sábado, 26 de janeiro de 2013

Stiglitz culpa ‘políticos e governos’ por desigualdades

Deborah Benlinck
O Globo

Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, alertou no Fórum Econômico Mundial de Davos que os países estão ficando mais desiguais. Em seu último livro, “O preço da desigualdade”, defende que não é o mercado que está criando desigualdade, mas políticos e governos que modelam o mercado para favorecer os ricos. Em entrevista, Stiglitz afirma que o Brasil é um dos países que mais trabalhou para reduzir a desigualdade nas últimas décadas. Reconhece que o baixo crescimento em 2012 seja uma “preocupação”, mas rechaça o coro dos pessimistas. O Brasil, diz, tem bons fundamentos e está no caminho certo para um crescimento “bastante forte”.

Em “O preço da desigualdade”, o senhor argumenta que é a política que está modelando o mercado de uma forma que favorece os ricos, e não o resto. É o caso do Brasil, um dos países mais desiguais do mundo?

É um dos mais desiguais, mas também é um dos países que mais fez para reduzir a desigualdade nos últimos 18 anos. Isso mostra que o aumento da desigualdade não é inevitável, e reforça o papel de políticas e da política na modelagem da desigualdade hoje.

A desigualdade também cresce nos países ricos pelos mesmos motivos?

É a política que está modelando os mercados, e o nível de desigualdade está moldando a política. Há um ciclo vicioso: na medida em que temos mais desigualdade econômica, temos um sistema político que gera leis que criam ainda mais desigualdade.

Se o livre mercado não vai possibilitar uma sociedade mais igualitária, a resposta é o Estado ou algo no meio?

A questão não é igualdade, mas sim extrema desigualdade. Muitas das desigualdades extremas são criadas por leis ineficazes, que têm um grande papel na criação da desigualdade. Somando-se a isso, temos investimentos inadequados em educação, continuamos a discriminar, a enfraquecer os sindicatos, em particular, nos Estados Unidos. Portanto, o que vemos é uma série de políticas que tem ajudado os que estão no topo, mas ferido a base da pirâmide.

Por outro lado, emergentes ganham mais espaço. O mundo não está ficando mais igualitário?

Se não olhar para as identidades nacionais, parece que o mundo está se tornando mais igualitário. Mas ao mesmo tempo a desigualdade está aumentando na maioria dos países.

O senhor vê um fim para a crise do euro? A presidente brasileira tem dito que há muita austeridade.

Ela está absolutamente certa. As reformas estruturais — a união fiscal e bancária — são passos na boa direção, mas muito lentos. Por outro lado, o que me deixa otimista é que continuam a falar de crescimento e realizam que só austeridade não é a resposta.

Qual o ponto fraco dos europeus?

O problema foi a decisão de adotar o euro. O arranjo monetário foi prematuro, o que inibiu o ajuste. Todos os países industrializados têm que ajustar e reestruturar suas economias.

O fim do euro seria uma solução?

Inverter a História é frequentemente difícil. Teria sido melhor se eles nunca tivessem tido o euro. Uma vez que você tem, a resposta é fortalecer instituições europeias, união bancária e fiscal.

Larry Summers diz que os EUA devem parar com “obsessão prejudicial sobre o déficit”. Está certo?

Sim. O déficit não é o principal problema. No fim da Segunda Guerra, tínhamos déficit de 130% do PIB (Produto Interno Bruto) e o que se seguiu foi o período de maiores taxas de crescimento. A questão não é o déficit para o nosso futuro: é investimento em pessoas e infraestrutura e tecnologia. Não podemos continuar com déficit para sempre, mas podemos tomar empréstimos a 2% negativos e investir para obter retornos muito grandes.

O Brasil teve um crescimento muito pequeno no ano passado. Isso é motivo de preocupação?

É uma preocupação, mas acho que os fundamentos da economia brasileira são fortes. Obviamente, haverá altos e baixos, como em qualquer economia. Mas as medidas adotadas pela economia brasileira nos últimos 15 a 18 anos realmente colocaram o país numa posição de crescimento bastante forte.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Guerra habemus para rato

Juan Gelman
Página 12

El discurso que el domingo pasado pronunciara el presidente Obama al asumir su segundo mandato irritó a los republicanos y fue música celestial para los oídos liberales y progresistas de EE.UU. Dirigido esencialmente a prometer la resolución de los problemas de las minorías y de las clases medias del país, quién sabe si esos oídos –no exactamente sutiles– escucharon bien las parcas referencias atinentes a la política exterior que el mandatario deslizó en los 20 minutos de su intervención. Anuncian que continuará “la guerra por la democracia y la libertad” en todo el mundo.

“EE.UU. –dijo– seguirá siendo el ancla de fuertes alianzas en cada rincón del planeta y nosotros ampliaremos las instituciones que extienden nuestra capacidad de resolver las crisis en el exterior, porque nadie aporta una mayor contribución a un mundo pacífico que su nación más poderosa.” Esta retórica, traducida, significa que Obama fortalecerá la red de bases militares que EE.UU. ha instalado en todo el mundo. De hecho, el Pentágono ha comenzado a restaurar las bases abandonadas que instaló durante la Segunda Guerra Mundial diseminadas en todo el Pacífico.

El mes pasado, los marines reconstruyeron la base aérea de la isla Tinian y realizaron ejercicios militares con las tropas estadounidenses estacionadas en la cercana Guam, ambas en el Pacífico. La Secretaría de Estado revigoriza las relaciones con Tailandia y otros países de la región para aumentar en éstos el número de sus bases, sin desdeñar las abandonadas por la derrota de Vietnam. La Casa Blanca se prepara para un posible conflicto con China a fin de contener su creciente poderío económico.

“Apoyaremos la democracia del Asia al Africa –agregó Obama–, de las Américas al Medio Oriente, porque nuestros intereses y nuestra conciencia nos impulsan a actuar en favor de quienes anhelan la libertad.” No parece que este principio se aplicará a Qatar, Arabia Saudita, Barein, Omán, Yemen, Marruecos y otros países del Medio Oriente donde imperan regímenes autoritarios. Para qué: son amigos de EE.UU. En su discurso hizo Obama una mención significativa: “Pondremos fin a una década de guerra”, refiriéndose sin duda a la retirada de tropas estadounidenses de Afganistán en el 2014 aunque sin precisar cuántas seguirán allí. Cabe preguntarse: ¿acaso habrá más décadas de guerra?

Así parece indicarlo la entrevista que Leon Panetta, secretario de Defensa, concedió a ABC News en Bamako, capital de Mali, el lunes pasado. EE.UU. no disimula ya su apoyo a las tropas que el presidente socialista François Hollande envió a ese país para combatir a los jihadistas: aviones de la fuerza aérea estadounidense siguen transportando efectivos franceses, equipo y vehículos blindados al campo de batalla. “Panetta dijo que el tipo de asistencia logística que EE.UU. proporciona a Francia podía servir de modelo en futuras acciones militares de respaldo a sus aliados. ‘Nuestro deseo y nuestra capacidad para ayudar a otros países como Francia permiten perseguir a los Al Qaida en el Magreb. Pienso que es el tipo de modelo que veremos aplicar en el futuro’”. El jefe del Pentágono advierte, tal vez sin quererlo, acerca de futuras intervenciones militares de EE.UU. y la OTAN en países que no se plieguen a los intereses de EE.UU. y la Unión Europea.

El primer ministro británico David Cameron rescató la bandera de “la cruzada antiterrorista”, como la definió W. Bush. Refiriéndose a la toma de rehenes en Argelia, la más sangrienta que se conoce en la materia, subrayó que el hecho era “una dura recordación” de la amenaza terrorista en Africa y “requiere una respuesta global, que más que meses, durará años e incluso décadas”. Se percibe el eco de las declaraciones que el ex vicepresidente Dick Cheney formuló cuando la invasión a Irak.

La entrada de Francia en Mali, ¿es el prólogo de la estrategia militar del imperio diseñada para dominar ya a Africa, Asia y “las Américas”? En Africa sirve ahora como contención a la influencia china en el continente negro y en Mali, además y concretamente, para defender los intereses mineros y petroleros de Francia. En realidad, hace años que las fuerzas armadas de EE.UU. entrenan a efectivos malienses y de otros países de la región. El gobierno de W. Bush estableció en el 2005 la asociación trans-sahariana contra el terrorismo que integran once naciones africanas: Argelia, Burkina Faso, Libia, Marruecos, Túnez, Chad, Mali, Mauritania, Níger, Nigeria y Senegal, con las que EE.UU. lleva a cabo ejercicios militares cada año (www.globalresearch.ca, 19-1-13). Valga la reiteración: ¿se avecina otra década de guerras?

La guerra no es una aventura, es una enfermedad, como el tifus, supo decir Antoine de Saint-Exupéry. Los gobiernos de los países desarrollados de Occidente, ¿están enfermos?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O neoliberalismo está acabado?

