segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Convenção do Clima começa sob desconfiança na África


Agencias

Durban, na África do Sul, vai receber a partir desta segunda-feira delegações de 194 países para a Conferência do Clima (COP-17) com o desafio de renovar do Protocolo de Kioto e estabelecer metas de redução dos gases-estufa, cujas emissões são recorde. O impasse e o pessimismo que cercam o evento, no entanto, já levam ambientalistas a pedir, em vez de avanços, que não ocorram retrocessos. Especialistas vislumbram as próximas rodadas de negociações.

Em 2012, o Rio de Janeiro sediará a Convenção para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho. No fim do ano, a Coreia do Sul organizará a Conferência do Clima (COP-18), última chance de renovar o protocolo. Muita discussão e poucos avanços reais marcaram a luta contra o aquecimento global nos últimos anos.

O dilema em relação ao Protocolo de Kioto vai parar na África do Sul e continuará conosco. Nunca se sabe o que pode acontecer na política, mas, até o momento, o panorama é complicado. As atenções estão concentradas na crise econômica. Portanto, acho difícil que este impasse tenha solução agora - disse o professor do Departamento de Economia da PUC-Rio e assessor da prefeitura para a Rio+20, Sérgio Besserman.

O coordenador dos cursos de pós-graduação da escola Politécnica da UFRJ, Haroldo Mattos de Lemos, diz que um fracasso em Durban pode respingar no Rio de Janeiro: "O que realmente vai acontecer é um exercício de futurologia. Porém, o sucesso da Rio+20 passa por Durban. Se houver metas concretas de redução de emissões de gases-estufa, tudo indica que a Rio+20 será um sucesso. Mas, se for fracasso total, decisões melhores no Rio ficarão mais difíceis. O tempo entre uma reunião e outra é pequeno."

Já o pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP Luiz Gylvan Meira Filho ressalta que a finalidade da convenção carioca da ONU é diferente das COPs: "A Rio+20 não tem como meta as negociações da Convenção do Clima. Especificamente, se olhar o documento do Itamaraty, ela tem como tema central o desenvolvimento e a erradicação da pobreza, que são objetivos obviamente importantes para o Brasil e para o Mundo. Mas isso não tem a ver com o combate à mudança de clima."

O ponto central de Durban é um segundo período do Protocolo de Kioto. Sua base legal, que cria um mercado para financiar medidas de mitigação dos gases-estufa e estabelece metas de redução de emissões para países desenvolvidos, terminará no fim do ano que vem. Porém, poucos ainda acreditam em acordo. Negociadores americanos sequer vão discutir o assunto, uma vez que o congresso dos Estados Unidos não ratificou o protocolo.

A principal divergência é entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Estes alegam que poluíram menos que aqueles. Os mais ricos, por sua vez, sustentam que não podem financiar sozinhos a salvação ambiental do planeta, ainda mais quando há crise econômica na Europa e Estados Unidos.

A última reunião preparatória, encerrada na sexta-feira em Durban, refletiu o pessimismo que cerca a COP-17. Os delegados ressaltaram a necessidade de aumentar o peso político da própria Conferência do Clima. No jargão da ONU, fortalecer a governança. Em caso de fracasso total, as Nações Unidas poderão ter a capacidade de gerenciar os conflitos do planeta colocada em dúvida.

"O agravamento dos desastres naturais causados pelas mudanças climáticas ocupará as páginas dos livros de história como o resultado de ambições frustradas, falta de visão de longo prazo e falta de coragem por parte dos líderes mundiais para lidar com essa ameaça" adverte Samantha Smith, líder da Iniciativa Global Clima e Energia da ONG WWF. Até mesmo o vazamento de e-mails de pesquisadores, em episódio batizado de Climagate 2.0, agitou os bastidores de uma conferência já marcada pelo ceticismo.

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