domingo, 14 de setembro de 2008

A "agenda positiva" dos EUA para a Bolívia e a Venezuela

Salvador del Río
ALAI

Em meio aos anúncios da saída dos embaixadores dos Estados Unidos, da Bolívia e da Venezuela, e à resposta recíproca do Departamento de Estado norte-americano, surge um conceito expresso em duas palavras, “agenda positiva”, cujo significado, até agora pouco difundido, vem merecendo pouca reflexão: esse significado é “intervencionismo”.

O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCorman, expressou em Washington sua estranheza pela expulsão dos embaixadores pelos governos de Evo Morales e Hugo Chávez. Os EUA, disse ele, mantém na região uma “agenda positiva” para ajudar a população destes países, enquanto que os governos da Bolívia e da Venezuela “não ajudam seu povo” e suas decisões “só contribui para empurrá-los ainda mais a uma posição de isolamento”.

A expressão “agenda positiva” vem sendo empregada pela diplomacia norte-americana como uma manifestação, aparentemente de boa vontade, para inserir outros países na “modernidade” do livre comércio e da abertura econômica. A secretária de Estado dos EUA, Condolezza Rice, empregou-a ao se referir às intenções de seu governo de manter uma relação de cooperação com outros governos, mas ao citar o governo de Hugo Chávez qualificou-o como uma “má influência” para a América Latina.

A “agenda positiva” do governo George W. Bush pode ser implementada de dois modos diferentes: de “bom grado” ou pela força. A ajuda que os programas de cooperação dos Estados Unidos implicam está condicionada à sua aceitação por parte dos governos que a recebem.

É o caso do México, por exemplo, que na voz de seu presidente, Felipe Calderón, admitiu que aceitou a chamada Iniciativa Mérida, com a qual espera receber 400 milhões de dólares para a luta contra o narcotráfico e o crime organizado. É o caso também da Colômbia, no tema do combate à guerrilha, e do Peru, além de alguns outros que se mantém como fiéis discípulos da globalização entendida como a hegemonia norte-americana na economia e na política. Bolívia e Venezuela rechaçaram essa “agenda positiva”, preferindo seguir seus próprios caminhos para a solução de seus problemas. Entre eles, destacam-se a rejeição à retórica dos organismos financeiros internacionais, a criação de organismos próprios ou regionais de desenvolvimento e, quando necessário, a nacionalização ou expropriação de bens estratégicos, em pleno uso de sua soberania.

A resposta dos EUA a estas escolhas consiste numa série de ações de pressão que vão desde o estímulo a pretensões separatistas até o financiamento de movimentos desestabilizadores, alimentando a percepção sobre uma suposta debilidade destes governos. Em maior ou menor grau, estes países latino-americanos mostram-se dispostos a resistir ao controle das grandes corporações internacionais e a manter uma política interna e internacional a margem dos interessses de Washington.

Equador, Brasil, Argentina, Paraguai e Nicarágua, para citar alguns exemplos, vem se afastando por etapas desta órbita. Esse é o problema que preocupa os EUA e o leva a tentar uma resposta com o apoio de outros governos apegados a sua política. A “agenda positiva” aparece, assim, como um instrumento de ingerência cujos resultados, porém, não tem sido até aqui os esperados por Washington.

No México, a chamada Iniciativa Mérida, pendente ainda de ser posta plenamente em prática, não conseguiu reduzir o problema da delinqüência, que vem aumentando apesar dos programas anunciados para contê-la. A situação econômica piora não só como conseqüência da crise vivida pelos Estados Unidos e dos seus efeitos em muitos outros países, mas também pela impossibilidade da atual administração para canalizar os investimentos destinados à criação de novos empregos. O desemprego, aberto e disfarçado, também vem crescendo.

A “agenda positiva” a que se refere o governo norte-americano mantém-se, assim, como uma ferramenta de controle, aceito quando isso é possível e, caso contrário, como uma intervenção direita que pode chegar a limites insuspeitáveis.

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