos tempos atuais, o emprego da diferença étnica no poder e sistema de propaganda ocidentais é visto como essencial. Obama exemplifica isso, ainda que o gabinete de George W. Bush – sua panelinha belicosa – tenha sido o mais multirracial na história presidencial.

Quando a cidade iraquiana de Mosul caía sob o poder dos jihadistas do ISIS, Obama afirmou: “O povo americano faz grandes investimentos e sacrifícios para dar aos iraquianos a oportunidade de traçar um destino melhor”. Quão “legal” é essa mentira? Quão “elegantemente falado” foi o discurso de Obama na academia militar West Point, em 28 de maio? Quando fez seu discurso a respeito da “situação mundial”, na cerimônia de graduação daqueles que “vão exercer a liderança americana” ao redor do mundo, Obama disse: “Os Estados Unidos vão usar força militar, unilateralmente se necessário, quando os nossos interesses centrais demandarem isso. A opinião internacional importa, mas a América nunca vai pedir permissão…”

Ao repudiar o direito internacional e os direitos das nações independentes, o presidente norte-americano reivindica uma divindade baseada no poder da sua “nação indispensável”. Essa é uma mensagem familiar da impunidade imperial. Evocando o começo do fascismo na década de 30, Obama disse: “eu acredito na excepcionalidade americana com todas as fibras do meu ser”. O historiador Norman Pollack escreveu: “No lugar da marcha ao passo de ganso [típica do fascismo], coloque a militarização de toda a cultura, aparentemente mais inócua. E em vez do líder tonitruante, nós temos o projeto de reformista, alegre no seu trabalho, planejando e executando assassinatos, sorrindo todo o tempo’.

Em fevereiro, os EUA montaram um dos seus golpes “coloridos” contra o governo eleito na Ucrânia, explorando protestos genuínos contra a corrupção em Kiev. A secretária de Estado assistente de Obama, Victoria Nuland, escolheu pessoalmente o líder para um “governo interino”. Ela o apelidou “Yats”. O vice presidente Joe Biden foi a Kiev, assim como o diretor da CIA, John Brennan. As tropas de choque do seu putsch eram fascistas ucranianos.

Pela primeira vez desde 1945, um partido neo-nazista, abertamente anti-semita, controla setores fundamentais do poder público em uma capital europeia. Nenhum líder europeu ocidental condenou essa recuperação do fascismo na fronteira através da qual as tropas invasoras de Hitler tiraram milhões de vidas russas. Eles eram apoiados pelo Exército Insurgente Ucraniano (UPA), responsável pelo massacre de judeus e russos que chamam de “vermes”. O UPA é a inspiração histórica do atual Partido Svoboda e seus companheiros de viagem da direita. O lider do Svoboda, Oleh Tyanybok, pediu o expurgo da “máfia moscovita-judia” e “outra escória”, incluindo gays, feministas e pessoas de esquerda.

Desde o colapso da União Soviética, os Estados Unidos cercaram a Rússia de bases militares, aviões nucleares de guerra e mísseis, como parte do seu Projeto de Ampliação OTAN. Renegando uma promessa feita ao presidente soviético Mikhail Gorbachev em 1990, de que a não se expandiria “uma polegada para o leste”, a OTAN tem, com efeito, ocupado militarmente a Europa Oriental. No antigo Cáucaso Soviético, a expansão da OTAN é a maior mobilização militar desde a Segunda Guerra Mundial.

O Plano de Ação para Adesão à OTAN é o presente de Washington ao regime golpista em Kiev. Em Agosto, a “Operação Rapid Trident” vai colocar tropas norte-americanas e britânicas na fronteira russa da Ucrânia; e a “Sea Breeze” vai colocar navios de guerra estadunidenses tão próximos dos portos russos que poderão ser vistos a olho nu. Imagine a resposta, se esses atos de provocação e intimidação fossem executados nas fronteiras americanas.

Na recuperação da Crimeia – que Nikita Kruschev separou ilegalmente da Rússia, em 1954 – os russos defenderam-se como têm feito por quase um século. Mais de 90% da população da Crimeia votou favoravelmente a reincorporar o território à Rússia. A Crimeia é a base da Frota do Mar Negro e sua perda significaria vida ou morte para a Marinha Russa e um prêmio para a OTAN. Confundindo as forças em guerra em Washington e Kiev, Vladimir Putin retirou as tropas da fronteira ucraniana e pediu aos russos do leste da Ucrânia que abandonassem o separatismo.

De maneira orwelliana, isso foi invertido no Ocidente, para se converter na “ameaça Russa”. Hillary Clinton associou Putin a Hitler. Sem ironia, comentaristas de direita alemães disseram o mesmo. Na mídia, os neo-nazistas ucranianos são tratados com eufemismos: “nacionalistas”, ou “ultra-nacionalistas”. O que eles temem é que Putin esteja buscando uma saída diplomática e talvez tenha sucesso. Em 27 de junho, em resposta ao último ajuste de Putin – seu pedido ao parlamento russo para rescindir da lei que lhe deu poder para intervir pelos russos na Ucrânia – o secretário de Estado John Kerry emitiu mais um de seus ultimatos. A Rússia deveria “agir dentro das próximas horas, literalmente” para acabar com a revolta no leste da Ucrânia. Não obstante Kerry seja amplamente reconhecido como um bufão, o propósito sério desses “avisos” é conferir à Rússia o status de pária e suprimir as notícias da guerra do regime de Kiev ao seu próprio povo.

Um terço da população da Ucrânia é russo-falante e bilíngue. Buscam há muito tempo uma federação democrática que reflita a diversidade étnica da Ucrânia e que seja tanto autônoma quanto independente de Moscou. A maioria não é nem “separatista” nem “rebelde”, mas cidadãos que querem viver com segurança em seu país. O separatismo é uma reação aos ataques da junta de Kiev contra eles, que provocaram a fuga de cerca de 110 mil pessoas (segundo estimativa da ONU) pela fronteira, em direção à Rússia. Tipicamente, são mulheres e crianças traumatizadas.

Assim como as crianças vítimas do embargo ao Iraque, ou as mulheres e crianças “liberadas” do Afeganistão, aterrorizadas pelos senhores da guerra da CIA, esse povo étnico da Ucrânia não é gente para a mídia ocidental. Seu sofrimento e as atrocidades cometidas contra ele são minimizados ou suprimidos. Nenhum senso da escala da agressividade do regime é relatado nos meios de comunicação ocidental tradicionais. Isso não é sem precedentes. Relendo o magistral “A Primeira Vítima: o correspondente de guerra como herói, propagandista, e criador de mitos” de Phillip Knightley, pude renovar minha admiração por Morgan Philips Price, que, pelo Manchester Guardian, foi o único repórter ocidental a permanecer na Rússia durante a revolução de 1917 e reportar a verdade sobre a desastrosa invasão dos aliados ocidentais. Justo e corajoso, Philips Price sozinho sacudiu aquilo que Knightley chama de “silêncio negro” anti-russo no Ocidente.

Em 2 de maio, em Odessa, 41 ucranianos de etnia russa foram queimados vivos na sede da central sindical, com a polícia assistindo. Há um vídeo horrível como evidência. O líder da direita, Dmytro Yarosh, comemorou o massacre como “mais um dia brilhante na nossa história nacional”. Na mídia norte-americana e britânica, o ocorrido foi reportado como uma “tragédia obscura”, resultando de confrontos entre “nacionalistas” (neo-nazistas) e “separatistas” (pessoas coletando assinaturas para um referendo em favor de um sistema federativo para a Ucrânia. O New York Times enterrou a notícia, tendo considerado “propaganda russa” os alertas sobre as políticas fascistas e anti-semitas dos novos clientes de Washington. O Wall Street Journal responsabilizou as vítimas – “Incêndio Ucraniano Mortal Iniciado por Rebeldes, diz o governo”. Obama felicitou a junta pela sua “moderação”.

No dia 28 de junho, o Guardian dedicou a maior parte de uma página às declarações do “presidente” do regime de Kiev, o oligarca Petro Poroshenko. Novamente, a regra de inversão de Orwell aplicada. Não havia golpe; não havia guerra contra a minoria ucraniana; os russos eram culpados de tudo. “Nós queremos modernizar nosso país”, disse Poroshenko. “Nós queremos introduzir liberdade, democracia e valores europeus. Alguém não gosta disso. Alguém não gosta de nós por isso.”

Segundo seu próprio texto, o repórter do Guardian, Luke Harding, não questionou estas afirmações, nem mencionou o massacre de Odessa, os ataques do regime, por ar e canhões, contra áreas residenciais, a execução e sequestro de jornalistas, a explosão de um jornal de oposição e a ameaça de Poroshenko de “livrar a Ucrânia da sujeira e dos parasitas”. Os inimigos são os “rebeldes”, “militantes”, “isurgentes”, “terroristas” e lacaios do Kremlin. A história evoca os fantasmas do Vietnã, Chile, Timor Leste, África do Sul, Iraque; observe os mesmos rótulos. A Palestina é o sinal mais claro dessa manipulação imutável. Em 11 de julho, na sequência de mais um massacre israelense em Gaza, praticado com equipamento americano, em Gaza – 80 pessoas, incluindo seis crianças em uma família foram mortas –, um general israelense encreveu, no Guardian, um texto intitulado: “Uma demonstração de força necessária”.

Na década de 70, conheci Leni Riefenstahl e perguntei a ela a respeito dos seus filmes que glorificavam os nazistas. Usando técnicas revolucionárias de luz e câmera, ela produziu um documentário que hipnotizou os alemães; era o seu “O Triunfo da Vontade” que, como se sabe, lançou o feitiço de Hitler. Perguntei a ela sobre a propaganda nas sociedades que se consideram superiores. Ela respondeu que as “mensagens” nos seus filmes eram dependentes não das “ordens de cima”, mas de um “vazio submisso” na população alemã. “Isso inclui a burguesia liberal e educada?” perguntei. “Todos,” ela respondeu, “e, é claro, a intelligentsia”.

domingo, 28 de setembro de 2014

El calentamiento global y la guerra: dos crisis mundiales íntimamente ligadas

Amy Goodman
Democracy Now!

Algunas horas después de que 400.000 personas participaran en la mayor marcha por el clima de la historia, Estados Unidos comenzó a bombardear Siria y así inició otra guerra. El Pentágono afirma que los objetivos eran instalaciones militares del Estado Islámico en Siria e Irak, además de un nuevo grupo terrorista, Khorasan. El Presidente Barack Obama está iniciando una nueva guerra, mientras no hace nada para combatir el cambio climático, que empeora cada día. El mundo atraviesa dos crisis que están íntimamente ligadas: el calentamiento global y las guerras. Existen soluciones a ambos problemas, pero lanzar bombas no es una de ellas.