George Montbiot
The Guardian

No ano 2012, as cem pessoas mais ricas do mundo enriqueceram 241.000 milhões de dólares a mais. Sua riqueza se estima agora em 1,9 trilhões de dólares, só um pouco menos que o PIB do Reino Unido. Isto não é consequência do azar. O aumento das fortunas dos super-ricos é resultado direto de medidas políticas. Aqui vão algumas: a redução das taxas de impostos e da ação fiscal; a negativa dos Estados em recuperar uma porção dos ingressos procedentes dos minerais e da terra; a privatização de ativos públicos e a criação de uma economia de cabines de pedágio; a liberalização salarial e a destruição da negociação coletiva.

As medidas políticas que fizeram tão ricos os monarcas globais são aquelas medidas que estão espremendo todos os demais. Não é isto o que a teoria previa. Friedrich Hayek, Milton Friedman e seus discípulos – em mil escolas de negócios, o FMI, o Banco Mundial, a OCDE e mais ou menos todos os governos modernos – argumentaram que quanto menos os Estados acionem fiscalmente os ricos, menos defendam os trabalhadores e redistribuam a riqueza, mais próspero será todo o mundo. Toda tentativa de reduzir a desigualdade iria ferir a eficiência do mercado, impedindo que a maré ascendente elevasse todos os barcos. Seus apóstolos levaram a cabo uma experiência global durante 30 anos e os resultados estão hoje à vista. Fracasso total.

Antes de continuar, deveria esclarecer que não acredito que o crescimento econômico perpétuo seja sustentável ou desejável. Mas se o objetivo é o crescimento – um objetivo que todo governo diz perseguir –, não se pode organizar maior desatino no tocante a isso que liberando os super-ricos das restrições estabelecidas pela democracia.

O relatório anual do ano passado da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) deveria haver suposto um atestado de óbito do modelo neoliberal desenvolvido por Hayek, Friedman e seus discípulos. Mostra, inequivocamente, que suas políticas conseguiram resultados opostos aos que previam. Na medida em que essas políticas (cortar impostos aos ricos, privatizar ativos do Estado, desregular o mercado de trabalho, reduzir a seguridade social) começavam a dar dentadas, dos anos 80 em diante, também passaram a cair as taxas de crescimento e a aumentar o desemprego.

O notável crescimento dos países ricos durante as décadas de 50, 60 e 70 se fez possível graças à destruição da riqueza e do poder da elite, como resultado da Depressão e da II Guerra Mundial. Sua escalada outorgou, aos 99% restante, uma oportunidade sem precedentes de exigir tudo o que tal crescimento estimulou em redistribuição, gasto público e seguridade social. O neoliberalismo foi uma tentativa de inverter o sentido destas reformas. Generosamente financiado por milionários, seus defensores tiveram um êxito assustador: no político. No econômico, fracassaram.

Em todos os países da OCDE, os impostos se fizeram mais regressivos: os ricos pagam menos, os pobres pagam mais. O resultado, sustentavam os neoliberais, seria que aumentariam a eficiência econômica e o investimento, enriquecendo todos. Aconteceu o contrário. Enquanto diminuíam os impostos aos ricos e às empresas, caiu a capacidade de gasto, tanto do Estado como da população mais pobre, e se contraiu a demanda. O resultado foi que caíram as taxas de investimento, em sintonia com as expectativas de crescimento das empresas.

Os neoliberais insistiram também em que a desigualdade irrestrita em ingressos e os salários flexíveis reduziriam o desemprego. Mas em todo o mundo rico, tanto a desigualdade como o desemprego dispararam. O recente salto do desemprego na maioria dos países desenvolvidos – pior que o de qualquer recessão prévia das últimas três décadas – se viu precedido da cota em proporção dos salários no PIB mais baixa desde a II Guerra Mundial. Explode em migalhas a teoria. Fracassou pela mesma razão evidente: os baixos salários deprimem a demanda, que deprime o emprego.

Conforme os salários se estancavam, as pessoas complementavam seus ingressos endividando-se. O aumento da dívida alimentou os bancos desregulados, com as consequências que todos somos conscientes. Quanto maior a desigualdade, descobre o relatório das Nações Unidas, menos estável é a economia e mais reduzidas suas taxas de crescimento. As medidas políticas com as quais os governos neoliberais tratam de reduzir seu déficit e estimular sua economia são contraproducentes.

A eminente redução no degrau superior do imposto sobre a renda no Reino Unido (de 50% a 45%) não suporá um impulso para os ingressos do Estado ou da empresa privada, mas enriquecerá os especuladores que fizeram vir abaixo a economia: o Goldman Sachs e outros bancos estão agora pensando em como aproveitar-se disso.

A lei de bem-estar social aprovada pelo Parlamento britânico na semana passada não ajudará a limpar o déficit ou estimular o emprego: reduzirá a demanda, suprimindo a recuperação econômica. O mesmo vale para o teto posto às remunerações do setor público. “Voltar a aprender algumas antigas lições sobre justiça e participação”, afirma a ONU, “é a única forma de acabar superando a crise e prosseguir por um caminho de desenvolvimento econômico sustentável”.

Como disse antes, não tenho favorito nesta corrida, salvo a crença de que ninguém, neste oceano de riquezas, deveria ser pobre. Mas observando, atônito, as lições desaprendidas na Grã-Bretanha, na Europa e nos Estados Unidos, me chama a atenção que toda a estrutura do pensamento neoliberal seja uma fraude. As demandas dos ultra-ricos se vestiram de teoria econômica sofisticada e foram aplicadas independentemente de seu resultado. O completo fracasso desta experiência em escala mundial não é impedimento para que se repita. Isto não tem nada a ver com a economia. Tem absolutamente a ver com o poder.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Tzvetan Todorov: Populistas e messiânicos, inimigos íntimos da civilização ocidental

Fabio Gambaro
La Repubblica

O estudioso franco-búlgaro fala sobre seu último livro sobre os problemas e os perigos internos das democracias contemporâneas. "O problema é quando se buscam soluções simples para problemas complexos vendendo milagres. O outro risco é querer impor o próprio modelo distorcendo a ideia de progresso".

"Povo, liberdade e progresso são fundamentos da democracia, mas que, quando alimentam o populismo, o ultraliberalismo e o messianismo, podem se tornar uma ameaça para a própria democracia". Esse é o grito de alerta lançado por Tzvetan Todorov em seu novo livro, Os inimigos íntimos da democracia alternando perspectiva histórica e reflexão teórica, analisa minuciosamente os desvios e as contradições que correm o risco de minar por dentro o funcionamento do nosso sistema político.

O estudioso francês de origem búlgara parte da constatação de que, hoje, a democracia não corre mais o risco de ser posta novamente em discussão pelos seus tradicionais inimigos externos, a saber, o fascismo ou o comunismo. "Mesmo que depois do 11 de setembro haja quem tente transformar o Islã em um inimigo global de democracia, na realidade, para os sistemas democráticos, as ameaças externas não são mais um perigo real", explica Todorov.

"Hoje, os verdadeiros perigos provêm de dentro da própria democracia, daqueles que eu chamei de 'inimigos íntimos', formas de perversão ou de distorção de alguns dos seus princípios básicos. O populismo, o ultraliberalismo ou o messianismo não são o contrário do que a democracia aspira, mas sim o resultado da desmedida de alguns elementos – povo, liberdade e progresso – que a constituem. Tal desmedida se tornou possível porque, especialmente no século XX, desapareceram as limitações recíprocas às quais esses elementos estavam submetidos". Eis a entrevista.

Na forma clássica da democracia liberal, interesses coletivos e interesses individuais sempre devem se equilibrar?

O liberalismo clássico, de Locke a Montesquieu, proclamou a liberdade dos indivíduos, mas sem nunca imaginá-la como uma liberdade ilimitada. Como lembrava Burke, a liberdade no espaço público sempre se torna um poder. Para os pensadores do liberalismo, todo poder sem limites é um perigo. Quem tem um poder tenta expandi-lo, e a tentação da tirania é inerente ao comportamento humano. Por conseguinte, para o bom funcionamento do Estado, os poderes devem ser limitados e contrabalançados reciprocamente. Só assim evita-se o risco de despotismo.

Esse equilíbrio seria o coração da democracia?

Exatamente. A democracia não é caracterizada pelo domínio de um único princípio, mas sim pelo equilíbrio entre diversos princípios. Quando isso falta, corre-se o risco de desvios inquietantes. O caso mais evidente é o do ultraliberalismo, fruto de uma exasperação desmedida do justo princípio da liberdade.

A liberdade deve ser limitada?

Desde sempre, as pessoas apresentam reivindicações de liberdade individual, mas também de pertencimento coletivo. Mas bem comum e bem individual nem sempre vão na mesma direção. A democracia, graças à sua natureza mista, se esforça para preservar ambos. No passado, as chamadas democracias populares – que eu conheci quando jovem na Bulgária –, em nome do interesse coletivo, não deixavam nenhuma liberdade para o indivíduo. Hoje, as democracias correm o risco contrário, ou seja, a tirania do indivíduo que, em nome de uma liberdade absoluta e desmedida, submete toda a vida social ao domínio de uma vida econômica regulada exclusivamente pelas leis do mercado. Nessa perspectiva, postula-se a ausência de todo controle da sociedade e da política sobre as forças individuais da economia. E às vezes se chega até ao neoliberalismo de Estado, que é uma monstruosa combinação em que a função do Estado se torna a de desmantelar o próprio Estado e de impedir qualquer controle da sociedade sobre as atividades dos indivíduos.

