La Repubblica
O estudioso franco-búlgaro fala sobre seu último livro sobre os problemas e os perigos internos das democracias contemporâneas. "O problema é quando se buscam soluções simples para problemas complexos vendendo milagres. O outro risco é querer impor o próprio modelo distorcendo a ideia de progresso".
"Povo, liberdade e progresso são fundamentos da democracia, mas que, quando alimentam o populismo, o ultraliberalismo e o messianismo, podem se tornar uma ameaça para a própria democracia". Esse é o grito de alerta lançado por Tzvetan Todorov em seu novo livro, Os inimigos íntimos da democracia alternando perspectiva histórica e reflexão teórica, analisa minuciosamente os desvios e as contradições que correm o risco de minar por dentro o funcionamento do nosso sistema político.
O estudioso francês de origem búlgara parte da constatação de que, hoje, a democracia não corre mais o risco de ser posta novamente em discussão pelos seus tradicionais inimigos externos, a saber, o fascismo ou o comunismo. "Mesmo que depois do 11 de setembro haja quem tente transformar o Islã em um inimigo global de democracia, na realidade, para os sistemas democráticos, as ameaças externas não são mais um perigo real", explica Todorov.
"Hoje, os verdadeiros perigos provêm de dentro da própria democracia, daqueles que eu chamei de 'inimigos íntimos', formas de perversão ou de distorção de alguns dos seus princípios básicos. O populismo, o ultraliberalismo ou o messianismo não são o contrário do que a democracia aspira, mas sim o resultado da desmedida de alguns elementos – povo, liberdade e progresso – que a constituem. Tal desmedida se tornou possível porque, especialmente no século XX, desapareceram as limitações recíprocas às quais esses elementos estavam submetidos". Eis a entrevista.
Na forma clássica da democracia liberal, interesses coletivos e interesses individuais sempre devem se equilibrar?
O liberalismo clássico, de Locke a Montesquieu, proclamou a liberdade dos indivíduos, mas sem nunca imaginá-la como uma liberdade ilimitada. Como lembrava Burke, a liberdade no espaço público sempre se torna um poder. Para os pensadores do liberalismo, todo poder sem limites é um perigo. Quem tem um poder tenta expandi-lo, e a tentação da tirania é inerente ao comportamento humano. Por conseguinte, para o bom funcionamento do Estado, os poderes devem ser limitados e contrabalançados reciprocamente. Só assim evita-se o risco de despotismo.
Esse equilíbrio seria o coração da democracia?
Exatamente. A democracia não é caracterizada pelo domínio de um único princípio, mas sim pelo equilíbrio entre diversos princípios. Quando isso falta, corre-se o risco de desvios inquietantes. O caso mais evidente é o do ultraliberalismo, fruto de uma exasperação desmedida do justo princípio da liberdade.
A liberdade deve ser limitada?
Desde sempre, as pessoas apresentam reivindicações de liberdade individual, mas também de pertencimento coletivo. Mas bem comum e bem individual nem sempre vão na mesma direção. A democracia, graças à sua natureza mista, se esforça para preservar ambos. No passado, as chamadas democracias populares – que eu conheci quando jovem na Bulgária –, em nome do interesse coletivo, não deixavam nenhuma liberdade para o indivíduo. Hoje, as democracias correm o risco contrário, ou seja, a tirania do indivíduo que, em nome de uma liberdade absoluta e desmedida, submete toda a vida social ao domínio de uma vida econômica regulada exclusivamente pelas leis do mercado. Nessa perspectiva, postula-se a ausência de todo controle da sociedade e da política sobre as forças individuais da economia. E às vezes se chega até ao neoliberalismo de Estado, que é uma monstruosa combinação em que a função do Estado se torna a de desmantelar o próprio Estado e de impedir qualquer controle da sociedade sobre as atividades dos indivíduos.
O primado do indivíduo recusa-se a levar em consideração o interesse coletivo?
Sim, mas mesmo quando a sociedade tenta se ocupar do bem comum, a mundialização da economia muitas vezes elimina qualquer possibilidade de intervenção sua. Isso pode ser visto hoje na França, onde Hollande sofre para concretizar as promessas eleitorais, descobrindo que tem um margem de manobra muito limitada. Diante do poder da economia, o poder político se encontra impotente. E as democracias correm o risco de se transformar em oligarquias dirigidas pelos poucos que controlam o poder econômico.
O messianismo é o risco que a democracia corre quando, considerando-se superior, acha que deve intervir para impor aos outros seus próprio princípios. É isso?
O messianismo político é uma forma de arrogância que se apossou das pessoas no tempo do Iluminismo, distorcendo a exigência do progresso. O colonialismo, com a sua pretensão de impor aos povos selvagens uma civilização considerada superior, nascia a partir dessa perspectiva. Mesmo a sociedade ideal do comunismo era uma espécie de messianismo. Hoje estamos em uma nova fase, caracterizada por guerras que pretendem levar o bem a outros povos. É uma atitude messiânica que lembra o período colonial. Como naquela época, acreditamos ingenuamente na superioridade da democracia, a ponto de considerarmos justo e legítimo impô-la também aos outros através de guerras assimétricas, cujas vítimas são sobretudo as populações civis. Tudo isso não faz nada mais do que enfraquecer a democracia.
Outro inimigo "íntimo" da democracia é o populismo...
O populismo não se manifesta somente através da xenofobia e do racismo. De fato, ele está presente todas as vezes em que se pretende encontrar soluções simples para problemas complexos, propondo receitas milagrosas para a atenção distraída de quem não tem o tempo de aprofundar. O populismo pode ser tanto de direita quanto de esquerda, mas sempre propõe soluções imediatas que não levam em conta as consequências a longo prazo. O populismo prefere as simplificações e as generalizações, explora o medo e a insegurança, apela o povo, gerando um curto-circuito nas instituições. Mas a democracia não é uma assembleia permanente nem uma pesquisa contínua.
Certos comportamentos dos políticos não aprofundam o fosso que os separa da sociedade?
Sempre foi assim, que o homem de poder não tem a mesma vida do homem comum. Ele esquece as críticas passadas para aproveitar a posição conquistada. Soma-se a isso o problema da "despersonalização" do poder. No passado, as formas de poder eram mais facilmente identificáveis, e assim era possível se voltar contra um adversário visível. Com a mundialização, o poder econômico se tornou um poder difuso, esquivo, impessoal. Não sabemos mais como agir, contra quem se revoltar. Sentimo-nos impotentes. O que explica uma certa desilusão com relação à democracia.
O senhor a compartilha?
Estou convencido de que a democracia ainda tem a possibilidade de intervir ao menos em parte na realidade. Os partidos e seus programas não são todos iguais, e com o voto é possível determinar algumas escolhas coletivas no plano da economia e da sociedade.
Os cidadãos muitas vezes têm a impressão de contar mais através das iniciativas de base do que através dos rituais da democracia. O que o senhor pensa a respeito?
A democracia talvez perdeu uma parte do seu poder de atração, mas através dos seus mecanismos ela ainda confere muito poder, mesmo que os resultados sejam menos visíveis do que no passado. Embora enfraquecido, o poder do Estado continua sendo importante. É um poder que deve ser exercido votando, controlando. A democracia não se esgota em uma única forma de participação. O sufrágio universal certamente é um princípio fundamental, mas é apenas um elemento entre muitos outros. É por isso que a multiplicação dos níveis de envolvimento na vida pública é um sinal da vitalidade da democracia.
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