“En las guerras de hoy, mueren muchos más civiles que soldados; se siembran las semillas de conflictos futuros, las economías se destruyen; las sociedades civiles se parten en pedazos, se acumulan refugiados y los niños quedan marcados de por vida.” Este fue parte del discurso pronunciado en diciembre de 2009 por el Premio Nobel de la Paz de ese año, el Presidente Barack Obama. Cinco años más tarde, sus declaraciones se parecen a las noticias que recibimos a diario. El grupo pacifista Pink Code está exhortando al Presidente Obama a que devuelva el Premio Nobel.

En el mismo discurso, Obama afirmó: “El mundo debe unirse para hacerle frente al cambio climático. Hay pocos científicos que no estén de acuerdo en que si no hacemos algo, enfrentaremos más sequías, hambruna y desplazamientos masivos que alimentarán más conflictos durante décadas”. Obama también sostuvo: “Por este motivo, no son sólo los científicos y activistas los que proponen medidas prontas y enérgicas; también lo hacen los líderes militares de mi país y otros que comprenden que nuestra seguridad común está en juego”.

De hecho, el Pentágono considera desde hace tiempo que el cambio climático es una gran amenaza a la seguridad nacional de Estados Unidos. En su Examen Cuatrienal de Defensa de 2014, el Pentágono observó que los diversos efectos del cambio climático “empeorarán otros problemas en el extranjero como la pobreza, la degradación ambiental, la inestabilidad política y las tensiones sociales. Estas condiciones pueden dar lugar a la actividad terrorista y a otras formas de violencia”.

Entonces, cabe preguntarse: ¿por qué no abordar la amenaza del cambio climático cuando aún estamos a tiempo? Asad Rehman de la federación ambientalista Amigos de la Tierra Internacional, quien viajó a Nueva York para participar en la Marcha por el clima, me dijo: “Si podemos conseguir los billones [de dólares] que conseguimos para financiar conflictos, ya sea que se trate de una invasión en Irak o Afganistán o ahora para el conflicto en Siria, estoy seguro de que podemos conseguir los fondos necesarios para lograr la transformación que se requiere hacer para brindar energía limpia y renovable a las 1.200 millones de personas que carecen de ella”.

Asad Rehman es un firme opositor del enorme gasto militar. Durante años fue activista contra la guerra y considera que hay un fuerte vínculo entre la guerra y el calentamiento global. “El petróleo ha sido una maldición para la gente de Medio Oriente, ha sido un presagio de los conflictos y de la violencia; de la destrucción de civilizaciones antiguas y de las vidas de millones de personas”.

Medea Benjamin, cofundadora de Code Pink, coincide con Rehman. Benjamin participó en la histórica Marcha por el clima y se sumó a otros miles de manifestantes al día siguiente para participar en la acción “Inundemos Wall Street” (Flood Wall Street), en la que 100 personas fueron arrestadas. Antes de ir a la Casa Blanca a protestar contra el bombardeo en Siria, Medea me dijo: “El petróleo es la base de la política exterior de Estados Unidos en Medio Oriente. Si no fuera por el petróleo de Irak, Estados Unidos nunca hubiera invadido ese país”.

El martes, más de cien líderes mundiales, junto con representantes del sector industrial, participaron en una cumbre no vinculante sobre el clima. La cumbre fue convocada por el Secretario General de las Naciones Unidas, Ban Ki-moon, con la esperanza de que daría el impulso necesario para las negociaciones formales sobre el cambio climático que procuran lograr un compromiso vinculante de los países del mundo para reducir drásticamente las emisiones de gases de efecto invernadero y limitar el aumento mundial de la temperatura a 2 grados Celsius. Se considera que un aumento de la temperatura de 2 grados es el límite máximo de aumento que el planeta, tal como lo conocemos, puede soportar.

Mientras las negociaciones sobre el clima no tienen mucho éxito ni atención mediática, el ataque del Presidente Obama contra el Estado Islámico y otros grupos considerados amenazas terroristas dominó la sesión de la Asamblea General de la ONU y fue el tema principal de una sesión especial del Consejo de Seguridad presidida por Obama. Al reflexionar sobre el futuro del movimiento mundial para combatir el cambio climático, Asad Rehman dijo: “Creo que los que participaron en la manifestación sin duda salieron de allí con más entusiasmo y con una mayor convicción de que el poder está en nuestras manos y no en ese edificio en Nueva York, no en la cumbre de la ONU”.

Antes de la invasión de Irak en 2003, el General estadounidense Anthony Zinni estimó que solo se podría tener éxito si se enviaba una fuerza de 400.000 soldados. Donald Rumsfeld envío menos de la mitad de soldados y bromeó al respecto: “Se va a la guerra con el ejército que se tiene, no con el ejército que se quisiera tener”. Fueron 400.000 las personas que asistieron a la marcha por el clima el domingo en Nueva York…un ejército de esperanza para un futuro sustentable.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

América Latina y el Caribe se hallan en una encrucijada climática

Susan McDade
PNUD

Los gobernantes que se reunirán a partir de hoy día 23 en la Cumbre sobre el Clima, en el marco de la Asamblea General de la Organización de las Naciones Unidas (ONU), se verán frente a una oportunidad única para movilizar voluntades políticas y propiciar soluciones al cambio climático. También tendrán que atender otro desafío relacionado, como mejorar el acceso a la energía sostenible, un instrumento clave para garantizar y obtener logros en materia social, económica y ambiental.

Eso es más importante que nunca para América Latina y el Caribe. Esta región es responsable de una relativamente baja proporción de los gases de efecto invernadero emitidos a la atmósfera, 12 por ciento según cifras de la ONU. Pero, en contrapartida, será una de las más severamente afectadas por el aumento de la temperatura global, señala el Informe del Banco Mundial.

En el Caribe, en particular, la fuerte dependencia de los combustibles fósiles importados atenta contra la estabilidad de la balanza de pagos y aumenta la vulnerabilidad de ecosistemas clave que sostienen importantes sectores productivos, como el turismo. Además, la región afronta nuevos desafíos. La demanda de energía podría duplicarse para 2030, al tiempo que aumenta el ingreso por habitante y los países se industrializan y se urbanizan. La matriz energética es limpia, con 60 por ciento de la electricidad generada a partir de fuentes hidroeléctricas. Sin embargo, la participación de los combustibles fósiles aumentó sustancialmente en los últimos 10 años, principalmente por el gas natural.

Es hora de que los gobiernos y el sector privado inviertan en alternativas de energía sostenible, no solo para incentivar el crecimiento mientras se reducen los gases contaminantes, sino también para asegurar el acceso a fuentes limpias para las alrededor de 24 millones de personas que siguen a oscuras. Es importante señalar que 68 millones de latinoamericanos siguen usando leña para cocinar, lo que genera problemas de salud graves, en especial a mujeres, niñas y niños pequeños, lo que arraiga los ciclos de pobreza y contribuye a la degradación ambiental y la deforestación.

Las ciudades también deben estar en el centro de la solución. Esto es particularmente importante en América Latina y el Caribe, que es la región en desarrollo más urbanizada del planeta. La urbanización trepó de 68 por ciento, en 1980, a 80 por ciento, en 2012. Para 2050, se prevé que 90 por ciento de la población viva en las ciudades. Esto plantea una serie de desafíos diferentes, en especial en relación al transporte y a los servicios públicos.

La cuestión es si la región explotará su vasto potencial en materia de recursos renovables para cubrir la demanda o se volcará a los combustibles fósiles. En este contexto, las políticas energéticas que se concentran no solo en el crecimiento económico, sino también en los beneficios sociales y ambientales a largo plazo serán esenciales para construir el futuro. Por lo tanto, además de disminuir las emisiones de CO2 (dióxido de carbono), la región debe favorecer las alternativas renovables. ¿Por qué? Porque América Latina y el Caribe es una “superpotencia de la biodiversidad”, como se llama un informe del Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD).

Por un lado, el vasto capital natural puede verse seriamente afectado por el cambio climático. La variabilidad climática también desestabiliza a los sistemas agrícolas y a la producción de alimentos, que son clave para incentivar el crecimiento económico en la región. Pero por otro lado, si se maneja con cuidado, puede, de hecho, ayudar en la adaptación al cambio climático y aumentar la resiliencia. Además, en la mayoría de los países, la abundancia de recursos renovables crea una oportunidad para aumentar la dependencia en las fuentes domésticas de energía, en vez de depender del gas y el petróleo importados, disminuyendo así la vulnerabilidad a las crisis cambiarias relacionadas con los cambios de precio en los mercados mundiales.

En este contexto, los países ya comenzaron a promover políticas innovadoras. Varios países de la región producen biocombustibles de forma sostenible. Un ejemplo es el programa de Brasil para producir etanol para automóviles que se considera uno de los más efectivos del mundo. Invertir en el acceso a la energía es una acción transformadora, pues se iluminan escuelas, funcionan los centros de salud y las bombas de agua y saneamiento, se obtiene un aire más limpio y se acelera el procesamiento de alimentos, además de crear más oportunidades para generar ingresos. También significa liberar a las mujeres y a las niñas de tareas que insumen mucho tiempo, como buscar agua, golpear granos y acarrear agua, dejándoles tiempo para su educación y realizar trabajos remunerados.

El PNUD trabaja con países de América Latina y el Caribe para mejorar el acceso a la energía sostenible y disminuir la dependencia en los combustibles fósiles. En Nicaragua, por ejemplo, casi 50.000 personas de ocho comunidades rurales recibieron electricidad tras la inauguración de un nuevo microsistema de energía hidráulica de 300 kilovatios, en 2012. La iniciativa se logró mediante la asociación de autoridades locales y nacionales, el PNUD y los gobiernos de Suiza y Noruega, y mejoró la vida de la población y transformó el sector energético. Además de promover una nueva ley para incentivar la generación eléctrica a partir de fuentes renovables, aparecieron microempresas y se crearon puestos de trabajo, tanto para hombres como para mujeres.