O primado do indivíduo recusa-se a levar em consideração o interesse coletivo?

Sim, mas mesmo quando a sociedade tenta se ocupar do bem comum, a mundialização da economia muitas vezes elimina qualquer possibilidade de intervenção sua. Isso pode ser visto hoje na França, onde Hollande sofre para concretizar as promessas eleitorais, descobrindo que tem um margem de manobra muito limitada. Diante do poder da economia, o poder político se encontra impotente. E as democracias correm o risco de se transformar em oligarquias dirigidas pelos poucos que controlam o poder econômico.

O messianismo é o risco que a democracia corre quando, considerando-se superior, acha que deve intervir para impor aos outros seus próprio princípios. É isso?

O messianismo político é uma forma de arrogância que se apossou das pessoas no tempo do Iluminismo, distorcendo a exigência do progresso. O colonialismo, com a sua pretensão de impor aos povos selvagens uma civilização considerada superior, nascia a partir dessa perspectiva. Mesmo a sociedade ideal do comunismo era uma espécie de messianismo. Hoje estamos em uma nova fase, caracterizada por guerras que pretendem levar o bem a outros povos. É uma atitude messiânica que lembra o período colonial. Como naquela época, acreditamos ingenuamente na superioridade da democracia, a ponto de considerarmos justo e legítimo impô-la também aos outros através de guerras assimétricas, cujas vítimas são sobretudo as populações civis. Tudo isso não faz nada mais do que enfraquecer a democracia.

Outro inimigo "íntimo" da democracia é o populismo...

O populismo não se manifesta somente através da xenofobia e do racismo. De fato, ele está presente todas as vezes em que se pretende encontrar soluções simples para problemas complexos, propondo receitas milagrosas para a atenção distraída de quem não tem o tempo de aprofundar. O populismo pode ser tanto de direita quanto de esquerda, mas sempre propõe soluções imediatas que não levam em conta as consequências a longo prazo. O populismo prefere as simplificações e as generalizações, explora o medo e a insegurança, apela o povo, gerando um curto-circuito nas instituições. Mas a democracia não é uma assembleia permanente nem uma pesquisa contínua.

Certos comportamentos dos políticos não aprofundam o fosso que os separa da sociedade?

Sempre foi assim, que o homem de poder não tem a mesma vida do homem comum. Ele esquece as críticas passadas para aproveitar a posição conquistada. Soma-se a isso o problema da "despersonalização" do poder. No passado, as formas de poder eram mais facilmente identificáveis, e assim era possível se voltar contra um adversário visível. Com a mundialização, o poder econômico se tornou um poder difuso, esquivo, impessoal. Não sabemos mais como agir, contra quem se revoltar. Sentimo-nos impotentes. O que explica uma certa desilusão com relação à democracia.

O senhor a compartilha?

Estou convencido de que a democracia ainda tem a possibilidade de intervir ao menos em parte na realidade. Os partidos e seus programas não são todos iguais, e com o voto é possível determinar algumas escolhas coletivas no plano da economia e da sociedade.

Os cidadãos muitas vezes têm a impressão de contar mais através das iniciativas de base do que através dos rituais da democracia. O que o senhor pensa a respeito?

A democracia talvez perdeu uma parte do seu poder de atração, mas através dos seus mecanismos ela ainda confere muito poder, mesmo que os resultados sejam menos visíveis do que no passado. Embora enfraquecido, o poder do Estado continua sendo importante. É um poder que deve ser exercido votando, controlando. A democracia não se esgota em uma única forma de participação. O sufrágio universal certamente é um princípio fundamental, mas é apenas um elemento entre muitos outros. É por isso que a multiplicação dos níveis de envolvimento na vida pública é um sinal da vitalidade da democracia.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Tzvetan Todorov: Os inimigos íntimos da democracia


Segundo Tzvetan Todorov, em 2003, a invasão do Iraque pelas forças armadas norte-americanas e a consequente deposição do regime de Saddam Hussein foram baseadas num jogo de mentiras e meias verdades que estarreceu o mundo. As armas de destruição em massa supostamente à disposição do Exército iraquiano jamais foram encontradas, e desde então tem sido quase impossível justificar essa intervenção militar sem admitir que os interesses da indústria do petróleo sempre estiveram por trás do discurso pró-democracia evocado pela coalizão ocidental. Do mesmo modo, em nome de valores universalmente reconhecidos como autodeterminação dos povos e direitos humanos, os bombardeios da OTAN que se seguiram à revolução popular na Líbia reeditam os piores episódios do imperialismo europeu no século XIX.

Para o autor, esses são apenas alguns dos exemplos que podem evidenciar o que ele chama de 'a assustadora corrosão da democracia no mundo contemporâneo'. Ele defende que a cidadania encontra-se cada vez mais ameaçada pela combinação entre o cinismo dos políticos tradicionais, indiferentes aos verdadeiros anseios da sociedade, e a ascensão de movimentos populistas à direita e à esquerda. Todorov intervém no debate público sobre a sobrevivência da democracia no século XXI, emitindo um alerta sobre a sorrateira supressão das liberdades engendrada por governos, mídias e corporações.

Nas palavras de Todorov: “As democracias também se valem de certa concepção da ação política. Também nesse aspecto, tentam evitar dois extremos. Por um lado, a diferença das teocracias e dos regimes totalitários, elas não prometem à sua população a salvação, nem lhe impõem o caminho a seguir para alcançá-la A construção do paraíso na Terra não faz parte do seu programa; a imperfeição de toda ordem social é considerada como um dado prévio. Mas, por outro lado, as democracias tampouco se confundem com os regimes tradicionalistas e conservadores nos quais se pensa que nenhuma regra imposta pela tradição deve jamais ser questionada. Elas recusam as atitudes fatalistas de resignação. Essa posição intermediária autoriza interpretações divergentes, mas pode-se dizer que toda democracia implica a ideia de um melhoramento possível da ordem social, de um aperfeiçoamento graças aos esforços da vontade coletiva. Hoje em dia o termo “progresso” é mantido sob suspeita, mas a ideia que ele recobre é inerente ao projeto democrático. E o resultado aí está: os habitantes dos países democráticos, embora freqüentemente se mostrem insatisfeitos com sua condição, vivem num mundo mais justo do que aquele dos habitantes dos outros países. Eles são protegidos pelas leis; gozam da solidariedade entre membros da sociedade que beneficia os idosos, os doentes, os desempregados, os miseráveis, podem invocar os princípios de igualdade e de liberdade, e até um espírito de fraternidade.”

domingo, 20 de janeiro de 2013

La mayor amenaza a la paz mundial

Noam Chomsky
La Jornada

Al informar sobre el debate final de la campaña presidencial en Estados Unidos, The Wall Street Journal observó que el único país más mencionado (que Israel) fue Irán, al cual la mayoría de naciones de Medio Oriente ven como la mayor amenaza a la seguridad de la región. Los dos candidatos estuvieron de acuerdo en que un Irán nuclear es la mayor amenaza a la región, si no al mundo, como Romney sostuvo explícitamente reiterando una opinión convencional.

Acerca de Israel, los candidatos rivalizaron en declararle su devoción, pero ni así los funcionarios israelíes se dieron por satisfechos. Esperaban “un lenguaje más ‘agresivo’ de Romney”, según los reporteros. No fue suficiente que Romney exigiera que no se permitiese a Irán alcanzar un punto de capacidad nuclear.

También los árabes estaban insatisfechos, porque los temores árabes acerca de Irán se debatieron desde la óptica de la seguridad israelí, no de la región, y las preocupaciones de los árabes se pasaron por alto: una vez más, el tratamiento convencional.

El artículo del Journal, como incontables otros sobre Irán, deja sin respuesta preguntas esenciales, entre ellas: ¿quién exactamente ve a Irán como la amenaza más grave a la seguridad? ¿Y qué creen los árabes (y la mayor parte del mundo) que se puede hacer ante esa amenaza, la vean como la vean? La primera pregunta es fácil de contestar. La amenaza iraní es abrumadoramente una obsesión de Occidente, compartida por dictadores árabes, aunque no por las poblaciones árabes.

Como han mostrado numerosas encuestas, aunque los ciudadanos de los países árabes en general no simpatizan con Irán, no lo consideran una amenaza muy grave. Más bien perciben que la amenaza son Israel y Estados Unidos, y muchos, a veces importantes mayorías, ven en las armas nucleares iraníes un contrapeso a esas amenazas.

