O Globo
O país corre o risco sério de se transformar num pária, como a África do Sul nos tempos do Apartheid
Na passada terça-feira, manifestantes do grupo Extinction Rebellion lançaram tinta vermelha sobre as paredes da embaixada brasileira em Londres, protestando contra a destruição da floresta amazônica e a perseguição aos povos indígenas. Dias antes, o governo alemão anunciara o cancelamento de fundos para a proteção da Amazônia, no valor de R$ 155 milhões. Jair Bolsonaro reagiu dizendo que o Brasil não precisa de dinheiro estrangeiro para proteger a floresta.
Há trinta anos a destruição das grandes florestas tropicais de chuva não era um tema que ocupasse as primeiras páginas dos jornais europeus ou americanos. Cientistas e ambientalistas tinham alguma dificuldade em denunciar o que estava acontecendo. Isso mudou. Se antes a Amazônia era apenas uma mancha verde nos planisférios, um território inconcreto, mais do domínio da mitologia do que da realidade, tornou-se algo muito próximo. A maioria dos europeus sabe que a destruição das grandes florestas afeta o seu quotidiano. O aquecimento global instalou-se nos quintais das nossas casas.
O Brasil de Bolsonaro corre o risco sério de se transformar, a muito curto prazo, num país pária, ostracizado e desprezado pela comunidade internacional, à semelhança da África do Sul nos tempos do sistema de segregação do Apartheid. Turistas brasileiros em viagem pela Europa já estão sendo questionados — e cobrados — pelas bizarras atitudes, comentários e decisões do presidente Jair Bolsonaro. Daqui a pouco estarão sendo abertamente hostilizados, pagando os justos pelos pecadores.
Ao mesmo tempo, muitos europeus desistem de viajar para o Brasil, em férias. Escolher o Brasil como destino turístico tende a ser visto como uma atitude política, de apoio a um governo que persegue as vozes críticas, hostiliza os movimentos feministas e os homossexuais, e, sobretudo, parece empenhado em destruir todo o seu rico patrimônio ambiental.
Jair Bolsonaro e os seus apoiantes apostam no fortalecimento da extrema-direita no ocidente. Não creio que seja uma boa aposta. A extrema direita vem crescendo na Europa devido à irritação de uma classe média empobrecida, que vota nesses movimentos para castigar os políticos tradicionais. Não se trata de um voto por convicção ideológica. Os partidos e movimentos ecológicos e ambientalistas, pelo contrário, veem crescendo de forma sustentada, graças ao apoio de uma juventude cada vez mais consciente e reivindicativa. A médio prazo a Europa será verde.
Contudo, não será preciso esperar muito mais tempo para que o Brasil seja responsabilizado. Questões como a preservação das florestas tropicais colhem simpatia quase geral. Graças sobretudo à sua política de destruição da Amazônia, Jair Bolsonaro está em vias de se transformar num vilão global.
Já se escutam vozes apelando ao boicote de produtos brasileiros. Por este andar, o Brasil terminará completamente isolado. Acham que estou exagerando? Podem até subestimar o meu pessimismo. Convém, porém, não subestimar Jair Bolsonaro e o seu tenebroso talento para o desastre.
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