El acceso universal a servicios modernos de energía se puede lograr para 2030, y América Latina y el Caribe están avanzando en esa dirección. Esto alentará el desarrollo y transformará la vida de las personas. En una comunidad nicaragüense que ya no está a oscuras, Maribel Ubeda, con tres hijos, contó que ellos son los que más se benefician de la electricidad recién adquirida. “Ahora tienen Internet y descubren el mundo más allá de nuestra comunidad”, afirmó.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Estados Unidos se encamina a un choque

Immanuel Wallerstein
La Jornada

El presidente Barack Obama le ha dicho a Estados Unidos, y en particular a su Congreso, que debe hacer algo muy importante en Medio Oriente para detener el desastre. El análisis del supuesto problema es turbio en extremo, pero los tambores patrióticos comienzan a subir el tono y casi todo mundo, por el momento, sigue el juego. Una cabeza más tranquila diría que se están agitando desesperados por una situación de la que Estados Unidos es el mayor responsable de haberla creado. No saben qué hacer, así que actúan con pánico.

La explicación es simple. Estados Unidos se encuentra en seria decadencia. Todo les está yendo mal. Y en el pánico, son como el conductor de un poderoso automóvil que ha perdido el control y no sabe cómo disminuir la velocidad. Así que acelera y se encamina hacia un choque importante. El carro gira en todas direcciones y patina. Es autodestructivo para el conductor, pero el choque también puede acarrearle un desastre al resto del mundo.

Mucha atención le dedican a lo que Obama hace y a lo que no ha hecho. Aun sus defensores más cercanos parecen dudar de él. Un comentarista australiano en el Financial Times, lo resumió en una frase: "En 2014 el mundo repentinamente se hartó de Barack Obama". Me pregunto si Obama no se ha cansado de Obama. Pero es un error echarle la culpa sólo a él. Virtualmente nadie entre los líderes estadunidenses ha propuesto alternativas que sean más sensatas. Muy por el contrario. Están los instigadores de la guerra, que quisieran bombardear a todos de inmediato. Están los políticos que en realidad piensan que hará una gran diferencia quien gane en las siguientes elecciones en Estados Unidos.

Una rara voz de salud mental proviene de una entrevista (aparecida en el New York Times) con Daniel Benjamim, quien ha sido el principal asesor de antiterrorismo del Departamento de Estado estadunidense durante el primer periodo presidencial de Obama. Él llamó farsa a la llamada amenaza de ISIS, cuando miembros del gabinete y otros oficiales militares de alto rango describen la amenaza en términos espeluznantes que no se justifican. Y afirma que lo que han estado diciendo no tiene ninguna evidencia corroborada y justo demuestra lo fácil que es para los funcionarios y los medios acelerar al público hacia un pánico. Pero, ¿quién le hace caso al señor Benjamin?

Por el momento, y con la ayuda de horripilantes fotos que muestran la decapitación de dos periodistas estadunidenses a manos del Califato, las encuestas muestran enorme respaldo en Estados Unidos para una acción militar. Pero, ¿qué tanto va a durar esto? El respaldo está ahí mientras parezca haber resultados concretos. Aun el jefe del Estado Mayor Conjunto, Martin Dempsey, al proponer una acción militar dice que llevará por lo menos tres años. Multipliquen esto por cinco y se podría acercar a cuánto va a durar. Y el público estadunidense con toda seguridad se desencantará pronto.

Al momento, lo que Obama propone es bombardear algo en Siria, no el envío de tropas "en el terreno", sino el incremento de tropas especiales (hasta ahora 2 mil) como entrenadores en Irak (y es probable que en otras partes). Cuando Obama contendía por la presidencia en 2008, hizo muchas promesas –como es normal que hagan los políticos–, pero su promesa firmada fue salir de Irak, y de Afganistán. Y esto no lo va a cumplir, De hecho está metiendo a Estados Unidos en más países.

La coalición de Obama va ofrecer entrenamiento a aquellos que define como "los buenos". Y parece ser que este entrenamiento ocurrirá en Arabia Saudita. Bien por Arabia Saudita. Pueden examinar a todos los que van a entrenarse y decidir en quienes confiar y en quienes no se puede confiar. Esto hace posible que el régimen saudita (por lo menos tan confundido como el régimen de Estados Unidos) parezca estar haciendo algo, y les permite sobrevivir un poco más.

Hay formas de apisonar este escenario catastrófico. No obstante implican la decisión de hacer el viraje de la guerra a los tratos políticos entre toda suerte de grupos que no se quieren entre sí y que no confían unos en otros. Tales arreglos políticos no son desconocidos, pero son difíciles de llevar a cabo, y cuando se acaban de pactar son frágiles, hasta que se solidifican. Un elemento principal en los tratos que están en proceso en Medio Oriente es menos involucramiento de Estados Unidos, no más. Nadie confía en Estados Unidos, pese a que momentáneamente invoquen la asistencia estadunidense para esto o para aquello.

El New York Times apuntó que, en la reunión donde Obama acordó impulsar su nueva coalición, el respaldo de los países de Medio Oriente presentes fue "tibio" y "renuente" debido a que existe "una creciente desconfianza hacia Estados Unidos de todas partes". Así que, aunque siguen el juego, de algún modo limitado, nadie va a mostrarle gratitud a ninguna asistencia estadunidense. El fondo del asunto es que los pueblos de Medio Oriente quieren manejar su propio espectáculo, no cumplir la visión estadunidense de lo que se dice que es bueno para ellos.

domingo, 14 de setembro de 2014

La marcha por el clima no se detiene

Amy Goodman y Denis Moynihan
Democracy Now!

“Existen leyes injustas”, escribió Henry David Thoreau en su ensayo de 1849 titulado “Del deber de la desobediencia civil”. Thoreau, un pacifista y naturalista, se preguntaba en su obra: “¿Nos contentaremos con obedecerlas, trataremos de enmendarlas y las obedecemos hasta que lo hayamos conseguido o las transgrediremos desde un comienzo?”. Su respuesta fue simple: “Transgredan la ley”.

Eso es precisamente lo que hicieron Ken Ward Jr. y Jay O’Hara 164 años más tarde, el 15 de mayo de 2013. Navegaron en un pequeño barco pesquero llamado “Henry David T.” hasta un lugar de la costa de Massachusetts, cerca de la planta Brayton Point, una enorme central eléctrica de carbón construida en 1963 que es la mayor fuente de emisiones de carbono de la región. Anclaron allí y bloquearon el acceso al muelle, impidiendo que un buque descargara 40.000 toneladas de carbón. Colgaron carteles en el bote con la leyenda “El carbón es absurdo” y “350”, en referencia al grupo internacional de acción por el clima 350.org. Su nombre alude al nivel de concentración de dióxido de carbono en la atmósfera, 350 partes por millón (ppm), que los científicos consideran es el máximo aceptable para evitar que el cambio climático provocado por el hombre se convierta en catastrófico. Ward y O’Hara lograron impedir la descarga de carbón. Desde el bote llamaron a la policía local y más tarde fueron arrestados por la Guardia Costera de Estados Unidos.

O’Hara, un velero cuáquero de Cabo Cod, explicó: “Nos acusaron de cuatro delitos: de alterar el orden, de conspirar para alterar el orden, de manejo negligente de un buque a motor y de no haber impedido la colisión de un bote”. Por todo ello afrontaban una posible pena de varios años de prisión. Invocaron la “defensa por necesidad” al reconocer que incumplieron la ley, argumentando que lo hicieron para evitar un mal peor, es decir, la quema de carbón que aumenta el calentamiento global. El lunes 8 de septiembre, finalmente comparecieron ante el tribunal. El Fiscal de Distrito del Condado de Bristol, Sam Sutter, les ofreció un acuerdo: retirar los cargos penales en su contra a cambio de que se declararan culpables de un delito civil y fueran condenados al pago de una multa. Pero el fiscal Sutter fue incluso más lejos, bastante más lejos: cruzó la plaza que está frente al tribunal y pronunció un breve discurso que sorprendió a los dos acusados y a las alrededor de cien personas que estaban allí apoyándolos:

“La decisión que adoptamos Robert Kidd, el vicefiscal de Distrito a cargo del caso, y yo, fue una decisión que sin duda tuvo en cuenta el costo para los contribuyentes de Somerset, pero fue adoptada pensando en sus hijos, en los niños del Condado de Bristol y en los demás niños. El cambio climático es una de las peores crisis que nuestro planeta ha enfrentado en toda su historia. En mi humilde opinión, los líderes políticos no han hecho lo suficiente al respecto. Me llena de esperanza que hayamos logrado forjar un acuerdo que complace a ambas partes y que parece satisfacer a la policía y a las personas que están aquí para apoyar a los acusados. Además, me complace enormemente que hayamos alcanzado un acuerdo que simboliza el compromiso de la Oficina del Fiscal de Distrito del Condado de Bristol de asumir un papel de liderazgo con respecto a este tema”.

La increíble muestra de liderazgo político del fiscal de distrito Sam Sutter sin duda llega en un buen momento. Esta semana, la Organización Meteorológica Mundial ( OMM ) publicó su último boletín sobre los gases de efecto invernadero, en el que da a conocer estadísticas preocupantes acerca de la aceleración del cambio climático. “La cantidad de gases de efecto invernadero en la atmósfera alcanzó un nuevo récord en 2013”, informó la Organización Meteorológica Mundial. La concentración actual de dióxido de carbono es de 396 partes por millón. La OMM también advirtió que “El índice actual de acidificación de los océanos parece no tener precedentes, al menos en los últimos 300 millones de años”. El otro acusado de la acción frente a la planta Brayton Point, Ken Ward, ex director ejecutivo de Greenpeace Estados Unidos, señaló la urgencia con la que considera el cambio climático: “Este verano aprendimos que la capa de hielo de la Antártida occidental se está derrumbando de forma inevitable, lo que significa tres metros por encima del nivel del mar. Eso, para mí es realmente todo lo que necesitaba saber. Es decir, es un acontecimiento simbólico. De ahora en más, todo empeorará. Deberíamos estar adoptando medidas de emergencia en todas partes y la primera medida de emergencia es dejar de utilizar carbón”.

Henry David Thoreau es sobre todo conocido por su libro “Walden”, en el que describe el año que vivió en una cabaña que construyó en Walden Pond, cerca de Concord, Massachusetts. Thoreau se opuso a la invasión de Estados Unidos en México en 1847 y era un firme opositor de la esclavitud. Para protestar contra estas políticas violentas, decidió que no pagaría los impuestos. Cuando lo enviaron a prisión por ello, recibió una visita de su amigo, el poeta Ralph Waldo Emerson. Según cuenta la historia, Emerson le preguntó: “Henry, ¿qué estás haciendo aquí dentro?”, a lo que Thoreau respondió: “Waldo, ¿qué estás haciendo tú allí afuera?”. El ensayo de Thoreau sobre la desobediencia civil fue una de las primeras expresiones modernas de la táctica no violenta de la no cooperación. Sus palabras y sus acciones inspiraron a millones de personas, entre ellas a Gandhi y a Martin Luther King Jr.