En altas esferas de Estados Unidos algunos están de acuerdo con la percepción de las poblaciones árabes, entre ellos el general Lee Butler, ex jefe del Comando Estratégico. Él dijo en 1998: Es en extremo peligroso que en el caldero de animosidades que llamamos Medio Oriente, una nación, Israel, deba contar con un poderoso arsenal de armas nucleares, que inspira a otras naciones a tenerlo también.

Aún más peligrosa es la estrategia de contención nuclear de la que Butler fue diseñador principal por muchos años. Tal estrategia, escribió en 2002, es una fórmula para una catástrofe sin remedio, y llamó a Estados Unidos y otras potencias atómicas a aceptar los compromisos contraídos dentro del Tratado de No Proliferación Nuclear (TNPN) y hacer esfuerzos de buena fe para eliminar la plaga de las armas atómicas.

Las naciones tienen la obligación legal de tomar en serio esos esfuerzos, decretó la Corte Mundial en 1996: Existe la obligación de avanzar de buena fe y llevar a término las negociaciones orientadas al desarme nuclear en todos sus aspectos, conforme a un control internacional estricto y efectivo. En 2002, el gobierno de George W. Bush declaró que Estados Unidos no está comprometido por esa obligación.

Una gran mayoría del mundo parece compartir la opinión de los árabes sobre la amenaza iraní. El Movimiento de Países No Alineados (Mnoal) ha apoyado con vigor el derecho de Irán a enriquecer uranio; la expresión más reciente fue en la reunión cumbre en Teherán, en agosto pasado.

India, el miembro más populoso del Mnoal, ha encontrado formas de evadir las onerosas sanciones financieras de Estados Unidos a Irán. Se llevan a cabo planes para vincular el puerto iraní de Chabahar, reacondicionado con asistencia india, con Asia central a través de Afganistán. También se informa que las relaciones comerciales se incrementan. Si no fuera por las fuertes presiones de Washington, es probable que estos vínculos naturales tuvieran una mejoría sustancial.

China, que tiene estatuto de observadora en el Mnoal, hace lo mismo en buena medida. Expande los proyectos de desarrollo hacia occidente, entre ellos iniciativas para reconstituir la antigua Ruta de la Seda hacia Europa. Una vía férrea de alta velocidad conecta a China con Kazajstán y más allá. Es probable que llegue a Turkmenistán, con sus ricos recursos energéticos, y que se conecte con Irán y se extienda a Turquía y Europa.

China también ha tomado el control del importante puerto de Gwadar, en Pakistán, que le permite obtener petróleo de Medio Oriente evitando los estrechos de Ormuz y Malaca, saturados de tráfico y controlados por Estados Unidos. La prensa paquistaní reporta que las importaciones de crudo de Irán, los estados árabes del Golfo y África podrían transportarse por tierra hacia el noroeste de China a través de este puerto.

En su reunión de agosto en Teherán, el Mnoal reiteró su vieja propuesta de mitigar o poner fin a la amenaza de las armas nucleares en Medio Oriente instaurando una zona libre de armas de destrucción masiva. Los pasos en esa dirección son, sin duda, la manera más directa y menos onerosa de superar esas amenazas, la cual es apoyada por casi el mundo entero.

El mes pasado se presentó una excelente oportunidad de aplicar esas medidas, cuando se planeó una conferencia internacional sobre el tema en Helsinki. Se realizó una conferencia, pero no la que estaba planeada. Sólo organizaciones no gubernamentales participaron en la reunión alternativa, organizada por la Unión por la Paz, de Finlandia. La conferencia internacional planeada fue cancelada por Washington en noviembre, poco después de que Irán accedió a asistir.

La razón oficial del gobierno de Obama fue la turbulencia política en la región y la desafiante postura de Irán sobre la no proliferación, según la agencia Associated Press, junto con una falta de consenso sobre cómo enfocar la conferencia. Esa razón es la referencia aprobada al hecho de que la única potencia nuclear de la región, Israel, se negó a asistir, alegando que la solicitud de hacerlo era coerción.

En apariencia, el gobierno de Obama mantiene su postura anterior de que las condiciones no son apropiadas a menos que todos los miembros de la región participen. Estados Unidos no permitirá medidas para someter las instalaciones nucleares de Israel a inspección internacional. Tampoco revelará información sobre la naturaleza y alcance de las instalaciones y actividades nucleares israelíes.

La agencia de noticias de Kuwait informó de inmediato que el grupo árabe de estados y los estados miembros del Mnoal acordaron continuar negociando una conferencia para instaurar una zona libre de armas nucleares en Medio Oriente, así como de otras armas de destrucción masiva.

El mes pasado, la Asamblea General de la ONU aprobó por 174-6 una resolución en la que llama a Israel a adherirse al TNPN. Por él no votó el contingente acostumbrado: Israel, Estados Unidos, Canadá, las Islas Marshall, Micronesia y Palau.

Días después, Estados Unidos realizó un ensayo nuclear, impidiendo una vez más a inspectores internacionales el acceso al sitio de la prueba, en Nevada. Irán protestó, al igual que el alcalde de Hiroshima y algunos grupos de paz japoneses.

Desde luego, instaurar una zona libre de armas atómicas requiere de la cooperación de las potencias nucleares: en Medio Oriente, eso incluiría a Estados Unidos e Israel, que se niegan a darla. Lo mismo ocurre en otras partes. Las zonas de África y el Pacífico aguardan la aplicación del tratado porque Estados Unidos insiste en mantener y mejorar las bases de armas nucleares en las islas que controla.

Mientras se llevaba a cabo la conferencia de ONG en Helsinki, en Nueva York se realizó una cena bajo los auspicios del Instituto sobre Políticas sobre el Cercano Oriente, de Washington, ramificación del cabildo israelí. Según una nota entusiasta sobre esa gala en la prensa israelí, Dennis Ross, Elliott Abrams y otros ex consejeros de alto nivel de Obama y Bush aseguraron a los presentes que el presidente atacará (a Irán) si la diplomacia no funciona: un muy atractivo regalo de fiestas decembrinas.

Es difícil que los estadunidenses estén enterados de cómo la diplomacia volvió a fallar, por una sencilla razón: virtualmente no se informa nada en Estados Unidos sobre el destino de la forma más obvia de lidiar con la más grave amenaza: instaurar una zona libre de armas nucleares en Medio Oriente.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Aaron Swartz y la libertad para conectarse

Amy Goodman
Democracy Now!

Aaron Swartz sólo quería cambiar el mundo. Y era eso lo que hacía, hasta que se quitó la vida a los 26 años de edad este 11 de enero. Aaron era un activista por la justicia social, dotado de una profunda comprensión del funcionamiento de las computadoras e Internet y de cómo estos elementos podían dar poder a personas de todo el mundo mediante la libertad para conectarse. Humilde e insaciablemente curioso, Aaron logró mucho en su corta vida. Fue uno de los líderes de la lucha para derrotar a la Ley de Cese a la Piratería en Internet, más conocida como “SOPA”, una ley federal que habría cambiado para siempre el uso de Internet, ya que otorgaba amplios poderes de censura on line a las compañías. Aaron se convirtió en blanco de encarnizados fiscales federales que lo acusaron de graves delitos electrónicos, lo cual, según su padre, su abogado y otras personas, contribuyó a su suicidio.

A los 14 años de edad, Aaron colaboró en el desarrollo del sistema RSS , “Really Simple Syndication”, que cambió la manera en que la gente accede a los contenidos en Internet al permitir que las personas se suscriban a distintas fuentes de información y reciban las actualizaciones directamente en sus equipos. RSS permite que los podcasts lleguen a millones de personas. Aaron ayudó también a desarrollar "Creative Commons", en español “Bienes Comunes Creativos”, una alternativa a la propiedad intelectual que alienta a autores y editores a compartir contenidos. Fundó además la compañía Infogami, que luego se fusionó con Reddit, un sistema que permite a los usuarios evaluar y promover en forma colectiva contenidos compartidos y es actualmente uno de los sitios web más utilizados del mundo. Estudió en la Universidad de Standford y en 2010 se convirtió en miembro del Centro para la Ética Edmond J. Safra de la Universidad de Harvard.

Sus problemas legales comenzaron mientras estaba en Harvard. Aaron utilizaba Internet en el cercano Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT , por sus siglas en inglés) para acceder a un repositorio de artículos académicos digitalizados administrados por una organización sin fines de lucro llamada JSTOR , que aparentemente notó que un único usuario bajaba grandes cantidades de documentos y se puso en contacto con el MIT para investigar.

Finalmente, Aaron fue arrestado en las afueras del MIT , con una computadora portátil y algunos discos duros que supuestamente contenían aproximadamente cuatro millones de artículos electrónicos. JSTOR decidió no presentar cargos y Aaron devolvió todos los artículos. Eso no le importó a Carmen Ortiz, fiscal federal de Estados Unidos en Boston, nombrada en el año 2009 por el Presidente Barack Obama. Ortiz, junto al Fiscal Federal Adjunto Stephen P. Heymann, puso sobre los hombros de Aaron trece cargos por delitos graves, amparándose en la Ley de Fraude y Abuso Computarizado ( CFAA ), una ley problemática y demasiado amplia destinada a personas que roban secretos de computadoras del gobierno o de instituciones financieras.

