sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O ciclo dos governos de união nacional



Editorial
Carta Maior


Quando o poder coercitivo da lógica de mercado se torna incomodamente visível, e já não é mais possível evitar que a crise escape aos controles sem assumir claramente a dominação sobre a sociedade, ressurge automaticamente a bandeira da 'união nacional'. É ela que ocupa o vácuo político escavado pelos mercados na Grécia e na Itália nesse momento.

Epicentros da crise global do neoliberalismo, o esfarelamento dos dois Estados, um pobre e um rico, demonstra que não se vive um problema de 'periferias' disfuncionais. O que se desmancha é o sistema instituído a partir da desregulação absoluta concedida pelos liberais ao capital financeiro nos últimos 30 anos.

Quando o assoalho range no palácio e o caos ruge na rua é a hora da renovação. O terno e a faixa estão prontos, cortados e alinhavados pelos alfaiate das finanças. Busca-se o manequim para o arremate final. De preferência, um burocrata elástico,'a-político', afeito à arte de rechear o abismo com vento, mas duro o suficiente para barrar novas eleições, legitimar a repressão às ruas e assegurar a aplicação do programa necessário à solvência das dívidas contraídas junto à banca e aos rentistas.

Enfim, um genuíno rosto da crise para renovar a cena num momento em que os protagonistas verdadeiros começam a se expor demasiado entre a sombra e a luz. Começou o ciclo dos governos de união nacional. Sob o comando das finanças e o açoite dos mercados.

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