El domingo 21 de septiembre se realizará en la ciudad de Nueva York la Marcha de los Pueblos por el Clima. Los organizadores prevén que será la mayor marcha por el clima en la historia. Su eslogan es: “Para cambiarlo todo, necesitamos de todos”. Sam Sutter dijo que participará, al igual que los dos activistas a los que condenó. Les pregunté al fiscal de distrito y a los acusados si marcharán juntos. Sonrieron. El fiscal Sutter respondió: “¿Por qué no? Me pueden llamar. Les daré mi número de celular”. Jay O’Hara coincidió: “Es una buena idea”.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

William Morris: Lo bueno, lo útil y lo bello

Paulo de Santis
Araucaria

Como suele ocurrir con muchos de los pioneros ilustres de la historia, William Morris transmite la extraña sensación de haber nacido en un tiempo equivocado, en una época poco propicia para sus intereses. Sin embargo, en el caso de este escritor, pensador, poeta, diseñador y pintor británico parece más indicado verlo como un digno hijo de su tiempo, díscolo, sí, pero hijo al fin. Morris fue un testigo de la Inglaterra victoriana, la segunda revolución industrial y el surgimiento de las grandes urbes modernas. En ese contexto de cambios feroces y avasallantes él proponía transitar otro sendero, un camino cimentado en el pasado. A los males del capitalismo desaforado anteponía las artes, oficios y espíritu del Medioevo. Proponía recuperar el valor del trabajo reemplazando al operario por el artesano, a la producción en serie por una versión actualizada del taller medieval. Buscaba una revolución que era tanto social como estética, porque en el corpus morrisiano, la belleza es revulsiva.

Como nos recuerda el ya clásico Nikolaus Pevsner, fue uno de lo primeros en cuestionar la idea de alta cultura: proponía quitarle el monopolio del arte a los sectores dominantes y forjar un mundo donde todos pudiesen gozar del disfrute estético. Influenciado por Fourier y otros socialistas utópicos, Morris buscó con empeño diseñar una sociedad perfecta, un mundo donde hasta el más insignificante de los detalles representara la comunión de tres conceptos que, para él, constituyen una trinidad sagrada: lo bueno, lo útil y lo bello. Tres palabras que dichas de corrido se convierten en un mantra, en una frase hipnótica. Aunque sin duda es el título perfecto para una obra de Morris, él nunca lo usó. Sin embargo, luego de incontables años, al otro lado del mundo, en Argentina, para ser más precisos, a dos editores se les ocurrió bautizar “Lo bueno, lo útil y lo bello” al libro que reúne textos de Morris, algunos nunca traducidos al castellano. En virtud de la naturaleza del volumen del que hablamos, no es posible pensar un título más adecuado, más efectivo a la hora de hacer justicia con el legado de un hombre que de tan inclasificable quedó relegado a la periferia de la historia de las ideas.

“Lo bueno, lo útil y lo bello” está dividido en tres segmentos temáticos: Nosotros, Ellos y Él. La primera parte consiste en un único texto bautizado “Prólogo: Morris o el hombre útil”, que es responsabilidad de los editores: Tomás García Lavín y Andrea Ferrari. Los autores realizan una breve biografía personal e intelectual de Morris, y brindan una nutrida serie de referencias históricas que ayudan a contextualizar su obra y dimensionar la influencia de su trabajo. A su vez, se permiten esbozar diversas líneas de análisis, que, aunque no desarrollan de forma exhaustiva (son temas cuyo tratamiento, por cuestiones de extensión, excede por mucho los límites de un prólogo), ayudarán al lector a sacar un mejor provecho de las obras de Morris en general.

La segunda sección, Ellos, comienza con una cálida semblanza de Morris escrita por el crítico británico George Hollbrook Jackson, un artículo que complementa las ideas expuestas en la primera parte y ayuda a construir una imagen más acabada del pensamiento morrisiano. Pero el plato fuerte de este segmento es “William Morris y su escuela”, un punzante y crítico perfil del fundador del movimiento Arts & Crafts escrito por G. K. Chesterton. El autor de El candor del padre Brown y El hombre que fue jueves se dedica a demoler a fuerza de sarcasmo e ironía los postulados de Morris. Pero, a pesar del aluvión de golpes, no hay rastros de verdadera saña en el ataque, sino que se intuye cierto cariño sincero por su compatriota. Polemista eficaz, Chesterton no puede evitar castigar a Morris y remarcar las incongruencias de su pensamiento y cierta tendencia al sentimentalismo, sin embargo, con la misma energía rescata sus virtudes y lo digno de su causa. Al final de su ensayo, luego de exponer su vendaval de críticas, Chesterton señala que alguna vez Morris será recordado como un “poeta de la niñez de las Naciones, artesano de las nuevas rectitudes del arte, profeta de una vida más sabia”.

El tercer apartado, Él, está enteramente dedicado a los textos de Morris. Es una selección heterogénea, que comienza con el prólogo que escribió al ensayo La naturaleza del gótico, de John Ruskin, su maestro y figura inspiradora de los prerrafaelistas. Luego es el turno de uno de los pasajes más ricos de libro, “Los propósitos del arte”, un texto en el que Morris expone los conceptos que estructuran su pensamiento. Quizás, uno de los puntos más reveladores de este escrito sea que la forma en que Morris articula ética, estética y producción de bienes, lo convierte prácticamente en un precursor de lo que hoy en día llamamos producción y consumo responsable. “Discurso sobre una muestra de la Escuela Prerrafaelista Inglesa”, el tercer artículo, es una suerte de racconto de la historia del movimiento artístico que el autor encabezó junto a John Everett Millais, Dante Gabriele Rossetti, William Hollman Hunt, una “hermandad” –ellos mismos utilizaban este término- que se propuso recuperar el espíritu artístico anterior al Renacimiento y la profesionalización de los artistas. El texto que le sigue, “Porqué celebramos la Comuna de París”, pone en evidencia al Morris más político, al militante socialista que reflexiona sobre la revuelta ocurrida en 1871 y los sacrificios que supone la causa revolucionaria. El mismo espíritu de lucha, pero con un tono más relajado, está presente en el último artículo, “Sobre tontos y patos”, una verdadera rareza, donde Morris hace una analogía entre la situación de los trabajadores y la explotación a la que es sometido el pato de flojel en Islandia, al que año a año los hombres despojan de sus plumas y se ve obligado a sobrevivir en el helado clima de las tierras del norte.

El libro cierra con una selección de citas del autor: frases extraídas de discursos, libros y artículos, que versan sobre los temas más diversos, y, por lo tanto, permiten ilustrar, más no sea superficialmente, las muchas facetas de Morris.

Por último, vale destacar que Lo bueno, lo útil y lo bello es además un libro de exquisita factura ya que fue realizado de forma totalmente artesanal, seguramente con el deseo de emular aquella editorial que, según Holbrook Jackson, fuese el último gran entusiasmo de Morris hacia el ocaso de su vida: la Kelmscott Press. Del mismo modo, la edición de Mochuelo Libros –que está confeccionada a mano, forrada en tela de encuadernación, y cuya tirada es limitada- busca reflejar aquellos ideales morriseanos regidos por la idea de Belleza como un elemento transformador; demostrando que tanto la forma como el contenido, sobre todo en tiempos de extrema industrialización, hacen a la obra de arte.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Con Allende en la Memoria...


Seguramente ésta es la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Portales y Radio Corporación.
Mis palabras no tienen amargura, sino decepción, y serán ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron... soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino que se ha autodesignado, más el señor Mendoza, general rastrero, que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al gobierno, también se ha nominado Director General de Carabineros.
Ante estos hechos, sólo me cabe decirle a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar! Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que entregáramos a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente.
Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen... ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.
Trabajadores de mi patria: Quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley y así lo hizo.
En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes, quiero que aprovechen la lección. El capital foráneo, el imperialismo, unido a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara Schneider y que reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas, esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.
Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros; a la obrera que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños.
Me dirijo a los profesionales de la patria, a los profesionales patriotas, a los que hace días estuvieron trabajando contra la sedición auspiciada por los Colegios profesionales, colegios de clase para defender también las ventajas que una sociedad capitalista da a unos pocos.
Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron, entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos... porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando la línea férrea, destruyendo los oleoductos y los gaseoductos, frente al silencio de los que tenían la obligación de proceder: estaban comprometidos. La historia los juzgará.
Seguramente Radio Magallanes será callada y el metal tranquilo de mi voz no llegará a ustedes. No importa, lo seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos, mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal a la lealtad de los trabajadores.
El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.
Trabajadores de mi patria: tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo, donde la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor.
¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!
Éstas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, habrá una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

El letal juego del gato y el ratón

Robert Fisk
The Independent

De Alepo a Gaza se están cavando túneles. En Alepo, el ejército sirio encontró los túneles de sus enemigos islamitas. En Homs, incluso, se encontraron túneles en sentidos opuestos, que se agregaban a los construidos originalmente.

En Gaza, los israelíes han hecho estallar los trabajos subterráneos de los palestinos, pero una visita al gran jeque Najjar, en la zona industrial al noreste de Alepo, donde el Estado Islámico de Al Nusra combate al gobierno de Assad desde hace más de un año, constata que la guerra subterránea está en la sangre de las fuerzas islamitas. Decenas de kilómetros de túneles que se cruzan en diversos puntos son ahora una fortaleza al sur de la frontera turca. En algunos casos, estas vías subterráneas son lo suficientemente anchas como para que circulen por ahí vehículos.

En la vieja ciudad de Homs, que ha soportado meses sitiada por el ejército sirio, grupos musulmanes sunitas utilizaron taladros de minería para penetrar la roca del subsuelo, lo que arruinó varias manzanas de edificios de departamentos. Los túneles de Gaza han sido construidos y reconstruidos una y otra vez bajo el sitio de Israel. Por dentro tienen rieles y paredes de concreto reforzado; están diseñados para transportar alimentos y armas desde el enclave palestino o lanzar ataques contra Israel.

Esto no es nada nuevo, claro. El primer ministro israelí, Benjamin Netanyahu, los llama “túneles del terror”. Estas edificaciones siempre han sido intimidantes. Los romanos quedaron estupefactos al ver los túneles construidos por los judíos durante las grandes revueltas de Judea y Samaria. Durante la Primera Guerra Mundial, británicos y alemanes edificaron túneles que iban y venían bajo sus campos de batalla.