La familia de Aaron emitió un comunicado en el que afirma: "La muerte de Aaron no es solamente una tragedia personal. Es el producto de un sistema judicial donde reinan las intimidaciones y los excesos procesales. Las decisiones que tomaron los funcionarios de la fiscalía de Massachusetts y del MIT contribuyeron a su muerte. La fiscalía procuraba un conjunto de cargos excepcionalmente severos que podrían implicar más de 30 años de prisión en castigo por un presunto delito del que no había víctimas. Por su parte, el MIT , a diferencia de JSTOR , se negó a defender a Aaron y a los más preciados principios de su propia comunidad".

Taren Stinebrickner-Kauffman, la compañera de Aaron, me contó sobre su activismo: "Aaron era la persona más dedicada a luchar contra la injusticia social de todas las personas que he conocido en mi vida, y lo amaba por eso. Yo siempre le decía: ‘¿Por qué no hacemos esto? Te va a hacer feliz’. Y él me decía: ‘No quiero ser feliz. Sólo quiero cambiar el mundo’. La libertad de acceso a la información era una de las causas en las que creía, pero no era la única. Durante los dos años que duró su suplicio, lideró la lucha contra SOPA , el proyecto de ley de censura en Internet que nadie creía que podría ser derrotado cuando se presentó por primera vez y que Aaron y millones de otras personas, juntos, lograron derrotar. Y él hizo todo eso mientras cargaba con el peso de estos cargos falsos y abusivos.”

Aaron participó en la fundación de la organización Demand Progress, que tiene como misión: “obtener cambios progresistas en las políticas para la gente común por medio de la organización y la presión ejercida desde las bases". El grupo llama a efectuar cambios a la Ley de Fraude y Abuso Computarizado, entre los que figuran apoyar un proyecto de ley presentado recientemente por la Representante Zoe Lofgren, demócrata por California, llamado “Ley Aaron”. El Director Ejecutivo de Demand Progress, David Segal, escribió: "Tal como está redactada actualmente, la 'Ley Aaron' por sí sola no habría salvado a Aaron, todavía queda trabajo por hacer para garantizar que los cargos por actividades electrónicas que no dejan víctimas dejen de ser considerados delitos graves, sin embargo es un punto de partida firme que podemos aprobar ahora y es una ley que él quería cambiar. Y por eso seguiremos presionando".

En el funeral de Aaron, importantes personalidades de la historia de Internet elogiaron al joven, entre ellos, Larry Lessig, de la Facultad de Derecho de Harvard, quien lo describió como "un alma increíble", y Sir Tim Berners-Lee, creador de la World Wide Web, que como respuesta inicial a la triste noticia publicó en Twitter: “Aaron ha muerto. Errantes del mundo, hemos perdido a un viejo sabio. Hackers del bien, somos uno menos. Padres, hemos perdido un hijo. Lloremos”. De adolescente, Aaron escribió en su blog: "No voy a perder el tiempo en cosas que no producirán impacto... Quiero hacer del mundo un lugar mejor”. Y lo hizo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Gramsci no cárcere, segundo Giuseppe Vacca

Josimar Teixeira
Gramsci e o Brasil

Acaba de ser lançado Vida e pensamento de Antonio Gramsci (1926-1937), a recentíssima biografia escrita por Giuseppe Vacca, que, com base em documentação muitas vezes inédita, ilumina as intrincadas relações entre o prisioneiro, seus familiares e o movimento comunista na Itália, na Rússia e na III Internacional. Os intermediários mais destacados destas relações são, como se sabe, a cunhada Tatiana, o economista Piero Sraffa e o dirigente Palmiro Togliatti.

Entre outros capítulos fundamentais, ressalta-se aquele que trata diretamente da heresia de Gramsci, ao examinar a concepção da “política como hegemonia” e a posição a favor da Constituinte e contra o choque frontal de classes, na virada dos anos 1920/30.

Vida e pensamento de Antonio Gramsci, com 507 páginas, é o sétimo lançamento da série Brasil e Itália, patrocinada pelo sítio Gramsci e o Brasil, pelas Fundações Instituto Gramsci (Roma) e Astrojildo Pereira (Brasília) e pela editora Contraponto, junto à qual o livro pode ser comprado diretamente. Participaram da edição, assinando respectivamente orelha, quarta-capa e prefácio, os professores Alberto Aggio, Rosemary Dore e Maria Alice Rezende de Carvalho.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

La conversión de Chávez en santo y mercancía

Sandra Weiss
El puercoespín

Caracas es un hervidero de rumores en estos días; y después de unos vasos de whisky añejo de 12 o 18 años en los bares opositores del Este, o en las acaloradas discusiones callejeras de los grupos chavistas en los cerros de Patere o Catia, a punta de cerveza y caña, espontáneos y autodenominados médicos o constitucionalistas florecen como las jacarandas en primavera. También prolifera el ácido humor dicharachero, irreverente, que caracteriza a los venezolanos, sangre Caribe después de todo: “Liberen a Chávez”, exigió un tuitero mordaz, desesperado ante el desconcertante y surrealista espectáculo que dan los seguidores del caudillo, pálidas copias del original con playeras rojas. Asustados por la pesada e inconclusa herencia anticipada, que deprisa les entregó su líder supremo, los chavistas ven surgir inquietantes contradicciones en sus filas, cada día con más fuerza.

Desde que irrumpió en la escena política en 1992, Hugo Chávez supo capturar la atención de todo el mundo, siempre polarizando. Hay quienes sienten hacia él un odio visceral, le atribuyen todos los males del caudillismo subdesarrollado latinoamericano; y hay también quienes lo glorifican como redentor de todos los pobres y oprimidos. Pero tal vez nunca ha sido tan omnipresente como en estas cuatro semanas que no ha aparecido en público. Porque el destino de todo un país y hasta de un continente parece depender de un solo hombre que, gracias a los petrodólares venezolanos, supo construir una amplia red de simpatizantes. A tal punto que La Habana, como en los inicios de la revolución castrista, renace de sus ruinas convertida en lugar de peregrinaje de líderes latinoamericanos.

¿Quién ha sido ese personaje tan singular y cómo logró convertirse en mito viviente? De eso y de Chávez como reinvención del caudillo militar, como producto de un gran sueño petrolero y de su épica hollywoodense, nos habló el venezolano Alberto Barrera Tyszka, autor junto con la periodista Cristina Marcano de la más alabada biografía no-oficial del personaje: Hugo Chávez sin uniforme. Una historia personal. Barrera Tyszka es también el autor de la premonitoria novela La enfermedad, premio Herralde de literatura 2006.

Usted escribió la biografía después de obtener los diarios secretos del jóven Chávez de manos de una ex-amante del caudillo, Herma Markman. ¿Cómo es el hombre que descubrió?

Cristina Marcano y yo comenzamos a investigar la vida de Chávez cuando no era todavía un mito en construcción, cuando no tenía tanta conciencia y control de su propia imagen. Fue antes del año 2004 y eso nos permitió acceder a fuentes desconocidas, o que no habían hablado, o que se expresaban más libremente. Entre esas fuentes están los diarios de Chávez cuando era un cadete en la Academia Militar. Son anotaciones que combinan emoción y candidez, que muestran a un joven con sensibilidad social, con una formación irregular de izquierda y con una ambición muy grande. Quizás eso sea lo más importante. Descubrir que el joven Chávez, a los 19 años de edad, ya soñaba con ser Presidente de Venezuela.

Los diarios son de su época de conspirador militar, pero ¿Cuál ha sido la metamorfosis de Chávez desde que llegó al poder en las elecciones de diciembre de 1998?

Chávez lleva años construyendo, de manera oral, su propia autobiografía. Es un hombre que habla mucho de todo, de manera a veces distinta e incluso contradictoria, y que también habla mucho de sí mismo. Chávez se ha reinventado desde el poder. Ha reescrito su historia personal hasta hacerla parte de la historia pública nacional. Quizás lo más viable sería hacer un seguimiento de cómo ha ido cambiando, en estos 14 años, la organización del poder en el país alrededor de su figura. Cómo puso al Estado a su servicio, cómo se desarrolló una industria publicitaria enorme, cómo —con un discurso moderno y de izquierda— se ha ido creando en Venezuela una sociedad cada vez más personalista y autoritaria. Creo que Chávez representa la reinvención del caudillismo militar en América latina. La vieja tradición uniformada y dominante del continente ahora habla nuestro lenguaje y usa twiter.

¿Y cómo logró convertirse Chávez en un personaje omnipresente e irremplazable?

Ni Chávez ni lo que ocurre en Venezuela puede ser analizado sin tomar en cuenta la complejidad que implica ser un país petrolero. Más que una definición económica, eso es una naturaleza, una dimensión cultural y política. Eso hace que Venezuela sea un país muy igual pero a la vez muy distinto al resto de los países de Latinoamérica. Porque Chávez no sólo ha tenido una vocación hegemónica de poder; no únicamente ha tenido una habilidad política y un manejo inescrupuloso de las reglas democráticas… también ha tenido un país, o gran parte de un país, encantado con escuchar lo que él dice. Chávez revivió nuestro sueño petrolero, la idea de que somos un país rico, donde no hay que producir sino saber repartir la riqueza. Eso también es la utopía bolivariana. Probablemente en el proyecto chavista hay más barriles de petróleo que ideología.

