Catarina Alencastro
O Globo
Em um sinal de que caminha para repetir o fracasso de Copenhague, a 16ª Conferência das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP-16), em Cancún, no México, protelou até as últimas horas a definição de todas as questões que foram discutidas ao longo de duas semanas. Embora negociadores e até mesmo ambientalistas que acompanham a COP-16 tenham se recusado até o último instante a reconhecer a derrota, os países devem falhar novamente em fechar um acordo significativo no combate do aquecimento global que, segundo relatório divulgado esta semana, mata pelo menos 300 mil pessoas por ano em todo o mundo.
Uma segunda derrota consecutiva em torno de um acordo de redução das emissões de gases do efeito-estufa significará o fracasso das negociações multilaterais da ONU, que exigem que decisões só sejam adotadas se todos os países concordarem. Neste caso, significa que 194 países têm que deixar de lado seus interesses particulares por um consenso em torno de um objetivo comum: o de evitar que a Terra esquente mais do que 2 graus Celsius até o fim do século. A tarefa, segundo cientistas, exige que os países ricos cortem suas emissões num patamar de 25% a 40% até 2020.
Embora o grande nó das discussões gire em torno de um acordo sobre metas para um segundo período de compromisso do Protocolo de Kioto, único mecanismo legal que obriga países industrializados a cortarem suas emissões, questões como a criação de um fundo para o envio de recursos que permita que países menos desenvolvidos migrem para modelos econômicos de baixo carbono, por exemplo, também travam as negociações.
Enquanto isso, países como a Bolívia chegaram a desistir de negociar. Diante das muitas demonstrações de que um acordo era quase impossível, o grupo de países insulares (AOSIS) mostrava que não esperava muita coisa de Cancún, jogando para Durban (África do Sul), onde será sediada a próxima conferência climática, no ano que vem, as esperanças de que algo mais ambicioso seja obtido.
Até o final da noite, os temas que estavam mais adiantados eram adaptação (ações que países em desenvolvimento devem tomar em resposta às mudanças climáticas e que são financiadas pelos países ricos); transferência de tecnologia verde dos ricos para os em desenvolvimento; e um mecanismo de proteção das florestas, financiado pelos ricos. O mecanismo conhecido como REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), no entanto, também tinha arestas a aparar. Uma delas era como conciliar os direitos de povos indígenas nos projetos de preservação florestal.
O tema mais importante da negociação - a adoção de metas de redução de emissões - não foi concluído. O máximo que os negociadores esperavam alcançar era um compromisso de que o Protocolo de Kioto continuaria valendo para que, em 2011, novas metas sejam definidas.
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