Es como si las enormes minas que fueron destruidas por los ingleses en la batalla de Messines, Bélgica, en 1917, se hubieran repetido en miniatura en Alepo durante el año pasado, cuando el frente Al Nusra y otros grupos islamitas cavaron debajo de las posiciones de ataque del gobierno sirio e hicieron volar por los aires las oficinas militares de la ciudad. Según los funcionarios sirios, se trató de una mina que colapsó y estaba ahí, debajo de la mezquita de Omayad, desde el siglo XIII. Según ellos, fue la vibración de un temblor lo que hizo que se viniera abajo uno de los minaretes del templo el año pasado.

Civiles que trabajan con el frente del ejército de Alepo han estado cavando zanjas frente a los milicianos del gobierno para evitar que la construcción de túneles socave sus casas. En vano, las milicias en los suburbios de Damasco intentan cavar túneles propios. Durante años cientos de túneles en Gaza han unido Egipto con la franja territorial de 365 kilómetros cuadrados, habitada por 1.8 millones de palestinos bajo asedio.

Esas edificaciones subterráneas han sido los vasos capilares que dan vida tanto a civiles como a combatientes. Autos, animales de granja, camas, enseres del hogar y alimentos, al igual que cohetes y municiones, han pasado por estas rutas de tránsito, que con frecuencia se construyen profesionalmente y son constantemente bombardeadas por los israelíes y, más recientemente, inundadas por el ejército egipcio.

Hamas cobra millones de dólares en impuestos gracias a ellos, lo cual es otra razón para que Israel quiera destruirlos. No está claro por qué le tomó tanto tiempo a las fuerzas militares musulmanas recurrir a los túneles. En Tora Bora, Afganistán, Al Qaeda cavó túneles que se extendían hasta 24 kilómetros por debajo de las montañas en las afueras de Jalalabad, y el éxito de los soldados de Osama Bin Laden para eludir a los rusos, y más tarde a sus enemigos estadunidenses, bien pudieron inspirar los túneles en Siria y Gaza.

La vasta red de trincheras subterráneas construidas por las Guardias Revolucionarias y el ejército iraníes durante la guerra contra Irak, de 1980 a 1988, así como los campos de batalla durante la guerra entre 1914 y 1918, también pudo haber influenciado a las guerrillas musulmanas de Medio Oriente.

Los túneles que los israelíes han descubierto, que se extienden bajo su tierra y frontera con Gaza, parecen haber sido edificados con muros curvos de concreto notablemente similares a los que construyeron los iraníes durante su guerra contra Saddam Hussein. Las mismas características que encontró el ejército sirio durante su batalla contra los islamitas.

En Homs, los pasadizos subterráneos fueron cavados a través de roca sólida y quienes los edificaron escribieron sus nombres y la fecha en que se terminó la obra en cada entrada. La excavación se planeó cuidadosamente para evitar daños a las tuberías de gas y agua. En el noreste de Alepo, los túneles, en este caso construidos por Al Qaeda, estaban conectados por kilómetros de profundas trincheras cubiertas de hierro y costales de arena, como si se intentara replicar los frentes de batalla de la guerra entre Irán e Irak.

Un oficial palestino en Beirut, quien recuerda las armas y los cohetes improvisados que se almacenaban bajo la ciudad en el sitio israelí de 1982, cree que la introducción de drones (naves no piloteadas) que Estados Unidos usó en Afganistán e Irak, que Israel está usando en Gaza, es lo que ha llevado a los combatientes a luchar desde el subsuelo. “Los ejércitos convencionales prefieren la luz del día, las guerrillas se ocultan en la oscuridad. Cuando llegaron los drones con visión nocturna nos tuvimos que ir bajo tierra”, señala.

En Homs, las fuerzas de Assad también usaron drones. Durante los últimos dos años el Hezbollah libanés, que es respaldado por Irán y lucha al lado de Assad, lanzó sus drones sobre Israel y los usó para sacar fotografías de las comunicaciones subterráneas de Israel afuera del centro de Haifa. Esa maquinaria fue construida en Irán, que ha capturado los drones estadunidenses que cayeron –o fueron derribados– sobre territorio iraní.

Por lo visto, entre más poderoso se vuelve el ojo en el cielo más túneles se cavan. Si, como dice el mantra de las fuerzas armadas estadunidenses, la guerra de guerrillas es “asimétrica”, todo indica que además se está volviendo tridimensional.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Colombia: ¿Tercera Vía o Tercer Mundo?

James A. Robinson
El Espectador


Luego de ganar su reelección, el presidente de Colombia, Juan Manuel Santos, viajó a Cartagena para reunirse con Bill Clinton y Tony Blair, promotores de la “Tercera Vía”. Esta filosofía, con raíces en el trabajo del sociólogo británico Anthony Giddens, propone una nueva manera de pensar las políticas públicas: ni la tradicional de la socialdemocracia europea con sus grandes Estados benefactores y su hostilidad hacia los mercados, ni la reverencia neoliberal a los mercados que demostró su inefectividad para impulsar el crecimiento económico en América Latina durante los años noventa.

A cambio, la Tercera Vía promete lo mejor de ambos mundos, los beneficios económicos de los mercados junto a la seguridad social de la socialdemocracia. ¿Podría esta Tercera Vía ser el sello distintivo del segundo gobierno de Santos? Después de todo, Colombia está negociando para ser parte de la OCDE y ha sido incluido en los CIVETS, grupo de las nuevas economías emergentes. Tal vez este es un momento clave para pensar de manera profunda y seria ¿cuál es el tipo de sociedad que Colombia quiere llegar a ser? ¿Debe escoger la Tercera Vía?

Para observar lo que la Tercera Vía implicaría en Colombia y cómo podría implementarse en la práctica, es interesante trasladarse a Las Bocas de Curay, una vereda de unas 1.300 personas en el municipio de Tumaco, departamento de Nariño. Las Bocas de Curay no está aislado por las montañas o la jungla; de hecho, se encuentra a apenas una media hora de viaje en lancha del segundo mayor puerto en la costa Pacífica, cruzando la Bahía de Tumaco. Y sin embargo, no tiene acueducto ni alcantarillado. Existe un centro de salud, pero estaba cerrado cuando estuve allí, la gente decía que quienes lo manejan viven en Tumaco, y son nombramientos políticos, por eso rara vez se aparecen. Existe un generador de energía eléctrica y dicen que al parecer fue proveído por una senadora, pero solamente funciona entre cuatro y cinco horas al día porque del combustible que deberían obtener del gobierno sólo les llega una parte. La vereda está a merced del mar. Hace siete años, las mareas altas comenzaron a llevarse el pueblo, las casas y la Iglesia, y en 2010 una marejada destruyó la escuela primaria, que no ha sido reemplazada.

Un simple muro de contención solucionaría el problema, pero la comunidad no tiene los recursos para construirlo y este es exactamente el tipo de infraestructura básica que el Estado colombiano parece incapaz de proveer. No hay presencia del Estado aquí, excepto por los maestros que han improvisado un nuevo salón de clases en la iglesia reconstruida.

Políticos en acción

Colombia es lo que los politólogos llaman una “democracia representativa”, en la cual aquellos que son elegidos —por ejemplo el alcalde de Tumaco o el gobernador de Nariño— son quienes supuestamente representan y rinden cuentas a los ciudadanos. Pero en Las Bocas del Curay no hay representación ni rendición de cuentas.

De acuerdo con los pobladores, el único momento en que los políticos aparecen es pocos días antes de las elecciones, a hacer promesas que nadie cree y, a distribuir dinero para los votos. Tampoco existe sentido alguno de responsabilidad de parte de los representantes del Estado colombiano. La única preocupación es asegurar que la gente vote de manera que se generen los mayores beneficios para aquellos que distribuyen la plata durante la época electoral.

Las Bocas de Curay no es la “Tercera Vía”. Es, como mucho de Colombia, el “Tercer Mundo”. Irónicamente, el único afiche político de la última elección en Bocas de Curay dice: “la Costa Pacífica de Nariño con Juan Manuel Santos... Que la paz del Señor esté siempre con nosotros... Y con tu espíritu”.

La Costa Pacífica votó masivamente en favor del presidente Santos, aunque si usted viaja a Las Bocas del Curay no es claro por qué. En cuatro años, el gobierno de Santos no entregó absolutamente nada a esta gente en términos de servicios públicos, ni siquiera se preocupó por reemplazar la escuela destruida por el mar. Al mismo tiempo, la “paz del Señor” dejó a sus habitantes expuestos sin tregua al acoso de los grupos armados.

Infortunadamente, Las Bocas de Curay es representativo de cientos, miles, de veredas en Colombia. Dejadas a la deriva por el Estado colombiano, tienen que sostenerse por ellas mismas, sin recursos ni posibilidades de que el sistema político tome en cuenta sus intereses y sin los bienes públicos básicos ni los servicios que les pudieran ayudar a cambiar su destino.

Las Bocas de Curay muestra lo vacía que resulta esa noción de que Colombia puede adoptar la Tercera Vía. Giddens la define como “un marco de pensamiento y diseño de políticas que busca adaptar la socialdemocracia a un mundo que ha cambiado esencialmente a lo largo de las dos o tres últimas décadas. Es una tercera vía en cuanto es un intento por trascender, tanto la social democracia a la antigua como el neoliberalismo”.

Pero, ¿dónde hay social democracia o neoliberalismo en Las Bocas de Curay o, de manera más general, en Colombia? Para ser una social democracia, Colombia tendría que tener un Estado que proveyera de servicios básicos y derechos a todos sus ciudadanos. Pero fracasa de manera singular en ello. Colombia tampoco ha sido nunca neoliberal en el sentido de permitir que el libre mercado domine la economía. Por el contrario, es un mar de monopolios y carteles donde las conexiones políticas y las barreras de entrada son el camino para hacer grandes fortunas, como la lista de los colombianos más ricos bien lo ilustra.

De hecho, la “Tercera Vía” es una serie de opciones de política para un país democrático con un Estado moderno. Colombia no es ni lo uno ni lo otro. Su democracia es de una notable baja calidad, fracturada por el fraude, la violencia, el clientelismo y la compra de votos, lo cual rompe el nexo de control entre ciudadanos y “representantes”. El Estado no controla el monopolio de la violencia, es incapaz de conseguir recursos (el recaudo de impuestos como porcentaje del PIB es similar al de Egipto, Ghana o Benín en África) y carece de una administración burocrática moderna, con excepción de unos pocos casos. Por ejemplo, la evaluación de la OCDE de las instituciones colombianas señala que Colombia tiene la burocracia más pequeña en relación con la población de toda América Latina y que la mitad de las personas empleadas son “nómina provisional”, por fuera de la carrera apropiada para servidores públicos —para el efecto, nombramientos políticos. No hay “Tercera Vía” para Colombia, solamente el Tercer Mundo.

