sábado, 30 de maio de 2009

Confesso um dos assassinos de Victor Jara

Agencias

O cantor, compositor e poeta chileno Victor Jara foi torturado e morto no dia 16 de setembro de 1973, apenas cinco dias depois do golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende. As músicas e textos de Jara serviram de símbolo para parte da geração de chilenos que enfrentou a repressão. A ditadura que se seguiu, comandada pelo general Augusto Pinochet, deixou mais de 3 mil mortos em 16 anos.

A policia chilena prendeu na terça-feira a noite o militar José Adolfo Paredes Marquez, de 54 anos, que confessou ter participado, em 1973, do assassinato do cantor e compositor chileno Victor Jara, fuzilado com 44 tiros em um estádio convertido em campo de prisioneiros políticos, em Santiago. A execução ocorreu cinco dias depois do golpe de Estado que levou Augusto Pinochet ao poder (1973-1990) e marcou um dos períodos mais violentos da história política recente do Chile.

Paredes confessou a Justiça ser um dos soldados que fuzilaram o musico - que tinha 40 anos e equivalia na cultura popular chilena a artistas como o brasileiro Chico Buarque ou a argentina Mercedes Sosa, pelo engajamento político e oposição a governos militares.

O militar tinha 18 anos quando recebeu ordens de um superior para disparar contra Jara, mas se negou a assumir a culpa sozinho. ''Procurem os comandantes'', disse ele enquanto era levado pela policia. ''Eu era só um soldado raso.''

A viúva de Jara, a inglesa Joan Turner, que ha anos faz campanha contra a impunidade dos envolvidos no crime, voltou a cobrar das autoridades a busca pelos responsáveis. ''Quero que cheguem aos verdadeiros culpados. Não me parece que um jovem de 18 anos possa ter toda culpa'', disse ela.

Depois do golpe de 11 de setembro de 1973 e da morte do ex-presidente chileno Salvador Allende - que se suicidou no palácio presidencial quando estava sob ataque aéreo das forcas comandadas por Pinochet -, mais de 600 estudantes e professores se rebelaram na Universidade Técnica do Estado, em Santiago. Entre eles estava Jara, que também era professor. Os militares invadiram o local e levaram os amotinados ao Estádio Chile, renomeado Estádio Victor Jara, em homenagem ao músico.

Segundo Paredes, um tenente do Exército ''começou a brincar de roleta-russa com seu revolver apoiado contra a cabeça do músico. Assim saiu o primeiro disparo''. O tenente ordenou, segundo Paredes, que os soldados descarregassem seus fuzis contra o corpo de Jara. Além do artista, outras 14 pessoas foram mortas da mesma forma, segundo o militar detido.

O relato de Paredes coincide com testemunhos dados no passado por outros prisioneiros políticos que também estavam no local. Segundo ele, antes da execução, Jara foi levado aos vestiários do estádio onde foi torturado. Paredes contou que soldados fraturaram as duas mãos do músico, usando a culatra de um fuzil como pilão. A técnica era usada pelos militares como exemplo de punição aos opositores.

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