Ahora se está desarrollando el último capítulo de la biografía de Chávez. ¿Es un final digno de su mito? ¿Qué título le pondría?

Durante años, el gran problema de Chávez fue la épica. En realidad, no tenía una épica. Pero hablaba como si la tuviera. Su discurso beligerante y agresivo estaba montado sobre un océano de petróleo y no sobre una historia personal heroica. Nunca tumbó a un dictador. No estuvo en la guerrilla. Todo lo contrario. Viene del Ejército. Su única gloria era haber ganado las elecciones y, a partir de ahí, haber cambiado algunas reglas para irse atornillando cada vez más en el poder. Ahora, paradójicamente, consigue una épica pero donde de seguro menos lo hubiera deseado: en una tragedia clínica. Todo el manejo mediático que se ha hecho de la enfermedad apunta hacia allá. Y es un manejo preciso, cuidado, casi “hollywoodense”. En Venezuela estamos asistiendo a lo que parece ser el espectáculo de la consagración religiosa de Chávez. No sé qué título podría tener este capítulo. La épica de la jeringas, tal vez.













Los chavistas ya están transmitiendo spots para mitificar a su líder. Él mismo siempre se vio como heredero del Libertador Simón Bolívar. ¿Cuál será la imagen que quedará: Héroe trágico o farsante?

Eso es muy difícil de calcularlo ahora. Yo presiento que estamos a punto de ver un desarrollo industrial mediático pocas veces visto. Podríamos decir que el Estado está convirtiendo a Chávez en una mercancía, que estamos asistiendo al lanzamiento oficial del fetichismo del siglo XXI alrededor de la figura del Presidente.

Usted escribió un libro premiado que retrata la enfermedad y cómo afecta a toda una familia. ¿Cómo le ha afectado a Chavéz su enfermedad y cómo ha afectado eso a Venezuela?

Cualquier enfermedad siempre es una injusticia. En el caso de Chávez, que se soñaba ser eterno o al menos con larga vida en el poder, este hecho puede ser vivido de manera todavía más trágica. Para el país, la enfermedad ha sido un elemento más en la polarización. Chávez la usó políticamente sin ningún pudor. A esta altura, los venezolanos, incluyendo a los chavistas, no saben realmente qué mal padece Chávez y cuál es su estado de salud. No nos han dado diagnósticos clínicos sino himnos, peticiones de fé y de lealtad. Eso también puede ser un claro síntoma de la otra enfermedad, de la enfermedad del país.


Su ex-médico en octubre de 2011 dijo que padecía de un sarcoma canceroso incurable. Chávez reaccionó negando su enfermedad y la gravedad. ¿Es un enfermo de poder que se negó a aceptar su mortalidad?

No lo sé. Pero sospecho que Chávez sabía desde el principio qué tenía y cuál era la gravedad de su caso. Intuyo que su “curación” quizás solo fue una estrategia electoral.

¿Por qué no les importó a los venezolanos poner su destino en manos de un enfermo?

La mayoría de los venezolanos cree en Chávez. Y creyeron realmente que se había curado. Chávez siempre ha sido muy bueno en campañas electorales. Tiene esa capacidad de contagiar emoción y verdad. A esto hay que sumarle un dato fundamental para entender su popularidad: un incremento de más de 40 por ciento en el consumo de los venezolanos. La gente, a la hora de votar, no miró el gasto público, la deuda, el déficit. Solo siguió a alguien que prometía más consumo y que denunciaba que si la oposición ganaba le quitarían todo al pueblo.

¿Cuál es la herencia política que dejará Chávez? ¿El socialismo petrolero ha sido un sueño destinado al fracaso?

Soy de los que piensa que Chávez ha hecho cosas buenas e importantes en Venezuela. Pero creo que, como contraparte, también ha hecho cosas fatales, ha sumergido al país en una crisis total, muy difícil de enfrentar. Chávez jamás aceptó que había sido elegido para hacer un buen gobierno. El pensaba que estaba señalado para cambiar radicalmente la historia. Como buen militar, creyó que ser Presidente no era un cargo sino un rango.

¿Qué ocurrió en Venezuela, una de las democracias más antiguas de latinoamérica, para que los venezolanos sintieran la necesidad de un redentor como Chávez?

Déjame matizar un poco tu afirmación. Los 40 años que antecedieron a Chávez fueron de democracia representativa, es cierto. Pero antes, durante casi siglo y medio, Venezuela vivió en medio de guerras intestinas y enfrentamientos de caudillos. Nosotros tenemos una larga tradición militarista. Chávez despertó y aprovechó esta tradición, y la ha promovido y desarrollado, más aún desde el ejercicio de esa suerte de Estado mágico, capaz de repartir los bienes y la justicia, de reordenar la historia y el territorio.

Los acólitos de Chávez dicen que la Constitución es un "formalismo" intranscendente y que los 6.5 millones de venezolanos que piensan diferente son traidores, oligarcas y escuálidos. ¿Cómo se explica esta pugnacidad del chavismo ante su ausencia?

La dirigencia del PSUV está tratando de imitar a Chávez. Repiten sus gestos, hablan igual, apelan al mismo espíritu de confrontación. Esa es parte de su identidad, de la Marca Chávez. Lo único que están haciendo, con menos talento y gracia, es tratar de emular al líder. No hay que olvidar que uno de los primeros símbolos del chavismo, que aún lo usa, es el puño que golpea la palma de la mano. Es una amenaza. Es una comunicación violenta. Al parecer, quien quiera heredar a Chávez no puede renunciar a esa definición.

Parece que no sólo los chavistas se sienten huerfános; también la oposición se ve desorientada. ¿Cómo cambió la vida pública venezolana en 15 años de omnipresencia de Chávez?

Me temo que la vida pública quizás sea todavía más tensa. Puede, incluso, ser más desordenadamente agresiva. A medida que pasen los días y que Chávez siga sin aparecer, que sigan sin dar informes más o menos específicos sobre su salud, la situación se irá poniendo más crispada. Chávez representa una autoridad, un control, que ahora no está. El gobierno intenta que Nicolás Maduro y la imagen de la unidad chavista pueda sustituir a esa representación; pero no es tan sencillo. Tampoco creo que la omnipresencia de Chávez haya mermado. Hay todo un movimiento destinado a convertirlo en un dios histórico. No en balde, el oficialismo, actuando como una iglesia, ha empezado a repetir un calificativo que jamás había usado con Chávez: “Padre”. Es un término que hasta ahora solo se había destinado a Bolívar. Ahora tenemos dos Chávez: uno que convalece en La Habana y otro que asciende al cielo de la historia en el discurso del oficialismo.

¿Cuál ha sido la evolución del papel de Cuba en la era chavista y cuál es el destino de esa influencia sin Chávez y cuando los hermanos Castro ya son octogenarios?

Comenzó a ser muy fuerte a partir del 2002, después del golpe de Estado. Hay quien dice que incluso la idea de las misiones (los programas sociales del gobierno), fue una idea de Fidel. Hace años Chávez decidió oficialmente entregar a los cubanos todas las oficinas de registro y de identificación del país. Se dice que en muchas oficinas públicas hay asesores cubanos, pero todo permanece en ese mismo limbo de secreto que hay en un régimen autoritario. No se sabe a ciencia cierta cuántos hay, dónde están y a qué se dedican. Al parecer estamos en un momento culminante del cuento. Bien sea por la enfermedad de Chávez o por la edad de los hermanos Castro. Ahora, en La Habana, puede haber más de una agonía.

domingo, 13 de janeiro de 2013

A grande virada da resistência palestina

Baby Siqueira Abrão
Carta Maior

Mais de 250 mulheres e homens, sob o intenso frio do fim de madrugada de 11 de janeiro, fundaram Bab Al Shams (Porta do Sol), a mais nova vila palestina. Ali, no platô pedregoso de al-Tur, eles montaram, com a ajuda de ativistas de várias partes do mundo, dezenas de barracas para evitar a construção de novas casas para colonos israelenses. A construção da vila é uma iniciativa única e marca uma nova fase da resistência. Os palestinos, segundo a declaração distribuída durante a fundação da vila, não estão mais dispostos a esperar que o confisco de seu país se consume.

A resistência palestina acaba de entrar em nova fase. Com a fundação da vila de Bab Al Shams, em 11 de janeiro, ela mostra que a partir de agora vai criar fatos consumados para retomar, na prática, aquilo que é seu por direito

Logo depois que a maioria dos países presentes à Assembleia Geral da ONU de 29 de novembro de 2012 reconheceram o Estado da Palestina nos limites anteriores à ocupação militar israelense de 1967, com Jerusalém oriental como capital, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyhau, decidiu desafiar a decisão. Em represália às Nações Unidas, anunciou a construção de três mil unidades habitacionais para colonos judeus, duas mil delas, além de centro comercial e educacional, em al-Tur, área próxima a Jerusalém oriental que Israel denomina E1.