Realismo mágico

Aun cuando la “Tercera Vía” sea una quimera irrelevante para Colombia, sería bueno que el presidente Santos se leyera el famoso libro de Giddens, pues enfatiza algunas cosas que el país requiere con desesperación, como por ejemplo una lucha contra la exclusión que caracteriza a la sociedad: “la exclusión ...[separa] grupos de gente de la sociedad en general. En la cúspide, la exclusión voluntaria es conducida por una diversidad de factores. Tener los medios económicos para aislarse de la sociedad es la condición necesaria para, pero nunca la explicación completa de por qué, estos grupos deciden hacerlo. La exclusión en la cúspide está causalmente ligada a la exclusión en las bases y además pone en peligro los debates en la arena pública y la solidaridad común. De modo que limitar la exclusión voluntaria de las élites es esencial para crear una sociedad más inclusiva en la base”.

No existe mejor expresión de los problemas de Colombia que su exclusión en la cúspide y en la base. Una élite desligada de la sociedad real que no está dispuesta a pagar impuestos para soportar cualquier proyecto con beneficios para la sociedad. La OCDE reporta que mientras el 10% más pobre de la población paga 4,5% de su ingreso en impuestos, el 10% más rico paga el 2,8%. Eso ha de ser un récord para la OCDE. Al tiempo, esa élite se imagina que administra un país próximo a la modernidad, jugando con ideas como las de la “Tercera Vía”. No es de extrañarse que el realismo mágico se haya inventado en Colombia.

El propio Giddens, sin advertirlo, ilustra lo alejada que está la élite colombiana de la realidad de su país cuando reproduce en su libro la historia de “un delegado colombiano en una reunión de la Internacional Socialista en 1989”, quien resaltó que “mi partido es llamado liberal, pero es en esencia muy socialista. Con los europeos es todo lo contrario”. Lo que sea que el socialismo signifique en Colombia, claramente no involucra la provisión de bienes y servicios públicos básicos a sus ciudadanos ni una preocupación por su bienestar y oportunidades.

“La paz del Señor” que el presidente Santos ha promovido es un gran suceso para Colombia. Pero es el comienzo, no el final, para hacer de Colombia un nuevo país. Para entender lo que ello involucra, le sugeriría que comenzara en Las Bocas de Curay.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

El califato contra todos los demás

Immanuel Wallerstein
La Jornada

En los interminables realineamientos geopolíticos de Medio Oriente, el califato del Estado Islámico (antes Isis o Isil) parece haber amedrentado al resto de los grupos involucrados en la política de Medio Oriente, orillándolos a formar una alianza geopolítica de facto. Repentinamente, encontramos a Irán y a Estados Unidos, a los kurdos (tanto en Siria como en Irak) y a Israel, a Turquía y al gobierno sirio de Bashar al Assad, a Europa occidental (Gran Bretaña, Francia y Alemania) y a Rusia persiguiendo, por diferentes vías, un mismo objetivo: impedir que el califato se expanda y se consolide.

Esto no ha alterado significativamente otros loci de conflicto geopolítico tales como Palestina-Israel y Ucrania, pero es seguro que tendrá un impacto sobre ellos. Por supuesto, todos estos actores están persiguiendo objetivos de mediano plazo que son bastante diferentes. No obstante, miren lo que ha ocurrido durante la primera quincena de agosto.

Nouri al Malaki fue derrocado como premier de Irak por la presión combinada de Estados Unidos, el gran ayatola Alí al Sistani, Irán y los kurdos, primordialmente porque se resistió a contemplar un papel significativo para los sunitas en el gobierno iraquí. ¿Y por qué era esto importante? Porque para todos estos actores parecía la única manera de minar el califato desde dentro.

Estados Unidos ha comprometido sus drones (aviones no tripulados), una nueva fuerza de cerca de mil infantes de marina y fuerzas especiales para salvaguardar a los yazidís y a los cristianos iraquíes de ser masacrados (operación que recibió la asistencia de facto de Bashar al Assad), así como para frenar el avance del califato en Erbil –la capital kurda de Irak, donde hay un consulado estadunidense y un número significativo de ciudadanos de dicho país–; probablemente logre otras cosas tras una evaluación en el terreno que está ocurriendo en estos momentos. El presidente Barack Obama se rehusa a indicar una fecha límite para esta operación y, por tanto, es casi seguro que dejará incumplida su promesa firmada de retirarse por completo de Irak durante su presidencia.

El gobierno turco ha cerrado la frontera abierta para las fuerzas anti Assad en Turquía, lo que previamente fue un elemento clave en su política hacia Siria. El ex senador Joseph Liberman, conocido halcón y ardiente promotor de las políticas israelíes, ha encomiado públicamente a Obama por lo que ha hecho, mientras los iraníes se han abstenido de criticarlo. Los saudíes, que no se pueden decidir respecto de su política hacia Siria, aparentemente han decidido que el silencio y el misterio son la mejor táctica.

Entonces, ¿qué sigue? ¿Y quién se aprovecha de este realineamiento? Parece haber tres ganadores en el corto plazo. El primero es el califato mismo. La re-entrada de Estados Unidos a la lucha militar iraquí le permite al califato presentarse como fuerza importante que desafía al diablo encarnado, Estados Unidos. Le servirá para conseguir muchos reclutas adicionales, sobre todo en el mundo occidental. Y uno puede esperar que intentará involucrarse en actividades hostiles al interior de Estados Unidos, así como en Europa occidental. Por supuesto esta ventaja de corto plazo podría colapsarse, si el califato fuera a sufrir reveses militares serios. Pero tomará tiempo para que esto ocurra, si sucede alguna vez. El ejército del califato parece todavía ser la fuerza militar más entrenada y comprometida de la región.

Un segundo ganador importante es Bashar al Assad. El respaldo exterior para las fuerzas contrarias a Assad siempre ha sido mucho menos decisiva y es probable que se seque aún más en el corto plazo, conforme más y más oponentes sirios se alineen con el califato.

El tercer beneficiado importante son los kurdos, que han consolidado su posición dentro de Irak y mejoraron sus relaciones con los kurdos en Siria. Ahora recibirán más armas de los países occidentales y posiblemente de otros, haciendo que sus combatientes, los peshmerga, se tornen una fuerza militar aún más consolidada.

¿Y los claros perdedores? Uno, sospecho, es Estados Unidos. A menos que el califato se desmorone en el futuro cercano (algo que parece muy improbable), este esfuerzo militar muy pronto expondrá, de nuevo, los límites de las capacidades militares estadunidenses y la inconsistencia de sus posiciones públicas con respecto a Irak, Palestina y Ucrania. Y Obama habrá perdido su alegato principal en cuanto a logros geopolíticos. El público estadunidense respalda los logros, no empantanamientos.

Y hay por lo menos tres grupos cuyo futuro inmediato como ganadores o perjudicados permanece incierto. Uno es Irán. Si Estados Unidos e Irán están del mismo lado en Irak y Afganistán, ¿puede Estados Unidos negarse a llegar a algún arreglo de compromiso con Irán respecto de los asuntos relacionados con la energía nuclear? La posición iraní en esta negociación por lo menos quedó fortalecida.

Un segundo caso es Hamas. Los israelíes están bajo una pesada presión internacional para reformular sus posición en torno a Palestina. ¿Será que este énfasis en los peligros del califato sirva de presión adicional? Es lo más probable, pero los israelíes se quedarán el mayor tiempo posible.

El tercer caso es Rusia. Mientras escribo esto, el gobierno de Kiev está resistiendo la entrada de los camiones que dicen los rusos que es una misión humanitaria para auxiliar a los atrapados y sufrientes habitantes de Lugansk, población rodeada por las tropas ucranias que buscan hambrearlos hasta que se rindan. ¿Acaso es esto algo en verdad diferente de los esfuerzos del califato por hambrear a los yazidís en su montaña para que se sometan? Si Estados Unidos y Europa occidental están en favor de la ayuda humanitaria en un lado, ¿pueden sostener una posición en contra en otras partes? Vivimos tiempos interesantes.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

EEUU: El fantasma de la revuelta racial

Editorial
La Jornada

La noche del pasado domingo la localidad de Ferguson, Missouri, Estados Unidos, se vio envuelta en manifestaciones pacíficas, pero también en disturbios y saqueos que dejaron 32 detenidos y dos policías lesionados, tras el asesinato, el sábado, del adolescente negro Michael Brown a manos de un policía local, cuya identidad es mantenida en secreto por las autoridades. La inconformidad no sólo se genera por el homicidio, sino también por las perspectivas de impunidad para el agente policial, y orilló al gobierno federal a involucrarse, por medio de la Oficina Federal de Investigaciones (FBI, por sus siglas en inglés) en la investigación del asesinato.

Cabe recordar que en el país vecino es frecuente el encubrimiento y la obsecuencia institucionales ante abusos policiales extremos contra jóvenes negros. Entre los casos más documentados y comentados cabe recordar el ocurrido en 2012 en Stanford, Florida, cuando un agente de seguridad persiguió y mató a tiros a Trayvon Martin, un joven negro desarmado, y fue declarado inocente; la muerte de Amadou Diallo, quien en 1999 fue ultimado de 41 balazos por policías neoyorquinos que dijeron haber confudido a su víctima con un violador y fueron absueltos, o la paliza propinada por efectivos policiales de Los Ángeles al taxista negro Rodney King en 1992, suceso videograbado y difundido por los medios. La absolución de los agresores por un jurado compuesto exclusivamente por personas de raza blanca dio lugar a una oleada de violencia que se extendió durante seis días y dejó 53 muertos, cerca de dos mil heridos y pérdidas materiales por unos mil millones de dólares, y obligó al despliegue de una división de marines y de la Guardia Nacional de California.

Tales atropellos policiales y, sobre todo, la impunidad que los ha cubierto, constituyen una expresión del racismo estructural e institucional que persiste en Estados Unidos en pleno siglo XXI. Otra es la disriminación que se practica en los tribunales del país vecino contra negros y latinoamericanos, y que queda manifiesta en el hecho de que un delincuente perteneciente a esos grupos de población tiene muchas más probabilidades de ser sentenciado a la pena capital que un anglosajón que haya cometido el mismo delito.

