quinta-feira, 2 de julho de 2009

Agricultura tem queda alarmente dos investimentos

Sanjay Suri
IPS

Os líderes do Grupo dos Oito países mais poderosos deverão analisar em sua próxima reunião, este mês, a crise causada pela queda dos investimentos mundiais na agricultura, informou a organização Oxfam. Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo sofrem fome, e os preços dos alimentos começaram a aumentar novamente, ameaçando muitos pobres, alerta o informe dessa organização. “Os investimentos globais totais, em assistência bilateral e multilateral, diminuíram 75% desde a década de 80”, explicou à IPS Emily Alpert, autora do informe, em uma entrevista desde Hong Kong.

O subfinanciamento ao longo das décadas aumentou a vulnerabilidade de muitos às sacudidas climáticas e do mercado, disse Alpert, cobrando uma ação imediata. “Os investimentos em agricultura trazem pouco lucro (no curto prazo). Suas recompensas podem demorar muito. Os investimentos de hoje não trarão os resultados desejados de imediato”, reconheceu. O informe intitulado “Investir em agricultores pobres recompensa: repensando o investimento na agricultura”, divulgado no dia 30/06, diz que dois terços dos pobres rurais do mundo são afetados pelos escassos recursos destinados ao setor.

A Oxfam exortou os líderes do G-8, formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia, a aumentarem a ajuda agrícola a, pelo menos, os níveis de 1980, de US$ 20 bilhões ao ano, contra os atuais US$ 5 bilhões anuais. “Os investimentos nacionais seguiram a tendência de baixa, menos em países ricos e em um punhado de nações em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia”, disse Alpert à IPS. Entre os ricos, o informe diz que, somente em 2007, os investimentos agrícolas da um foram de US$ 130 bilhões, e os dos Estados Unidos somaram US$ 41 bilhões.

É necessário “um substancial aumento dos investimentos agrícolas, em comparação com os atuais investimentos nas nações ricas ou dos bilhões de dólares gastos mundialmente este ano em resgate financeiro”, acrescentou Alpert em uma declaração. “Fortalecer os setores agrícolas dos países em desenvolvimento é uma parte fundamental de uma solução de longo prazo para as crises alimentar, financeira e climática do mundo”, afirmou. O informe da Oxfam exorta doadores, governos nacionais e investidores privados a destinarem mais fundos, e mais sabiamente, na agricultura do Sul, dirigindo-os às pessoas, particularmente às mulheres, para estimular e apoiar o capital social e do conhecimento, e com a finalidade de que adotem métodos de cultivo ambientalmente sustentáveis.

“As mulheres são fundamentais para a segurança alimentar”, disse Alpert. “Investir equitativamente nas necessidades das mulheres e construir sua capacidade para envolver-se produtivamente na agricultura deve estar à frente de qualquer solução para melhorar o crescimento agrícola e reduzir a pobreza”. A Oxfam assinalou que o financiamento dos doadores deve ser transparente e unido, e que a ajuda tem de adequar-se às condições especificas dos lugares, permitindo a participação dos setores envolvidos e atendendo suas demandas.

Deve-se dar especial atenção a agricultores e pecuaristas em terras marginalizadas, que, em geral, trabalham em ambientes difíceis e isolados com acesso inadequado aos mercados, aos serviços, a créditos e insumos, diz o informe. “Esses agricultores e pecuaristas levam a carga de conservar a biodiversidade de cultivos e de administrar alguns dos solos mais frágeis do mundo, e podem ser aliados-chave na luta contra a mudança climática”, acrescenta. Alpert disse que, apesar dos baixos ganhos do investimento em áreas marginalizadas, o principal beneficio é reduzir a pobreza.

“Um setor agrícola atua como multiplicador nas economias locais, permitindo, finalmente, que haja maiores salários e vibrantes mercados rurais, onde os agricultores e trabalhadores gastam seu lucro”, disse Alpert. “Já estamos vendo o impacto nos pobres do aumento de preços dos alimentos, o que em parte se deve à falta de investimentos na agricultura. Quanto mais aumenta a produtividade, mais alimento há para as pessoas, que gastem entre 50% e 80% de sua renda em comida”, acrescentou.

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