Al-Tur fica no Estado da Palestina. E é importantíssima do ponto de vista geoestratégico. Construir ali uma extensão da colônia judaica de Ma’ale Adumin – ela também erigida ilegalmente em território palestino –, como quer o governo israelense, significaria dividir a Cisjordânia em duas partes.

A Palestina ficaria, então, com três blocos geograficamente separados: Cisjordânia do norte, Cisjordânia do sul e Gaza. Todas elas sem nenhum tipo de comunicação umas com as outras. E sem acesso a Jerusalém.

O impacto na população palestina, lembra o Alternative Information Center (AIC), organização fundada e dirigida por pesquisadores palestinos e israelenses que apoiam a causa palestina, seria “desastroso”. As comunidades ficariam isoladas, o crescimento natural seria impedido e, como consequência, os moradores começariam a deixar as áreas vizinhas a Al-Tur. O caminho estaria aberto para o governo de Israel anexar mais terras a seu território.

Além disso, cerca de 2,3 mil beduínos que vivem em pequenas comunidades entre Ma’ale Adumin (localizada na Cisjordânia) e Jerusalém seriam expulsos. A maioria deles, diz o AIC, é composta de refugiados forçados a deixar o deserto de Naqab (em hebraico, Negev), ao sul da Palestina, quando os sionistas tomaram a região à força para fundar Israel.

Mais: aproximadamente 50 mil palestinos das cidades de Anata, Abu Dis e Azaria ficariam praticamente isolados do resto do mundo, espremidos entre a colônia judaica planejada em al-Tur do lado leste e o Muro do Confisco e do Apartheid a oeste. A única comunicação com seu próprio país seria feita por uma estrada que corta Belém e Ramala.

Hora de mudar as regras do jogo

Pois foi exatamente nessa área sensível, fundamental para a contiguidade do Estado da Palestina, que mais de 250 mulheres e homens, sob o intenso frio do fim de madrugada de 11 de janeiro, fundaram Bab Al Shams (Porta do Sol), a mais nova vila palestina.

Ali, no platô pedregoso de al-Tur, eles montaram, com a ajuda de ativistas de várias partes do mundo, dezenas de barracas retangulares de tecido emborrachado branco e creme, estruturadas com vigas de ferro. Uma delas abriga uma clínica médica. Outra anuncia, com letras enormes, em árabe e em inglês: “Bab Al Sham Village”.

A construção da vila é uma iniciativa única e marca uma nova fase da resistência. Os palestinos, segundo a declaração distribuída durante a fundação da vila, não estão mais dispostos a esperar que o confisco de seu país se consume. A união entre comitês populares, movimentos de jovens, organizações da sociedade civil e os verdadeiros donos daquela área, fortalecidos pela decisão da ONU de reconhecer a Palestina como Estado, efetuaram a ação não violenta mais importante e decisiva dos mais de 100 anos de resistência ao sionismo – o movimento político que tomou para si, na base do terrorismo e da força, a maior parte da Palestina. Mas o real objetivo, como Ben-Gurion deixou claro em carta escrita a seu filho, e como os sionistas jamais esconderam – o projeto faz parte do programa do Likud, o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e de outros partidos de Israel –, é tomar a Palestina inteira.

Até hoje de manhã, os palestinos vinham assistindo, impotentes, o governo de Israel levar adiante esse plano, roubando suas terras, destruindo suas casas e seus meios de vida. A construção de Bab Al Shams é o ponto de virada dessa história. Nem mesmo os helicópteros que passaram a sobrevoar a nova vila assim que a notícia chegou aos ouvidos do governo sionista, nem os numerosos soldados que cercaram o local podem mudar isso.

Os palestinos desistiram de esperar que seu direito à autodeterminação lhes seja concedido. Decidiram conquistá-lo por conta própria. Apropriaram-se, na prática, do que sempre foi seu. Mostraram, ao retomar suas terras, a disposição de lutar por elas centímetro por centímetro. Colocaram os sionistas contra o muro que eles mesmo construíram.

Em Bab Al Shams, em meio à montagem das tendas, Abdallah Abu-Rahmah, líder do Comitê Popular de Bil’in, declarava aos repórteres, fazendo eco ao conteúdo da declaração de Bab Al Shams, que “Israel impôs fatos consumados durante décadas, diante do silêncio da comunidade internacional. Agora é hora de mudar as regras do jogo. Somos os donos desta terra e imporemos a nossa realidade”.

Na Itália, Luisa Morgantini, ex-membro do Parlamento Europeu, aplaudiu a iniciativa, lamentando apenas não estar em Bab Al Sham. Em alguma parte do mundo, os hackerativistas do grupo Anonymous aprovaram a ação direta da resistência palestina: “Este assentamento é nosso”, declararam eles no Twitter. “E vai permanecer de pé até que os outros [as colônias ilegais construídas por Israel] tenham ido embora.”

Em Ramallah, a Dra. Hanan Ashrawi, membro da Comissão Executiva da OLP, parabenizou os organizadores e deu total apoio à ação: “Estimulamos a resistência popular não violenta contra a ocupação israelense em todo o Estado da Palestina”, disse ela, lembrando as privações que os palestinos enfrentam para viver em seu próprio país. “A iniciativa é uma ferramenta criativa e legítima para proteger a Palestina dos planos coloniais de Israel. Temos o direito de viver em qualquer parte de nosso Estado. Conclamamos a comunidade internacional a apoiar ações como essa e a dar proteção àqueles que são ameaçados pelas forças ocupantes por exercerem seu direito de resistir pacificamente à ocupação ilegal de Israel.”

A reação do governo israelense

Desafiado por uma ação baseada em seus próprios métodos – criar fatos consumados para tomar terras palestinas –, o governo israelense despachou soldados para instalar postos de controle (checkpoints) nos acessos à nova vila e para cercá-la, além de emitir uma ordem de “evacuação”, exigindo que os moradores deixassem a área. Nenhum deles fez um único movimento no sentido de sair dali, até porque naquele mesmo momento a Suprema Corte de Israel decidia favoravelmente a um recurso interposto pela resistência. Durante seis dias, declarou o tribunal, Bab Al Shams permanece onde está.

À medida que a noite descia, em torno de fogueiras, aquecidos por cobertores e pelo chá, a tradicional bebida palestina, os moradores receberam a boa notícia de que a instalação elétrica da vila estava pronta. Luzes foram acesas nas tendas, e notebooks, já sem bateria, ligados.

Aconchegados uns nos outros, palestinas, palestinos e ativistas estrangeiros preparavam-se para a primeira noite da nova vila. A primeira noite de um dia muito especial, marco da virada de um povo até então imobilizado por circunstâncias externas.

Em 11 de janeiro os palestinos decidiram fazer as próprias circunstâncias. A nova fase da luta contra o ocupação prosseguirá, como afirma a histórica Declaração de Bab Al Shams, cuja tradução vem a seguir.

Declaração de Bab Al Shams

Nós, filhas e filhos da Palestina, de todas as partes do país, anunciamos o estabelecimento da vila de Bab Al Shams. Nós, o povo, sem permissão da ocupação, sem permissão de ninguém, estamos aqui hoje porque este é nosso país e habitá-lo é um direito nosso.

Poucos meses atrás o governo israelense anunciou sua intenção de construir cerca de 4 mil unidades habitacionais na área que denomina E1.

Trata-se de uma área de 13 km2 que fica no território palestino confiscado de Jerusalém oriental, entre a colônia de Ma’ale Adumin, construída na Cisjordânia ocupada, e Jerusalém. Não permaneceremos calados enquanto a expansão das colônias e o confisco de nosso país continua. Portanto, pela presente declaração, estabelecemos a vila de Bab Al Shams para proclamar nossa crença na ação direta e na resistência popular.

Declaramos que a vila permanecerá em pé até que os donos destas terras tenham o direito de construir nelas.

O nome da vila foi retirado da novela Bab Alshams, do escritor libanês Elias Khoury. O livro descreve a história da Palestina por meio do amor entre um palestino, Younis, e sua esposa Nahila. Younis deixa a esposa para unir-se à resistência no Líbano enquanto Nahila permanece firme no que restou da vila de ambos, na Galileia. Durante os anos 1950 e 1960 Younis sai às escondidas do Líbano e volta à Galileia para encontrar a esposa na caverna de Bab Al Shams, onde ela dá à luz os três filhos do casal. Younis retorna à resistência e Nahila fica na caverna.

Bab Al Shams é a porta para nossa liberdade, é nossa firmeza. Bab Al Shams é nossa porta para Jerusalém. Bab Al Shams é a porta para o nosso retorno.

Durante décadas Israel tem criado fatos consumados enquanto a comunidade internacional permanece calada em resposta a essas violações. Chegou a hora de mudar as regras do jogo, de estabelecermos fatos consumados em nosso país. Esta ação, envolvendo mulheres e homens de norte a sul [da Palestina] é uma forma de resistência popular.