El hecho es que, a cinco décadas del surgimiento del Movimiento por los Derechos Civiles y del asesinato de Martin Luther King, por más que un afroestadunidense ocupe la Casa Blanca desde hace seis años, y a contrapelo de una pregonada igualdad de todos los inividuos ante la ley, la discriminación racial sigue gravitando en la institucionalidad y en la sociedad de Estados Unidos.

A esa vieja e impresentable lacra debe agregarse el autoritarismo policial, reforzado en la década pasada durante los gobiernos de George W. Bush, con el pretexto de la defensa de la seguridad nacional y la lucha contra el terrorismo. En efecto, tras los atentados de Nueva York y Washington del 11 de septiembre de 2001, el principio de presunción de inocencia fue sustituido por el de presunción de culpabilidad, y muchas de las disposiciones legales emitidas entonces permanecen en vigor.

Por lo demás, la discriminación no sólo se pone en evidencia en los abusos policiales y judiciales, sino también en una sociedad desigual en que la pobreza y la marginación son más extendidas entre negros y latinos que en el resto de los sectores, y explican el surgimiento de estallidos de descontento como el ocurrido la noche del pasado domingo en Ferguson, Missouri.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Ética e impunidade. O dever moral ante o povo palestino

Sara Beatriz Guardia
Diálogos do Sul

Em seu livro, Origens do totalitarismo, publicado em 1951, Hannah Arendt se refere à relação que existe entre modernidade, totalitarismo e filosofia, na análise do nazismo, os campos de concentração e o extermínio do povo judeu. Constitui, sem dúvida, um dos textos mais importantes de análise da sociedade moderna e da história da humanidade, em que a crueldade nazista não aparece como um produto da irracionalidade mas como objetivo que pretende a dominação total através da eliminação das pessoas.

Porém, não só matando, também eliminando-as como pessoas jurídicas, e limitando-as à categoria de pessoas fora da lei, massas sem pátria, despossuídas, incompreendidas, ignoradas. Quer dizer, sem direitos. Este aniquilamento da pessoa implica aniquilamento moral, corrupção dos mecanismos de defesa, da solidariedade humana, do respeito ao outro. É dizer a um povo que ele não existe, é ninguém, posso te aniquilar, matar, ofender e não me passa nada.

Ao finalizar a Segunda Guerra Mundial e diante do horror produzido pelo holocausto judeu, a premissa utilizada então, de que se desconhecia o grau de violência e crueldade a que tinham chegado. Pode-se hoje dizer o mesmo diante da crueldade e assassinatos dos palestinos?

Não está a humanidade contemplando, através das cenas propagadas pela televisão de todos os países, os bombardeios israelenses contra refúgios e escolas com alto porcentagem de crianças palestinas mortas? Não nos comovemos e indignamos por vê-los dessangrando diante de nossos olhos?

Aos 23 dias do início das operações contra os palestinos, o exército israelense bombardeou uma escola da ONU que servia de refúgio para crianças palestinas desalojada de seus lares, e então, só então, Ban-Ki-moon, secretario geral da ONU fez ouvir sua voz e se pronunciou: “É atroz. É injustificável”, asseverou. Pierre Krahenbuhi, chefe da Agência da ONU para Refugiados Palestinos, por sua vez, acrescentou: “Esta é uma afronta a todos nós, uma fonte de vergonha universal”.

Não é também uma fonte de vergonha universal que os Estados Unidos condene o massacre palestino e ao mesmo tempo envia armas para Israel?

“Estamos muito preocupados porque milhares de desalojados palestinos não estão a salvo nos refúgios designados pela ONU em Gaza”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Bernadette Meehan. Tão preocupados que no mesmo dia, em comunicado o porta-voz do Pentágono, contra-almirante John Kirby, confirmou o envio de armas para Israel, justificando esta ação porque: “O Departamento de Defesa recebeu uma carta em 20 de julho solicitando uma venda normal de munição para o estrangeiro. O pedido tramitou pelos canais normais e foi aceito em 23 de julho”, justificou Kirby.

Não se trata de fatos isolados nem tampouco de fatos de competência exclusiva da área política, há também um problema ético, moral. Ninguém pode dizer que ignora o que está ocorrendo, ninguém pode dizer que Palestina está muito longe ou que este problema não nos concerne, porque sim, nos concerne como seres humanos, como pessoas com princípios, com ética. É com estas respostas que o homem constrói a utopia, que como referiu Gramsci, é ética porque expressa a coerência que existe entre os postulados que orientam a sociedade e os atos políticos e de toda a vida privada. Ao estabelecer uma ponte com o mundo exterior, o indivíduo aporta seus próprios valores em concordância com os valores universais e a conjuntura específica que lhe cabe viver. A quebra desse equilíbrio significa o fim de uma proposta ética de vida. O fim da utopia, o reino da impunidade.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Gaza y el gueto de Varsovia

Melvin A. Goodman
CounterPunch

El gueto de Varsovia fuel el mayor de todos los guetos judíos de la ocupación nazi en Europa en la Segunda Guerra Mundial. La Franja de Gaza es el mayor gueto palestino en el Medio Oriente y el más densamente poblado del mundo.

Los alemanes cerraron el gueto de Varsovia al mundo exterior en 1940. Israel se retiró de Gaza en 2005, pero mantiene el control exclusivo del espacio aéreo y de las aguas territoriales de Gaza. Controla el movimiento de personas y mercancías dentro o fuera de Gaza. Como resultado de ello, la Unión Europea y el Observatorio de Derechos Humanos, así como las agencias de las Naciones Unidas consideran que Gaza permanece ocupada por Israel.

El desempleo era un problema importante en el gueto de Varsovia y más de 100.000 residentes murieron por enfermedad o inanición. El bloqueo israelí y egipcio de Gaza ha devastado la economía y ha causado una escasez de medicamentos básicos y de equipación médica. En 2010, el primer ministro británico David Cameron, dijo que "los bienes humanitarios y las personas deben fluir en ambas direcciones. No puede y no debe permitirse que Gaza se mantenga en las condiciones de un campo de prisioneros".

Por supuesto las comparaciones nunca son totalmente determinantes. El número de muertos entre los habitantes judíos del gueto como consecuencia de las deportaciones a campos de concentración y el arrasamiento del propio gueto fue de más de 300.000 personas. El gueto entero fue arrasado casi en su totalidad durante el levantamiento de 1943, cuando los alemanes quemaron y volaron sistemáticamente los edificios, bloque por bloque, acorralando o asesinando a todos los que podían capturar.

Sin embargo, los incesantes e implacables ataques israelíes compulsivos de la última década indican que los israelíes están resueltos a que los inocentes palestinos paguen el salvajismo alemán de hace 70 años. Los crímenes de Israel contra los palestinos, de hecho, se iniciaron en 1948 con la "Nakba", la "catástrofe", cuando cientos de miles de palestinos fueron expulsados ​​de sus hogares durante la guerra árabe-israelí. Como resultado, los palestinos son los únicos refugiados en el mundo que han recibido el estatuto de refugiados por herencia.

La masacre israelí en Shejalya, con los niños palestinos llevando banderas blancas y corriendo para salvar sus vidas de los tanques y la artillería israelíes, es una reminiscencia de la masacre en Varsovia. De acuerdo con un médico noruego que prersta asistencia en Gaza, "la impunidad de Israel es un gran problema médico. Cada niño y adulto muertos y todas las lesiones, todas las amputaciones, son cien por cien previsibles. Este es un desastre hecho por el hombre que está cínicamente planeado y brutalmente ejecutado por el Gobierno de Israel".

Hay dos factores de peso que destacan en cualquier examen de la crisis de Gaza: la intransigencia persistente del primer ministro israelí, Benjamin Netanyahu, y la falta de voluntad de Israel para buscar una solución diplomática y política a la tragedia palestina. Igual que una larga lista de políticos israelíes, Netanyahu favorece una total humillación del pueblo palestino. También está dispuesto a humillar y avergonzar a la única nación del mundo que apoya a Israel con ayuda militar y económica, los Estados Unidos. Netanyahu ha ignorado las peticiones de Estados Unidos de detener la construcción ilegal de asentamientos en los territorios ocupados e Israel incluso ha cronometrado el momento del anuncio de nuevos asentamientos con la presencia en Israel de funcionarios estadounidenses de alto rango, entre ellos el vicepresidente Joe Biden.

Netanyahu siempre se ha opuesto al denominado proceso de paz y se esmera especialmente en destruir el proceso de Oslo. En 1997, durante su primer mandato como primer ministro insistió en que sólo continuaría las negociaciones si se añade una cláusula que dice que Israel no tendría que retirarse de los indefinidos "emplazamientos militares". Según Gideon Levy, autor de The Punishment of Gaza (El castigo de Gaza), Netanyahu fue capturado en la grabación de un momento de jactancia: "¿Por qué es tan importante? Porque a partir de ese momento abandoné los acuerdos de Oslo".

El exministro de Relaciones Exteriores israelí, Abba Eban, dijo una vez que los palestinos "nunca pierden la oportunidad de perder una oportunidad". Ahora se puede decir lo mismo de los israelíes. El primer ministro Netanyahu ha avergonzado en repetidas ocasiones al presidente palestino Mahmoud Abbas, dedicado a una solución pacífica a la crisis. Abbas ofreció a Netanyahu una oportunidad más en abril, cuando creó un Gobierno de consenso nacional palestino con Hamás. La Autoridad Palestina y el presidente Abbas establecieron los términos del nuevo Gobierno, que incluían el compromiso palestino con la no violencia, la adhesión a los acuerdos pasados e incluso el reconocimiento de Israel.

Estos términos no sólo se diseñaron para atraer a Israel, sino también para satisfacer las exigencias de Estados Unidos y sus aliados europeos. Según Nathan Thrall, analista del International Crisis Group que cubre Gaza, Israel, Jordania y Cisjordania, Israel se opuso a EE.UU. en el reconocimiento del nuevo Gobierno e intentó aislar a los palestinos en el ámbito internacional.

El Presidente Netanyahu está utilizando una abrumadora fuerza militar para aterrorizar a una comunidad civil con el fin de volver a la situación anterior que limita en Gaza el uso de la electricidad, el sistema que permite que las aguas residuales viertan en el mar para asegurar que el agua sigue siendo potable y se asegura de que la escasez del combustible que alimenta las plantas de saneamiento deban cerrarse. Se garantiza así la perpetuación de la desesperación entre quienes se ven obligados a vivir en estas condiciones. Tal desesperación llevaría a cualquier ser humano a creer que la resistencia violenta es el único recurso. Tal vez la comparación con el gueto de Varsovia no sea totalmente descabellada después de todo.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Florestas geridas por povos nativos têm menos desmatamento

Renato Grandelle
O Globo

De segunda a sábado, Miguel Ramírez, de 58 anos, acorda às 6h30m e vai para o campo como dezenas de outros moradores de Capulálpam de Méndez, 549 quilômetros ao Sul da Cidade do México. No caminho, eles mesmos se dividem entre um grupo que cortará árvores cuidadosamente selecionadas no bosque e outro que assumirá as atividades agrícolas do dia. São quase 12 horas de trabalho duro e práticas ancestrais simples que se tornaram modelo global de combate às mudanças climáticas. Comunidades como Capulálpam cuidam de matas que já armazenam 37 bilhões de toneladas de carbono — o equivale a 29 vezes a quantidade de CO2 emitida por veículos de todo o mundo. Se dominarem terrenos maiores, podem contribuir para reduzir significativamente as emissões, avalia um relatório internacional inédito.

Comunidades tradicionais e indígenas são pouco citadas em pesquisas sobre o clima. O silêncio é quebrado nesta quinta-feira, com a divulgação desse estudo, intitulado “Garantindo direitos, combatendo a mudança climática” e assinado pelo Instituto de Recursos Mundiais (WRI, na sigla em inglês) e pela Iniciativa para Direitos e Recursos (RRI). Os autores mapearam áreas florestais de 14 países de América Latina, África e Ásia, comparando o desmatamento nos territórios protegidos pelos povos nativos e as áreas vizinhas e desocupadas.

A diferença é chocante. Na Amazônia brasileira, por exemplo, o índice de desmatamento nas florestas comunitárias ficou abaixo de 1% entre 2000 e 2012. Fora delas, chegou a 7%. O Norte da Guatemala, onde fica a comunidade de Ramírez, é 20 vezes mais protegido dentro das áreas conservadas pelas comunidades tradicionais.

50 campos de futebol por minuto

Hoje, 11% das emissões de gases-estufa vêm da devastação de áreas verdes. A cada minuto é derrubada uma região equivalente a 50 campos de futebol. Esse índice poderia ser consideravelmente menor se os povos tradicionais tivessem seus direitos legais reconhecidos — algo que ocorre em apenas 12% das florestas. Nesses locais, as comunidades foram bem-sucedidas em evitar que madeireiros, empresas extrativistas e colonos destruíssem a mata.

"Vimos estudos globais sobre gerenciamento de florestas, e a principal descoberta é que elas são mais vulneráveis onde as comunidades não têm direitos reconhecidos", explica Jenny Springer, diretora de Programas Globais da RRI e coautora do relatório. Não se trata de inventar recursos ou leis, mas aplicar as normas que já existem em muitos países.

De acordo com o estudo, a própria tradição qualifica as comunidades a manejarem suas florestas. Sua população sabe como separar zonas agrícolas, habitacionais e de exploração econômica e, eventualmente, regiões para turismo e pesquisa. Além do cultivo agrícola, outra importante base para o sustento econômico e realizada sazonalmente é a extração de madeira. "Fazemos um mapeamento do bosque e vemos em que regiões podemos intervir", explica Juan Lopez Martinez, presidente do Comissariado de La Trinidad, comunidade de Oaxaca, no Sul do México. "É preciso fazer podas em algumas regiões, para retirar galhos e dar espaço entre as árvores grandes. Algumas precisam ser cortadas para não prejudicar as vizinhas. Além disso, as jovens absorvem mais CO2".

Para o diretor do WRI, Robert Winterbottom, a intervenção do Estado seria mais cara e menos frutífera: "Os governos não são muito eficientes, porque teriam de ir às florestas e gastariam dinheiro com transporte e mão de obra, enquanto a população faz esse serviço gratuitamente para garantir sua própria sobrevivência".

Andy White, coordenador do RRI, concorda. Segundo ele, ninguém tem mais interesse na saúde das florestas do que as comunidades que as habitam. "Direitos de propriedade claros para as populações indígenas e comunidades locais aumentam a capacidade dos países de proteger e resgatar suas florestas", assinala. É trágico que isso ainda não tenha sido completamente adotado como estratégia central de mitigação das mudanças climáticas.

Brasil é destaque no Relatório

O Brasil está entre os países mais elogiados pelo levantamento. Entre 1980 e 2007, cerca de 300 territórios indígenas foram reconhecidos legalmente. Sem essas zonas protegidas, o desmatamento atingiria, até 2050, aproximadamente 27,2 milhões de hectares, uma área pouco maior que a do Reino Unido. Ainda assim, os efeitos das mudanças climáticas sobre a Amazônia são motivo de preocupação. "Os prognósticos indicam que parte da Amazônia pode ser convertida em uma savana" lembra Winterbottom. A saúde das florestas pode ficar comprometida se houver alterações no regime de chuvas.

As comunidades tradicionais mexicanas cobrem cerca de 60% do território do país. Lá, quem manda é o agricultor e o governo ainda abre o cofre para ajudá-lo. "Há uma série de programas de incentivo à conservação da floresta, como preservação da fertilidade do solo ou combate a incêndios. Os proprietários de terra escolhem um projeto e recebem o orçamento necessário para viabilizá-lo" descreve Iván Zuñiga, coordenador do Conselho Civil Mexicano para a Silvicultura Sustentável. No fim do ano, cada um informa às autoridades o que conseguiu fazer.

Na Guatemala, o governo estuda como pagar às comunidades pela quantidade de carbono absorvida pela floresta. As comunidades têm concessões de 25 anos para “mostrar serviço”. "Nosso país é um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas", alerta Juan Ramón Girón, subdiretor da Associação de Comunidades Florestais de Petén, no Norte da Guatemala. "Mas sabemos gerar alternativas econômicas ligadas ao bosque, especialmente na exploração da madeira, com baixo impacto ambiental".

terça-feira, 22 de julho de 2014

Sobre los dilemas del crecimiento

Mateo Aguado
Dominio público

El escritor y filósofo Augusto Klappenbach publicó el pasado 9 de julio un artículo en el blog Dominio Público titulado “Perplejidades sobre el crecimiento” que me gustaría comentar, tratando de sugerir respuestas a algunas de las muchas preguntas y dudas que en él se plantean.

Klappenbach presenta en su escrito una aproximación a la contradicción que, según él, existe entre “la necesidad de recuperar el crecimiento de la economía y la necesidad de un decrecimiento global para mantener el equilibrio del planeta”. El autor contrapone así dos ideas básicas: 1ª) que el crecimiento económico es, a largo plazo, una fuente de insostenibilidad ecológica (pues induce -a través del sistema capitalista y de su devoción por el consumo constante- una tremenda presión sobre la biosfera); y 2ª) que el crecimiento económico es, a su vez, una herramienta para luchar contra la pobreza y la miseria (en busca, se entiende, de que todos logremos alcanzar una vida digna).

Este dilema aparece bien reflejado cuando Klappenbach sugiere lo siguiente: “Si se pretende alimentar a los 850 millones de personas que pasan hambre, construir viviendas para quienes no la tienen, educar a los cientos de millones de analfabetos, asegurar asistencia médica a quienes carecen de ella y atender a la discapacidad, hará falta construir edificios, utilizar tractores, camiones, trenes, ordenadores, laboratorios, etc. con la enorme utilización de recursos, de gasto de energía y emisiones contaminantes que ello implica”. Y continúa con la siguiente pregunta: “¿Es posible satisfacer las necesidades elementales de miles de millones de personas sin proseguir con la destrucción de los recursos naturales y la contaminación del medio ambiente?”

Desde mi punto de vista hay dos cuestiones fundamentales que deben sopesarse adecuadamente para abordar correctamente este asunto -aparentemente- contradictorio. La primera de ellas es la cuestión de la escala. La segunda la del reparto.

Respecto a la primera cuestión cabe mencionar que las dos ideas contrapuestas por el autor respecto al crecimiento (recordemos: crecimiento como fuente de insostenibilidad global Vs crecimiento como herramienta frente a la pobreza) no tienen en realidad por qué ser enfocadas como contradictorias, pues actúan a diferentes escalas espacio-temporales: mientras que el crecimiento de la economía supone -efectivamente- una seria amenaza para la sostenibilidad del planeta cuando se produce a escala global y de forma continuada, no debería significar ninguna amenaza grave para la biosfera cuando tiene lugar a una escala menor (local o regional) y durante un periodo corto y determinado de tiempo (se entiende, el necesario para que su población salga de situaciones indeseadas de hambruna, pobreza o miseria alcanzando una vida digna).

Sin embargo, tal y como Klappenbach aborda este asunto pareciera que nos encontramos abocados a un callejón sin salida. O aceptamos el deterioro ecológico del planeta o aceptamos que exista la miseria social en ciertas regiones del mundo. Y aquí es donde cobra fuerza la segunda cuestión clave: la cuestión del reparto. O dicho de otra forma, la cuestión de que algunos deberían aprender a vivir bien con menos para que todos podamos -simplemente- vivir con dignidad. Se trataría, en último término, de una especie de confluencia social entre pueblos y naciones amparada en el concepto supremo de justicia y que bajo ninguna circunstancia debería sobrepasar, a nivel global, los límites biofísicos que el planeta nos impone.

De esta manera la verdadera salida al complejo trinomio crecimiento-sostenibilidad-justicia pasa en el fondo por que las naciones más ricas y opulentas decrezcan de un modo contundente en aras de disminuir nuestra presión global sobre la biosfera y en aras, también, de que las naciones más desfavorecidas puedan avanzar hacia una vida buena y digna sin que ello signifique incurrir en insostenibilidad. Debemos comprender, como argumentaba Yayo Herrero el pasado año en una entrevista, que “si vivimos en un planeta con recursos naturales limitados, es evidente que el reparto de riqueza es la única forma de caminar hacia la justicia”. A lo que habría que añadir que es también la única forma de avanzar hacia la sostenibilidad socio-ecológica.

Por lo tanto, las dos ideas que contrapone Klappenbach no son, según mi opinión, conceptos contrapuestos ni contradictorios sino más bien todo lo contrario: son concepciones complementarias de lo que significa la sostenibilidad ecológica y la justicia social; son, al fin y al cabo, dos caras inseparables de una misma moneda.

Me gustaría terminar este artículo recomendando una lectura: el Manifiesto Ultima llamada; un valioso texto hecho público el pasado 7 de julio que cuenta con el apoyo de cerca de 250 científicos, académicos, intelectuales, activistas y políticos de toda España. Se trata de un llamamiento esencial a cambiar radicalmente nuestro modelo económico, energético, social y cultural para lograr mantenernos dignamente sobre un planeta justo y sano en los complejos albores del siglo XXI.