Nos próximos dias criaremos vários grupos de discussão, faremos apresentações educacionais e artísticas, passaremos filmes nesta vila. Os moradores de Bab Al Shams convidam todas as filhas e todos os filhos de nosso povo para participar e juntar-se à vila, a fim de dar apoio a nossa resistência.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Venezuela: Los dilemas del chavismo

Modesto Guerrero
Miradas al Sur

En la mañana del 11 de diciembre que Hugo Chávez miró el rostro estupefacto de Nicolás Maduro y le entregó la espada de Bolívar, no sólo se despedía un presidente, también daba inicio a una nueva etapa en el movimiento que nació con él veinte años atrás. Los dilemas del chavismo no comenzaron el día que sus militantes descubrieron que se estaban quedando sin líder.

Para comprender el chavismo en su dinámica actual, y las derivaciones al interior de Miraflores, en el PSUV y en la sociedad, hay que juntar sus tres claves: el líder, los movimientos sociales y el “partido militar”. La composición de esa simple ecuación la distingue de todos los movimientos conocidos en la historia latinoamericana.

La estructura del poder institucional bolivariano se asienta en cinco factores identificados con figuras centrales como José Vicente Rangel, o ministros y jefes políticos como Nicolás Maduro, Diosdado Cabello, Elías Jaua, Jorge Arreaza, Francisco Farruco Sesto, Tarek El Aisami y otros de menor pendulación o de audiencia sólo regional.

La presencia anímica de Hugo Chávez impide relaciones contradictorias, pero no avienta para siempre las visiones y modos distintos que se abrigan sobre cómo resolver la complicada transición interna. El proyecto común tiene miradas distintas. Una visión es de vocación socialdemócrata, animada por J. V. Rangel, una respetable personalidad de la izquierda más tradicional, que desde 2011 promueve una transición acordada con una parte de la burguesía, incluido un segmento moderado de la no chavista.

La segunda apuntaría a alguna versión del bonapartismo vernáculo latinoamericano. Aunque suele ser personificada por el ex teniente coronel bolivariano Diosdado Cabello, ex vicepresidente, varias veces ministro, gobernador derrotado de Miranda y actual Presidente de la Asamblea Nacional, va más allá de él. Se interna en los caminos sinuosos del “partido militar”.

Entre una y otra se mueven las otras opciones, con mayor o menor acercamiento según la coyuntura y la posición ocupada alrededor del presidente Chávez.  La presión dislocante de un Comandante-Presidente cada vez más ausente comenzó a mover las piezas del chavismo en ondulaciones transversales entre las dos opciones dominantes. No hay nada de que sorprenderse. Siempre fue así en los movimientos nacionales y sociales.

Pero ninguno de los factores de poder en juego tiene autonomía absoluta. Lo que haga o no pueda hacer el “partido militar” dependerá de una relación de fuerzas que no es capaz de manejar a su arbitrio. Esta entidad clave del poder venezolano es tan difusa como existente y decisiva. Pendula entre lo que representan Maduro y Rangel, las otras fuerzas dentro del gobierno y las vanguardias bolivarianas más orgánicas. En Venezuela, el partido militar conserva sus perfiles corporativos, pero sin las formas reaccionarias conocidas en otras experiencias latinoamericanas.

El PSUV está jugando un rol subordinado en esta transición. Desde que fue convertido en una gigante maquinaria electoral anuló su vitalidad militante inicial. Eso le restó un carácter institucional decisivo en el actual dilema existencial de la revolución bolivariana. En la actual transición entre un chavismo centrípeto y un chavismo sin Chávez, predomina la perspectiva más moderada, basada en un espíritu de unidad y equilibrio insuflados por el respeto canónico al presidente enfermo.

Esa señal fundamental de estabilidad y cordura la dio el propio Comandante Chávez el 11 de diciembre cuando entregó la espada de Bolívar a Maduro y no a alguna figura del “partido militar”. El cuidado presidencial fue de relojería. Chávez es consciente de la relación de fuerzas interna del movimiento que lidera. Y hacer lo que hizo denotó un alto grado de responsabilidad, sabiendo que hería alguna sensibilidad en las Fuerzas Armadas.

Una de las virtudes políticas del movimiento y el proceso bolivariano es que no está cruzado por agrietamientos violentos que sufrieron otros procesos latinoamericanos, algunos con resultados sangrientos, como el del peronismo entre 1973 y 1976, cuando sus facciones –montoneros, derecha sindical, PJ histórico o el lopezreguismo fascistoide– se disparaban mutuamente con varios miles de muertos en el camino. La Masacre de Ezeiza, relatada por el brillante escritor peronista, Horacio Verbitski, es el más crudo retrato de lo se debe evitar. Otro caso citable con final dramático similar es el del FMLN a comienzos de la década de los 80.

Una de las raíces sociales que vibran en la hipótesis de una tensión interna en el chavismo es la tendencia decreciente del voto chavista desde 2007, apenas solapado con los últimos dos triunfos apabullantes de octubre y diciembre. Aunque ambos, por muy buenos que sea, no hayan cortado la tendencia.

Otra raíz es la molestia latente de las bases con una burocracia estatal necesaria, pero convertida con el paso de los años en ineficaz. Su progresiva autonomía desde 1999 transmutó en el secuestro político del aparato de Estado y del partido, en representación de la emergente “boliburguesía”. Este fue otro fenómeno conocido en procesos similares anteriores de nuestro continente, y en los regímenes surgidos de la avalancha anti imperialista de las décadas de los 50 y 60 en Africa y Asia.

Tanto el “partido militar” como la versión socialdemocratizante, deberán arreglárselas con un tipo de poder popular nacido en 1989, identificado en 1992 y potenciado desde 2002 en unos 17 movimientos bolivarianos asentados en clases y sectores, cuya marca social es que todos son de alguna clase trabajadora. Estos movimientos corporizan un poder constituyente de los de abajo, aunque todavía no sepan como reemplazar a la burocracia constituida como gobernante desde arriba.

El Consejo Comunal, la Federación Campesina Ezequiel Zamora, la Corriente Bolívar y Zamora y los Jirajara, el Movimiento de Pobladores Urbanos y sus Comunas Socialistas, las Milicias Populares, que tienen la capacidad social, por ejemplo, de cuidar barrios de la Misión Vivienda, las Guardias Rurales, muchas corrientes sindicales, el Movimiento del Control Obrero, los nuevos Círculos Bolivarianos y los 620 medios comunitarios, son pilares de ese poder popular.

Una de sus muestras más rutilante es que el medio periodístico bolivariano más leído del país, Aporrea.org, no es oficialista ni comercial ni de papel. Es un medio prochavista de izquierda de alto contenido democrático para informar y lo visitan unas 230 mil veces cada 24 horas, según la firma contabilizadora Alexa.com.

Otra expresión de ese poder popular son los miles de Comités de Salud Laboral en la estructura básica de la industria, que de hecho disputa poder al capitalista, y los cientos de Comités de Usuarios de Televisión encargados de vigilar los contenidos para que los niños no vean pornografía mientras sean niños, o no sean inducidos a matar y odiar según las pautas culturales de Hollywood.

Este poder popular tiene como debilidad ser acéntrico, poco sistémico y de cultura política liviana, pero aprendió una lección de alto nivel en situaciones como la venezolana: se niega a renunciar al carácter independiente del gobierno nacido el 13 de abril de 2002: En Miraflores no hay expresiones directas del empresariado capitalista. Las vanguardias y sectores importantes del gobierno entienden ese “pequeño detalle” como una conquista que choca con los dos proyectos preponderantes. Por ahora.

La inminente ausencia del líder originario coloca al movimiento bolivariano y su complejo proceso político ante su prueba más compleja. Veinte años después, el chavismo deberá saber superarse a sí mismo o descubrir el infausto destino de corrientes similares en el pasado latinoamericano. De los 18 movimientos nacionalistas del continente aparecidos entre la Revolución Mexicana y el chavismo, ninguno sobrevivió igual a lo que fue mientras estuvo bajo la impronta de sus líderes y organismos.

Las transformaciones fueron de amplia gama. Varios sufrieron una descomposición temprana (el MNR boliviano luego de Paz Estensoro, el adequismo venezolano o el aprismo peruano); otros desaparecieron de la escena histórica al ser derribados, o salidos del gobierno (el cardenismo mexicano, el arbenzismo en Guatemala, el varguismo brasileño o el ibañismo chileno y ecuatoriano). También se conoció la recomposición transitoria de otros movimientos, pero con ropajes moderados que ya no cabían en el cuerpo original (el sandinismo, el FMLN, el peronismo, el frenteamplismo uruguayo o el torrijismo panameño).

En esa realidad tan compleja de opciones históricas, el chavismo está atravesado por las mismas leyes, resumibles con dificultad en esta fórmula algebraica: ido el líder, el movimiento se potencia en la base social o decae y muta en su contrario.